Deputado Ivan Valente, presidente Luiz Araújo, o Setorial LGBT do PSOL diz: Não à homo-lesbo-transfobia no nosso partido!

Companheiras e companheiros, no primeiro dia da Convenção Nacional do PSOL, a Unidade Socialista, campo interno liderado pelo deputado Ivan Valente, o senador Randolfe Rodriguese o presidente do Diretório Nacional, Luiz Araújo, acaba de dar mais um golpe contra a democracia interna do partido e contra seus princípios fundacionais, revogando com uma maioria artificial de três votos a decisão da Convenção Estadual Democrática do PSOL do Rio de Janeiro que negou a legenda ao pastor fundamentalista e homofóbico Jeferson Barros.

A decisão de vetar a candidatura de Barros, após um amplo debate democrático, foi aprovada por 86% dos votos da Convenção Estadual, integrada pelo pleno do Diretório Estadual mais os representantes eleitos por cada um dos diretórios municipais do Estado. Todas as correntes internas do partido (inclusive boa parte dos delegados da própria Unidade Socialista) votaram a favor do veto, que também teve o apoio público dos nossos deputados federais Jean Wyllys e Chico Alencar, do nosso deputado estadual Marcelo Freixo, de todos os vereadores do PSOL do Rio de Janeiro (Renato Cinco, Eliomar Coelho e Paulo Pinheiro) e de Niterói (Renatinho, Henrique Vieira e Paulo Eduardo Gomes), e do prefeito de Itaocara, Gelsimar Gonzaga. Também apoiaram a decisão setoriais, núcleos e o conjunto da militância que constrói o nosso partido.

O veto à pré-candidatura deste cidadão, recentemente filiado ao partido (no dia 9/4/2013, exatamente um dia depois de se desfiliar do PRB) obedece a uma longa lista de motivos de ordem política, ideológica, ética e programática que fazem com que a mera possibilidade de ele ser candidato pelo PSOL seja um verdadeiro escândalo. Para nós do setorial LGBT do PSOL e para todos/as os/as militantes que aderem a esta nota, o veto à candidatura de Barros é um ato de defesa do nosso partido contra a tentativa de infiltração por parte do fundamentalismo homofóbico, já infiltrado na imensa maioria dos partidos da ordem.

Uma das características que sempre diferenciaram o PSOL do resto das forças políticas foi que nosso partido tem um compromisso irrenunciável com a luta pela dignidade e os direitos da população LGBT, contra a homo/lesbo/bi/transfobia e pela defesa do estado laico. Se Jeferson Barros for candidato pelo PSOL, com que autoridade ética poderemos questionar as outras coligações e os outros partidos por contarem em suas fileiras com representantes do fundamentalismo, num país em que mais de 300 pessoas são assassinadas a cada ano por serem lésbicas, gays, bissexuais ou trans? Com que legitimidade poderemos denunciar a homo/lesbo/bi/transfobia do governo Dilma e da oposição de direita?

A candidatura de Barros é uma clara manobra do fundamentalismo para desqualificar e envergonhar o PSOL. Ela foi lançada publicamente mediante uma matéria mentirosa e desonesta plantada na revista Veja e reproduzida pelos sites “gospel” ligados ao pastor Silas Malafaia, com a clara intenção de prejudicar a imagem do nosso partido e criar uma falsa polêmica com o nosso deputado Jean Wyllys, cujo mandato de luta em defesa dos direitos da população LGBT e de outras minorias oprimidas tanto nos orgulha. O próprio Silas Malafaia, através das redes sociais, saiu em defesa de Barros, atacando o Jean e o PSOL! Mas polêmica não é e nunca foi entre Barros e Jean, e sim entre os fundamentalistas e TODA a militância do PSOL!

