Perspectivas mundiais: era da austeridade preparando convulsões sísmicas

altDocumento votado na reunião do Comitê Executivo Internacional do CIT em dezembro de 2012

Introdução

Estamos vivendo um dos períodos mais dramáticos da história. Os trabalhadores gregos, seguidos dos portugueses e espanhóis, estão na vanguarda do movimento contra a barbárie capitalista, a austeridade sem fim. Ninguém pode agora argumentar que a classe trabalhadora está passiva diante da ofensiva do capitalismo podre e doente. Em uma série de importantes greves gerais, ela tem resistido. Os trabalhadores ainda precisam criar um partido de massas e uma direção que esteja a altura da batalha entre o trabalho e o capital que irá dominar o início do século 21. Através de sua clareza teórica combinada com um programa de ação, o CIT assume como tarefa sua lutar para construir esta nova direção capaz de garantir a vitória da classe trabalhadora.

Oriente Médio

O caráter instável das relações mundiais – o que implica na possibilidade de eclosão de conflitos em muitas áreas do mundo, a qualquer momento – é indicado pelos recentes confrontos entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. O conflito acabou limitado à troca de disparos de foguetes e um acordo de cessar-fogo já foi alcançado. Mas a guerra poderá eclodir, novamente, e um ataque terrestre de Israel contra Gaza não pode ser descartado, o que provocaria tumulto em todo o Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra mais ampla.

A ‘Primavera Árabe’, ou o despertar do Oriente Médio e Norte da África, já estava a ponto de se transformar em outono, se não o início do inverno. Como previsto pelo CIT, a intervenção imperialista na Líbia – escandalosamente apoiada por alguns setores da esquerda, incluindo alguns chamados “trotskistas” – deu a oportunidade para o imperialismo intervir e estabelecer uma cabeça de ponte contra a revolução no Oriente Médio e Norte da África. Este movimento colossal das massas derrubou Ben Ali na Tunísia e a ditadura de Mubarak no Egito, com os jihadistas islâmicos transformados, em grande parte, em espectadores impotentes incapazes de afetar o resultado da revolução.

O movimento iniciou-se da mesma forma na Líbia através de um movimento de massas a partir de baixo, expresso em comissões independentes dos trabalhadores em Benghazi, em particular, que poderia ter se espalhado para o resto da Líbia. Essa perspectiva, no entanto, foi abortada pelo imperialismo e seus aliados locais, com resultados catastróficos para o povo da Líbia. O país está agora dividido em uma colcha de retalhos de esferas de influência, com suas próprias milícias, incluindo reacionários fundamentalistas islâmicos do tipo Al-Qaeda. No entanto, ao derrubar o regime ditatorial de Gaddafi a massa da população não estava preparada para tolerar os candidatos a mini ditadores e, consequentemente, se levantaram em algumas áreas para expulsá-los e suas milícias. Isso indica o potencial para um programa independente da classe trabalhadora por democracia e socialismo. O processo fundamental da revolução não está morto, mas pode ser temporariamente colocado em segundo plano.

A situação na Tunísia, descrita pelos comentaristas burgueses como a história bem sucedida da ‘Primavera Árabe’, continua profundamente instável. Os preços dos alimentos e o desemprego têm aumentado drasticamente. O uso de temas religiosos como um instrumento de desvio de atenção pelo partido governista Ennahdha, num país com as mais fortes tradições seculares do mundo árabe, está adicionando à raiva generalizada. No entanto, o movimento salafista está ganhando certo apoio entre as camadas mais alienadas da população urbana pobre. Uma batalha de poder crescente está ocorrendo entre os elementos do antigo regime, unidos atrás do ex-primeiro-ministro provisório Caid Essebsi e seu novo partido, “O Chamado da Tunísia”, que age sob credenciais seculares, e a situação, da coalizão em processo de desmoronamento liderada por Ennahdha, que tenta afirmar seu controle sobre a máquina do Estado. Enquanto isso, as greves dos trabalhadores e protestos sociais continuam existindo, como ilustrado pela paralisação quase completa de produção de fosfato por um mês, na região de Gafsa, em novembro. Como no Egito, o impasse do capitalismo empurra os novos governantes no sentido de ressuscitar a podridão do passado com a repressão se tornando um método central de governar. Isso não pode deixar de levar a uma reação, nova e mais ampla, da classe trabalhadora e a juventude. A construção de um polo de atração independente da classe trabalhadora política, baseada no imenso poder da UGTT, é mais urgente do que nunca.

Os eventos na Jordânia com um movimento de massas contra o Rei e a possibilidade de sua derrubada no curto prazo, ilustra o que está ocorrendo. O surgimento de maiorias compostas por forças fundamentalistas islâmicas dentro dos parlamentos do Egito, Tunísia e outros lugares, tem ofuscado, temporariamente, os objetivos originais da revolução, que teve um acentuado caráter democrático e social. Mas os partidos e forças islâmicos serão agora postos à prova pelos movimentos de massa, que exigem um aumento nos padrões de vida, a solução para o desemprego em massa, que não pode ser cumprido sobre as bases do capitalismo, além de sindicatos independentes, etc. É o aumento dos preços, particularmente de combustível, juntamente com a demanda por democracia, que impulsiona os movimentos atuais na Jordânia. Grandes movimentos sobre as questões sociais, possivelmente provocados por eventos de fora, por exemplo, da Europa, podem exercer um efeito decisivo para mudar a situação.

Ao mesmo tempo, uma nova guerra regional, ou guerras, ainda é possível. A Síria é um barril de pólvora com o regime de Assad sitiado e enfrentando uma possível derrubada, mas com uma oposição que também é dividida em linhas sectárias. Não podemos apoiar nenhum dos dois, Assad ou da oposição. Temos que traçar um caminho independente claro em direção as massas que podemos alcançar com um programa e perspectivas classistas.

Algumas das minorias ainda podem procurar abrigo sob a asa de Assad, por medo das consequências de uma vitória da oposição, que claramente tem o apoio predominante da maioria da população sunita, com uma influência significativa e crescente das organizações do tipo al-Qaeda. Além disso, a intervenção da Turquia contra o regime de Assad intensificaram a tensão entre os dois países. Confrontos armados podem ocorrer entre eles, que poderia criar uma espiral fora de controle. A intervenção de Irã, dominada pelos xiitas, ao lado de seus correligionários na Síria, não pode ser descartada. Igualmente, o conflito pode se espalhar para o Líbano com a eclosão de um conflito sectário. Isto, por sua vez, pode levar Israel a buscar a oportunidade de lançar ataques aéreos contra supostas instalações nucleares do Irã, o que, sem dúvida, levará à retaliação com mísseis iranianos e do Hizbollah atingindo cidades e instalações israelenses.

