”Apresentar o socialismo como alternativa”

Plínio de Arruda Sampaio fala sobre os objetivos de sua candidatura a governador de São Paulo

Qual é o objetivo da sua campanha eleitoral?

O objetivo estratégico global da campanha é reagrupar as forças socialistas para manter a proposta de esquerda na agenda eleitoral.

Nós que estamos construindo o PSOL nos aliamos a dois outros partidos socialistas – PCB e PSTU – para organizar uma campanha de fortalecimento do pólo popular.

Vencendo Lula ou Alckmin, os quatro anos do próximo mandato presidencial serão dedicados à finalização das reformas neoliberais, iniciadas com Collor e aprofundadas por FHC e Lula. Isso será: a privatização total da previdência social, a privatização da Petrobrás, a redução dos direitos trabalhistas e da liberdade sindical e a introdução da autonomia do Banco Central.

Por isso, o eixo da campanha é de criar condições para transformar o ”pólo socialista” em uma grande frente de massas capaz de impedir a concretização das reformas que ainda faltam. Ou seja, precisamos usar a campanha eleitoral para organizar a resistência do povo às novas investidas do capital.

Há espaço para um discurso de resistência na campanha eleitoral, porque são óbvios os prejuízos que essas reformas causarão aos assalariados em geral. O problema a resolver é que a massa popular, enganado pela mídia e pelo governo Lula, não tem consciência desses prejuízos. Criar essa consciência é uma tarefa básica da campanha. O discurso básico da campanha deverá ser, portanto, um discurso de denúncia.

E o risco de se adaptar, se tornar um administrador do sistema e em conseqüência dessa visão, rebaixar o programa para ganhar mais votos?

Esse é um risco histórico para os socialistas, de cair na tentação de rebaixar o programa para ampliar o eleitorado. Foi isso que fez o PT se perder.

Nós não participamos nas eleições para exercer o governo de um Estado capitalista. O pressuposto da nossa estratégia é o esgotamento das possibilidades de solução de qualquer dos graves problemas do povo dentro do sistema. A nossa campanha eleitoral tem que ajudar a acumular forças para derrubar esse Estado.

O tempo do socialismo depende do amadurecimento das massas. O fundamento da força dos socialistas consiste em criticar a realidade e apresentar uma solução concreta em sua totalidade, mesmo se no momento ainda não é entendida.

Os socialistas têm que confiar na massa. Quando ela toma consciência, ela vai agir em linha com as idéias socialistas. Quem tenta achar atalhos e se apressa não acredita na massa.

Como apresentar uma alternativa socialista?

Trata-se de apresentar uma plataforma formada por um conjunto de reformas, políticas e medidas dirigidas à solução dos problemas mais imediatos do povo. Nenhum desses problemas pode ser resolvido dentro da lógica do mercado, até porque é essa lógica que os está causando.

Portanto, essa plataforma terá um caráter anti-capitalista, no sentido de que as medidas apóiam-se no poder interventor do Estado na economia, e classista, no sentido de que as medidas propostas são a partir dos interesses e das reivindicações das classes trabalhadoras.

O meu programa de governo terá quatro objetivos principais: eliminação da barbárie, combate à pobreza, redução das desigualdades e recuperação do equilíbrio ecológico.

Há espaço para dar um passo em direção ao socialismo. Podemos explicar as limitações da plataforma anti-capitalista e mostrar a necessidade de uma ruptura com esse sistema e apresentar o socialismo como uma forma de dar solução definitiva aos problemas do povo.

Como foi a sua trajetória política? Quando se tornou socialista e chegou à conclusão que não é suficiente tentar reformar o sistema?

Eu sou católico, da corrente franciscana, e sempre fui da esquerda cristã. A primeira noção que tive que é impossível reformar o capitalismo foi participando num governo capitalista. Eu fui coordenador dos planos de ação do governo estadual de Carvalho Pinto (1958-1962).

Nós fizemos o primeiro plano plurianual com metas de construção de escolas, hospitais, estradas etc. Todas as metas foram cumpridas. A gente fazia, nada de roubo, não teve nenhuma acusação. Mesmo assim não foi suficiente e mostrou na prática para mim que não se podem resolver os problemas dentro dos marcos do sistema capitalista.

Em 1961 eu me declarei socialista cristão, trabalhando para levar o Partido Democrata Cristão, o PDC, para a esquerda. Desde então eu tive um itinerário socialista, e comecei a me dedicar à reforma agrária. Participei na fundação do PT, que representou um fortalecimento do pólo popular contra os ”partidos da ordem”. Quando o PT bandeou-se para o lado da ordem, o pólo popular ficou muito enfraquecido. Sai do PT e estou agora ajudando construir o PSOL.