PSOL-RJ: Fundação do Setorial Ecossocialista
Dia 9 de Novembro ocorreu a Plenária de fundação do Setorial Ecossocialista Martha Trindade do PSOL-RJ na Lapa, sede do partido. Foram levantadas as principais pautas sócio-ambientais do estado e algumas campanhas que serão incorporadas pelo setorial.
Estiveram presentes militantes de sete cidades do estado: Rio de Janeiro, Niterói, Seropédica, Parati, Rio das Ostras, Teresópolis e Volta Redonda. Também estiveram presentes os mandatos dos vereadores Renato Cinco e Eliomar Coelho da cidade do Rio de Janeiro, além dos vereadores Renatinho, Renatão do Quilombo e o mandato do Paulo Eduardo Gomes, de Niterói.
Dentre as pautas discutidas como prioridades para o setorial, um dos grandes destaques foi a atual situação do Rio de Janeiro. Uma cidade que tem se tornado um balcão de negócios devido aos grandes empreendimentos relacionados ao mega-eventos que a cidade sediará, principalmente as olimpíadas e a copa do mundo. Diante dessas transformações tem havido um grande aumento da degradação do meio ambiente que afeta principalmente a população pobre. Nesse contexto as favelas e as comunidades tradicionais, sejam elas quilombolas ou aldeias indígenas, tem sido as principais prejudicadas, muitas delas sendo desalojadas de suas terras sem nenhuma indenização e com muita truculência.
Dentre as muitas falas, o vereador Renatão do Quilombo, recém empossado na Câmara Municipal de Niterói como o primeiro vereador quilombola do Brasil, falou de sua militância ecossocialista na serra da Tiririca, onde está estabelecido a quilombo onde reside. Falou da boa convivência secular dos quilombolas com a natureza e o quanto o avanço capitalista sobre o meio ambiente ameaça as comunidades tradicionais.
O vereador Renatinho, como defensor do meio ambiente e das comunidades tradicionais, falou sobre pescaria artesanal. Em 2011, Renatinho fez um projeto de lei de tombamento da pesca artesanal de Itaipu, que foi aprovado por unanimidade na câmara de Niterói e passou a integrar o patrimônio histórico e cultural da cidade. Como defensor dos animais, defendeu também a incorporação do setorial na luta pelos direitos dos animais.
Muitos camaradas do estado também falaram das várias lutas que estão ocorrendo no estado. Dentre elas, a luta contra as usinas nucleares de Angra, tendo em vista a grande tragédia que ocorreu em Fukushima, no Japão, em que boa parte do Oceano Pacífico está afetada pelos altos níveis de radiação após o terremoto que abalou fortemente o país. Foi levantada também a importância de articularmos nacionalmente a luta contra a expansão da exploração do xisto no Brasil, onde muitos rios terão sua integridade ameaçada e com isso prejudicando a sobrevivência das comunidades ribeirinhas e o consumo de água de muitas cidades, como já tem ocorrido nos EUA.
Um importante ponto levantado foi sobre as trágicas chuvas na região serrana em que milhares foram mortos sob o total descaso do governo que tem sido acusado de ter desviado o dinheiro da ajuda internacional às famílias que perderam tudo nas enchentes. O apoio aos manifestantes do Greenpeace presos na Rússia por sua militância ambiental também foi declarado pelo Setorial. Foi citado também o processo de transformação de Parati em cidade-mercadoria diante do aumento do turismo e da especulação imobiliária, de forma similar à da capital.
Dentre outras pautas também foi discutida a importância da proteção das comunidades que serão atingidas pelas obras do Comperj, entre eles pescadores tradicionais da região. A luta contra TCKSA se apresenta como uma das prioridades do setorial tendo em vista o impacto ambiental devastador da siderúrgica sobre a cidade. E um dos grandes eixos da luta ambiental em todo o mundo, o fim da exploração de combustíveis fósseis, foi também considerado prioritário, de forma que o setorial do RJ reafirma sua militância pela não extração do petróleo no pré-sal e todos os outros tipos de reservas de combustíveis fósseis.
Foi pautado também a necessidade da afirmação do ecossocialismo nas táticas e estratégias do setorial, para que não façamos coro com as vozes do ecocapitalismo e para que façamos um corte de classe necessário para nos diferenciarmos de partidos como a Rede e o PV, que têm se demonstrado como partidos da velha ordem burguesa ao realizar alianças com partidos tradicionais e aceitar dinheiro de grande empresas que há muito tempo desrespeitam os trabalhadores e o meio ambiente, tendo como principal representante deste movimento Marina Silva. Marina alcançou grande popularidade através de seu discurso de preservação do meio ambiente sob um discurso de nova política, no entanto sabemos que sua plataforma política tem como único objetivo alcançar o poder a todo custo.
Uma de suas várias contradições é o fato de que ela se aliou ao PSB para tentar candidatura à presidência da República, demonstrando que sua sede ao poder é maior que seu compromisso com o meio ambiente, tendo em vista que o PSB foi um dos partidos que votaram em massa pela implantação do Novo Código Florestal que descriminaliza o avanço do agronegócio sobre o meio ambiente. Porém, devemos considerar que existem alguns militantes e ativistas comprometidos com a luta pela preservação ambiental em alguns setores ligados a estes partidos. Na plenária, foi reafirmado o compromisso do setorial de dialogar também com aqueles que se identificam com a luta ambiental, mas que ainda não entenderam o formato elitista e descompromissado com o meio ambiente que a Rede de Marina tem demonstrado, apresentando a eles uma plataforma política coerente com a preservação ambiental.
O Ecossocialismo surge como alternativa à crise sócio-ambiental e torna-se estratégico para disputar a base de muitos movimentos ambientalistas e movimentos sociais que são anticapitalistas, porém, não possuem o socialismo como alternativa de ruptura do sistema.É necessário que a esquerda e os partidos socialistas se apropriem da pauta ambiental e apresentem como alternativa o Ecossocialismo, uma vez que muitos esperam uma alternativa contra a degradação do meio ambiente que seja coerente com uma plataforma socialmente justa.
Essa plenária teve como intuito chamar alguns militantes que já estão inseridxs nas principais lutas do estado do RJ, bem como chamar novos camaradas que se interessem em lutar pelo meio ambiente, para que possamos pensar coletivamente espaços de atuação e formular políticas para lutar em defesa dos direitos dxs trabalhadorxs e do meio ambiente. Nesse sentido a organização do setorial ecossocialista no RJ pode servir de espaço de articulação dos movimentos socais, das comunidades tradicionais e da população mais vulnerável. Assim, o setorial se afirma na construção da luta ecossocialista no estado do Rio de Janeiro para combater os avanços do capitalismo sobre o meio ambiente que prejudica em maior parte a população pobre. Esse setorial nasce também com o compromisso de reforçar a pauta do meio ambiente na esquerda brasileira como prioritária e arrancar o monopólio dessa pauta das mãos da burguesia.