Em carta ao Diretório Nacional, a Executiva Estadual do PSOL-RJ explicou detalhadamente os motivos do veto à candidatura de Barros. O que segue a continuação é apenas um breve resumo de um relatório de mais de 150 páginas elaborado pela direção estadual do partido:

  • O sr. Jeferson Barros mentiu ao partido quando, ao preencher o formulário de inscrição de sua pré-candidatura, declarou ter sido filiado apenas ao PT e ao PCdoB. Ao consultarmos o TRE, consta a filiação ao PCdoB e, posteriormente ao PRB, partido fundamentalista e homofóbico ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Além de nunca ter sido filiado ao PT, Barros omitiu a informação de que foi filiado ao PRB entre 2009 e 2013, até um dia antes de se filiar ao PSOL, como já foi dito.

  • Além desse histórico de filiações, ele militou ativamente no PSD (partido fundado por Gilberto Kassab), e, embora não tenha se filiado, existe abundante prova documental de sua participação na campanha do vereador Eliseu Kessler, desse partido, base do governo e liderança da bancada fundamentalista na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Barros fez campanha por Kessler e pelo atual prefeito Paes, do PMDB, e participou de diversos eventos durante essa campanha com o então candidato a vice-presidente de José Serra (PSDB-DEM), Índio da Costa.

  • A campanha de Kessler, da bancada evangélica fundamentalista, foi apoiada pela família Malafaia, teve cartazes e publicidades do candidato com Daniel Malafaia, primo do pastor Silas, e a participação do próprio Silas em atos e eventos de campanha. O pai do vereador, Nemuel Kessler, é pastor e líder da congregação religiosa da qual Barros faz parte, integrante da Assembleia de Deus. Coerente com sua participação numa igreja de perfil conservador, o vereador Kessler votou contra a concessão da medalha Pedro Ernesto ao deputado Jean Wyllys, proposta pelo nosso vereador Eliomar Coelho.

  • De acordo com declarações públicas de lideranças nacionais do PLB, partido em formação, animado pelo deputado estadual Domingos Brazão, Barros é atualmente um dos seus representantes na cidade do Rio de Janeiro. É importante frisar; isto ocorre de forma simultânea com sua filiação ao PSOL. Além das declarações públicas de lideranças nacionais que indicam Barros representante no Rio, o próprio Barros postou em seu perfil de Facebook uma foto com o deputado Brazão, ambos com os dedos em “V”. O deputado Brazão dispensa apresentações, inimigo que é das causas populares.

  • Barros foi homenageado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ por iniciativa do deputado estadual Édino Fonseca (PR), liderança do fundamentalismo homofóbico e autor do projeto de lei da “bolsa cura gay”, que propõe conceder uma bolsa aos homossexuais que queiram “abandonar esse estilo de vida”. A homenagem de Fonseca a Barros foi proposta ao deputado pelo vereador Kessler, como já foi dito, filho do líder espiritual da igreja de Barros. Todos da mesma família.

  • O cidadão Barros tem alegado publicamente que a oposição a sua pré-candidatura é um ato de intolerância religiosa que se deve ao fato de ele ser pastor evangélico. Essa acusação desonesta muito nos ofende, e muito ofende os milhares de evangélicos que não compartilham das ideias homofóbicas do cidadão Barros e seus colegas. O PSOL-RJ tem outros pastores evangélicos que já foram candidatos, como Mozart Noronha e Henrique Vieira, este último eleito e atual vereador do PSOL em Niterói, cujo mandato muito nos orgulha. Tanto o pastor evangélico Mozart quanto o pastor evangélico Vieira têm se posicionado publicamente contra a candidatura de Barros pelos mesmos motivos expostos nessa carta.

  • O problema de Barros não é ele ser evangélico, ou pastor, mas ser fundamentalista, participar de marchas homofóbicas, fazer pregação em “comunidades terapêuticas”, financiadas pela Prefeitura, que fazem internação compulsória de usuários de drogas e populares em situação de rua. O problema de Barros é ter participado de várias campanhas de candidatos da direita.

  • Recentemente, Barros participou da marcha homofóbica organizada pelo pastor Silas Malafaia no Rio de Janeiro. Quando uma foto dele com Malafaia foi divulgada, Barros disse que não tinha qualquer relação com o pastor Silas, que os ministérios de ambos pertencem a igrejas diferentes e que essa foto tinha sido tirada em outra época (mas ela foi publicada pelo próprio Barros em seu perfil pessoal de Facebook no ano passado, quando ele já era filiado ao PSOL e Malafaia já era Malafaia).

