Luta dos terceirizados da UFF: um grande exemplo a ser seguido

Por muitas vezes eles passam imperceptíveis na vida da universidade ou, no máximo, são vistos como figuras secundárias, ofuscadas pela relação aluno-professor, aulas e outras atividades acadêmicas. Mas a realidade é que os trabalhadores terceirizados são aqueles que efetivamente fazem a universidade funcionar.

Serviços essenciais que vão desde a abertura dos prédios, a segurança e a limpeza dos Campi, o trabalho administrativo, a realização de matrículas e funcionamento das coordenações são alguns exemplos das tarefas realizadas por estes trabalhadores. A indispensável presença desses trabalhadores na universidade contrasta com o quanto a grande maioria desses está distante de cursar uma graduação do ensino superior público. Ao mesmo tempo, o Governo Federal segue a cartilha neoliberal da flexibilização das relações de trabalho e da terceirização e deixa esses trabalhadores em condições de trabalho extremamente precárias, sem equipamentos, sem estabilidade nenhuma, mal remunerados e sofrendo uma forte pressão patronal. Além disso, como mais uma forma de dificultar a resistência dos trabalhadores, as concessões são feitas a várias empresas divididas por setores.

Já no início deste ano, a realidade de exploração brutal, atrasos nos salários e recebimento de direitos foi reforçada pelo fator da crise econômica e dos cortes na educação. Até agora, o Governo só havia repassado 1/12 do orçamento total, enquanto o corte na educação chegava a 7 bilhões (31%) em relação ao ano anterior. O primeiro reflexo foi o atraso do 13°, que levou a uma primeira mobilização com paralisação durante as férias. Apesar da vitória parcial, muitos continuaram sem o 13° e o não recebimento dos salários passou a ser a regra para esses trabalhadores.

O descaso do Governo, alinhado com o descaso da reitoria e, finalmente, com a negligência das empresas, sabendo que poderia jogar a responsabilidade para a reitoria, deixaram estes trabalhadores em condições materialmente insuportáveis. Assim, na sexta-feira, 13 de março, trabalhadores e trabalhadoras (grande maioria de mulheres) da empresa Luso-Brasileira, responsáveis pela limpeza do Campus, decidiram pela Greve e radicalizaram com um piquete que fechou os portões do campus principal do Gragoatá. Isso só foi possível pela união com o movimento estudantil, com os técnicos e os professores da UFF, esses últimos representados pelos seus sindicatos. Bastou essa atitude para que o pagamento caísse já nesse mesmo dia.

O exemplo logo foi seguido e, na segunda-feira (16/03), duas novas mobilizações se deram com os trabalhadores da Croll (vigias) em Assembleia e com os trabalhadores da VPAR (administração) indo à reitoria. Na terça-feira (17/03), seguindo o exemplo da luta das trabalhadoras da limpeza, o dia começou com Greve e piquete fechando os portões novamente. O movimento foi protagonizado pelos trabalhadores da Croll em sua maioria, contando com alguns trabalhadores da VPAR, mais uma vez unidos com estudantes, técnicos e professores. As condições eram diferenciadas: a VPAR não pagava seus funcionários há mais de três meses mas, ao mesmo tempo, deixava-os coagidos pela ameaça da perda do emprego. Já a Croll atrasou o salário de março e muitos não tinham recebido 13° e outros direitos trabalhistas. Seu regime de trabalho era extremamente opressor, sendo recorrentes as suspensões e descontos no mísero salário, que podia ficar abaixo do salário mínimo.

Dessa vez, os patrões testaram ao máximo o movimento, mas os trabalhadores não se intimidavam. Seguimos com o piquete na quarta-feira, ainda que sob a coação do sindicato pelego que buscou pressionar os trabalhadores e estudantes presentes no piquete em função de uma multa recebida pelo sindicato devido ao trancamento dos portões. A princípio, isso causou receio nos trabalhadores pelas ameaças de que o sindicato iria abandonar as negociações e eles logo se voltaram para os estudantes. Ao mesmo tempo, nas assembleias unificadas e conversas, era ressaltado o protagonismo dos trabalhadores e a necessidade de passar por cima da direção pelega, ao mesmo tempo em que era pautada a importância da organização daqueles trabalhadores para disputar seu sindicato. Foi preciso manter os portões e os prédios fechados na terça, na quarta e na quinta de manhã para recebermos a notícia que os salários atrasados foram pagos aos trabalhadores da Croll. Por um lado, essa grande vitória. Por outro, os trabalhadores da VPAR, entre eles nosso militante Wallace Terra que desempenhou um papel fundamental na articulação entre as categorias durante todo o movimento, vivem um drama pessoal e correm o risco de não receberem caso o contrato com a reitoria seja rescindido. Apesar de muitos problemas permanecerem, a luta desses trabalhadores se coloca como um grande exemplo para toda a classe trabalhadora, sobretudo para aqueles mais precarizados.

Mesmo divididos entre várias empresas, sem estabilidade, sofrendo com abusos morais, falta de recursos e ausência de um sindicato combativo, os trabalhadores demonstraram que quando nossa classe luta unida não há patrão, Governo, Reitoria ou pelego que impeça as conquistas de nossas pautas. Por isso, é tarefa de todos esses setores com maior estabilidade e experiência organizativa lutar junto e dar todos os subsídios para a organização desses trabalhadores mais precarizados. Precisamos fazer os enfrentamentos contra os cortes na educação seguindo o exemplo da UFF: unificando todos os setores da universidade, inclusive os trabalhadores terceirizados.

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