Nasceu a corrente LSR – ‘Liberdade, Socialismo e Revolução’

con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero

la muerte mata y escucha
la vida viene después
la unidad que sirve es
la que nos une en la lucha
(Vamos juntos, Mario Benedetti)

 

A leitura das estrofes de “Vamos juntos”, poema do recém falecido escritor uruguaio Mario Benedetti, deu o tom do Ato político de abertura do Congresso de Unificação entre o Coletivo Liberdade Socialista (CLS) e o Socialismo Revolucionário (SR), realizado na noite de 22 de maio, em São Paulo. A marca da unidade em meio a tanta dispersão e fragmentação da esquerda foi saudada por todos os presentes.

Além dos militantes do SR e CLS, participaram do Ato muitos convidados, uma representação da direção da Conlutas, do PSOL, intelectuais militantes como Oswaldo Coggiola e Plínio Sampaio Júnior e outras correntes como o C-SOL, PSTU e a Conspiração Socialista.

O destaque entre os convidados foi a presença do velho militante de esquerda Plínio de Arruda Sampaio que saudou a unidade das duas organizações. Diante da impossibilidade da presença física, Tony Saunois, do Secretariado Internacional do CIT, saudou os presentes através de um vídeo enviado especialmente para o Ato. Outros convidados nacionais e muitas das seções do CIT em várias partes do mundo também enviaram sua saudação por escrito ao Congresso.

Os militantes do SR e CLS nos dois dias seguintes ao Ato deliberaram pela constituição de uma nova corrente socialista unificada, a LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução. A nova organização já nasce com presença em oito estados brasileiros e com atuação no movimento sindical, popular, sem-terra, estudantil, de mulheres e LGBTT.

Depois de ampla discussão o Congresso votou os documentos básicos para a constituição da nova organização: uma Carta de Princípios, um Documento Programático, um Estatuto e uma resolução internacional que deliberou pela filiação da LSR ao Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores – CIT, passando a ser sua nova seção brasileira.

O Congresso também reafirmou a política de participação ativa na Conlutas e nos esforços pela construção de uma nova central sindical e popular no país, além de posicionar a nova corrente como ala esquerda revolucionária no PSOL. Em ambas as frentes de atuação, Conlutas e PSOL, a LSR atuará como parte do Bloco de Resistência Socialista que reúne outros três agrupamentos de esquerda, a Alternativa Socialista (AS), Alternativa Revolucionária Socialista (ARS) e o Reage Socialista.

A LSR também declara seu apoio político ao ‘Terra Livre’, movimento popular do campo e da cidade, respeitando sua autonomia como movimento e ao mesmo tempo esforçando-se para ajudar seu fortalecimento e construção.

Os militantes socialistas presentes ao Congresso buscaram fazer com que as deliberações estivessem à altura do novo momento histórico marcado pela crise capitalista mundial e a necessidade de reorganização e fortalecimento de uma esquerda socialista conseqüente, capaz de responder aos enormes desafios do próximo período.

O ânimo e entusiasmo da militância diante da unificação das forças do SR e CLS e das oportunidades para um crescimento rápido e sólido da nova organização, marcaram todo o Congresso.

A LSR nasce em meio à luta

A mais importante crise do capitalismo internacional desde os anos 30 afeta duramente a classe trabalhadora brasileira apesar de todo o discurso triunfalista de Lula. A onda de demissões em massa na indústria e outros setores nos últimos meses está longe de terminar. Basta ver as ameaças que pairam sobre a Vale. Novas demissões massivas deverão acontecer assim como cortes nos gastos com salário do funcionalismo. Governo e patrões tentam evitar a todo custo reajustes salariais usando o argumento da crise. As campanhas salariais junto com novas demissões e o desespero dos trabalhadores demitidos no início do ano que já perderam o seguro-desemprego podem provocar mobilizações radicalizadas.

Mas, o processo de tomada de consciência sobre as saídas da crise depende em grande parte da ação dos socialistas. As lutas em curso, as perspectivas de mais mobilizações no segundo semestre e as eleições gerais de 2010 serão espaços fundamentais para o fortalecimento de uma alternativa classista e socialista para a crise.

A LSR já nasceu diretamente inserida nesses processos. Os companheiros de Goiás chegaram ao Congresso depois de uma vitoriosa mobilização onde centenas de trabalhadores sem-terra organizados no movimento ‘Terra Livre’ ocuparam por cinco dias as sedes do INCRA em Goiânia.

Os militantes da LSR que atuam na Oposição ‘Alternativa de Luta’ do Sintaema já saíram do Congresso para construir a greve dos trabalhadores da Sabesp em todo o estado de São Paulo, iniciada no dia 26 de maio. Os trabalhadores lutam por reajuste salarial e contra as demissões na empresa.

Na USP, onde a greve dos funcionários já ultrapassava os 20 dias quando realizávamos o Congresso, os militantes da LSR ajudaram a construir no dia 25/05 um grande Ato das universidades estaduais paulistas diante da reunião do CRUESP na reitoria da USP.

Militantes da LSR na região do Vale do Paraíba (SP), palco de lutas importantes contra as demissões na GM e Embraer, estavam se preparando durante o Congresso para a luta contra o Banco de Horas e outros ataques nas indústrias do setor de alimentação da região, como é o caso da AmBev.

Alguns companheiros não puderam participar do Congresso em razão das mobilizações em curso, como foi o caso dos companheiros envolvidos na construção da greve dos funcionários públicos municipais de Hortolândia (SP), onde uma nova camada de trabalhadores entra na luta direta pela primeira vez dando um sinal do que pode acontecer em vários municípios. A greve dos funcionários de Campinas, Limeira e Taubaté também são exemplos desse processo.