 No atual conflito, o regime israelense e toda a população foram surpreendidos pela capacidade de foguetes do Hamas alcançar até o centro de Tel Aviv. O CIT se opõe aos chamados “ataques cirúrgicos” de Israel – que não são nada disso – que resultaram na morte de, pelo menos, 160 palestinos.

Na luta legítima contra o terrorismo de estado de Israel, não apoiamos os métodos do Hamas, que desencadeiam ataques indiscriminados de foguetes contra as cidades densamente povoadas de Israel. Isso só serviu para impulsionar a população de Israel para os braços de Netanyahu, com, segundo as pesquisas, 85% apoiando a ação de retaliação e 35% agora apoiando uma invasão terrestre da Faixa de Gaza, em que centenas e milhares de palestinos, assim como os israelenses, seriam mortos e mutilados. O povo palestino tem o direito de resistir a métodos terroristas do governo israelense, mas isso pode ser melhor realizado por meio de movimentos de massa contra as invasões nos territórios ocupados – com o objetivo de causar uma divisão entre a classe trabalhadora de Israel e o regime vicioso de Netanyahu. No caso de uma invasão de Gaza ou em qualquer outro lugar dos territórios ocupados, o povo palestino tem todo o direito de resistir, com armas se necessário, contra os invasores.

Ao mesmo tempo, os métodos colonialistas cada vez mais provocantes de Israel – especialmente as seções dos colonos israelenses que continuam a invadir e ocupar terras palestinas – se continuam no mesmo ritmo, podem empurrar uma parte da população palestina para uma mudança de perspectiva sobre uma eventual resolução do conflito. Até agora, o apoio para uma solução de “dois estados” – um Estado palestino, ou pátria, ao lado de Israel – tem sido visto por uma evidente como um meio de resolver o conflito.

No curto prazo, o ataque a Gaza por Israel provavelmente aumentou o apoio à ideia de um Estado separado para os palestinos. No entanto, nós temos apontado que em uma base capitalista um Estado palestino seria inviável. Não iria satisfazer a demanda das massas palestinas por uma pátria segura, dado o seu caráter limitado e a ausência de uma base firme econômica. Por isso, defendemos uma Palestina democrática e socialista ao lado de um Israel também democrático e socialista – em uma confederação socialista da região.

África do Sul

Não obstante a influência de fatores geopolíticos sobre o curso dos acontecimentos – o que pode alterar seriamente as perspectivas em algumas circunstâncias – as características principais da situação atual são o aprofundamento da crise do capitalismo mundial e a resposta combativa da classe trabalhadora e pobre. Isso é simbolizado pelo magnífico despertar da classe trabalhadora sul-africana liderada pelos mineiros. As greves heroicas, como as revoluções anteriores no Oriente Médio e Norte da África, têm inspirado a classe trabalhadora nos países industriais avançados.

Seguindo o exemplo dos mineiros, outras seções da classe trabalhadora sul-africana, se juntaram a uma onda de greves, que atualmente é a maior e mais sangrenta do mundo. Esta também tem sido caracterizada por um elevado nível de consciência, e consciência socialista por parte da classe trabalhadora – um legado que não foi completamente apagado após revolução abortada dos anos 1980, que precedeu o fim do apartheid. Isso está expresso na demanda por novos sindicatos combativos para os mineiros, no lugar do totalmente corrupto sindicato dos mineiros, o NUM. Confrontado com uma CNA igualmente corrupta, os mineiros – com nossa ajuda – lançaram a chamada por um novo partido de trabalhadores de massas. Isso vai fortalecer a demanda similar pela a representação independente da classe trabalhadora em todos esses países – a maioria – onde a massa dos trabalhadores não tem partido, mesmo uma que parcialmente os representa.

Até mesmo a revista britânica The Economist, a porta-voz do grande negócio internacional, afirmou : “A melhor esperança para o país nos próximos anos é uma divisão real do CNA entre a esquerda populista e a direita dos ricos e poderosos, para oferecer uma verdadeira escolha para os eleitores”. Isto parece surpreendente, se não incrível, à primeira vista. Nenhum jornal capitalista defende isso para a Grã-Bretanha! Contudo, o que alarma o The Economist é que o CNA está tão desacreditado – existe um abismo de enormes proporções entre senhores, chefes e reis do CNA e a classe trabalhadora – que as massas empobrecidas começaram a ir rapidamente para a esquerda apoiando verdadeiros lutadores e socialistas, como os membros do DSM (CIT na África do Sul). Eles, portanto, moverão céus e terras para tentar evitar que as massas se movimentem em nossa direção, mesmo que isso signifique a criação de uma alternativa “populista” a um partido verdadeiro partido de trabalhadores de massas. Eles provavelmente não serão bem sucedidos se fizermos o nosso trabalho corretamente.

O movimento na África do Sul também tem servido para expor a fraqueza do capitalismo Sul-Africano. Na virada do século, o país era responsável por 40% do total do PIB dos 48 países ao sul do Saara. Nigéria, três vezes maior em termos de população, por outro lado, vinha longe atrás em segundo lugar, com cerca de 14%. O restante dos países da África, em termos de PIB, eram muito menores do que esses dois gigantes. No entanto, os economistas estimam que, apesar dos problemas e desvantagens óbvias, a Nigéria vai ultrapassar a África do Sul dentro de alguns anos. Parte da explicação é que houve um crescimento de 6% nas economias dos países ao norte do rio Limpopo, embora grande parte deste crescimento seja devido à produção de commodities, enquanto a taxa de crescimento da África do Sul reduziu-se a apenas 2%. Também é avaliada muito baixo em termos de educação, ciência, matemática, etc. Desemprego em massa endêmico (oficialmente em 25%, mas provavelmente mais perto de 40%). Um terço dos trabalhadores sul-africanos sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. A desigualdade maciça tem na verdade crescido desde o desmantelamento do apartheid e do fosso entre ricos e pobres é um dos maiores do mundo.

O espectro de uma crise crescente na região cronicamente instável do leste do Congo, e a recente violência mortal étnica em Quênia – que costumava ser apresentada como um exemplo de estabilidade – mostram que, na ausência de um movimento forte e unido dos trabalhadores, desintegração social, confrontos sectários, ou mesmo uma divisão completa, pode vir a dominar. Mali, também por um longo tempo retratado como um modelo de democracia na África Ocidental, está enfrentando uma crise sem precedentes e multidimensional, pelo qual as massas estão pagando um preço muito alto. Até hoje, estima-se que 450 mil fugiram do norte do país, que está efetivamente sob o controle da facção reacionária armada. A riqueza mineral do Mali, bem como a sua posição geoestratégica, são boas razões que tem estimulado o apetite voraz das potências imperialistas, com a França na vanguarda. Outro fator é o medo de estados vizinhos de que se Mali for dividido, isso criaria um precedente perigoso. A possibilidade de uma intervenção no norte através de estados vizinhos, apoiados pelo imperialismo, corre o risco de desestabilizar toda a região.

