Manifesto Contra a Política de Higienização do Prefeito Serra

Há menos de dois anos, na Prefeitura da cidade de São Paulo, o tucano e presidenciável José Serra vem dando mostras do que pode ser um eventual governo seu, tanto no nível federal quanto estadual. Nós, que somos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros acabamos sendo vítimas da política homofóbica de higienização realizada na cidade.

Só neste ano de 2006, vários lugares freqüentados por GLBTs passaram a ser perseguidos e fechados pela prefeitura. O caso mais notável foi o Autorama (estacionamento do parque Ibirapuera), local tradicional de encontro de homossexuais que sempre ficava aberto durante a madrugada, mas que Serra mandou fechar nesse período, alegando a ocorrência de supostos assaltos no local. O prefeito esquece que, mesmo se tais casos tivessem ocorrido, criminalidade se combate com redistribuição de renda e igualdade social e não fechando os poucos lugares onde GLBTs podem manifestar sua sexualidade de forma livre. Foi clara a tentativa serrista de coibir a livre manifestação afetivo-sexual da população GLBT. O movimento se organizou e pressionou a prefeitura para que reabrisse o local, denunciando sua postura preconceituosa, moralista e homofóbica.Após algumas lutas, o Autorama foi novamente reaberto.

O mesmo aconteceu com algumas casas noturnas do público GLBT, como por exemplo a Atari, casa de rock alternativo, fechada recentemente. A prefeitura alegou falta de licença, mas o dono do estabelecimento comprovou tê-la e denunciou que a casa só foi fechada devido a campanha moralista do PSDB. Outras casas também estão ameaçadas de serem fechadas – grande parte delas de freqüência homossexual.

A gota d’água foi a recente retirada de outdoors de uma campanha publicitária com a imagem de dois homens se beijando. Os outdoors ficaram expostos por menos de uma semana e foram retirados pela CPO (Companhia Paulista de Outdoors), que não admite oficialmente, mas que já soltou na mídia que a prefeitura havia exigido a retirada dos cartazes com a ameaça de que, caso assim não acontecesse, a fiscalização contra o setor aumentaria. A prefeitura teria feito tal ameaça, após receber reclamações de que as imagens seriam “ofensivas”. Estas reclamações sempre surtem efeito na administração tucana, vide a retirada de outdoors de boates durante um campeonato de Fórmula 1 ocorrido em 2005 na cidade. Já as nossas reclamações por direitos, respeito, igualdade e liberdade sexual, pelo visto, não surtem efeito algum…

O movimento GLBT não pode ficar parado frente a essa ofensiva moralista e higienista por parte do tucanato paulistano instalado na Prefeitura, por isso nós, do GLBT Socialistas propomos a formação de uma ampla campanha de denuncia a essa política, que inclua não só o movimento GLBT, como também outros movimentos sociais também vítimas da mesma política.

Não só GLBTs…

Não só homossexuais, bissexuais e transgêneros têm sido vítimas da terrível campanha higienista tucana. O movimento dos sem-tetos e por moradia sabem do que estamos falando. Serra usa todo o aparato da polícia burguesa para reprimir ocupações de prédios abandonados no centro da cidade por esses movimentos, cujo caso mais recente foi do edifício Faria Lima, ocupado por mais de 100 famílias que transformaram o lugar – antes ponto de tráfico e abandonado aos ratos – em sua moradia, construindo até uma biblioteca com livros encontrados nas ruas.

Quando Serra desocupar o prédio provavelmente não irá abrigar essas centenas de famílias em sua linda mansão, e elas terão que voltar às ruas, não podendo nem dormir debaixo das pontes. (Sim, pois Serra inovou ao criar suas famosas rampas anti-mendigos, que impedem que moradores de rua possam dormir debaixo delas. Foi-se o tempo em que sinal de miséria máxima era dormir embaixo das pontes, pois hoje em dia a prefeitura tucana até esse direito retirou).

Outro setor totalmente oprimido é dos camelôs de São Paulo, que retiram desta atividade seu sustento. Em dezembro de 2005 a policia municipal entrou em choque com esses trabalhadores, resultando em duas mortes. Para quem anda nas ruas do centro é corriqueiro ver trabalhadores fugindo com suas mercadorias da polícia do PSDB. Tudo isso (perseguição a GLBTs, camelôs, mendigos, sem-tetos e meninos de rua) faz parte da clara política de higienização do prefeito Serra, que visa “moralizar” e “limpar” a cidade de tudo que assuste a pequena-burguesia e as elites paulistanas.

Não devemos também abafar a estreita ligação do PSDB paulista com seitas religiosas de extrema-direita, como a Opus Dei, da qual o governador Geraldo Alckmin é simpatizante (e segundo alguns até faria parte). As políticas desse partido, como a de higienização promovida por Serra, podem ser fruto de um misto de elitismo capitalista, de ódio aos trabalhadores, junto com moralismo pseudo-religioso. Enfim, a fórmula perfeita para o fascismo. Mas o PT de Marta e Lula também não é a alternativa, visto que durante sua gestão na prefeitura, Marta muito pouco fez para a comunidade GLBT, sem contar toda a perseguição que também realizou aos sem-tetos (com vários despejos) e aos trabalhadores camelôs (com inúmeros enfrentamentos entre os trabalhadores e a guarda municipal da gestão petista).

A solução está na LUTA. Luta por uma sociedade mais justa, livre e igualitária, uma sociedade socialista e livre de preconceitos moralistas e patriarcais.

Campanha contra a higienização

O GLBT Socialistas chama a todas e todos do movimento GLBT, enquanto indivíduos e enquanto grupos, a se juntarem numa campanha contra a política de higienização do prefeito Serra. Atos, protestos, panfletagens e luta são os ingredientes ideais para uma luta real contra a perseguição que estamos sofrendo nas mãos dessa política fascista! Essa frente deve ser ampla, e incluir todos os grupos de militância GLBT e também outros movimentos sociais vítimas do PSDB, como os sem-tetos, movimento dos profissionais do sexo, movimentos por moradia, grupos de defesa da criança e do adolescente, passe-livre, entre outros. Não podemos ficar parados! A LUTA NOS CHAMA!

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