Jornal pró-Pequim inicia ataques contra o CIT

No último dia 10 de junho, o Ta Kung Pao, um jornal de Hong Kong conhecido por seu apoio ao regime de Pequim, atacou o parlamentar pró-democracia Leung Kwok-hung (conhecido como “Long Hair”, ou “Cabelo Comprido”) e também a Ação Socialista, seção do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores em Hong Kong.

O diário Ta Kung Pao é conhecido em Hong Kong como um veículo de propaganda do Partido “Comunista” Chinês. O ataque contra “Long Hair” e a Ação Socialista, na matéria de capa do jornal, ocorre bem no momento em que o território se prepara para as mega-demonstrações contra o governo, que acontecem todo ano no dia 1o. de julho. Fica claro, assim, que a ditadura de Pequim está ampliando seus ataques psicológicos contra o que chama de “fomento à instabilidade política” e “demandas ilegais” por eleições livres em Hong Kong.

A Ação Socialista está buscando auxílio jurídico contra o jornal, ao mesmo tempo em que inicia uma campanha para rebater as mentiras que foram publicadas.

O Ta Kung Pao falsamente acusa “Long Hair”, que no momento está servindo uma sentença de quatro semanas de prisão por acusações políticas inventadas (“vandalismo” e “conduta desordeira” durante um protesto em 2011), de ter planejado a criação da Ação Socialista em 2010 para que esta fosse uma força “extremista” na luta por democracia.

Outras acusações absurdas são inventadas, como o apoio que a Ação Socialista recebe de “forças conspiratórias estrangeiras” (no caso, o Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores, o CIT). O jornal acusa o CIT de promover “métodos extremistas violentos” e diz que nossas seções na Suécia, na Turquia, e até mesmo a LSR no Brasil promoveram atos violentos no ano passado. Isso não é inesperado, tendo em mente que essas acusações partem de um veículo de propaganda a serviço de uma ditadura que se mostra totalmente paranoica quando se fala em protestos de massa e em verdadeiro socialismo.

A “preocupação” do Ta Kung Pao sobre violência é hilária, haja visto seu silêncio sobre os ataques aos manifestantes em Pequim em 1989, incluindo o próprio Massacre da Praça da Paz Celestial. Este ano, o jornal disse que a manifestação de 180 mil pessoas em Hong Kong que relembrou o massacre de 1989 foi um “ato de traição nacional”.

“Promovendo ataques”

“Os métodos de protesto do CIT são extremamente violentos”, diz o artigo. E continua: “Em 20 de maio de 2013, a seção do CIT na Suécia, o Rättvisepartiet Socialisterna, iniciou um protesto contra as políticas sociais do governo e a falta de serviços públicos. Os manifestantes incendiaram carros, destruíram shopping centers e atacaram postos policiais em uma violência que se estendeu por três dias. Muitos policiais e moradores foram feridos”.

Esse é só um exemplo do “jornalismo” absurdo do Ta Kung Pao. Os protestos em Estocolmo no ano passado foram iniciados após a polícia ter atirado contra um idoso, que acabou morrendo. Isso se somou a anos de políticas racistas e anti-imigração e falta de infraestrutura em bairros da periferia. O Rättvisepartiet Socialisterna, na verdade, promoveu atos e encontros com grupos da comunidade para pôr um fim aos incêndios e motins, ao mesmo tempo em que criticava fortemente a violência policial e as políticas neoliberais do governo.

O CIT sempre deixou claro que não acredita que distúrbios violentos, embora sejam compreensíveis enquanto reação às condições sociais desesperadoras, ofereçam uma via de avanço para as massas contra o capitalismo, o desemprego e a pobreza. Nós apoiamos organizações, como os partidos de trabalhadores e os sindicatos combativos, e os métodos de lutas de massas, como greves, ocupações e piquetes, como caminhos para a construção de uma alternativa socialista.

O relato do Ta Kung Pao sobre as jornadas de junho de 2013 no Brasil é ainda mais absurdo. Pra começar, o jornal diz que 300 mil pessoas participaram das manifestações – no pico dos protestos, haviam milhões de pessoas nas ruas. Depois, diz que a polícia utilizou de repressão contra “organizações criminosas” e que “muitos dos presos eram membros da seção brasileira do CIT, a LSR”.


O título diz: “grupo trotskista acredita no extremismo há 40 anos”, em referência aos 40 anos do CIT. A legenda da foto diz que “trotskistas estavam envolvidos nas revoltas no Rio de Janeiro em 2013”.

