Nota do setorial de negras e negros da LSR

Sobre Carta de Repúdio aos atos racistas no debate de chapa do CAHIS UFF/Niterói assinada pelo coletivo de estudantes negrx da UFF.

Nós, negras e negros da LSR, organização internacional que tem seções na Nigéria e na África do Sul (onde lutamos contra o apartheid), que participa do setorial de negros do PSOL onde apresentamos Renatão do Quilombo como candidato a vice-governador, e lançamos candidatos negros como Luciano Barboza e Ary Girota, e que apoiamos a candidatura negra de Edmilson Rosário pelo PSOL, entendemos que o preconceito racial, marca da sociedade patriarcal brasileira do passado, formou a sociedade racista atual.

A defesa da cultura negra passa pela defesa de uma identidade negra de resistência construída historicamente. Compreendemos que raça (etnia) e classe são inseparáveis, que a classe trabalhadora só será livre com o fim da propriedade privada. O racismo só pode ser combatido numa perspectiva de classe. A classe trabalhadora negra parte integrante de toda a classe trabalhadora, em conjunto com ela, luta por sua libertação do capitalismo e do racismo. Acreditamos que os negros devem ter espaços de organização próprios para defender sua cultura e demandas de seu povo. O racismo deve ser combatido no dia-dia, mas também através de um projeto estratégico que é o socialismo. Para nós o socialismo só existirá se for livre de qualquer tipo de preconceito.

No debate das eleições do Centro Acadêmico de História ocorreu uma fala muito infeliz de um militante independente de nossa chapa, fala que consideramos reproduzir o racismo. Nesse momento, nossa companheira Lara Pinheiro, em conjunto com outra militante, se desculpou em nome da chapa pela fala complicada desse companheiro independente da chapa. Além disso, Lara Pinheiro afirmou que considerar toda a chapa racista era deslegitimar a luta diária de diversos militantes contra as opressões, inclusive militantes do movimento negro, e desconsiderar a atuação dessas pessoas na construção diária da luta anti-racista.

A compreensão de que esta fala da Lara deslegitima a luta da mulher negra, não é compartilhada por nosso setorial de negr@s. Nossa militante foi acusada de prepotente por supostamente tentar silenciar mulheres negras, mas Lara imediatamente se solidarizou com as companheiras que se sentiram oprimidas relatando que sabe o que é ser oprimida por se tratar de todas na conversa serem mulheres, apesar de reconhecer que não pode sentir o racismo por ser branca, logo, pedindo desculpas imediatamente, por entender que as companheiras são duplamente oprimidas por serem mulheres e negras. Após ouvi-las, Lara repetiu o que havia dito e pediu desculpas em nome da chapa, fez isso porque a nossa organização acredita que se os oprimidos sentiram-se oprimidos é porque houve opressão. Por isso Lara se colocou aberta à desconstrução do possível racismo, em uma tentativa de jamais relativizar a dor de cada uma daquelas pessoas. Lara argumentou que como mulher afetada pelo machismo, sentia muito por elas estarem passando por aquilo.

Nós negras e negros da LSR acreditamos que Lara Pinheiro ao afirmar que “considerar toda a chapa racista era deslegitimar a luta diária de diversos militantes contra as opressões”, esta frase por si só não transforma a companheira em racista. Pedir desculpas em nome da chapa, fazendo auto-crítica, foi uma atitude correta, pois a opressão pode ser subjetiva, agindo assim foi coerente com o programa político da LSR e com a sua carta de princípios. Acreditamos em uma concepção de democracia revolucionária, de respeito e tolerância para com as diferenças políticas, é isso que a LSR busca praticar no movimento social e em seu interior.

O socialismo não é apenas uma nova construção econômica e social, é também a passagem a uma nova dimensão moral, a uma nova cultura política de elevada solidariedade que precisamos praticar desde hoje. Agir com lealdade, honestidade, grandeza e magnanimidade na luta política não é apenas um capricho, é uma necessidade urgente e uma pré-condição para reconstruir a unidade e acelerar a reorganização das fileiras socialistas, depois de tantas décadas de brutalidade, sectarismo, falsificações, desmoralização e divisão introduzidas pelo stalinismo e pelas burocracias.

Reafirmamos então que o pedido de afastamento temporário (2 semestres) das atividades de representação estudantil na UFF da companheira Lara não procede e que a mesma deve continuar a sua luta no movimento estudantil da História da UFF. Não acreditamos que o método proposto de tratamento (afastamento sem julgamento dos fatos) desse caso em especifico seja a melhor opção, pois historicamente nós, pretas e pretos somos constantemente punidos pelo sistema capitalista racista machista e homofóbico sem julgamento justo. Por outro lado, achamos que a formação política dxs socialistas é fundamental para que elxs, na árdua luta contra este sistema, não reproduzam as opressões do sistema. Por isto, nos dispomos a fazer um processo de formação política, indicando que este tem de ser um processo contínuo e necessário a toda a esquerda. Principalmente num ambiente universitário, geralmente branco e elitista.

Nos comprometemos enquanto setorial de negras e negros da LSR, em participar de reunião com as partes envolvidas para melhor esclarecimento, construir conjuntamente atividades de formação política antirracista em conjunto para debatermos a questão racial e métodos de intervenção. Nós da LSR acumulamos coletivamente nossos posicionamentos e método, mas acreditamos que não somos os donos da verdade, portanto, estamos abertos ao diálogo para que possamos construir coletivamente em conjunto com o movimento negro os melhores métodos e estratégias de luta contra o racismo!

Setorial Nacional de Negras e Negros da Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR/CIT)

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