Unificar as lutas por um junho vermelho!

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Há poucos dias da Copa do Mundo, as lutas têm ocorrido num ritmo acelerado no país. Mesmo a imprensa burguesa é obrigada a reconhecer este fato. Um levantamento do jornal Folha de São Paulo, publicado na edição de 25 de maio, apontou que, desde 31 de março, foram realizadas 296 manifestações e 153 greves nas dez maiores regiões metropolitanas do país.

Evidentemente, este levantamento não inclui a histórica greve dos garis do Rio de Janeiro, realizada em pleno Carnaval. Os garis obtiveram conquistas salariais, melhorias nas condições de trabalho e acabaram sendo referência de luta para outras categorias e movimentos sociais.

No momento em que fechávamos a edição deste jornal, várias categorias ligadas à educação estavam em greve. Os professores da rede municipal de São Paulo e das redes estaduais de Minas Gerais e Rio de Janeiro continuavam em greve por tempo indeterminado por salário, cumprimento de acordos firmados anteriormente e por melhores condições de Trabalho.

Os técnicos administrativos das universidades públicas e os servidores da educação básica, profissional e tecnológica federais também continuavam parados. Os professores, funcionários e estudantes das três universidades paulistas – USP, Unicamp e Unesp – entraram também em greve por tempo indeterminado.

No setor de transporte, milhares de condutores realizaram greves em diversas cidades do país, com destaque para as paralisações do Rio de Janeiro e São Paulo. Além dos condutores, há a possibilidade também de greve dos trabalhadores do sistema metroferroviário. Este é o caso, por exemplo, dos metroviários de São Paulo.

Na Bahia e em Pernambuco, policiais militares e bombeiros também realizaram greve. A Polícia Civil realizou greve de 24 horas em treze estados. A Polícia Federal realizou diversas paralisações neste ano.

Os trabalhadores da IMBEL (fábrica estatal de armas) de Itajubá-MG, Piquete-SP, Juiz de Fora-MG, Rio de Janeiro-RJ e Magé-RJ, podem retomar novamente a greve, em virtude do não cumprimento por parte da empresa do acordo firmado junto ao Tribunal Superior do Trabalho.

Os trabalhadores do IBGE entraram em greve em quatorze estados por equiparação salarial com outros órgãos federais, como Banco Central e Ipea.

Greve na Petrobras

Operários da refinaria da Petrobras de Cubatão (SP) estão em greve há mais de vinte dias por salário e melhores condições de trabalho. Os Metalúrgicos da GM de São José dos Campos (SP) realizaram uma greve de 24 horas por Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e estabilidade no emprego.

Neste ano, os operários do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) pararam várias vezes o canteiro de obras por melhores salário e condições de trabalho. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que representa mais de 340 mil servidores em todo o país, aprovou paralisação para 10 de junho.

Além destas greves, o movimento popular tem ido para o ofensiva para que a sua pauta de reivindicação seja atendida. Há mais de noventa ocupações na cidade de São Paulo, sendo que a mais recente foi realizada em Itaquera e batizada de “Ocupação Copa do Povo”. Esta ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) conta com mais de quatro mil famílias. O MTST também realizou “ocupações” nas sedes de grandes empreiteiras e uma grande manifestação no dia 22 de maio, em São Paulo, que contou com a participação de mais de vinte mil pessoas.

Para o dia 12 de junho, abertura do mundial de futebol, estão previstas novas manifestações contra a FIFA e os gastos da Copa e por mais investimentos em saúde, educação, transporte e moradia.

As jornadas de junho de 2013 e as lutas atuais

As lutas que estão ocorrendo neste momento devem ser colocadas como continuidade das jornadas de junho do ano passado. Entretanto, é necessário identificar algumas diferenças importantes.

As jornadas de junho foram manifestações espontâneas, de massa, com uma pauta ampla, em que as organizações da classe trabalhadora tiveram um papel bastante secundário.

As lutas do último período, apesar de terem a participação de milhares de pessoas, não são tão massivas como as de junho, mas têm sido realizadas com métodos radicalizados e com uma pauta bem definida. Apesar de algumas delas apresentarem elementos espontâneos, identificamos uma forte presença das organizações da classe trabalhadora.

Entretanto, um aspecto que tem chamado a atenção é o fato de que as greves que começaram de forma espontânea foram, na prática, verdadeiras rebeliões da base dos trabalhadores dessas categorias contra governos, patrões e as direções pelegas dos seus sindicatos.

Este processo não é de agora, pois já vem ocorrendo no setor da construção civil ligado às obras do PAC. Entretanto, ficaram mais evidentes nas greves dos garis do RJ e dos condutores do Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas greves, os trabalhadores rejeitaram os acordos salariais rebaixados assinados por suas direções sindicais pelegas e realizaram greves radicalizadas.

Aumento da criminalização dos movimentos sociais

Conforme as lutas vêm crescendo, há também um aumento da criminalização dos movimentos sociais por parte do governo Dilma e dos governos estaduais.

Esta criminalização tem ocorrido através do aumento do aparato repressivo militar e jurídico. Todas as cidades-sedes da Copa terão centro integrado de repressão policial que funcionarão 24 horas por dia. Estes centros funcionarão de 10 de junho a 18 de julho. Essa medida vem se somar aos tribunais de exceção para criminalizar as manifestações e greves.

Para intimidar cada vez mais as greves, o governo Dilma tem ajuizado uma série de ações com o objetivo de bloquear as contas bancárias dos sindicatos e de suas lideranças. Isto ocorreu, por exemplo, com duas associações de PMs de Pernambuco, apontadas como responsáveis pela paralisação da categoria entre os dias 13 e 15 de maio.

No Estado de São Paulo, a Força Nacional já está posta no Itaquerão. Além disso, o governo Alckmin pretende ampliar a presença da polícia militar dentro das estações do metrô.

A unificação da lutas e necessidade de uma greve geral de 24 horas

Apesar do crescimento das greves e manifestações, estas lutas têm sido realizadas de forma fragmentada. Essa fragmentação ocorre em virtude da ausência de uma ferramenta que permita unificar e dar um sentindo comum a todas essas lutas.

Infelizmente, o Conclat, realizado em 2010, foi uma derrota para a classe trabalhadora brasileira. Se, ao invés da divisão, tivéssemos saído com uma Central Sindical e Popular Unitária, estaríamos em outro patamar na disputa da direção do movimento de massas no país e, consequentemente, na luta contra patrões e governos. E vale a pena relembrar: esta divisão ocorreu porque as correntes majoritárias da esquerda combativa do país acabaram colocando os seus interesses acima da necessidade histórica da classe trabalhadora brasileira.

Em virtude deste desfecho, a construção de uma Central Sindical e Popular Unitária continua sendo uma tarefa histórica a ser realizada. De imediato, como não temos esta Central Unitária, necessitamos de um espaço que permita unificar de forma consequente todas essas lutas.

Para nós da LSR, isto é possível através da realização de um Encontro Nacional dos Movimentos Sociais em Luta. Este Encontro teria condições de aprovar uma pauta comum e um calendário de luta unificado para o próximo período.

Dentro deste calendário, entendemos que, em virtude do crescimento acelerado das lutas, é possível e necessário construirmos uma Greve Geral de 24 horas no país, que teria o potencial de combater a criminalização dos movimentos sociais, fazer com que parte da demanda dos trabalhadores seja atendida e colocar em cheque a política neoliberal defendida e aplicada por todos os governos.

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