Trotskismo

O jornal também faz ataques ao Trotskismo, que é descrito como uma onda política “ultra-esquerdista e violenta”. O artigo também diz que “muitos países consideram os trotskistas como organizações extremistas, perdendo apenas para os terroristas”. O jornal ataca até mesmo a teoria da revolução permanente de Leon Trotsky, que ele considera como “baderna permanente”.

O artigo do Ta Kung Pao é parte de uma grande campanha de propaganda do Partido “Comunista” Chinês para atacar as seções mais radicais da luta pró-democracia. O objetivo é ligar “Long Hair” com o CIT e taxar os dois como “violentos” e “extremistas”. Ainda que representem programas e organizações distintas, a Ação Socialista e “Long Hair” cooperaram em várias das lutas em Hong Kong pelos direitos dos trabalhadores e contra a ditadura de Pequim.

Outro relato absurdo do jornal é a acusação de que a Ação Socialista coopera com a “Paixão Cívica”. Na verdade, a “Paixão Cívica” é um grupo de direita nacionalista que realiza várias campanhas de difamação contra a Ação Socialista…

O aumento da luta por democracia

A campanha de propaganda do Partido “Comunista” está ligada à situação política mais tensa tanto na China quanto em Hong Kong. Está mais claro do que nunca que Pequim não tem qualquer intenção de permitir eleições livres em Hong Kong em 2017, como havia dado a entender anteriormente (a Ação Socialista e o CIT já haviam alertado que isso não ocorreria). Ao invés disso, uma revisão do atual modelo de “eleições controladas” está sendo proposto, causando grande insatisfação na população.

No início deste mês, o governo chinês revelou um relatório sobre Hong Kong que declara que a “ampla autonomia” do território não significa “total autonomia”. A declaração é interpretada como um aviso do governo de Pequim de que mais demandas por democracia não serão toleradas. O relatório é mais um em uma série de avisos de políticos pró-Pequim de que, em caso de protestos, a lei marcial poderá ser imposta em Hong Kong e tropas do exército poderão ser chamadas para a repressão.

Os socialistas contra-atacam!

Apesar de tudo, o ataque do Ta Kung Pao é um reconhecimento do impacto que a Ação Socialista e o CIT têm causado na sociedade. É também um reconhecimento do medo que a ditadura de Pequim tem de ideias verdadeiramente socialistas.

O jornal fala do apoio da Ação Socialista ao “Occupy Central” (um plano dos partidos “pan-democratas”, de centro, para que o povo ocupasse as ruas do distrito financeiro) e do chamado para que o movimento assumisse um programa mais combativo, incluindo a necessidade de utilizar greves como instrumento contra a ditadura chinesa. Mas o jornal distorce tudo isso, tentando relacionar greves com “extremismo” – na verdade, é dessa forma que o governo chinês vê as lutas dos trabalhadores, hoje.

Sobre o apoio da Ação Socialista às campanhas de uma associação de refugiados em Hong Kong, o jornal diz que nossos companheiros utilizaram os imigrantes como “bate-paus” em uma tentativa de radicalizar o “Occupy Central”. Os refugiados, que organizaram uma ocupação pacífica de 120 dias contra a discriminação e a corrupção, foram retratados pelo jornal como criminosos. Obviamente, o Ta Kung Pao não mostra nenhuma prova dessa acusação.

O jornal também procura ligar “Long Hair” com “forças estrangeiras” do CIT e dos refugiados. Isso é semelhante a um dos temas da propaganda de Pequim hoje em dia: promover o nacionalismo chinês e a ideia de uma suposta “conspiração estrangeira” para “dividir a China”. O artigo deixa bem claro que a Ação Socialista “possui membros estrangeiros” e “ligações com organizações estrangeiras” – algo que se tornaria ilegal, caso a lei de segurança pró-Pequim conhecida como “Artigo 23” seja aprovada. Essa legislação está sendo barrada por mais de dez anos de lutas populares, mas não foi abandonada pelos políticos da situação.

Ainda que o Ta Kung Pao não tenha muito crédito em Hong Kong, sendo visto como um jornal mantido com dinheiro do Partido “Comunista” Chinês, não há como ignorar a ameaça implícita de seus ataques aos camaradas do CIT. A China está passando por momentos políticos delicados, e a ditadura está buscando identificar e vilanizar seus opositores.

Ao invés de se amedrontar, entretanto, os socialistas irão, cada vez mais, se engajar na luta por uma genuína democracia, incluindo o controle público sobre os meios de comunicação, e pela construção de movimentos de massa dos trabalhadores e juventude para destruir o capitalismo e a ditadura!

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