Greve dos metroviários de São Paulo e luta dos sem-teto aquecem o clima nas vésperas da Copa do Mundo

Em meio a uma intensa onda de lutas e mobilizações nas vésperas da Copa do Mundo de futebol, os trabalhadores do metrô de São Paulo iniciaram uma poderosa greve no último dia 5 de junho. Esse movimento, que além de reajuste nos salários luta também em defesa do direito ao transporte público para a população, está hoje no centro das atenções em todo o país e sofre uma dura repressão por parte do governo do estado de São Paulo.

A greve começou no momento exato em que se comemorou um ano do início da grande jornada de lutas massivas de junho de 2013 no Brasil. Naquele momento milhões tomaram as ruas em centenas de cidades por todo o país em um movimento de revolta popular que teve início exatamente na luta contra o aumento das tarifas de transporte.

Como resultado da explosão social, os governos de todos os níveis foram obrigados a revogar o aumento das tarifas, mas não deixaram de promover o sucateamento e mercantilização do transporte público.

Nova etapa da luta de classes

A partir de junho de 2013, um novo ciclo ascendente das lutas da classe trabalhadora se abriu em um marco de crescente crise econômica e esgotamento do modelo econômico e político dos governos do PT (Lula e Dilma).

As lutas se deram de forma mais fragmentada desde então, porém com um perfil de classe mais claro. Inúmeras greves de categorias do setor público e privado explodiram desde então. Além das categorias de trabalhadores que tradicionalmente travam luta sindical (professores, funcionários públicos, bancários, correios, metalúrgicos, etc), setores mais precarizados e com mais dificuldade de organização sindical também ocuparam o centro da luta.

Esse foi o caso marcante dos trabalhadores da limpeza pública do Rio de Janeiro que fizeram uma greve em pleno carnaval enfrentando não apenas a truculência e repressão da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, mas também a burocracia sindical pró-governo. Com enorme apoio popular à sua luta, os “garis” (como são chamados) conquistaram uma enorme vitória estimulando lutas semelhantes em outras cidades do país. Esse também foi o caso dos cerca de 28 mil operários que prestam serviços no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Da mesma forma, os rodoviários do Rio de Janeiro e de São Paulo fizeram greves passando por cima de suas direções sindicais.

Nesse momento, várias categorias estão em luta e muitas em greve. Entre os movimentos mais fortes está a greve nas universidades estaduais de São Paulo, em particular a USP (Universidade de São Paulo) com intensa mobilização de estudantes, professores e funcionários.

O papel central do MTST

Nas últimas semanas, o foco das atenções esteve voltado para as mobilizações encabeçadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), principalmente em São Paulo. O MTST promoveu na madrugada do dia 3 de maio uma ocupação massiva de um terreno particular antes destinado por seus proprietários à mera especulação imobiliária. O terreno está situado a menos de quatro quilômetros do estádio que vai sediar a abertura da Copa do Mundo no bairro de Itaquera, zona leste da cidade de São Paulo.

Situada tão perto de um estádio que custou quase um bilhão de reais (mais de 400 milhões de dólares), a ocupação deixa explícito o contraste entre os gastos públicos destinados aos lucros da FIFA, das grandes construtoras e dos especuladores imobiliários e precária situação que vivem os trabalhadores.

Batizada de “Copa do Povo”, a ocupação em Itaquera reúne hoje cerca de quatro mil famílias em luta por moradia. Com a Copa do Mundo houve uma intensa valorização dos preços dos imóveis (até 200% em algumas regiões da cidade) e grande aumento dos aluguéis. Milhões de trabalhadores são obrigados a deixar suas casas e morar ainda mais distante de seu local de trabalho, agravando ainda mais o problema da mobilidade urbana em uma cidade como São Paulo. Por isso, as demandas pelo direito à moradia e ao transporte são parte da mesma luta pelo direito à cidade para os trabalhadores e não para os negócios e as empresas.

O MTST foi capaz de organizar marchas milhares de trabalhadores sem-teto e aliados em defesa de suas reivindicações. A última delas aconteceu na noite do dia 4 de junho quando cerca de 25 mil pessoas bloquearam o acesso ao novo estádio uma semana antes da abertura da Copa. Essa manifestação deixou clara a força do movimento capaz de ameaçar a própria abertura da Copa do Mundo.

