Convocação – 13 de maio em SP
Amanhã, às 17 horas, movimentos sociais e organizações políticas se encontrarão no Largo da Batata, em São Paulo, para lembrar a data do 13 de Maio – a da falsa libertação dos escravos – com um ATO DE LUTA. Lembramos que o estado brasileiro deve reparações históricas ao povo negro, que teve sua dignidade violada por mais de 350 anos e que construiu este país com seu trabalho forçado, sem ter recebido ainda, 127 anos depois da abolição, nem reconhecimento histórico e nem reparações pelo saque de suas vidas, dignidade e trabalho.
Ao invés disto, o estado brasileiro e a burguesia branca que o domina seguem com seu projeto racista de segregação, mantendo jovens negros e negras nas periferias, nas cadeias e no trabalho precário. Isto quando não seguem a prática ainda mais tradicional de limpeza étnico-social que o movimento tem chamado com razão de genocídio: o extermínio dos nossos jovens que, negros, têm mais que o dobro de chance de serem assassinados do que se fossem brancos.
O movimento negro e os movimentos sociais dizem NÃO à continuação desta marcha fúnebre. Para isto, é preciso reconhecer a especificidade e a importância da luta negra e da luta das mulheres negras e da luta das pessoas LGBT* negras no contexto da luta social brasileira. Não haverá revolução no Brasil que não passará pelos trabalhadores negros auto organizados. É momento da esquerda brasileira compreender que somos esquerda no país com maior número de negros fora da África. É momento, sempre, de aprender com a especificidade destas lutas e in-corpo-rá-las (literalmente) na agenda da esquerda brasileira. Sabemos que a luta por políticas afirmativas por si só não resolve as contradições estruturais do capitalismo. Mas também sabemos que estas lutas abrem um campo de batalha carregado de tensões históricas, capaz de escancarar e evidenciar as contradições mais estruturantes da sociedade brasileira. Sabemos que aqui, classismo, racismo e opressão de gênero se misturam de maneira intensa contra os atingidos, em sua diferença, por estas opressões. É momento de trazer esta realidade à ordem do dia.
Pelo fim da segregação dos negros e negras nos piores postos de trabalho, os movimentos exigem o FIM DO PROCESSO DE TERCEIRIZAÇÃO. Pelo fim do encarceramento em massa do povo negro, os movimentos são CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIEDADE PENAL. CONTRA O GENOCÍDIO, de alta e baixa intensidade, DAS JUVENTUDES NEGRAS E PERIFÉRICAS, os movimentos pedem que os negros ocupem as universidades através das COTAS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS.
A luta por cotas na USP e na UNICAMP desmascara o caráter falsamente universal das universidades paulistas e escancara seu projeto político-racial histórico: a formação de lideranças burguesas e brancas para as elites. A resistência com que estas duas universidades se recusam às cotas raciais – mesmo com abundantes índices acadêmicos mostrando, sem sombra de dúvida, que cotas sociais por si só não dão conta da especificidade racial e que com cotas raciais há uma redução brutal na sub-representação negra dentro das universidades, além da produção de alunos cotistas com desempenho, sempre, igual ou superior ao dos não cotistas – mostra por si só a importância desta luta. As cotas são um início importante, mas não bastam. Alunos da UNIFESP e de outras universidades federais denunciam a evasão acentuada de seus alunos negros que, sem políticas de permanência, como moradia, alimentação e bolsas, não conseguem se manter na universidade. Cotas para entrar e política de permanência para concluir o curso. Enegrecer as torres de marfim com filhas e filhos da classe trabalhadora é tarefa que urge neste momento histórico para a esquerda brasileira. Estaremos lá, às 17h, no Largo da Batata, de onde seguiremos em caminhada!