É vital que o CIT construa em cima de sua importante base na África, especialmente na Nigéria e África do Sul. Nossos companheiros nigerianos têm conduzido um heroico trabalho com caráter de massas, incluindo a participação numa série de greves gerais. No entanto, uma combinação da política dos líderes sindicais e a ausência de um partido de trabalhadores de massas tem levado a novas complicações na situação, especialmente o crescimento de Boko Haram. A grande experiência que temos acumulado na Nigéria e África do Sul vai apresentar resultados no próximo período.

Economistas e comentaristas burgueses estão prevendo um “renascimento Africano”. É verdade que alguns países têm ultrapassado em termos de crescimento seus antigos poderes coloniais, como Angola e Portugal. Isso tem atraído imigrantes de Portugal, Brasil e outros países. Mas esse crescimento favorece uma camada muito fina de profissionais com formação. É altamente improvável que as massas ganhem muito, dada a crise econômica mundial, que terá um impacto ainda mais severo no mundo neocolonial do que nos países industriais avançados. Qualquer ”renascimento” na África provável será do tipo marxista revolucionário, no qual irá desempenhar um papel importante, se não decisivo, por causa da posição que temos construído nos dois principais países da África: Nigéria e África do Sul. Agora temos de procurar espalhar isso para outros países da África, estabelecendo o CIT em um outros países africanos.

Eleições nos Estados Unidos

O evento mais importante no último período, pelo menos no Ocidente capitalista, foi a reeleição de Obama nas eleições dos EUA. Ele foi o primeiro presidente a ser reeleito desde 1945 com uma taxa de desemprego acima de 7,5%. Alguns estrategistas do capital – incluindo alguns que imaginam que eles são, como George Osborne, o Chanceler do Tesouro (ministro das Finanças britânico) do Partido Conservador – têm tirado conclusões totalmente falsas a partir desta eleição. Eles argumentam que a principal razão pela qual Obama foi eleito, é porque o povo americano culpou Bush, o presidente anterior, pela atual catástrofe econômica. Isto, sem dúvida, foi um fator, mas não foi o único e não o decisivo. Na Grã-Bretanha, o governo será julgado sobre as suas políticas atuais, que estão tendo um efeito devastador no corte de padrões de vida. Ocorreu uma grande polarização, com os eleitores de Obama – apesar de sua decepção desde que foi eleito – se comparecendo para evitar que os “0,01%” da população – os ricos, os plutocratas – ganhasse a eleição através de seu candidato Romney.

Havia um medo real de que uma vitória de Romney significaria um retrocesso histórico, minando o bem-estar, as limitadas reformas de saúde, etc. Isso ajudou comparecimento às urnas que, embora não tão alta como 2008, foi, no entanto, bastante elevada pelo padrão histórico. A margem de vitória no voto total foi mais estreita, com Obama vencendo por 50,8% a 47,5%, mas, crucialmente, a maioria das mulheres o apoiou, com uma maioria ainda maior de mulheres jovens. Ele também ganhou 80% dos eleitores de minorias – latinos e afro-americanos, é claro, e também uma maioria significativa dos trabalhadores sindicalizados – como os trabalhadores de montadoras. Não foi apenas uma questão de vitória do “mal menor”. Esse fator estava presente, evidentemente, mas camadas significativas também estavam dispostas a dar “mais tempo” para Obama para “dar um jeito na economia”. Houve também um forte ânimo defensivo entre setores amplos da sociedade para se defender contra um ataque contra eles que entenderiam viria caso Romney ganhasse. Ele não vai, obviamente, ser capaz de fazer isso, por causa do caráter da crise econômica.

A vitória maravilhosa da nossa candidata em Seattle, com um esplendido 29% dos votos foi um triunfo, não apenas para os camaradas estadunidenses, mas para todo o CIT. Assim também foi a reeleição do nosso companheiro na Austrália. Era uma confirmação poderosa de nossa ideia de ter candidatos independentes dos trabalhadores levando a construção a novos partidos de massas dos trabalhadores. Além disso, isto ocorreu no coração da maior potência capitalista do mundo. Esta vitória é um prenúncio do que podemos esperar em outros lugares, especialmente na África do Sul e na Europa no próximo período. Estas eleições mostram o potencial que existe nos EUA para as ideias e programa do socialismo. A herança de traições socialdemocratas e stalinistas não existem nos EUA. Isto torna o terreno mais favorável para as genuínas ideias do socialismo do que a maioria da Europa e em outros lugares nesta etapa. A vitória de Obama abre possibilidades, do nosso ponto de vista. Seu segundo mandato pode preparar o caminho para um terceiro partido, mas desta vez seria uma partido popular, radical e socialista da classe trabalhadora. Embora inicialmente não seja comprometido com o socialismo no início, o surgimento de um novo partido radical de esquerda representaria um grande passo à frente nos EUA. Naturalmente, todas as perspectivas são condicionadas pelo modo como a economia se desenvolve em os EUA e em todo o mundo.

Economia mundial – BRICs

As perspectivas para a economia mundial continuam a ser a chave para o capitalismo mundial. E não há nenhuma região do mundo que, neste momento, ofereça a perspectiva de saída, mesmo a médio prazo, para o sistema. A ideia de que os BRICs seriam capazes de “descolar” da economia mundial tem sido prejudicada pela desaceleração na China e os efeitos decorrentes para as perspectivas das economias que dependem das exportações de produtos primários. A taxa de crescimento do Brasil, caiu precipitadamente de 7,5% ao ano para a um estimado 1,6% em 2012. A partir disso, o Brasil e outros países cujas economias cresceram – Austrália, por exemplo, com um período de crescimento de 21 anos – pode-se esperar um aumento das tensões sociais e greves com a classe trabalhadora agora compartilhando o destino do resto do mundo, o que permite mais espaço combinado para a ação internacional ao longo das linhas de 14 de novembro na Europa. No Brasil, o próprio desenvolvimento da economia foi positivo no sentido de que, paradoxalmente, fortaleceu a classe trabalhadora e levou a greves, como tínhamos previsto, com a classe trabalhadora exigindo a partilha dos lucros crescentes da burguesia.

Economia estadunidense

A economia dos EUA – que é um dos poucos a recuperar os níveis de produção de pré-2008 – reduziu-se a seu ritmo mais fraco desde 2009, crescendo a menos de 2%, enquanto as maiores economias do mundo já perdeu força simultaneamente. Se os republicanos recusarem um acordo com Obama, se os EUA cair no abismo fiscal, isso poderia quase automaticamente derrubar a economia mundial – que está basicamente estagnada – em uma nova recessão mais profunda. Os interesses do capitalismo deve, logicamente, obrigar os republicanos a buscar um acordo com Obama. Mas o sistema político nos EUA, projetado originalmente para uma população do século 18, predominantemente de pequenos agricultores, agora é completamente disfuncional, além do próprio Partido Republicano. Obama, em uma de suas manifestações mais reveladoras falando com os banqueiros estadunidenses em 2009, declarou: “Meu governo é tudo o que é entre você e os forcados”. Mas nas eleições, isso não lhe garantiu o apoio da burguesia estadunidense, que favoreceu principalmente Romney. Isso só serve para mostrar que uma classe nem sempre reconhece seus próprios melhores interesses! São os estrategistas e os pensadores da classe dominante, que de vez em quando se encontram e m oposição aos que supostamente representam, que estão preparados para defender os melhores interesses dos capitalistas e traçar um caminho a seguir. O problema para eles é que, hoje, a escolha é entre diferentes caminhos para a ruína do capitalismo.

