Lições da greve dos educadores no RJ
As greves das redes estadual e municipal dos profissionais da educação do Rio de Janeiro, que duraram cerca de dois meses, foram os acontecimentos mais importantes da luta de classes no Rio de Janeiro, após as mobilizações das jornadas de junho. A greve desmascarou a politica educacional neoliberal da meritocracia de Cabral e Paes.
O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE-RJ) assumiu, junto com os movimentos populares, o protagonismo das lutas com a palavra de ordem de “Fora Cabral, vá com Paes!”. Essa greve histórica dos profissionais da educação unificou para além do SEPE. A pressão da base fez com que essa luta fosse ampliada para resgatar uma das pautas das jornadas de junho que era a defesa da educação pública de qualidade.
Apesar deste protagonismo do SEPE percebemos que a sua direção majoritária composta por PSOL (Insurgência e APS) e PSTU não estavam à altura do momento histórico e fizeram durante toda a greve uma leitura equivocada da conjuntura. Não apostaram na enorme disposição de luta da categoria como o motor da greve.
Priorizaram as mesas de negociação com os governos, em detrimento da radicalização e da luta direta exigida pela base da categoria. Além disso, assembleia atrás de assembleia a direção defendeu a separação das greves das duas redes, dificultando a unificação das pautas e da luta direta através de atos unificados que só ocorreram no final da greve, quando a base unificou as lutas passando por cima da direção em votação em assembleia.
A greve estadual foi abandonada
As duas redes tiveram níveis de adesão diferenciados às greves. Enquanto a greve da rede municipal mobilizou até 90% da categoria, a greve da rede estadual não decolou porque a direção do SEPE priorizou a rede municipal e abandonou o trabalho de base como as passagens em escolas para mobilizar para a greve da rede estadual.
A rede estadual possui uma lógica própria, oriunda da histórica greve de 2011 que conquistou vitórias e enfrentou Cabral. Os ativistas da rede estadual possuem mais experiência em movimentos grevistas e aprovaram a proposta de greve em 2013 em assembleia mesmo contra a posição da direção do SEPE. As ações mais radicalizadas como a ocupação da SEEDUC e o acampamento na ALERJ em 2013 demonstram o aprendizado das lições de 2011, um movimento que trouxe novos educadores para lutar junto ao SEPE e novos métodos de ação direta. O coletivo Luta Educadora (independentes, LSR, Reage e CRS) surgiu fruto desse processo junto a outros setores descontentes com as práticas da direção do SEPE.
A rede municipal não fazia uma greve há 19 anos. Porém, apesar de menos experientes, foi essa rede que assumiu a liderança das lutas em 2013 colocando mais de 20 mil pessoas marchando semana atrás de semana pela educação pública de qualidade. Estava engasgado na garanta dos profissionais da educação todos esses anos de péssimas condições de trabalho.
A greve da rede municipal sofreu uma influência direta das lutas de junho, pois muitos jovens profissionais da educação haviam participado dos protestos ganhando essa nova experiência de luta. Por isso aderiram no dia 08/08 à greve do SEPE, muitos mesmo sem serem filiados ao sindicato ou mesmo sem nunca terem ido a uma assembleia da categoria anteriormente. A greve trouxe uma nova camada de lutadores que haviam entrado na rede municipal recentemente. Este setor fez greve mesmo estando em estágio probatório, o que demonstra a firmeza da luta dos educadores por seus direitos.
A luta teve repercussão nacional
A ocupação da Câmara Municipal e os atos de rua que unificaram os trabalhadores da educação pública do ensino básico com outras categorias em greve e a população em geral, e que levaram aproximadamente cem mil pessoas as ruas nos dias 7 e 15 de outubro (dia do professor), rememoraram as passeatas de junho e deram repercussão nacional e internacional a nossa luta.
O coletivo Luta Educadora tem responsabilidade com o movimento, e por isso defendeu na última assembleia propostas diferentes para as redes estadual e municipal, pois eram realidades totalmente diferentes. Como a rede municipal continuava mobilizada defendemos a manutenção da greve. Na rede estadual defendemos o fim da greve por causa dos processos administrativos sobre os profissionais da educação que feriram a categoria e haviam desmobilizado a greve nesse setor.
Infelizmente a radicalidade de uma nova camada de ativistas do SEPE não se expressou nas atitudes e negociações conduzidas pela atual direção com os governos. A gota d’água foi o acordo firmado no STF que pôs fim às greves sem garantir vitórias reais para a categoria. Por conta disso acirraram-se as disputas entre setores descontentes da base e a maioria da atual direção.
Nova camada entrando na luta
Apesar da defesa de um plano de carreira municipal não ter sido conquistada, pois o plano aprovado pelo governo não representa os interesses da categoria, a greve tem um balanço positivo, pois formou um novo setor de educadores que entrou na luta.
O ponto negativo desta greve foi a forma de condução da greve pela direção do SEPE. A direção manobrou várias assembleias desrespeitando a base e chegou mesmo a não cumprir algumas decisões tomadas em assembleias. A Luta Educadora defende a entidade SEPE, mas após essa greve nossos diretores do SEPE são parte da oposição a esta direção autoritária com sua base e vacilante nas negociações com o governo. Nós da LE condenamos o ataque feito ao site do SEPE acusando a direção de ser pelega, devemos disputar nossas posições nas assembleias e não deslegitimando o site da entidade que nos representa.
A base radicalizada não é contra o SEPE enquanto entidade, é contra essa direção que esta burocratizada e deslocada da base, talvez por estar a mais de uma década à frente do sindicato, esta direção perdeu o contato com a sala de aula e as reais reivindicações dos professores que eram relacionadas às questões pedagógicas tão importantes quanto as questões econômicas. A base do SEPE também quer mais democracia dentro da sua entidade sindical.
A greve se encerrou com a base mais radicalizada na política do que a direção do SEPE, o que demonstra que estamos vivendo um novo período de lutas onde a burocracia sindical deve ser superada para não travar mais as lutas da categoria. A luta dos profissionais da educação guarda seus próximos capítulos para 2014, podendo explodir durante a Copa do Mundo de 2014! A luta certamente continuará em defesa da escola pública, gratuita e de qualidade.