  • Por outro lado, quando foi questionada sua participação na marcha homofóbica do ano passado, Barros disse que essa marcha não era homofóbica, que era apenas uma celebração religiosa dos evangélicos, e que o pastor Silas Malafaia era apenas um entre vários pastores que participam dela. Ambas as coisas são mentira. A “marcha para Jesus” tem como objetivo declarado e público pressionar os governos federal, estaduais e municipais para que não reconheçam os direitos civis da população LGBT e os discursos que são pronunciados nela pelos organizadores são, sempre, discursos de ódio contra os homossexuais. As principais bandeiras que podem ser vistas nessa marcha têm dizeres como: “Pela família tradicional” (o próprio Barros tirou várias fotos a frente de uma faixa com estes dizeres), o que quer dizer: contra o casamento igualitário; “Bíblia sim, constituição não”; “Homossexualismo (sic) é pecado”, etc. Por outro lado, o organizador da marcha é, sim, o pastor Malafaia. A marcha é convocada pelo Conselho de Ministros do Rio de Janeiro, presidido por Malafaia, e pela Associação Vitória em Cristo, também presidida por Malafaia. O principal orador da marcha (em todos os estados onde ela é realizada) é o pastor Malafaia e quem fala em nome da organização com a imprensa é, também, o pastor Malafaia. Não se trata de um ato religioso, mas de um ato político, organizado pela principal liderança nacional do Ku Klux Klan antigay, e que tem por objetivo difundir o ódio contra a população LGBT. Na edição desse ano, além de Jeferson Barros e da deputada Janira Rocha, participou também o deputado Jair Bolsonaro, apoiador entusiasta da marcha desde que ela existe.

  • No “álbum de fotos” de Barros, só por citar algumas das pessoas com as que ele se fotografou mais recentemente (cada uma das fotos foi divulgada por ele mesmo), estão por exemplo Silas Malafaia, Anthony Garotinho, Domingos Brazão, Índio da Costa, Moreira Franco e outras figuras do mesmo calão.

  • Barros também diz que ele é liderança sindical de uma central “combativa e de esquerda”, a UST, da qual ele é presidente regional no RJ e diretor nacional de formação. Outra falsidade. A UST é uma central sindical pelega, ligada ao que há de pior na política brasileira. Maria Tereza Couri, presidenta do SINDOMPERJ, do qual Barros é vice-presidente, diretora nacional da UST e a principal aliada de Barros no sindicalismo, é militante do PSC, partido de direita (o mesmo de Marco Feliciano) e antes foi do PTdoB. Ela foi assessora de César Maia, do ex vice-governador Conde, dos vereadores Pedro Porfírio e João Mendes de Jesus e do deputado federal Áureo.

  • Toda a diretoria da UST tem vínculos e histórico de militância e de participação em campanhas políticas semelhantes às de Barros e Couri (PRB, PSC, PSDB, DEM, PP, PPS, PSD, PMDB, etc.). Os diretores da central só têm fotos com Cabral, Pezão, Índio da Costa, Garotinho, Serra, prefeitos cassados por improbidade administrativa, vereadores ligados à milícia, pastores fundamentalistas, etc. Não se trata de casos excepcionais, mas de uma linha política: a UST é isso!

Nós, militantes LGBT do PSOL, reafirmamos que o nosso partido tem lado na luta contra as opressões, que é o lado d@s oprimid@s, e por isso jamais aceitaremos como candidato pelo PSOL um representante dos opressores!

A nossa luta é todo dia, contra o racismo, o machismo, a homo/lesbo/bi/transfobia!

Exigimos à Convenção Nacional respeito pelas decisões soberanas do PSOL do Rio de Janeiro e pelos princípios que sempre nortearam nosso partido!

Exigimos a revisão da decisão de hoje e solicitamos que seja iniciado o processo de expulsão do filiado Jeferson Barros. Entendemos que o processo de desrespeito à democracia do partido vem desde o seu Congresso e não deve ser naturalizado! Não aceitamos homofóbicos no PSOL!

Viva o Partido Socialismo e Liberdade!

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