Educação à distância na formação de professores?

Na educação, algo que está na moda hoje em dia é a tal da EaD, a educação à distância, ou ensino à distância. Existem dois principais argumentos para implementá-la. O primeiro é que uma parte muito significativa da população quer ingressar em um curso superior e não consegue ingressar nas universidades públicas, não resistindo ao vestibular, que seleciona os que irão compor as escassas vagas existentes. Outro argumento é a necessidade de melhor qualificação de profissionais docentes que atuam sem uma formação universitária. De fato, a educação superior deve ser a mais ampla possível, assim como a formação de professores deve ter a mais alta qualidade. Mas se a qualidade precisa ser buscada, não será com a EaD.

É difícil aceitar que se possa formar com qualidade um profissional sem as aulas presenciais. É considerar que a presença do professor, assim como a dos demais estudantes, com toda a ampla possibilidade de debates esclarecedores sobre os temas estudados sejam algo menor para a qualidade da formação.

Recentemente foi criado o UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). É um programa de fomento à EaD nas universidades públicas paulistas. A qualidade da formação universitária é deixada de lado em detrimento de critérios econômicos. Os custos com o ensino à distância são muito menores do que com o presencial, sendo levada em conta tão somente a economia financeira para a construção desse tipo de programa. O UNIVESP prevê ações do tipo “tira dúvidas” por telefone. Questionamos a qualidade de um curso onde alguém que possua uma dúvida possa, ao invés de discutir com um colega em sala ou questionar o professor, entender determinado conteúdo “batendo um fio” pra alguém que nunca viu na vida.

Tal programa ainda precariza o trabalho docente, uma vez que as turmas de EaD serão muito grandes, e os professores que já mal dão conta das tarefas da graduação (vê-se o excesso de utilização de PEDs) terão de “se virar com a preparação dos conteúdos das aulas virtuais, que poderão ser assistidas pela TV, assim como um jogo de futebol. Aliás, o programa prevê os tutores, que serão os tira-dúvidas da galera. Dessa forma, nem as aulas virtuais serão dadas por professores da universidade, e sim por pós graduandos, que receberão bem menos do que receberia um professor comum.

Um ouro argumento usado para defender a EaD é o de que são previstos na grade curricular uma certa quantidade de aulas presenciais. O que não se diz é que essas são escassas e apenas para a realização de provas. Alguns defensores da EaD dizem, e isso se ouve inclusive na Faculdade de Educação da UNICAMP, que o ensino à distância como está apresentado no UNIVESP é ruim, mas é possível se fazer EaD com qualidade, com professores e não com tutores, com menos estudantes por turma, entre outros. Mas a educação à distância tem um problema em si: ao dispensar a presença em aula, ela minimiza a presença do professor, as discussões necessárias para o entendimento dos conteúdos, o acesso ao aparato universitário, entre outros, o que prejudica em muito a formação daquele estudante.

A maioria dos cursos de EaD são para formação de professores, o que nos leva a questionar o modelo pretendido pelo Estado de educação pública. É preciso muito debate para fortalecer o entendimento do que significa de fato todo esse movimento na educação, defendido por quase toda a imprensa comum e pelos empresários da educação. A organização dos estudantes para o debate e ações práticas contra esse modelo de educação que está sendo imposto é substancial dentro de uma luta por uma sociedade melhor, mais justa.  

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