Economia mundial

A perda de confiança dos capitalistas fica evidente em sua recusa a investir, bem como nos avisos das instituições consagradas do capitalismo: o FMI, o Banco Mundial, etc. Suas previsões de uma saída rápida da crise atual foram esmagadas e eles já se bandearam para completo pessimismo. Eles concordam agora com a nossa análise, concluindo que esta crise será prolongada e pode até ficar pior, muito pior. Cameron e o Governador do Banco de Inglaterra (banco central britânico) alertam que a crise pode durar mais uma década, o FMI assobia uma melodia semelhante. O tema utilizado pela primeira vez no Japão de “bancos zumbis” agora é usado para descrever não apenas os bancos, mas as economias dos EUA, Europa e Japão. E como pro Japão, economistas burgueses estão prevendo uma “década perdida” para alguns países e para a Europa como um todo. Alguns especulam que poderia durar duas ou até mesmo três décadas. Uma comparação com a depressão do século 19, de 1873-1896, está sendo feita, pelo menos para a Europa. Martin Wolf do Financial Times ponderou: “A era do crescimento ilimitado acabou?”, citando extensivamente um novo estudo, “O crescimento econômico dos EUA acabou? A inovação vacilante confronta os ventos contrários. “[NBER Working Paper 18315.]

Isto levantou a questão vital do papel da inovação e invenções, em geral, para o desenvolvimento do capitalismo, e particularmente para impulsionar a produtividade do trabalho. Os autores do estudo acima referido concluíram que o que houve, em modo geral, “três revoluções industriais” desde 1750, que foram cruciais para o desenvolvimento do capitalismo. A primeira foi de aproximadamente entre 1750 e 1830, que criou motores a vapor, a fiação de algodão, ferrovias, etc. A segunda foi a mais importante com suas três invenções centrais: energia elétrica, o motor de combustão interna e água corrente com água encanada no período relativamente curto de 1870 a 1900. Ambas as revoluções demoraram cerca de 100 anos para os efeitos penetrar a economia. Depois de 1970, o crescimento da produtividade desacelerou acentuadamente por uma série de razões (que nós mesmos analisamos em resposta aos argumentos dos nossos desertores sul-africanos e de Liverpool). A revolução do computador e da internet – descrita por autores como “revolução industrial três” (IR3) – atingiu o seu clímax na era da informática (“ponto com”) do final dos anos 1990. Mas seu principal impacto sobre a produtividade, dizem, minguou nos últimos oito anos. Eles concluem que, desde os anos 2000, a invenção tem sido amplamente concentrada em entretenimento e dispositivos de comunicação, que são menores, mais inteligentes e mais capazes, mas eles não mudam fundamentalmente a produtividade do trabalho ou o padrão de vida, da maneira aconteceu com a luz elétrica, automóveis ou água encanada. Isso não quer dizer que não são as invenções potenciais para levantar enormemente a produtividade, mas o dilema é o estado atual do capitalismo em declínio, que é incapaz de desenvolver o potencial das forças produtivas. A tendência de queda da taxa de lucro – e as quedas reais em rentabilidade – desencoraja os capitalistas de gerarem invenções que possam desenvolver as forças produtivas.

Depois, há o problema da “procura” que por sua vez levou a uma “greve de investimento”, com um mínimo de US$ 2 trilhões de “capital desempregado” de dinheiro empilhado nas empresas americanas. E, em cima disso, existe um excesso de dívida colossal. Satyajit Das repreende no Financial Times os burgueses americanos que “parecem incapazes de lidar com a verdade – a perspectiva de pouco ou nenhum crescimento econômico por um período prolongado… empréstimos cada vez maiores são necessários para sustentar o crescimento. Em 2008, US$ 4–5 de dívida foi necessário para criar um dólar de crescimento dos EUA acima dos US$ 1–2 em 1950. China agora precisa de US$ 6–8 de crédito para gerar um dólar de crescimento, um aumento de US$ 1-2 há 15-20 anos atrás”. Trotsky comentou sobre a situação que enfrentava o capitalismo no final da depressão dos anos 1930: “As forças produtivas da humanidade deixaram de crescer. As novas invenções e os novos progressos técnicos já não conduzem a um crescimento da riqueza material. Sob as condições da crise social de todo o sistema capitalista, as crises conjunturais sobrecarregam as massas com privações e sofrimentos cada vez maiores. O crescimento do desemprego aprofunda, por sua vez, a crise financeira do Estado e enfraquece os sistemas monetários instáveis”. [Programa de Transição]

Devemos tirar todas as conclusões necessárias a partir disto, que setores da burguesia, a partir de seu ponto de vista de classe, já estão tentando fazer. O capitalismo enfrenta não uma crise, mas uma cadeia de crises. Eles estão tentando conciliar a classe trabalhadora para a perspectiva de um crescimento pequeno ou zero e, portanto um nível de vida severamente reduzido, como a Grécia demonstra. Temos que combater isso, por meio de nosso programa e enfatizar as possibilidades ilimitadas – hoje mesmo evidentes – se a sociedade for organizada em uma forma mais racional, planejada através do socialismo. (China está construindo o prédio mais alto do mundo – num ritmo de três andares por dia – em apenas 90 dias. Muito se opõe, obviamente, a isso, dado o histórico da China de ignorar riscos à saúde e segurança, bem como os custos ambientais. Mas esse exemplo mostra o potencial colossal que não pode ser usado corretamente sob o capitalismo, mas pode ser aproveitado em uma economia democraticamente planejada.)

Europa

A crise econômica na Europa é a mais grave que o capitalismo mundial enfrenta. A profundidade da crise é parcialmente um produto da introdução do euro. Ela se manifesta através do nível de desemprego em massa, com 18,5 milhões de pessoas sem emprego nos 17 países que compartilham o euro, com um extra de 146 mil ingressando nas fileiras dos desempregados somente em outubro. No conjunto dos 27 países da União Europeia (UE), quase 26 milhões de homens e mulheres estavam sem emprego em outubro – um aumento de 169 mil em dois meses, enquanto a taxa de desemprego total ficou em 10,6 %.

