Nota sobre o fim da greve estudantil da Unifesp Campus Guarulhos
No início do ano de 2015 o transporte conquistado com a greve nacional de 2012 havia sido cortado, o que levou muitos estudantes a desistirem ou trancarem matérias no curso por mais esta dificuldade de acesso. Assim, no dia 24 de março deste ano os estudantes da Unifesp campus Guarulhos reunidos em assembleia geral deflagram greve como resposta a este corte! Sendo sua principal pauta o retorno do transporte que levava estudantes e servidores de São Paulo a Guarulhos, inserindo essa pauta no eixo de enfrentamento contra o corte de gastos feito pelo governo Federal.
Ao longo da luta, mais pautas importantes foram inseridas como a garantia de creche na universidade, que estudantes cotistas negras, negros e indígenas tenham prioridade no recebimento de auxílio permanência, a moradia estudantil e os espaços estudantis para atividades em nosso campus definitivo no bairro dos Pimentas, periferia de Guarulhos. Assim, como parte do balanço de ampliação da pauta, nas assembleias foi votado que o serviço de Ponte Orca (convênio Unifesp-EMTU) fosse retirado da pauta.
No dia 20 de maio de 2015, em assembleia geral, que totalizava pouco mais de 400 estudantes, deliberou-se o fim da greve.
A posição dos militantes da LSR, junto a camaradas do Coletivo Construção, foi a defesa de que a greve só se encerraria após negociação com a Reitoria da Unifesp, com balanço e decisão da saída do movimento em posterior assembleia geral. Assim, indicamos a necessidade de finalizar a greve, mas mediante a um processo. Contudo, esta assembleia foi permeada de ataques a militantes de coletivos de juventude (dentre eles, o Coletivo Construção, a ANEL) e a militantes da LSR-PSOL, por parte de alguns setores do ME, com os quais inclusive atuamos nos coletivos de combate à opressão, centros acadêmicos e pró-CAs entre outras lutas dentro e fora da universidade.
As acusações tinham conteúdo de que fizemos manobras na assembleia, que fechávamos acordos com a Reitoria e que somos pelegos e traidores do movimento por votarmos o fim da greve.
Após o fim da greve, houve uso da opressão e de elementos homofóbicos para satirizar militantes da ANEL, de forma a ridicularizar o chamado ao seu Congresso. Somos contra o uso da pauta de combate às opressões para minimizar ou fortalecer qualquer setor, e por mais que nossa corrente construa a Oposição de Esquerda da UNE, somos solidários e estaremos na luta contra o uso de uma pauta tão cara às trabalhadoras e trabalhadores, para privilegiar ou elevar qualquer grupo.
Em diversos momentos durante esta greve, nossos militantes e outros estudantes sofreram assédio moral por parte da Reitora Soraya Smaili, de sua equipe de assessores e dos diretores acadêmicos do campus Guarulhos Daniel Vazquez e Marineide Gomes, tentando coagir o movimento nas reuniões de negociação com o Comando de Greve e repudiamos esta atitude publicamente em diversos espaços e aqui novamente!
Da mesma forma como repudiamos o assédio moral sofrido pela direção da universidade, ao deslegitimar a greve e a tentativa de diminuir nossos militantes, também repudiamos as farsas e os ataques de setores do movimento estudantil, que ao invés de fortalecer a unidade e contribuir para uma crítica que aponte um balanço dessa luta, fortalece os assédios da direita e da Reitoria.
Entendemos que a greve é um método necessário do movimento de trabalhadores na conquista de seus direitos e não um princípio. Assim, avaliamos de que houver conquistas, com quase 2 meses, em uma greve somente de estudantes de um campus, e tendo a Reitoria se comprometido a pagar um auxílio transporte a estudantes que não têm o passe livre estadual e que realizado pacto com a EMTU (empresa de transportes de São Paulo) de reforçar linhas de ônibus em alguns horários, compreendemos que o princípio de que qualquer estudante ter acesso mais rápido e sem custo a universidade estaria atendido, apesar de avaliarmos que não é uma linha expressa e, se duvidamos do cumprimento da EMTU e Reitoria, o que nos cabe é atuar na cobrança da garantia deste processo.
Cabe lembrar que, em 2012, a greve se estendeu por seis meses e mesmo com diversos ganhos nem toda pauta estava atendida, e a LSR e PSTU que defenderam o fim da greve foram acusados das mesmas calúnias que se segue neste momento. Mostrando a intransigência sobre o que é possível conquistar e como é importante sair de uma greve mobilizados e não isolados ou com espaços esvaziados.
Nossa posição no movimento sempre foi de defender a unidade de estudantes com técnicos administrativos em educação e professores para enfrentarmos os ataques do Governo Federal e denunciar a direção da universidade com suas medidas privatizadoras e antidemocráticas na Unifesp e de cortes no orçamento da educação. E assim propusemos assembleias e atos como visitas a outros campi da Unifesp.
Durante esta greve foram construídos atos de visibilidade pública, como no dia 26 de março indo em ato para tencionar a negociação com a EMTU. No dia 10 de abril, o boicote do Fórum organizado pela Reitoria e um ato intercampi, denunciando a farsa da política de auto-promoção da reitora como uma dirigente democrática. No dia 15 de abril, dia nacional de paralisação contra o PL 4330 e as MPs 664 e 665, compôs-se um bloco do movimento estudantil da Unifesp junto aos trabalhadores e movimento popular. Realizou-se debates sobre a luta do movimento estudantil, calendários de atividades de formação sobre a permanência, transporte, passe-livre, fortalecimento de estudantes negras e negros, histórico do ME da Unifesp, como também a construção e reorganização dos coletivos de combate à opressão, como também de base dos cursos como Pró-CA de Ciências Sociais e o Núcleo Negro da Unifesp Guarulhos.
Não somos contra críticas e balanços do movimento, mas precisamos tirar lições sobre os erros e acertos, sabendo que esta não foi a primeira e nem será a última greve. Nesse sentido, é necessário que as críticas tragam de forma clara a posição sobre a nossa política, e não de cunho moral, calunioso ou sectária. O debate deve ser feito a partir de elementos políticos e por tanto rejeitamos o método de coação, calúnia e moralismo que não privilegiam o debate aprofundado.
Chamamos a todos para continuar construindo um movimento mobilizado que possa ser representativo entre os estudantes, assim devemos seguir na mobilização e luta com os coletivos de combate a opressão, de luta por creche, de organização dos centros acadêmicos, de assembleias de curso.
Mas também, salientamos aqui que a superação de uma sociedade racista, LGBTfóbica, machista, patriarcal, desigual e de classes só será possível com a revolução e não com reformas! Cabe nos organizarmos para atingir e mobilizar mais que um setor de estudantes, mas toda a classe trabalhadora!