Que o eco das ruas se reflita nas urnas – Ainda em defesa da Frente de Esquerda!

O festival de greves e lutas que atingiu o país no mês de maio deixou claro que a classe trabalhadora voltou à cena com seus métodos de luta. O que garis, rodoviários, professores, metalúrgicos e sem-teto mais precisam, hoje, é a construção da unidade. Unidade pra avançar na luta, enfrentar a manipulação da mídia, a repressão estatal e impor uma derrota aos governos e patrões.

Essa unidade precisa expressar-se no campo da luta sindical, popular e estudantil. Construir uma plataforma e um plano de ação comuns dos diferentes movimentos é essencial. Mas, a unidade precisa também refletir-se no terreno eleitoral.

Para a esquerda socialista, as eleições gerais desse ano representam uma grande oportunidade para que as demandas específicas de cada setor sejam projetadas nacionalmente e articuladas entre si como parte de um projeto político global alternativo da classe trabalhadora e do povo, um projeto anticapitalista e socialista.

Não há justificativas para a divisão

Diante dos trabalhadores em luta e do novo momento no país, não há justificativa forte o suficiente para que a esquerda socialista se apresente mais uma vez dividida no processo eleitoral.

É inaceitável a prevalência de qualquer tipo de hegemonismo e sectarismo, a obsessão pela autoconstrução acima dos interesses da classe como um todo e também o pragmatismo nos cálculos eleitorais descolados de um projeto estratégico socialista.

Esse alerta vale para todos os partidos que se colocam no campo da oposição de esquerda ao governo Dilma e aos governos estaduais. Tanto o PSOL, como o PSTU e o PCB tem uma responsabilidade histórica diante da qual não podem se omitir.

Mas, é evidente que, como maior partido, a responsabilidade do PSOL é particularmente importante nesse processo.

O PSOL nasceu para ajudar na reconstrução desse projeto político da classe trabalhadora. Com todas as suas limitações e contradições, o partido tornou-se, desde sua fundação, o principal espaço para avançar no cumprimento dessa tarefa. Mas não é o único e está longe de ser suficiente.

Na verdade, o partido vive hoje uma crise política que só pode ser superada apostando-se na imensidão do novo que começou a surgir principalmente depois de junho de 2013. Repetir os velhos erros, as velhas práticas dos tempos de refluxo nas lutas sociais, só agravará a situação do partido, do conjunto da esquerda e dos movimentos em luta.

A disputa pelos rumos do PSOL

O IV Congresso do PSOL representou um retrocesso para o partido. Os métodos antidemocráticos e até fraudulentos utilizados ajudaram a construir uma linha política que não se coloca à altura do momento que vivemos.

O setor que saiu majoritário no Congresso (autodenominado “Unidade Socialista”) acabou por referendar as políticas inaceitáveis para um partido socialista adotadas em Macapá e Belém (alianças políticas com o Lulismo e até setores da direita) e deixaram espaço para que se repitam nessas eleições.

A opção por uma política de oposição de esquerda light para ocupar o espaço que Marina Silva deixou vazio só serve para tornar o PSOL mais parecido com falsas alternativas como o PSB ou o PV. Junho impõe para o PSOL a construção de uma alternativa radical (pela raiz) em relação ao modelo e o sistema vigente.

Mas, apesar dos rumos adotados pelo IV Congresso, a base militante e combativa que o PSOL conseguiu construir representou um contrapeso à linha da direção majoritária. Isso se refletiu também nas candidaturas construídas em vários estados.

Nesse cenário, a mão pesada da burocracia partidária voltou a agir e ameaça colocar tudo a perder.

Um golpe em São Paulo

Depois de tentar, com ou sem sucesso, derrubar candidatos com posições mais à esquerda em vários estados, o setor majoritário do partido provocou uma profunda crise em São Paulo com repercussões nacionais. Nesse estado, a pré-candidatura de Vladimir Safatle foi conscientemente minada pela Unidade Socialista (US).