A crise parece tão grave e intratável, com austeridade claramente não funcionando, que um bate-boca irrompeu, com o FMI advertindo contra a “austeridade excessiva” aplicada pelos governos nacionais na Europa, com a bênção das autoridades da UE e do Banco Central Europeu. Por um lado, como temos explicado, o BCE criou e procurou implementar, como o Federal Reserve dos EUA e o Banco da Inglaterra britânica, uma forma de keynesianismo, através da compra de títulos do governo, bem como empréstimos baratos para alguns bancos e países. Por outro lado, essas mesmas autoridades – a ‘troika’ – têm sido os instrumentos de políticas de austeridade. Eles foram alvos da crítica implícita do FMI, que apontou que um “efeito multiplicador” negativo opera quando austeridade severa é implementada – cortes nos gastos do governo, a perda de postos de trabalho, etc. – reduzindo, portanto a renda do estado. O BCE e os governos nacionais replicam com a “necessidade absoluta” de cortar gastos do Estado, acompanhado por todas as outras medidas de austeridade, privatização, etc. Apesar de todas as alegações e expectativas de crescimento, a austeridade teve o efeito de extinguir as poucas brasas econômicas que permaneceram durante a crise.

É verdade que as políticas keynesianas não conseguiram gerar crescimento. Na situação atual, é como “empurrar um pedaço de fio”. Isto levou os recém-nascidos keynesianos, como o ex-monetarista thatcherista Samuel Brittan, a fazer lobby por medidas mais ousadas. Ele defende o que equivale a um gigante jogo de “caça ao tesouro” em uma tentativa desesperada de fazer a economia andar novamente. Ele sugere, meio a sério, que pilhas de dinheiro devem ser enterradas e depois as almas aventureiras que descobrirem, então, sairiam gastando! Não há nenhuma indicação de que isso aconteça, no entanto. A generosidade que foi distribuída até agora tem sido usada para quitar dívidas e não para aumentar o consumo. Esta é uma indicação do desespero da classe dominante por alguma melhora nesta momento. O keynesianismo foi parcialmente testado e fracassou, mas isso não significa que, diante de uma explosão revolucionária, os capitalistas não irão recorrer a medidas keynesianas de longo alcance. Concessões podem ser feitas e, em seguida, os capitalistas vão tentar retomá-las por meio da inflação em um momento posterior.

Até agora, as autoridades da UE estão tentando evitar o default da Grécia, sugerindo que mais tempo possa ser dado para que suas dívidas sejam quitadas. Isso não vai impedir os ataques selvagens sobre a classe trabalhadora grega, que estão sendo aplicadas sem piedade pela UE. Nem vai resolver os problemas básicos da Grécia, que ainda se arrastará pesadamente com dívidas colossais. Portanto, um calote grego ainda é provável, e terá grandes repercussões em toda a Europa, incluindo a Alemanha, que está altamente endividada aos bancos de outros países. É até possível que a própria Alemanha possa tomar a iniciativa de deixar o euro, tal é a oposição política dentro da Alemanha aos pacotes de resgate. Mesmo com a proposta de dar mais algum tempo para Grécia pagar suas dívidas está enfrentando a oposição dos capitalistas alemães, porque isso significa cancelar uma pequena parte da sua dívida. É possível que, em relação a Espanha e alguns outros países, vão ser permitidos a “empurrar com a barriga”. Mas em algum momento, o problema vai ficar grande demais para a barriga! Portanto, uma ruptura da zona do euro continua a ser uma possibilidade. Oposição à Europa como um clube do grande negócio também está crescendo com a demanda por referendos em países como Grã-Bretanha e possivelmente em outros lugares. A maioria nas pesquisas de opinião na Grã-Bretanha é agora pela saída da UE. Os capitalistas da Europa não tem certeza nenhuma que a presente situação desconfortável não vá levar a transtornos ainda maiores na Europa no próximo período, se não tomar algum tipo de ação de emergência.

Até os chineses expressam alarme sobre o rumo dos acontecimentos na Europa, com um alto funcionário chinês, Ji Liqun, responsável por um enorme fundo de estatal de US$ 475 bilhões, advertindo que o povo europeu está num “ponto de ruptura”. Ele já havia argumentado que os europeus deveriam trabalhar mais, mas agora reconhece que a profundidade da raiva do público poderia levar a uma “completa rejeição” dos programas de austeridade. “O fato do povo estar tomando as ruas e recorrendo à violência indica que a tolerância do povo em geral atingiu os seus limites”, ele comentou. “Os sindicatos estão agora envolvidos em protestos organizados; manifestações e greves. Está cheirando a década de 1930.” Uma de suas preocupações não ditas é que o exemplo dado pela classe trabalhadora europeia pode transbordar para a própria China, assim como sua preocupação com o investimentos chineses na Europa.

Leste europeu e Rússia

Europa Oriental e a Rússia também estão experimentando grandes convulsões sociais. O regime na Rússia está enfrentando oposição crescente. Putin, não é mais visto como invencível. Pequenas concessões feitas em face de protestos em massa têm sido superados pelo fortalecimento do autoritarismo, e Putin está cada vez mais dependendo de forças reacionárias, como a igreja. Recentemente, temos visto até o uso de patrulhas de cossacos para manter a “ordem” e combater “imigrantes ilegais”. Estas medidas não vão salvar o regime. Duas décadas após a queda do stalinismo, o povo russo começa a se recuperar. Inicialmente com uma explosão de raiva contra a falsificação das eleições. Enquanto os protestos se desenvolviam ao longo do ano, até mesmo a mídia pró-capitalistas comentou como esses protestos iam à “esquerda”, com um grande bloco em defesa da educação e o crescente isolamento dos políticos liberais fracassados e personalidades da mídia que “lideraram” o movimento da massa de participantes. Mas muitas vezes na história quando as camadas médias da sociedade se põe em movimento contra um regime impopular, isso abre a porta para um movimento das massas oprimidas. Até agora, a classe trabalhadora não saiu massivamente sob sua própria bandeira. Mas ela vai fazer, exigindo e construindo organizações independente de trabalhadores tanto sindicatos e de caráter político. Este processo também será reforçado quando as circunstâncias econômicas mudarem, como eles vão começar a fazer no próximo período.

Infelizmente, as forças de esquerda são muito fracas na Rússia. Aqueles que vêm de uma tradição stalinista em grande parte boicotaram os protestos tornando mais fácil para os liberais e a direita manterem a sua posição dominante, enquanto outros de “esquerda” seguiram os liberais e até insistiram na unidade com as forças de extrema-direita. Embora as nossas forças são pequenas, levantando as questões democráticas e ligando-as com as demandas sociais e econômicas em uma forma transitória, conseguimos ter um impacto significativo, ganhando mais de 10 mil votos (cerca de 14%) para a nossa principal candidata na eleição para uma comissão coordenadora da oposição. A nossa intervenção nesses protestos, ajudaram em muita a estabelecer-nos como uma das principais organizações de esquerda na Rússia.

