Não aceitamos o financiamento empresarial nas campanhas do PSOL!
Para enfrentar as mudanças profundas no cenário eleitoral, o PSOL precisa adotar uma postura exemplar. O mínimo que se espera é a devolução dos recursos doados pela Zaffari ao PSOL a partir do Rio Grande do Sul.
A candidatura da companheira Luciana Genro à presidência da república pelo PSOL representou um importante passo para a esquerda socialista brasileira que vive um difícil processo de recomposição.
Em que pese a impossibilidade de construirmos uma Frente de Esquerda unitária com PSTU e PCB, a substituição de Randolfe Rodrigues por Luciana Genro no PSOL foi vista pela maioria da militância ativa do partido e um amplo setor da vanguarda como uma oportunidade de construirmos uma campanha com perfil de esquerda e coerente com a nova situação nacional aberta com as jornadas de luta de junho do ano passado.
A renúncia de Randolfe refletiu o fracasso da política que o setor majoritário do PSOL tentou impor ao conjunto do partido a partir do IV Congresso. A lógica do rolo compressor e da “esquerda light” foi duramente atingida com a queda de Randolfe.
A relativa unidade construída em torno de Luciana Genro se deu sobre outras bases. Mesmo com diferenças e contradições internas, a campanha de Luciana tem se caracterizado pelo esforço de vincular-se com os movimentos sociais em luta, os trabalhadores em greve e a juventude indignada.
Nesse cenário, a decisão adotada pelo MES, com apoio da Unidade Socialista, de aceitar contribuição financeira do grupo Zaffari para a candidatura a governador no Rio Grande do Sul e a candidatura presidencial do PSOL só pode ser encarada pela militância ativa do partido como uma ducha de água fria. Trata-se de uma postura inaceitável e que precisa ser revertida imediatamente.
Aceitar essa contribuição vai contra as resoluções do partido, que proíbem a contribuição de grupos econômicos ligados ao agronegócio e sistema financeiro, como é o caso do grupo Zaffari/Bourbon. Esta, que é a 5a maior rede de super e hipermercados do país, possui ramificações consolidadas também nessas esferas da economia capitalista.
Mas, até mais importante que a polêmica sobre as filigranas das resoluções do partido em relação a essa ou aquela fração da classe capitalista, trata-se de um erro político profundo aceitar recursos de uma grande empresa que explora milhares de trabalhadores e se encontra no lado oposto das mesas de negociação trabalhista, dos piquetes de greve e com certeza dos futuros embates mais duros com a burguesia.
Essa decisão enfraquece drasticamente a autoridade política construída pelo PSOL para enfrentar nossos inimigos de classe dos partidos patronais. Mas, ainda mais importante, contribui para fortalecer a opinião de um amplo setor da juventude e dos trabalhadores de que todos os partidos que disputam as eleições formam parte do mesmo esquema.
Um dos principais desafios do PSOL nessas eleições é se colocar à altura da insatisfação popular e conquistar o direito de ser visto como uma ferramenta útil aos que descreem de todo o sistema político e querem algo verdadeiramente novo. O ceticismo frente ao cenário eleitoral e a resultante disso expressa na abstenção e votos nulos e brancos, só podem ser enfrentados com uma atitude exemplar de nossos candidatos.
Em um cenário de enormes incertezas com a morte de Eduardo Campos e a possibilidade de que uma candidatura de Marina Silva estimule ilusões e confusão em um setor da sociedade que nós disputamos, mais do que nunca a militância do PSOL necessitaria estar coesa e convencida do caminho assumido pelo partido.
A decisão do MES com apoio da US só serve para provocar exatamente o contrário: questionamentos e dúvidas sobre os rumos do partido e da campanha. A desesperança e a desconfiança não são gratuitas. Os precedentes de Porto Alegre em relação ao financiamento de empresas já foram suficientemente graves. Sua repetição representa uma desmoralização ainda maior na medida em que se choca com as expectativas criadas no início da campanha.
O partido precisa retomar a iniciativa política e o mínimo que se espera para que isso aconteça é a devolução dos recursos doados pela Zaffari e a proibição de que essa atitude aconteça novamente.
Nossa maior preocupação é voltar nossas baterias para fora do partido, para os embates em defesa dos direitos do povo, da juventude e dos trabalhadores contra aqueles que preparam uma forte contraofensiva de patrões e governos contra as lutas sociais intensificadas desde o ano passado. Porém, não podemos deixar passar esse ato que, independentemente das intenções golpeia fortemente a campanha eleitoral do PSOL e a construção de nosso partido como uma legítima ferramenta das luta socialista.
14 de agosto de 2014
Assinam:
Liberdade, Socialismo e Revolução – LSR
Reage Socialista
Grupo de Ação Socialista – GAS
Robério Paulino, candidato a governador do Rio Grande do Norte pelo PSOL
Paulo Eduardo Gomes, candidato a deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro
Renatinho, candidato a deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro
Sônia Godeiro, candidata a deputada estadual pelo PSOL do Rio Grande do Norte