A votação sumária no Diretório Estadual de São Paulo de um nome alternativo em uma reunião sem a presença de parte substancial dos membros representa um ato de força que divide o partido, desmoraliza a militância e sabota sua própria campanha eleitoral.

Refletindo as jornadas de Junho de 2013, o nome de Safatle como candidato do PSOL representa uma lufada de ar fresco no cenário político como um todo e uma esperança de um bom combate tanto para a militância do PSOL como para um setor importante da juventude e dos trabalhadores mais conscientes.

Safatle também significa uma chance muito maior para a construção de uma Frente de Esquerda em São Paulo.

Por isso, é preciso lutar para reverter essa situação. A esquerda do PSOL nacionalmente e todos aqueles que querem um partido sem golpes de mão burocráticos, assim como toda a vanguarda ativa nas lutas, devem se mobilizar para isso.

Frente de Esquerda nacional e nos estados

Os erros do PSOL são importantes, mas não representam o único fator que tem inviabilizado a construção de uma Frente de Esquerda.

Não podemos concordar com o argumento apresentado pela direção do PCB de que uma aliança eleitoral não se justificaria na medida em que essa frente não se coloca para o dia a dia das lutas. Por essa lógica, jamais chegaremos a nenhuma frente, nem nas eleições tampouco nas lutas. É preciso dar algum passo e avançar a partir daí.

Da mesma forma não podemos concordar com a postura de recusa da Frente de Esquerda por parte do PSTU, mesmo depois da companheira Luciana Genro e sua corrente (MES-PSOL) abrirem mão da proposta de ocupar a vice-presidência na chapa com Randolfe Rodrigues.

Essa posição correta de Luciana foi tomada para que as negociações com o PSTU pudessem avançar. Mas, o partido optou por utilizar as críticas à linha política do PSOL (muitas delas corretas) como justificativa definitiva.

Junto com a maioria da base ativa e militante do PSOL e a ala esquerda do partido, o PSTU poderia travar a batalha para que a linha política de uma Frente de Esquerda nacional fosse combativa, classista e radical como deveria ser. Afinal, se puderam fazer frente com o PSOL em 2006 em torno de Heloísa Helena, apesar de todas as diferenças que existiam, por que não fazer agora, em um momento político ainda mais decisivo?

Um exemplo de como o sectarismo e a divisão podem jogar um papel nefasto é o Rio Grande do Norte. Não existe qualquer justificativa para que o PSTU tenha rompido as discussões sobre a construção de uma Frente de Esquerda no estado que repetisse a vitoriosa experiência das eleições municipais de Natal em 2012.

Diante do impasse criado pelo PSTU, a pré-candidatura de Robério Paulino ao governo do estado pelo PSOL propôs que se fizesse uma ampla consulta entre os ativistas dos movimentos sociais e da esquerda no sentido de definir qual o melhor nome para encabeçar uma chapa unitária. Infelizmente, o PSTU não respondeu a essa proposta, preferindo anunciar diferenças políticas mesmo onde elas não existem.

Outro caso relevante é o do Rio de Janeiro. Reafirmamos aqui que, desde o início, defendemos (algumas vezes de forma isolada dentro do próprio PSOL) a construção da Frente de Esquerda no estado, independente de qualquer cálculo eleitoral ou outro fator que não reflita as necessidades estratégicas da classe.

Ao mesmo tempo não podemos entender como o PSTU recusa-se a fazer uma Frente nacional com o PSOL, mas insiste numa Frente no Rio onde as perspectivas eleitorais a partir da primavera carioca liderada por Marcelo Freixo são muito mais favoráveis. Defendemos uma Frente nacional e estadual e não apenas onde existam interesses eleitorais pragmáticos.

Chamamos a todos os setores da esquerda do PSOL para que reconstruamos o Bloco de Esquerda no partido e lutemos para garantir uma Frente de Esquerda nos estados e nacionalmente com um programa socialista.

Liberdade, Socialismo e Revolução – LSR
Reage Socialista
Mandato do vereador Paulo Eduardo Gomes (Niterói-RJ)

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