Servidores do Paraná mostram que radicalizar a luta é o caminho!

O dia 12 de fevereiro marcará a história política do Paraná e do Brasil: cerca de 30 mil servidores públicos ocuparam todo o pátio da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), enfrentando tiros, bombas, spray de pimenta e cachorros do batalhão de choque da PM. Cercaram o prédio onde se encontravam os deputados e só liberaram a saída após o governador retirar o projeto de lei que ficou conhecido como “pacotaço”.

O levante dos servidores começou uma semana antes, quando professores e funcionários das escolas estaduais em todos os cantos do Paraná, mesmo sem deliberação do sindicato para tal, se recusaram a realizar as atividades da semana pedagógica e foram às ruas, iniciando uma greve mesmo. A deliberação oficial só aconteceu na assembleia do dia 7.

Após o levante dos educadores, vários sindicatos que já estavam com assembleias marcadas também deliberaram suas greves e, até o dia 12, já eram mais de 20 sindicatos de servidores públicos do Paraná em greve, dentre eles toda a educação básica e superior, agentes penitenciários e saúde.

O pacote de medidas de austeridade enviado pelo governador Beto Richa (PSDB) à Assembleia unificou a pauta de todas as categorias: as medidas visam reduzir gastos, cortando direitos dos servidores e têm como ponto central o fim do fundo de previdência, transferindo os mais de 8 bilhões de reais para as contas do estado. Richa quebrou o Paraná e quer que os trabalhadores paguem a conta!

A votação do projeto estava marcada para terça-feira, dia 10/02. A base governista tinha apresentado um requerimento para que se instalasse no plenário uma Comissão Geral, artimanha bizarra do regimento da ALEP que permite que um projeto seja votado em 24 horas após a sua apresentação, dispensando os trâmites de todas as comissões da casa pelo qual ele deveria passar.

Por isso, desde a segunda-feira (09/02), instalou-se na praça entre o Palácio Iguaçu, sede do governo, e ALEP um acampamento dos servidores públicos. Na terça, dia da votação, mais de 30 mil servidores ocupavam a frente da Assembleia Legislativa.

Mesmo com tamanha pressão popular, os deputados aprovaram por 34 a 19 a instalação da comissão geral. Diante disto, o único caminho para que os 30 mil servidores lá presentes não vissem seu plano de carreira e suas perspectivas de vida sendo destruídas foi a ocupação do plenário da ALEP. Essa ocupação ocorreu de maneira pacifica e praticamente sem confronto com a polícia ou com os segurança da casa.

Na quarta-feira, como mais de 1000 trabalhadores dormiam e permaneciam acampados dentro da ALEP, os deputados chamaram uma sessão para o restaurante da casa e marcaram para quinta-feira a votação do pacotaço, para o mesmo local.

Diante da intransigência e da recusa ao dialogo por parte do governo e de sua base aliada, não restou aos trabalhadores outra alternativa senão bloquear todas as entradas da ALEP para impedir a votação que, certamente, aprovaria o pacotaço. Foi neste momento, então, que o governo Richa mostrou toda sua truculência: os deputados da base aliada entraram na ALEP com a ajuda do batalhão de choque da PM, dentro de um camburão. Como todas as entradas estavam bloqueadas, derrubaram parte da grade da ALEP para conseguir entrar.

Neste momento, não restou outra alternativa para os mais de 30 mil servidores que estavam nos entornos da ALEP senão ocupar todo o pátio da assembleia e cercar o prédio da presidência, onde se encontravam os deputados reunidos no restaurante para a sessão. E, mesmo com tiros de bala de borracha, cães, spray de pimenta e bombas, os servidores enfrentaram o choque e o cerco foi feito.

Imediatamente após se estabelecer o cerco, a sessão foi suspensa e, logo após, encerrada. Os deputados solicitavam que os manifestantes garantisse a segurança para a saída dos parlamentares e, aos gritos de RETIRA OU NÃO SAI e É SÓ O COMEÇO, os trabalhadores deram o tom da negociação. Só após o governo do estado, através da casa civil, enviar mensagem retirando da pauta os projetos que havia enviado à ALEP é que os trabalhadores começaram a desocupar a casa e liberaram a saída dos deputados.

A ocupação se encerrou, mas a greve e o acampamento continuam! O governo deixou claro que a negociação não será fácil: está tentando criminalizar os servidores e taxando-os de vândalos e deixou claro que não vai abrir mão de reapresentar o projeto que acaba com o fundo previdenciário, Richa e o PSDB quebraram o estado e querem os 8 bilhões das aposentadorias dos servidores para sanar as dívidas!

Os servidores do Paraná venceram apenas a primeira batalha, mas mostraram que o caminho para enfrentar as medidas de austeridade que começam a ser implementadas tanto a nível estadual como federal é a radicalização da luta e a unificação das greves, pois foi justamente o fato dos trabalhadores estarem organizados e partirem para ações de enfrentamento mais radicalizadas é que fez com que o governo recuasse neste primeiro momento!

 


Foto: Joka Madruga

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