Poucos dias antes, a ameaça de desocupação forçada do terreno de Itaquera prenunciava um banho de sangue na medida em que o movimento havia optado pela resistência. Mas, logo após a manifestação do dia 4 de junho, o governo federal da presidente Dilma Rousseff (PT) buscou abrir negociações e indicou que atenderia as reivindicações do movimento. O terreno da ocupação “Copa do Povo” deverá ser destinado á construção de casas populares com financiamento público e administração do próprio movimento. Confirmado esse recuo, a estrondosa vitória da luta do MTST abrirá caminho para novas lutas de vários movimentos daqui pra frente.

Greve dos metroviários no centro das atenções

É nesse contexto que acontece a greve dos metroviários. Nesse caso, o inimigo direto é o governo estadual de São Paulo encabeçado por Geraldo Alckmin (PSDB), um legítimo representante da direita tradicional neoliberal. A postura do governo diante da greve até o momento foi de extrema truculência, com repressão policial aos piquetes nas estações do metrô, ameaças de demissão e intransigência nas negociações.

O sindicato dos metroviários é dirigido por setores da esquerda sindical, em geral ligados ao PSTU e PSOL e tem ampla base de apoio na categoria. A maioria da direção é ligada à central CSP-Conlutas, mas o sindicato não é filiado a nenhuma central sindical. As Assembleias diárias reúnem mais de 2 mil em uma categoria de 9,5 mil trabalhadores. Os piquetes são organizados mais para bloquear a ação dos setores de chefia que estão sendo mobilizados para operar algumas linhas colocando em risco a população uma vez que não estão preparados para isso.

O governo tenta a todo custo colocar a população contra os metroviários, mas não tem sido muito bem sucedido. O governo Alckmin e os governos anteriores do PSDB estão diretamente envolvidos em um enorme escândalo de corrupção envolvendo grandes empresas como a Alston e Siemens, fornecedoras de materiais e serviços para o metrô de São Paulo, na formação de cartel e pagamento de propinas para agentes do estado.

No processo de preparação da greve, o sindicato fez uma ampla campanha de denúncias da política do governo Alckmin para o transporte público. O sindicato também propôs que, para não prejudicar a população com a greve, os trabalhadores trocariam a paralisação do serviço pela liberação das catracas dando livre acesso ao metrô para os usuários. A proposta caiu bem para a população e serviu inclusive para fomentar o debate em torno da proposta de tarifa zero nos transportes públicos, uma bandeira que tem crescido desde as jornadas de junho de 2013.

Mas, o governo conta com o apoio da Justiça do Trabalho que, reunida em pleno domingo, julgou a greve ilegal alegando que o sindicato não garantiu o funcionamento pleno do metrô nos horários de pico uma vez que se trata de uma categoria de um setor essencial. O que sobra do direito de greve se uma categoria é obrigada a trabalhar com 100% de sua força? A Justiça está impondo uma multa de cem mil reais (40 mil dólares) por dia de greve ao sindicato e legitima demissões de trabalhadores grevistas.

Apesar disso, de forma corajosa, os trabalhadores reunidos na Assembleia massiva realizada no domingo (08 de junho) decidiu enfrentar governo, meios de comunicação e a própria justiça e decidiu manter a greve.

Neste exato momento, diversos setores do movimento popular e sindical, incluindo o próprio MTST e organizações da juventude, estão se mobilizando para construir um Ato em apoio aos metroviários. A força e disposição de luta dos metroviários junto com o apoio popular organizado à greve podem ser fatores capazes de derrotar o governo.

Cercar os metroviários de solidariedade e conquistar uma vitória nessa luta pode ser um fator central para novas lutas que virão durante e depois da Copa do Mundo.

Unir as lutas e construir uma greve geral de 24 horas

A LSR, seção brasileira do CIT, tem lutado com todas as suas forças para construir a unidade das lutas em curso no Brasil hoje.

Construindo as lutas em conjunto com o MTST e ao mesmo tempo atuando na CSP-Conlutas, a central mais dinâmica do campo de esquerda sindical, a LSR tem batalhado para que esses dois polos de aglutinação das lutas atuem de forma coordenada o que efetivamente começa a acontecer agora.

Além disso, a LSR tem defendido em todos esses fóruns a necessidade de um encontro nacional dos movimentos em luta para a construção de uma plataforma e um plano de ação comuns. Temos defendido também que se aponte claramente para a construção pela base de uma greve geral de 24 horas no país.

A luta unificada de metroviários, professores, sem-teto e o conjunto dos trabalhadores e da juventude que se levantam hoje, despertados pelas injustiças da Copa, representa uma base necessária para a reorganização e recomposição do movimento sindical combativo e da esquerda socialista no Brasil.

Artigo traduzido para inglês e espanhol para divulgação nos portais do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores.

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