O país é demasiado dependente do preço do petróleo, que subiu nas alturas no passado, mas agora começou a diminuir e deverá cair ainda mais por causa da contração na economia mundial e particularmente da China. Alguns comentaristas afirmam que os EUA poderiam se tornar autossuficiente em energia até 2035, e isso teria um efeito sobre a renda dos produtores de petróleo, incluindo a Rússia, mas também afetando a Arábia Saudita e os produtores do Golfo. Isso é altamente questionável mas levanta interessantes questões geopolíticas sobre se os EUA ainda terão o compromisso de defender o Estreito de Ormuz em caso de um conflito com o Irã.

Cazaquistão

O mesmo se aplica a muitos dos países da ex-União Soviética. A pesar de grandes dificuldades e com a ajuda dos camaradas russos e do CIT temos continuado a fazer grandes esforços para sustentar a nossa organização ao longo de um período de anos. Isso pode resultar em resultados espetaculares no próximo período. As medidas repressivas rancorosas tomadas pelo regime de Nazarbayev só servem para aumentar o círculo de oposição e resultará em levantes revolucionários. Há poucas sociedades no mundo em que o fosso entre uma pequena elite e uma massa de pessoas pobres é maior do que no Cazaquistão. A mesma destruição da classe média ocorreu aqui, mesmo antes de a Grécia. A classe trabalhadora é confrontada com o desemprego em massa, agravado pela negação dos mais elementares direitos democráticos, em particular o direito a organizar sindicatos e seu próprio partido. Temos realizado uma campanha maravilhosa de solidariedade internacional que combinou a ação com os nossos representantes parlamentares europeus ao lado de sindicalistas, figuras culturais, e os trabalhadores e jovens, não só para expressar simpatia e apoio, mas também em viajar em visitas ao país, assim forjar laços internacionais entre a classe trabalhadora do Cazaquistão e do movimento dos trabalhadores na Europa Ocidental e internacionalmente.

Precisamos continuar o trabalho de construção do Movimento Socialista Cazaquistão, quem tem o potencial de unir em uma organização mais ampla todos os melhores lutadores de classe no país, enquanto construímos um forte quadro marxista capaz de orientar o movimento durante o tumultuosos eventos que, inevitavelmente, se desdobram. Todo o sucesso no Cazaquistão na criação de um movimento independente da classe trabalhadora também terá grandes repercussões internacionais, especialmente na Rússia, assim como nos países da ex-União Soviética e na Europa Oriental.

Leste europeu

Na Europa Oriental, tivemos uma greve geral na Romênia, um movimento semelhante na Eslovénia, e greves importantes na República Checa e em outros lugares, o que representa a entrada na arena da luta de massas da Europa Oriental. Na Polónia, a derrota que significou o aumento da idade de aposentadoria para 67 criou uma amargura no movimento dos trabalhadores e os primeiros passos para a construção de uma greve geral regional na Silésia. Por outro lado, na ausência de um partido de trabalhadores de massas, a extrema-direita está ocupando o espaço e há um ressurgimento e consolidação da extrema-direita. Na Hungria houve um movimento de oposição maciça na Hungria contra o governo de extrema-direita do Fidesz e seus aliados no Jobbik, com suas forças paramilitares. O chicote da contrarrevolução foi desencadeado na Hungria, mas isso, inevitavelmente, provocou um grande contra-movimento das massas. Nós devemos nos esforçar para fortalecer nossas pequenas forças nesses países que podem se tornar uma importante arena do conflito de classes, com a reentrada da classe trabalhadora para a arena política.

Irlanda

A Irlanda é, a partir de muitos pontos de vista, um país vital para o CIT. Em primeiro lugar, tem experimentado o programa de austeridade mais severo no norte da Europa que se assemelha o que aconteceu no sul da Europa. Em questão de anos foi mergulhada, de um país com um dos mais altos padrões de vida na Europa – se não o maior, de acordo com algumas medidas – não em uma recessão, mas uma depressão. Dada a posição covarde de colaboração de classes dos líderes sindicais – acomodados por décadas de “parceria social” – não é nenhuma surpresa que a classe trabalhadora irlandesa ficou inicialmente chocada com a gravidade da crise. Mas a raiva de classe tem crescido paralelamente com os relatos estrondosos de corrupção dos capitalistas, particularmente os bancos e o governo. Isso tem sido alimentado pelo crescimento meteórico do desemprego para acima de 15% da força de trabalho, o aumento dos despejos, com sem-tetos lado a lado de “casas fantasmas”. E depois há o escoamento da flor da juventude através da emigração.

Além de tudo isso o governo impôs o infame imposto domiciliar. Nós ocupamos uma posição de destaque na liderança da campanha contra esse imposto que tem sido bem sucedido em convencer pelo menos 50% da população não pagar. No entanto, o governo irlandês está propondo substituir isso com um imposto sobre propriedade muito mais punitivo, o que dará a classe trabalhadora e a nos muito mais espaço para desenvolver uma campanha de massas. A presença de nosso representante parlamentar nesta e em muitas outras campanhas nacionais e internacionais tem sido inestimável para a nossa organização na Irlanda e internacionalmente. A renúncia de um de nossos deputados de nossas fileiras decepcionou alguns, mas estava ligada a nossa luta para defender nossas ideias e métodos e nos ajudará a avançar para aproveitar as indubitáveis oportunidades que irão se apresentar para nós no período tempestuoso que está se abrindo na Irlanda. Da mesma forma na Irlanda do Norte, apesar da divisão sectária permanente, os nossos camaradas conseguiram heroicamente organizar uma marcha contra o desemprego e comemorar o aniversário de “motins” de 1932 em Belfast, também contra o desemprego, que viu católicos e protestantes se reunirem em uma manifestação unificada contra a comprovação de renda – que foi projetada para cortar salário desemprego.

A Irlanda é também importante por causa da Aliança de Esquerda Unida (ULA), em que nós, naturalmente, participamos. Temos encontrado dificuldades por parte de ex-membros em conjunto com o SWP – que levaram, por sua vez, à deserção de uma das organizações fundadoras da ULA. É vital que nós continuamos a construir nossa organização, de modo que possamos estabelecer uma poderosa alavanca para o marxismo na Irlanda, no próximo período, como o vitorioso congresso da seção irlandesa mostrou.

