29 de agosto: Dia da Visibilidade Lésbica e Bissexual
O dia 29 de agosto é o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica e Bissexual. A data surge nesse cenário de um movimento LGBT dominado por uma retórica liberal, constantemente apelidado de GGGG, já que garante representatividade majoritariamente aos homens gays, brancos, cisgêneros e de classe média. Esse dia tem o desafio de trazer visibilidade às bandeiras e lutas defendidas pelas mulheres que não encontram espaço no movimento LGBT amplo.
As opressões, que são os preconceitos sistematizados e institucionalizados pelo sistema capitalista, funcionam de forma a reforçar e serem reforçadas por ele. A exploração do capitalismo sobre trabalhadores e trabalhadoras é ainda mais acirrada quando se trata de minorias oprimidas, como negros e negras, as mulheres e as pessoas LGBT. Quando há uma intersecção dessas opressões – como com mulheres negras lésbicas ou bissexuais, por exemplo – é nítido como a exploração do capital se manifesta de formas mais brutais.
Pink Money
O movimento LGBT que ganha visibilidade para a sociedade vive dentro da bolha do Pink Money (“dinheiro rosa”), onde boates, casas de festas e bares, inclusive promovidos pelas paradas LGBTs, têm lucros exorbitantes vendendo a ideia de liberdade individual para essa população. A recente propaganda do Boticário é um exemplo de marketing direcionado aos detentores do Pink Money, pessoas que não compõem, em geral, a classe atingida pela estatística de um assassinato de pessoa LGBT a cada 28 horas no país.
Enquanto isso, as massas da população LGBT estão na periferia sofrendo violência e repressão diária, ocupando os espaços mais invisibilizados dentro da própria classe trabalhadora. E é principalmente a essas mulheres lésbicas que se pretende dar visibilidade no dia 29 de agosto. É a mulher negra lésbica periférica, é a “caminhoneira” fora dos padrões, é a mulher trans lésbica que tem que lutar diariamente para ter sua identidade e sua sexualidade reconhecidas. São essas mulheres que, se procuradas, estarão nas situações de maior precarização, em empregos terceirizados, submetidas a péssimas condições de trabalho, como em redes de fast-food, telemarketing e também em situações marginalizadas e de prostituição.
Discriminação no trabalho
É preciso deixar claro que a conjuntura geral de ataques aos trabalhadores – desde a PL das terceirizações até a Agenda Brasil – atinge às minorias oprimidas de forma diferenciada. Atinge as mulheres que já ocupam maior parte dos setores terceirizados e informais, e atinge as mulheres lésbicas e bissexuais ainda mais duramente. Mas essas mulheres estão sujeitas também a muitos outros tipos de violência apenas por serem quem são.
São mulheres que escondem parte da sua sexualidade para não serem oprimidas, reprimidas e violentadas, na vida pública e privada, nas esferas pessoais e profissionais. Mulheres que estão sujeitas à prática do “estupro corretivo” – aquele realizado na intenção de “consertar” a sua orientação sexual. Que têm seus relacionamentos – e no caso das mulheres bissexuais, a sua própria orientação sexual – fetichizados. Mulheres que estão, também, encarceradas – 95% com histórico de violência sexual, inclusive dentro dos presídios. Mulheres que sofrem diariamente com a lesbofobia, violência invisibilizada até quando é denunciada e reportada dentro das estatísticas gerais de violência contra a mulher.
Combate à lesbofobia e bifobia
Utilizamos esse 29 de agosto para pressionar por políticas concretas de combate à lesbofobia, que passam pelo acolhimento necessário às vítimas, com mecanismos de denúncia eficientes e delegacias preparadas para esses tipos de casos, e pela punição dos agressores, mas também de forma crucial pela educação inclusiva e igualitária. A retirada das diretrizes de gênero nos Planos Municipais de Educação em todos os municípios do país em que o PME já foi votado, impulsionada pelas bancadas fundamentalistas de toda a parte, é um profundo ataque a essas mulheres e à população em geral e evidencia como tanto o governismo como a direita têm demonstrado, na prática, a defesa do mesmo projeto político.
No dia 29 de agosto, lutamos por visibilidade para a luta das mulheres lésbicas e bissexuais da classe trabalhadora. Pelo fim da violência, pela igualdade de gênero e pela igualdade sexual! Por um sistema que não nos oprima de forma alguma, seja por raça, classe, gênero ou orientação sexual! Pelo fim das opressões!