Balanço da greve unificada da educação no RJ

No princípio de maio, o não-cumprimento dos acordos pelo governo e a continuidade das más condições de trabalho, somadas à ebulição política após a grande vitória dos garis, a entrada de diversas categorias em greve e a perspectiva de acirramento das lutas com a proximidade da Copa, dentre outros fatores, nos levou a deflagrar a greve unificada da educação.

A entrada na greve foi uma aposta: acreditávamos que o momento era aquele e fomos à luta. Infelizmente, porém, a greve deste ano não teve a força esperada, apesar do esforço de valorosos educadores em sua construção. Ainda assim, acreditamos que foi acertada a deflagração da greve. A luta política não é feita com bolas de cristal. Avaliamos a conjuntura e a partir dela discutimos quais táticas utilizar e calculamos os possíveis resultados. Erramos no cálculo, mas é certo que, se tivéssemos perdido a oportunidade, estaríamos hoje avaliando que deveríamos ter feito exatamente o que fizemos.

Um grande avanço desta greve foi um maior protagonismo de pessoas da base. Seja na elaboração de materiais, nas visitas às escolas, na participação em espaços de negociação ou na condução do comando, o SEPE se torna mais forte com a oxigenação de uma nova geração de militantes lutando suas primeiras greves.

Outro grande acerto da greve deste ano foi unificar a luta das redes estadual e municipal. As redes federal, estaduais e municipais sofrem os mesmos ataques e são geridas sob a mesma lógica. Nós, da Luta Educadora, temos certeza de que foi a unidade que deu alguma força a essa greve, evitando erros do passado, como a esquizofrenia de duas greves da mesma categoria e do mesmo sindicato, simultâneas mas isoladas.

Acreditamos que os dois grandes elementos responsáveis por essa greve ter tido menos força foram o desgaste e frustração com as greves de 2013, em que o município obteve conquistas limitadas enquanto a rede estadual nada conquistou após cerca de 3 meses de greve, além do crescente autoritarismo e intransigência dos governos, que já nos primeiros dias da greve tiveram apoio do judiciário, classificando a greve de ilegal, culminando nos processos em ambas as redes, somados à falta de diálogo.

Dessa forma, apesar de motivos de sobra para lutar, uma conjuntura favorável e diversos acertos, não alcançamos nossas expectativas. Mas também houveram erros nesta greve que devem ser discutidos para podermos avançar, pois se perdemos esta batalha, a guerra pela educação pública que defendemos continua.

Os diversos setores da direção insistem em alguns velhos erros, como o desrespeito à deliberações de assembléia ou o abandono da construção da greve após algum tempo. Ainda mais quando vemos que, para questões mesquinhas, como garantir a maioria num conselho deliberativo, os mesmos setores que pouco vinham fazendo pela greve são capazes de uma grande mobilização – chegando ao cúmulo de fazerem assembléias locais na mesma manhã do conselho deliberativo para eleger conselheiros da base que garantam sua maioria.

Apesar de já no congresso termos iniciado a discussão sobre a regulamentação do comando de greve, insistiu-se no erro de mantê-lo aberto. Se isso pode parecer mais democrático, é, por outro lado, um elemento a mais usado em sua deslegitimação. O comando deveria ser eleito e contar com a participação da direção, que assim como no ano passado, em boa parte o boicotou, fortalecendo a polarização comando vs. direção, oposição vs. situação, que nos divide e enfraquece.

Os erros não foram apenas da direção, porém, e certas posturas e palavras de ordem sectárias alienaram parte dos lutadores. Ambos os lados também demonstraram grande dificuldade de lidar com as diferenças, desqualificando ou hostilizando grupos e militantes que possuíam visões diferentes. A cada ofensa, deboche, calúnia e provocação, um lutador abandonava a nossa luta.

Mais grave ainda, o setor minoritário ligado ao governo sabotou a greve desde seu início. Estes velhos militantes que trocaram de lado nas últimas décadas nunca se esforçaram em construir a greve – pelo contrário, correram escolas para desmobilizar, dentre outros absurdos. Chegaram ao cúmulo de defender a separação da greve e término dela na rede estadual na primeira semana!

Nós, da Luta Educadora, também condenamos o assédio que os funcionários do sindicato tem sofrido, sobretudo num sindicato de uma categoria que tanto sofre e denuncia o assédio, isso é inadmissível. O departamento jurídico em especial deve ser avaliado e criticado de forma mais politizada e respeitosa.

A defesa dos educadores perseguidos deve ser a primeira prioridade no momento. O direito de greve deve ser defendido. Uma ampla campanha de denúncia da perseguição e solidariedade deve ser realizada.

A luta continua e, no próximo período, outra prioridade do SEPE deve ser atividades de formação, para garantir uma efetiva integração destes novos militantes ao sindicato, formando uma nova camada dirigente para as lutas dos próximos anos.

Os governos têm um projeto claro pra educação e estão lutando por ele, que envolve empresas privadas, avaliações externas padronizadas, tecnologias e expropriação do saber docente, ao mesmo tempo em que o responsabiliza pelo fracasso escolar, formação rasa e acelerada para estudantes, cumprimento de metas que condicionam a remuneração do profissional, terceirização dos funcionários, formação de professores via EAD e licenciaturas em universidades privadas financiadas pelo FIES etc. O nosso projeto de educação não é esta educação neoliberal.

Por Eduardo Moraes “Jesus”, Diretor do SEPE Regional IV

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