2015: crises, ataques e lutas
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admite que o PIB do Brasil deve ter encolhido o ano passado. Mas a política de austeridade do governo, junto com a crise da Petrobras e as crises hídrica e elétrica, pode levar a um 2015 bem pior. Quem sem dúvida sairá perdendo, se não montarmos uma forte resistência, serão os trabalhadores e jovens.
O governo fez de tudo para maquiar os dados até o fim das eleições para, logo depois, soltar um pacote de maldades. Dilma fez uma campanha alertando sobre as medidas que Aécio ou Marina implementariam se ganhassem as eleições, enquanto sua equipe já se preparava para pôr em prática as mesmas medidas após as eleições.
Até setembro do ano passado, a meta oficial do governo ainda era que o ano fecharia com um superávit primário de mais de R$ 80,8 bilhões. O ano fechou com o primeiro déficit primário desde 1997, de R$ 32,5 bilhões, um “erro” de cálculo de R$ 113 bilhões!
O rombo seria maior ainda, se o governo não tivesse atrasado repasses para esse ano. São R$ 17,9 bilhões nas áreas de saúde, trabalho, educação e assistência social, atrasando também o repasse para estados e municípios. Só na educação, o adiamento de despesas foi de R$ 6,6 bilhões.
Já três dias após o segundo turno, o Banco Central aumentou a taxa Selic, que já acumula três altas e chegou a 12,25%. Logo seguiu a indicação a ministro da Fazenda de Joaquim Levy, ex-diretor do Bradesco e um economista da escola neoliberal da Universidade de Chicago.
Essas medidas são só o começo. O que vivenciamos é o esgotamento do modelo de crescimento anterior. Os governos Lula e Dilma apostaram no crescimento baseado, em um lado, nas exportações de commodities da agroindústria e minérios e, no outro lado, em um crescimento do consumo interno baseado em aumento do crédito e certas medidas de redistribuição de renda (aumento do salário mínimo, bolsa família, etc.), junto com projetos de obras de infraestrutura (PAC).
Nenhum desses pilares consegue mais sustentar a economia. A desaceleração da China derrubou o preço das commodities. O consumo interno parou de crescer com a alta da inflação e endividamento das famílias.
A inflação deu um novo salto em janeiro. Segundo o IBGE, ela chegou a 1,24% naquele mês, a taxa mais elevada desde fevereiro de 2003, acumulando uma alta de 7,14% nos últimos 12 meses. Essa alta reflete o aumento das taxas, como tarifas dos transportes, aumento do preço da gasolina e também a alta do dólar, que encarece os produtos importados. A crise energética deve ainda elevar a conta de luz esse ano em até 46%.
As taxas de juros ao consumidor subiram novamente. A taxa média dos juros do cheque especial chegou a 200,6% ao ano em dezembro de 2014. As dívidas no rotativo do cartão de crédito alcançaram o valor inédito de R$ 29,8 bilhões, com uma taxa média de juros de 258% ao ano.
As obras do PAC, superfaturadas e atrasadas, também não conseguiram dinamizar a economia. As medidas “contracíclicas” de desoneração de impostos para estimular o consumo, implementadas a partir da crise mundial que estourou em 2008, já não funcionam mais e deixaram um buraco nas contas públicas.
A indústria automobilística foi quem mais se beneficiou com essas medidas, com anos de IPI rebaixado. Mas hoje sofre uma grande crise e foi o setor que mais reduziu a produção no ano passado, com uma queda de 16,8%, enquanto a indústria como um todo sofreu uma queda de 3,2% na produção.
O mercado de trabalho brasileiro teve em 2014 o pior ano de criação de vagas formais dos anos de Lula e Dilma no poder. As contratações de trabalhadores com carteira assinada superaram as demissões em 396,9 mil vagas. O desemprego só não aumentou no ano passado por que uma parte da população ativa saiu do mercado de trabalho, alguns indo para o setor informal.
Esse ano o desemprego deve crescer. As indústrias no sudeste continuam a demitir trabalhadores, o que já gerou confrontos, como a vitoriosa greve na Volkswagen em São Bernardo do Campo e agora a paralização dos trabalhadores da GM em São José dos Campos.
A crise da Petrobras ameaça dezenas de milhares de empregos, com corte nos investimentos e acúmulo de dívidas. As construtoras investigadas pela operação Lava-Jato estão com dificuldades. A OAS, por exemplo, sofre com a restrição ao crédito devido à corrupção e tem dívidas de R$ 1,4 bilhões a pagar em curto prazo. A construção pesada em São Paulo demitiu 6% da força de trabalho no ano passado.
Muitos municípios e estados passam por uma crise econômica e sofrem imediatamente quando o governo federal atrasa os repasses. No ano passado, os governos estaduais tiveram um déficit de R$ 13,2 bilhões e 17 de 27 estados fecharam as contas no vermelho, um fato inédito desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000. A luta contra o pacote de cortes no Paraná, que incluiu uma greve de servidores públicos, deve se repetir em outros estados.
Os governos do PT não são os primeiros a tentar vender a ilusão de que possuem uma fórmula mágica que consegue elevar o nível de vida dos mais pobres de forma sustentável, sem tocar nas grandes fortunas e garantindo os lucros das grandes empresas. Quando as contradições do próprio sistema capitalista levam a uma crise, esses governos, que se elegem com centenas de milhões de reais de “doações” de grandes empresas, acabam transformando suas magras e parcas reformas em contrarreformas.
2015 vai ser um ano de ataques e de lutas. O desafio da esquerda é participar na resistência contra esses ataques e, ao mesmo tempo, construir uma força política socialista coerente que pode dar uma alternativa a esse sistema capitalista baseado em exploração e opressão.
Temos que construir um programa que parta da luta atual – contra os cortes, privatizações, demissões, alta de juros, dos preços e das tarifas – e enfrente a lógica do sistema apontando para uma ruptura: taxação das grandes fortunas, rendas e empresas, suspensão do pagamento e auditoria da dívida pública, reestatização das empresas privatizadas, abertura da contabilidade e estatização de empresas que implementam demissões em massa, controle de câmbio, e outras medidas.