Os militantes da LSR na Apeoesp (professores de SP) em várias subsedes do sindicato estão diretamente envolvidos na construção da greve marcada para o dia 29 de maio.

Militantes da LSR no movimento estudantil em várias universidades estão envolvidos na eleição de delegados ao Congresso Nacional dos Estudantes que se realizará entre 11 e 14 de junho e também ao Congresso da UNE que acontecerá em julho. Em ambos os espaços, os militantes da LSR defenderão uma política de oposição aos setores governistas do movimento estudantil e a necessidade da unidade de todos os setores independentes do governo na luta contras as políticas neoliberais na educação.

Construindo a unidade

O caminho que resultou na formação da LSR é parte de um processo mais amplo de reorganização da esquerda socialista depois da perda do PT como partido de luta dos trabalhadores.

A formação do PSOL aglutinou a maior parte dos setores da esquerda organizada que não capitularam às benesses do poder. Mas, o giro à uma política mais moderada que tendia a repetir erros cometidos pelo PT no passado, provocou novos deslocamentos internos. Praticamente todas as tendências nacionais do partido sofreram rupturas e novas correntes surgiram tirando conclusões de sua experiência.

Dessa experiência junto com a atuação prática comum em meio a um processo de reorganização do movimento sindical e popular, surgiram as possibilidades de uma aproximação política entre o SR e o CLS, além do processo que veio a constituir o Bloco de Resistência Socialista.

Depois de pelo menos três anos de discussões, iniciativas comuns e a construção de uma relação de confiança política, o Congresso de Unificação do SR e CLS resultou na construção de uma síntese política e organizativa superior às antigas organizações. A LSR tem potencial para ser um pólo de atração para amplos setores da militância de esquerda e dos movimentos sociais que buscam uma bandeira limpa, socialista, de luta, democrática e coerente.

A unificação foi a conclusão de uma etapa importante na luta da LSR pela construção de uma nova esquerda socialista que tire as lições dos erros do passado.

Bases políticas sólidas

As resoluções votadas pelo Congresso forneceram bases políticas sólidas para a constituição de uma nova corrente unificada. A LSR se apresenta como uma alternativa política socialista e revolucionária, baseada na luta independente dos trabalhadores, claramente internacionalista e comprometida com a construção de espaços amplos de recomposição das forças de nossa classe.

Mas, além disso, o processo de unificação demonstrou o compromisso com a construção de uma nova cultura política democrática, franca, honesta e tolerante em relação ao debate político. Na crítica e combate ao burocratismo e sectarismo presentes na esquerda brasileira, a nova corrente busca extirpar os resquícios de práticas stalinistas que afetaram até mesmo aqueles que se colocam no campo anti-burocrático.

O Estatuto votado define uma concepção de organização militante, democrática, organizada pela base e voltada para a atuação na luta de classes. O Estatuto se preocupa com a formação e renovação dos quadros políticos e uma dinâmica saudável de debate interno.

A decisão unânime de filiação da nova organização ao Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) reflete um compromisso com uma prática internacionalista e a reivindicação dessa organização internacional como uma ferramenta importante na luta estratégica por uma Internacional revolucionária de massas. As trajetórias diferenciadas do passado não impedem que se construa um projeto internacional comum no presente e no futuro.

O Congresso de Unificação foi o cenário de um debate franco e aberto que coroou os esforços de elaboração e discussão do período anterior.

O nome da organização foi decidido a partir de várias possibilidades que conjugavam os três elementos que expressavam a idéia de um socialismo distinto do reformismo e também claramente diferenciado das terríveis práticas stalinistas. ‘Liberdade, Socialismo e Revolução – LSR’ foi a opção votada e recebida com entusiasmo por todos os delegados e observadores do Congresso.

Os planos traçados apontam para a publicação de um jornal chamado “Ofensiva Socialista” que tem a meta de ser regularmente mensal já no início do próximo ano. Mas, além disso, traçaram-se planos para uma ousada ofensiva de comunicação, usando a internet, para chegar a setores amplos.

As metas de crescimento visam consolidar bases fortes no sul, no nordeste e em Brasília, além de fazer crescer nosso trabalho no eixo São Paulo, Rio, Minas Gerais. O Congresso encaminhou uma política de formação dos militantes, incluindo uma Escola Nacional de Formação de quadros em conjunto com uma Escola Latino-Americana do CIT no início do próximo ano.

As finanças da nova organização refletem o caráter militante e classista da LSR. Ao contrário do que é prática corrente na esquerda brasileira, nossa fonte de recursos é a contribuição militante e as campanhas feitas entre os trabalhadores.

A nova corrente também atuará na disputa política do II Congresso do PSOL através da Tese “Colocar o socialismo na ordem do dia – colocar o PSOL à altura do momento histórico”. Lutaremos por um programa socialista para o PSOL, sua inserção nas lutas sociais, pela democracia interna e por uma política baseada na independência de classe para o partido. Da mesma forma, jogaremos peso no fortalecimento e desenvolvimento do Bloco de Resistência Socialista estimulando um debate estratégico sobre o futuro do Bloco.

Nossa atuação na Conlutas visará à construção da nova central unificada com outros setores até o primeiro semestre de 2010. Defenderemos o caráter não apenas sindical da nova central, mas também incorporando todas as organizações de luta dos trabalhadores, os movimentos populares e o movimento estudantil de orientação classista.

Ao encerrar o Congresso cantando ‘A Internacional’, os companheiros e companheiras presentes tinham clareza de ter dado um passo importante não apenas para suas trajetórias militantes mas para a reconstrução de uma alternativa socialista conseqüente no Brasil.