Superar os erros e o sectarismo e construir a unidade
Do dia 15 de abril ao 29 de maio vimos um crescimento das lutas contra o ajuste de Dilma e os ataques do Congresso e governos em todos os níveis. Ficou demonstrada a força e disposição de luta dos trabalhadores.
A luta precisa continuar em um patamar superior. No campo da luta sindical e popular, é preciso construir uma unidade para a luta concreta e apontar para uma greve geral de 24 horas contra as terceirizações, cortes nos gastos públicos, retirada de direitos e demissões.
Mas, a luta também precisa avançar do ponto de vista político. A profunda crise do PT e o esgotamento do modelo “lulista” de gestão da ordem capitalista acontecem ao mesmo tempo em que setores da direita ganham confiança para mostrar de forma nua e crua sua verdadeira face antidemocrática, preconceituosa, violenta e repressiva.
Nesse cenário, a esquerda socialista que faz oposição tanto ao “lulismo” quanto à direita tradicional está diante de seu mais importante teste histórico.
Se falhar em constituir-se como uma alternativa política com peso de massas, o caminho estará aberto para uma saída contra os trabalhadores.
Isso pode se dar com o retorno da velha direita tucana, também sob a forma de um “lulismo” remendado ou mesmo através de alguma alternativa populista de direita com algum senso de oportunidade.
Para barrar esse retrocesso, o mínimo que se pode esperar é a unidade das forças da esquerda socialista. Uma unidade baseada no apoio ativo às lutas dos trabalhadores e em um programa que ofereça uma saída operária e popular para a crise.
Em 2014, PSOL, PSTU e PCB se apresentaram no processo eleitoral de forma dividida. Isso foi um erro. Desde então, em que pese todas as razões para a reconstrução da unidade, o que estamos vendo é um perigoso acirramento das disputas e divisões.
Nesse momento conturbado de resistência contra os ataques, a bancada parlamentar do PSOL tem representado um instrumento extremamente útil na denuncia das artimanhas, golpes e contragolpes das elites políticas contra os trabalhadores.
Porém, em meio à avalanche de ataques embutidos na mal chamada “reforma política”, a bancada do PSOL na Câmara de deputados cometeu um grave erro na votação sobre a cláusula de barreira.
Alegando terem sido obrigados a votar no mal menor para evitar seu próprio banimento, os quatro deputados federais do PSOL votaram criticamente numa proposta que caça o direito ao tempo de TV e fundo partidário a qualquer partido que não tenha pelo menos um parlamentar. Na prática, isso vai afetar principalmente partidos de esquerda como o PSTU e o PCB.
O argumento de que votar nessa proposta evitaria a vitória de uma ainda pior que afetaria o próprio PSOL não se justifica. O papel do PSOL no parlamento não é o de diluir suas posições programáticas e de princípio em meio às manobras e golpes de um Eduardo Cunha e seus asseclas.
Mesmo correndo o risco de sofrer com derrotas e retrocessos, o PSOL não deve abrir mão de sua coerência. Manter a coerência mesmo tendo que cortar na própria carne foi o que o partido fez, de forma exemplar, ao expulsar de suas fileiras o deputado Cabo Daciolo que rompeu com os princípios do partido. Esse é o caminho que deve prevalecer.
A LSR lutará para que o PSOL mantenha a coerência e mude sua orientação nas votações seguintes sobre a cláusula de barreira na Câmara e no Senado.
Também manteremos a luta para que o PSOL assuma uma postura clara de apoio à greve dos servidores da educação e saúde em Macapá, onde o prefeito reivindica o PSOL. Uma prefeitura do PSOL deveria ser um instrumento a serviço das lutas dos trabalhadores contra a imposição do ajuste e ataques. O discurso que justifica os ataques em função da crise não cabe em nossa boca.
Alguns argumentam que o fato de que setores do PSTU e PCB muitas vezes adotarem uma política sectária diante do PSOL e estarem usando o episódio para justificar seu sectarismo minimiza os danos dessa votação. Essa não é nossa posição.
Se há erros sectários vindos do PSTU e PCB diante da necessidade da unidade, o papel do PSOL é adotar uma postura diferente e dar o exemplo. Pelo seu peso e importância, o PSOL tem a principal responsabilidade na construção da unidade.
Ao votar em uma proposta que prejudica fortemente aliados do campo de esquerda, a bancada do PSOL na Câmara cometeu, com outras intenções, um erro ainda mais grave que o cometido pelo PSTU no momento da legalização do PSOL. Naquela ocasião, a direção do PSTU proibiu seus militantes de colaborar e fez um chamado público para que os ativistas não assinassem as fichas pela legalização do novo partido.
Outros episódios de divisão injustificável acontecem no terreno dos movimentos sociais. Não há nada que justifique a postura hostil do PSTU na direção da CSP-Conlutas em relação ao MTST, um dos movimentos que tem protagonizado as lutas de massas no Brasil no último período.
Desde as grandes lutas de junho de 2013, com o esgotamento do “lulismo”, a profunda crise do PT, a reação da direita nas ruas e os ataques do governo Dilma, abriu-se uma nova etapa do processo de recomposição da esquerda brasileira. Esse processo abre novas possibilidades para os socialistas. Mas, os riscos também estão presentes e não podemos subestimá-los.
O debate político claro sobre os acordos e diferenças não deve servir para marcar posição apenas. Deve construir uma síntese superior capaz de conciliar coerência política com força de massas.
Em meio às lutas em curso é preciso que se construa uma nova referência política baseada em uma frente que unifique os partidos da esquerda socialista (PSOL, PSTU e PCB) e os movimentos sociais combativos e independentes de governos e patrões.