A morte de uma jovem mulher asiática, porque os médicos se recusaram a interromper sua gravidez em razão de que a Irlanda era um “país católico” e abortos serem ilegais, causou indignação. Isso, apesar do fato de que os médicos terem indicado claramente que sua vida estava em perigo se a intervenção não foi realizada com urgência. Joe Higgins, nosso deputado na Irlanda, corretamente descreveu este fato como “medieval”, com a hierarquia da Igreja Católica ainda capaz de insistir em medidas reacionárias como esta, em flagrante violação do direito da mulher de decidir sobre seu próprio corpo. Este incidente levou a protestos e manifestações de homens e mulheres exigindo que a lei seja alterada. Este incidente indica que a luta pelos direitos das mulheres ainda tem um longo caminho a percorrer – e não apenas na Irlanda – se a igualdade real entre os sexos deve ser estabelecida, o que só pode ser plenamente alcançada através de uma mudança na sociedade. Isso, no entanto, não nos absolve de lutar agora – como alguns setores têm feito –para melhorar a posição da mulher no lar, no trabalho, onde as mulheres ainda são extremamente mal pagas, e na sociedade em geral.

Europa

É no sul da Europa onde, em geral, os eventos mais convulsivos politicamente estão ocorrendo no momento. Temos testemunhado as greves gerais na Grécia, incluindo pelo menos dois de 48 horas greves gerais, o movimento maciço em Espanha, incluindo duas greves gerais em oito meses, com demonstrações de um milhão, em Portugal, um milhão tomando as ruas bem como uma greve geral de 4 horas na Itália. Pela primeira vez em 14 de novembro, ocorreu uma ação coordenada a nível europeu com o maior apoio para a greve em que a imprensa capitalista chama os países do ‘Club Med’: Espanha, Grécia, Portugal e Itália. A participação na Grécia não se compara com as greves gerais anteriores por causa da própria escala das ações tomadas anteriormente pela classe trabalhadora grega. No sul da Europa, estúdios de TV foram ocupados, confrontos ocorreram na Itália e Espanha quando os trilhos foram ocupados em Brescia e Nápoles. Está claro que um sentimento semi-insurrecional existe em oposição ao programa de austeridade implementada em nível continental.

Grã Bretanha

No norte da Europa as massas também estão começando a se mover. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o congresso da central sindical TUC, sob a pressão da nossa organização, junto com a Rede Nacional de Delegados Sindicais e sindicatos de esquerda como o PCS, o RMT, e a Associação de Agentes Penitenciários (POA), em setembro votou a favor de considerar uma greve geral de um dia, pela primeira vez em décadas, em oposição ao programa de austeridade da coalizão de governos liderada pelos conservadores. A burocracia de direita faz uma oposição de retaguarda contra demanda greve geral. Além disso, as mais punitivas leis anti-sindicais dos países industriais avançados, que os patrões e o governo não hesitarão em usar para evitar uma greve, serão um obstáculo a superar. Mas por outro lado, a pressão a favor de uma greve geral de um dia está acumulando por causa da escala dos cortes já implementados, mas particularmente por aqueles que estão por vir. O governo Cameron parece ter concluído que é improvável ganhar a próxima eleição e portanto está preparado para tentar forçar a introdução de uma série de cortes draconianos semelhantes aos introduzidos pelo então governo Tory no período de antes da greve geral de 1926. Ele está tentando fazer isso com a certeza de que um futuro governo trabalhista liderado por Ed Miliband não iria reverter cortes nos serviços. De fato, na manifestação do TUC com 150 mil em Londres 20 de outubro, Miliband foi vaiado quando admitiu que não seria capaz de cancelar os cortes introduzidos pelo governo de coalizão liderada pelos conservadores.

É provável que ocorra uma greve geral de um dia na Grã-Bretanha no próximo período, mas o momento de tal ação é incerto, em parte por causa do ritmo mais lento do movimento dos trabalhadores britânico, mas também por causa do freio da liderança sindical de direita. Uma vez que uma greve geral de um dia ocorrer na Grã-Bretanha, toda a situação será transformada. Claro, isso em parte depende de como é preparada e se vai além dos trabalhadores do setor público e da filiação sindical existente, que é de 26% da força de trabalho, um total de 6,5 milhões de trabalhadores.

No entanto, o apetite por ações decisivas para enfrentar o governo irá inevitavelmente crescer com o aumento dos ataques contra o da classe trabalhadora, não apenas através de cortes, mas também por causa de novas ameaças do governo aos direitos sindicais. O governo propõe medidas como o aumento proibitivo do custo de recorrer aos tribunais contra demissões e punições por parte dos patrões, bem como reduzindo tempo que representantes sindicais nos locais de trabalho têm disponível para representar os membros do sindicato. Se uma greve geral ocorrer, todo o descontentamento em todos os níveis da sociedade britânica vai se juntar por trás dele. Embora a Grã-Bretanha ainda não está na escala da Grécia de hoje, já é uma Grécia em câmera lenta. Nos ataques às camadas mais vulneráveis da população, pobres, deficientes, etc., a classe dominante britânica, através de Osborne, mais uma vez demonstrou a sua crueldade fria. Osborne foi vaiado nos Jogos Paraolímpicos, porque as pessoas com deficiência no meio da multidão e até mesmo alguns dos atletas logo teriam facilidades e benefícios tirados pelas as propostas do governo. A classe média, bem como os trabalhadores, estão sob ataque sério. Os salários, por exemplo, caíram cerca de 13% desde o início da crise. Greve geral na Grã-Bretanha pode, portanto, ser semelhante a um ‘hartal’ na Índia e no Sri Lanka – uma greve não só de sindicalistas nas áreas urbanas, mas envolvendo as camadas médias da sociedade, profissionais e pequenas empresas nas cidades – uma vez que a ação for realizada na Grã-Bretanha.

Um clima semelhante está começando a tomar forma em toda a Europa em um nível continental. Talvez apenas a Áustria – que também deve alcançar o resto como resultado da crise generalizada – e um ou dois outros pequenos “estados”, como Luxemburgo e Liechtenstein, será capaz de escapar temporariamente dos efeitos da crise econômica e social. Isto, naturalmente, é mais agudo no sul da Europa. Até mesmo Chipre está enfrentando agora a possibilidade de um resgate ou default por causa de sua enorme crise bancária. Mas “Grécia, Espanha e Portugal” pode vir ao norte da Europa muito mais rápido do que o previsto, mesmo para os quadros do CIT. Um elemento de “África do Sul” também pode ser levado para a Europa através de um movimento semelhante dentro dos sindicatos para derrubar e substituir os líderes que se recusam a organizar a classe trabalhadora para resistir à ofensiva do capitalismo.

Norte da Europa

Suécia e Escandinávia como um todo está sendo arrastado para o turbilhão da crise. 28% dos jovens já estão desempregados na Suécia. Além disso, a produção industrial na Suécia caiu 4,1% em setembro. O desemprego geral é quase o mesmo que na Grã-Bretanha – 7,8%. A Suécia foi um laboratório para as políticas neoliberais, especialmente durante a década de 1990. Ambos os governos socialdemocratas e de direita tentaram continuar estas nos campos da saúde e em especial a educação. A oposição de trabalhadores está começando a crescer com o fechamento de fábricas e transferência de recursos que foram construídos ao longo para a Europa Oriental e outros lugares. Os líderes podres e burocráticos que atualmente sufocam os sindicatos na Suécia vão enfrentar o mais sério desafio em gerações por uma classe trabalhadora que está começando a entrar em ação. Grandes oportunidades irão desenvolver para a nossa seção na Suécia no próximo período. Nós já temos um registro formidável de luta em que até agora tem sido uma situação objetiva difícil.

