O inferno astral de Dilma e o peso das ruas

alt

A crise na Petrobrás, a Copa do Mundo e os problemas na economia, em meio a um cenário de retomada das lutas, complicam a vida de Dilma e abrem espaço potencial para uma verdadeira alternativa de esquerda.

Para quem esperava uma reeleição tranquila de Dilma, os dias que correm mostram que nada mais será tranquilo nesse país depois de junho de 2013.

O jogo de cartas marcadas do sistema político se mantém, mas está sendo fortemente abalado com a abertura de um novo período no país, marcado pela insubordinação e o protesto. A ira popular se manifesta principalmente nas ruas, nas greves e nas lutas sociais, mas também será um fator chave no cenário eleitoral.

Dilma ainda é favorita nas pesquisas diante de Aécio e Campos, mas isso se dá mais em função da fragilidade dos oponentes e à certa inércia do período anterior, do que propriamente por luz própria.

Os baixos 34% de aprovação a seu governo inspiram temores justificados no campo governista. Alguém em sã consciência pode achar que, com os escândalos da Petrobrás, os maus resultados econômicos, a insatisfação social e os enormes riscos em torno da Copa do Mundo, esses índices de aprovação poderiam crescer?

“Volta, Lula”?

Nesse cenário, Dilma não consegue ser unanimidade nem dentro do próprio PT. A movimentação em torno da campanha “volta, Lula” ganhou espaço dentro e fora do partido, obrigando o próprio ex-presidente a jogar água fria sobre os mais entusiastas da ideia. Afinal, assumir hoje que Lula poderia ser o candidato do PT no lugar de Dilma não apenas jogaria uma pá de cal no governo atual, como também abriria espaço para a queimação do próprio “bezerro de ouro” do PT.

Mesmo sendo uma medida extrema, a força que ganhou a tese do “volta, Lula” serve como termômetro dos problemas que Dilma já enfrenta e enfrentará nos próximos meses.

A preservação da imagem de Lula e o estímulo a certo “sebastianismo lulista”, em meio ao furacão que atingiu o governo Dilma, foi uma política consciente de setores do PT, pelo menos desde as jornadas de junho. Agora, a carta na manga existe. Resta saber se poderá ser usada.

Apesar dessa tentativa de blindar Lula, o governo Dilma e sua crise nada mais são que a continuidade do “lulismo” na sua fase de esgotamento político, econômico e social.

Petrobrás: modo petista de privatizar

A crise envolvendo a Petrobrás é um exemplo típico da decadência do “lulismo” e da nova situação política no país. Tanto em 2006 como em 2010, com Lula e Dilma disputando o segundo turno contra candidatos tucanos, a Petrobrás foi utilizada pelo “lulismo” como arma de retórica contra os planos privatistas do PSDB. Por algumas poucas semanas, o PT se travestia de “esquerda” e gritava em defesa da estatal apenas para justificar o “voto útil” contra a ameaça neoliberal tucana.

Tudo isso para, logo em seguida, assegurada sua posição no governo e voltar a aplicar o modo petista e lulista de privatizar.

Dilma, porém, foi mais longe. As entregas do pré-sal do Campo de Libra, das rodovias, ferrovias, portos e aeroportos para o setor privado esvaziaram a retórica usada em eleições anteriores.

Tucanalha: ataque à Petrobrás e interesses eleitorais

A oposição de direita, por sua vez, tenta cinicamente resgatar das mãos do governo a bandeira da Petrobrás e, também nas vésperas das eleições, denunciar a incompetência administrativa e a corrupção envolvendo a empresa e seus gestores.

Por trás da ofensiva da oposição de direita temos dois objetivos claros. De um lado, desgastar o governo Dilma e, de quebra, o próprio Lula, uma vez que o caso escandaloso da compra da refinaria de Pasadena, por exemplo, gerou prejuízos de mais de um bilhão de dólares à Petrobrás e se deu sob as barbas do ex-presidente, acompanhado de sua então ministra Dilma presidindo o Conselho de Administração da empresa.

Além disso, a tucanalha e seus novos amigos do PSB-Rede também pretendem desgastar ao máximo a ideia de empresa pública, repetindo a velha ladainha que identifica estatismo com corrupção e má gestão. Não poderiam contar com ajuda mais eficiente para esse objetivo que a dos governos do PT.

Cinismo da direita e cumplicidade com o “lulismo”

A corrupção não é monopólio dos governos do PT. Basta ver os escândalos do “tremsalão” de Alckmin e demais governadores tucanos em São Paulo, crimes tão ou mais graves do que os que se cometem na Petrobrás.

