MTST: 17 anos organizando a luta pela moradia

O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) é um movimento popular urbano que surgiu nos anos 1990 e foi adquirindo aos poucos sua conformação atual.

Desde a ocupação Chico Mendes (2005), localizada no município de Taboão da Serra, o movimento vem acumulando forças no estado de São Paulo, realizando novas ocupações como a João Cândido (Itapecerica da Serra), Silvério de Jesus (Embu das Artes), Che Guevara (Taboão da Serra), Santo Dias (ABC), Novo Pinheirinho (Embu), entre outras espalhadas por Campinas, Sumaré, Hortolândia e Osasco.

Após o despejo dessas ocupações com conquistas parciais por parte do movimento, as pessoas foram distribuídas em núcleos por local de moradia, onde fazem reuniões mensalmente e discutem os problemas do bairro.

A partir dessas demandas, o MTST impulsiona a Periferia Ativa, que tem a função de juntar as diversas associações, comunidades e coletivos da periferia para organizar a luta.

Fincando a bandeira

No calor das jornadas de junho, várias ocupações, muitas delas espontâneas, pipocaram pela capital. Aproveitando este momento, o MTST organizou a ocupação Faixa de Gaza, no bairro de Paraisópolis, região pobre cercada pelas mansões e prédios de luxo do Morumbi. E, assim, tiveram início as ações do MTST na capital de São Paulo. Meses depois, foram realizadas as ocupações Vila Nova Palestina, Dona Deda e Capadócia.

A partir de então, o movimento começou a participar das audiências públicas que discutiam o Plano Diretor da cidade de São Paulo, para que as áreas ocupadas pelo movimento fossem transformadas em ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), o que possibilitaria a construção de moradias populares no local pelo programa Minha Casa Minha Vida.

Os companheiros e companheiras das ocupações do MTST participaram de dezenas de audiências públicas, fizeram atos com mais de dez mil pessoas para pressionar prefeito e vereadores, ao mesmo tempo em que enfrentavam a desfaçatez da grande mídia defensora dos latifúndios urbanos.

Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo

O MTST denunciou o surto especulativo que aumentou assustadoramente o valor dos alugueis, empurrando os trabalhadores para morar em regiões ainda mais periféricas e precárias. Esse fenômeno se deve à ofensiva especulativa do mercado imobiliário, que foi aprofundada pela realização da Copa do Mundo no Brasil.

No intuito de enfrentar essas questões o MTST, junto com a frente de movimentos “Resistência Urbana”, lançou a campanha “Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo”. Foram quatro grandes manifestações denunciando as prioridades do governo, a ofensiva das grandes empreiteiras, a repressão policial e a pauta específica do MTST.

Nesse mesmo período, foi feita a ocupação “Copa do Povo” no bairro de Itaquera, a cerca de quatro quilômetros do Itaquerão, que acabou por se tornar um símbolo das contradições da Copa do Mundo.

A campanha foi um êxito, pois possibilitou que o movimento arrancasse conquistas importantes na questão da moradia em todas as esferas do governo.

A batalha do Plano Diretor

Mesmo depois das conquistas arrancadas nas vésperas da Copa, o MTST manteve a luta pela aprovação do Plano Diretor (PD) de São Paulo.

Foram mais de duas semanas de atos, cerco e acampamento das várias ocupações do MTST na Câmara Municipal de São Paulo, pressionando os vereadores a aprovarem o plano. Os vereadores também sofriam pressão do mercado imobiliário (seus financiadores) e da grande mídia, para que aprovassem o PD sem as emendas do movimento popular. Depois de muita luta, acabou prevalecendo a pressão do povo.

Antes mesmo da aprovação do PD, o MTST organizou a ocupação Portal do Povo, no Morumbi, com mais de quatro mil famílias acampadas em um terreno da construtora Even, uma das grandes financiadoras das campanhas eleitorais dos vereadores de São Paulo.

Campanha contra a repressão aos movimentos populares

A partir de então, se intensificou uma campanha de criminalização do MTST, movida pela mídia e setores do Ministério Público visando desqualificar o movimento e justificar a repressão e prisão de seus coordenadores.

Isso ficou claro no “despejo-surpresa” ocorrido no dia 28/07 quando, mesmo com um acordo de saída pacífica do terreno, a Polícia Militar, cumprindo ordens expressas do governador Geraldo Alckmin, entrou no terreno da ocupação Portal do Povo, derrubando barracas e expulsando os acampados.

A resposta do movimento veio no dia seguinte, colocando mais de três mil pessoas numa marcha contra a ação da PM, em frente à Secretaria de Segurança Pública.

Além das inúmeras manifestações do MTST neste ano em defesa da moradia, o movimento vem diversificando suas lutas, já que não basta apenas o direito à moradia para se viver dignamente.

A luta contra as operadoras de telefonia, a defesa dos metroviários demitidos, o apoio às reivindicações do MST do Pontal do Paranapanema, assim como a luta abordando o problema da falta de água em São Paulo, são pautas importantes para o movimento.

Essas novas demandas e a participação nos atos contra o massacre do povo palestino demonstram que o MTST, embora tenha sua prioridade na luta pelo direito à moradia, também é um movimento que tem clareza de que lado está na sociedade: o lado dos trabalhadores, dos sem terra, dos garis, dos professores, enfim, de todos aqueles que lutam por uma vida digna e por justiça.

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