Greve dos professores municipais de São Paulo conquista vitória, mas era possível avançar mais

A greve dos profissionais em educação do município de São Paulo iniciada no dia 3 de maio foi uma das mais poderosas mobilizações ocorridas nos últimos anos na cidade. Depois de 22 dias de paralisação, Haddad e Callegari foram obrigados a negociar diante da força do movimento grevista.

PT joga sujo

O governo do PT jogou sujo para tentar desmobilizar a greve. Inicialmente apostaram que seria uma luta de curta duração e tentavam ganhar tempo nas mesas de negociação (apelidadas de “mesas de enrolação”). Entretanto, com o passar dos dias a paralisação se ampliava e não dava sinais que terminaria tão rápido.

Haddad e Callegari iniciaram então uma inescrupulosa campanha nos meios de comunicação disseminando mentiras com o objetivo de desgastar a greve diante da opinião pública. O governo gastou dinheiro com propagandas na televisão dizendo que estava dando 10,19% de reajuste este ano e 13,43% no ano que vem, além de um aumento salarial de 80%. Esses dois reajustes já estavam aprovados em lei desde a gestão passada e não foi, portanto, concessão da atual administração. Além disso, para boa parte da categoria se trata de uma incorporação de gratificações e não um aumento real. A verdade é que o reajuste salarial concedido por Haddad este ano aos profissionais da educação foi de míseros 0,18%. Em relação aos 80% de aumento propagandeado pelo governo, apenas uma pequena minoria dos trabalhadores da educação terão aumento de piso salarial. Por fim, Haddad afirmou que cortaria o salário dos grevistas numa covarde tentativa de vencer a greve por meio do terror. O jogo sujo do PT fracassou, Haddad foi obrigado a recuar e a greve da Educação garantiu uma importante vitória.

Conquistas da greve

Embora não tenha sido uma conquista plenamente satisfatória, o governo foi obrigado a responder algumas das principais reivindicações colocadas pelos profissionais de educação. A criação de mais duas referências na tabela de vencimentos respeitando o teto de 25 anos para atingi-las, a permanência de JEIF em 2014 aos professores que já exercem esta jornada atualmente, a revisão da portaria que cria as salas mistas nos CEI’s e EMEI’s, a contratação de 108 auxiliares de vida escolar (AVE’s) e 718 estagiários de pedagogia em apoio à educação inclusiva, entre outras reivindicações, foram parcialmente atendidas.

Merece destaque o importante saldo político deixado pela greve. A ideia de que o PT significa uma alternativa ao PSDB já não existe mais entre os trabalhadores da educação. Os petistas, assim como os tucanos, sucateiam e privatizam os serviços públicos, impondo severas condições de trabalho ao funcionalismo e oferecendo serviço público de baixa qualidade à população. Resta a tarefa de fortalecer uma alternativa que represente os interesses dos trabalhadores e da juventude, e que também seja capaz de derrotar os partidos inimigos da classe trabalhadora.

Era possível avançar mais

No que diz respeito à demanda salarial a proposta do governo foi absolutamente insuficiente (míseros 0,18% de reajuste este ano e 3,7% por ano a partir de 2014 até 2016). Além disso, a falta de detalhamento com a qual o governo apresentou suas propostas abre a possibilidade para muitas dúvidas e armadilhas. Exemplo disso foi a resposta que o governo deu a respeito da organização da educação infantil quando disse que iria rever a portaria dos agrupamentos mistos, ao invés de revoga-la.

A greve estava forte, era possível melhorar a proposta salarial e aperfeiçoar as demais propostas do governo. A força da categoria em luta foi tão notável que seria possível também iniciar uma campanha pela derrubada do secretário de educação, César Callegari. Nas assembleias era comum ouvir “Fora Callegari!” A luta poderia ter avançado, não fosse a manobra realizada pelo presidente do Sinpeem.

Cláudio Fonseca manobra assembleia

Na última assembleia do dia 24/05, após informar sobre a proposta do governo, o presidente do Sinpeem colocou em votação a continuidade ou suspensão da greve, sem, no entanto, abrir o microfone para aqueles que pretendiam defender suas propostas. De forma sumária e autoritária Cláudio Fonseca impediu que os participantes da assembleia tivessem o direito de ouvir argumentos pró e contra a continuidade da greve. Essa é mais uma atitude antidemocrática que mostra a necessidade da construção de um poderoso movimento que lute por uma plena democracia em nosso sindicato.

A greve acabou, mas a luta continua

Haddad e Callegari cumprirão suas promessas? Não é possível confiar em um governo que tem a mentira como sua principal característica. A julgar pelos acordos não cumpridos pelo PT em escala federal, como no caso dos trabalhadores da previdência, é necessário se preparar para os enfrentamentos futuros, que certamente virão. O Sinpeem precisa avançar em sua democracia interna e em sua organização para enfrentar o governo. O sindicato está muito desgastado perante grande parte da categoria, que não confia no presidente e vacila quando é chamada à luta com receio de ser traída por Cláudio Fonseca e seus aliados. Por isso é necessário se organizar para enfrentar o governo e a burocracia sindical do Sinpeem. Os Educadores Socialistas na Luta convidam todos os lutadores e lutadoras a se organizarem conosco em defesa de um sindicato democrático e independente e por uma educação pública, de qualidade e gratuita.