O cinismo da direita em relação à Petrobrás fica explícito quando comparamos o caso da refinaria de Pasadena com o leilão do pré-sal no Campo de Libra, promovido pelo governo Dilma em 2013. Naquele caso, um Campo descoberto pela Petrobrás estimado em 1,5 trilhões de dólares foi entregue às multinacionais pela pechincha de 15 bilhões (1,18% do valor do Campo).

Daquela vez, no entanto, nenhum dos direitistas hoje indignados com os prejuízos da Petrobrás em Pasadena ousou abrir o bico. Mas isso não é tudo. Naquele momento, para não atrapalhar o leilão de Libra, calaram-se inclusive em relação ao caso de Pasadena, que já estava sendo denunciado pela Federação Nacional dos Petroleiros.

Aprofundar a saída privatista só piora a situação. A política de terceirização dos serviços da Petrobrás, no melhor estilo neoliberal, além de precarizar a força de trabalho e desmantelar a empresa, abre espaço para todo tipo de irregularidades e corrupção. O mesmo vale para o loteamento de cargos na empresa.

Desprivatizar a Petrobrás!

A Petrobrás precisa ser desprivatizada e não o contrário. Deve deixar de servir aos interesses particulares e passar a servir à maioria do povo brasileiro. O escândalo de Pasadena e outros casos de corrupção e má gestão devem ser investigados pra valer. O espaço de uma CPI no Congresso deve ser usado para isso. Porém, uma CPI controlada por parlamentares corruptos, governistas e entreguistas não seria capaz de levar até o fim essa tarefa.

É preciso defender a organização de uma comissão independente dos trabalhadores, organizada pelo movimento sindical, movimentos sociais, ambientalistas, associações de engenheiros e entidades comprometidas com os interesses da maioria do povo brasileiro.

Também é necessário que levantemos com força a defesa do petróleo 100% estatal no Brasil, com a retomada do monopólio do estado e o fim das terceirizações. Corrupção e má gestão se combatem com controle e administração da Petrobrás de forma democrática pelos próprios trabalhadores, a partir de um plano geral que atenda aos interesses da maioria do povo. Esse programa não será defendido nem por Dilma ou Lula, muito menos por Aécio e Campos. Ele deve ser empunhado pelo PSOL e o conjunto da esquerda socialista nessas eleições.

A bomba relógio da Copa

Diante da Copa do Mundo, os protestos populares aliados ao potencial desastre resultante de obras inacabadas, infraestrutura precária e caos urbano nos dias de jogos, agravarão ainda mais o inferno astral de Dilma e dos governos estaduais encabeçados pela velha direita.

O governo federal tenta retomar a ofensiva com novas campanhas publicitárias e ofensivas na mídia, que mesclam o mais velhaco ufanismo patriótico com falácias sobre o legado que a Copa deixará.

Ninguém mais cai nessa. Mesmo torcendo pela seleção, a maioria dos trabalhadores não engole mais essa ladainha. O bônus de uma possível vitória da seleção não será capitalizado pelo governo, mas o ônus de um desastre sim.

O grande legado da Copa pode ser, isso sim, uma enorme raiva popular contra todos que estão em posição de governo. Isso pode embaralhar ainda mais o cenário eleitoral e abrir espaço para alternativas afinadas com as ruas, se elas estiverem à altura desse desafio.

Política de ataques é inevitável

As bases econômicas que tornaram possível o modelo “lulista” já não existem mais como antes. O cenário futuro se torna turvo para milhões de brasileiros. O governo Dilma assumiu a tarefa de promover os ajustes exigidos pela banca internacional. Na corda bamba, o governo tenta equilibrar demagogia pré-eleitoral com ataques aos trabalhadores. Em pleno ano de eleições, anunciou cortes da ordem de 44 bilhões de reais e pretende enfiar goela abaixo do funcionalismo um congelamento de salários.

Se faz isso em ano de eleições, o que fará de 2015 em diante? Um futuro novo governo Dilma será inevitavelmente um governo de ataques e crise. O mesmo vale para Aécio, Campos/Marina ou qualquer das alternativas de direita ao PT.

Derrotar petistas, tucanos e assemelhados nas urnas e nas ruas

Por isso, a luta é para derrotar esse governo desde já ocupando as ruas, resistindo contra os ataques e arrancando nossas reivindicações. Nas urnas, é preciso construir uma alternativa de esquerda unitária nas eleições, combatendo todo sectarismo autoproclamatório, assim como todo oportunismo eleitoreiro.

Cabe ao PSOL nacionalmente abandonar qualquer ilusão em uma oposição de esquerda light contra Dilma e a velha direita. O papel do partido é ser o porta-voz das ruas no campo eleitoral levantando uma alternativa socialista. É isso que a esquerda do PSOL fará em vários estados e que o partido deveria fazer nacionalmente.

Você pode gostar...