Os socialdemocratas dinamarqueses também estão com o mais baixo nível de apoio do último século nas pesquisas! A primeira ministra socialdemocrata que preside este colapso é a nora do desacreditado Neil Kinnock, que liderou os ataques contra nós no Partido Trabalhista na Grã-Bretanha na década de 1980, alegando que éramos um “obstáculo” eleitoral. Ele conseguiu perder todas as eleições que lutou como líder do Partido Trabalhista! Apesar de sua nora ganhar a eleição deste ano, parece provável que ela retomará a tendência da família!

A Alemanha, até agora a principal potência económica da Europa com uma das taxas mais baixas de desemprego na Europa, começa no entanto a ser afetada pela crise. Outros membros afetados da UE dependem da Alemanha para atuar como a locomotiva que possa arrastar a Europa pra fora da crise. Mas eles vão se decepcionar já que a desaceleração do crescimento fez que o governo de centro-direita da Alemanha decidisse colocar o pé no freio e reduzir a o endividamento líquido em 2013. Os ventos frios que sopram da China e outros países têm severamente restringido as exportações alemãs. Capitalistas alemães até agora tem mantido os empregos na expectativa de uma retomada do crescimento europeu e mundial, mas estão agora abandonando essa política, o que pode levar a um rápido aumento do desemprego na Alemanha. O governo também enfrenta eleições federais no meio do próximo ano. Merkel será obrigada, se ela for manter o poder, uma vez mais buscar aliados de coalizão, mas desta vez é improvável que inclua novamente os cada vez mais desacreditados democratas livres. Há especulações de que ela pode até dividir o poder com os Verdes, que agora é um partido pró-capitalista em uma coligação “preto-verde”. Essa combinação, acreditam alguns analistas, “pode ser o governo mais conservador desde a fundação da República Federal da Alemanha”. Ambas as partes tem acordo agora sobre o meio ambiente com o apoio de Merkel ao fim da energia nuclear e também sobre “disciplina fiscal rigorosa.” Isso indica o quão longe para a direita os Verdes se deslocaram. Eles ainda preferem um coalizão “vermelho-verde” com o SPD e os dois partidos já dividem o poder em um número de estados. Mas o SPD é atolado em cerca de 30% nas pesquisas, enquanto os Verdes estão em torno de 12-15%, portanto no presente, parece que qualquer coalizão majoritária teria que incluir a CDU. A participação do SPD e os Verdes no governo, seja em conjunto ou separadamente, pode abrir um espaço para o desenvolvimento do Die Linke – dentro do qual trabalhamos – com a condição de que ela desenvolve um programa sério de esquerda, que é a única maneira de encontrar um grande eco dentro da classe trabalhadora na evolução da situação na Alemanha.

Estas mudanças bruscas de a situação econômica dos países europeus também se refletem nos deslocamentos políticos e convulsões que temos visto em uma série de países no último período. As eleições na Holanda resultou em um governo de coalizão “centro-esquerda” do VVD liberal e o Partido Trabalhista, que quase imediatamente enfrentaram uma rápida deterioração da situação econômica do país. O governo introduziu um programa de austeridade e enfrentou um protesto em massa.

A formação finalmente de um governo nacional na Bélgica, 541 dias após a eleição de junho de 2010, não trouxe estabilidade. Eleições locais de outubro passado mostraram um grande avanço pela NVA nacionalista flamenca. Ao mesmo tempo, houve protestos sindicais frequentes, incluindo uma greve geral de um dia em janeiro contra cortes de empregos e ataques ameaçados. A Bélgica foi o único país do norte da Europa que viu greves significativas ocorrerem em 14 de novembro, protestos alimentados pelo anúncio repentino do fechamento completo da fábrica da Ford em Genk. Existe uma crescente discussão nos sindicatos sobre a necessidade de uma nova força política para apresentar à classe trabalhadora em ambas as partes da Bélgica, apesar dos esforços contínuos do PS francófono para manter uma face “amigável ao trabalhador”.

França

Na França, François Hollande e o Partido Socialista ganhou a maioria na eleição presidencial e uma maioria da esquerda na Assembleia Nacional há apenas seis meses. No entanto, Hollande há ziguezagueado em questões cruciais que afetam a classe trabalhadora, primeiro aparecendo descartar austeridade e depois introduzindo cortes severos. Ele, então, propôs um imposto sobre as riquezas, para depois recuar quando enfrentou oposição dos capitalistas franceses que ameaçavam deixar o país. Consequentemente, sua posição nas pesquisas entrou em colapso e ele agora está em 36%, uma queda recorde na popularidade entre os presidentes da Quinta República, depois de seis meses no cargo.

A França também enfrenta um severo declínio econômico, em particular na indústria manufatureira contraindo para um nível talvez equivalente a Grã-Bretanha, que agora está na segunda ou terceira classe das potências industriais, devido à devastação causada por Thatcher no passado. Grandes batalhas de classe apontam quando os trabalhadores reagem a uma avalanche de demissões – tipificado pelos 6 mil trabalhadores da Peugeot na região de Paris e os metalúrgicos que estão sendo demitidos. Uma alternativa política de esquerda permanece tão vital como nunca, especialmente já que a ameaça da extrema-direita da Frente Nacional perdura e até cresceu. O NOA já não oferece um campo proveitoso de trabalho. Isso pode mudar se um balanço adequado é elaborado sobre sua incapacidade de tomar a iniciativa na esquerda no passado, as lições são aprendidas com isso e se estabelece a base para um pequeno partido de massas. O giro à direita do Partido Socialista e o fracasso das forças de esquerda a se opor a isso pode levar a um renascimento do NPA embora nesse momento isto está longe de acontecer. 

A “Frente de Esquerda” de Mélenchon ainda não desenvolveu em uma força de oposição séria. Há também muitas lutas independentes que ocorreram, como a revolta regional contra um novo aeroporto no oeste da França. Nesta momento, a Frente de Esquerda e Mélenchon, seu principal porta-voz junto com o PCF, ainda não construiu uma oposição real a Hollande ou intervieram nessas lutas que ocorreram. No entanto, isso pode mudar e nós precisamos estar preparados para desenvolvimentos importantes, incluindo em torno da Frente de Esquerda.

Grécia

A Europa é a chave para a situação do mundo na atualidade, onde a luta de classes é mais aguda e com a maior oportunidade para um avanço das forças de esquerda e revolucionárias. Mas se isto é assim, então a Grécia é, portanto, a chave para a situação na Europa, com Espanha e Portugal não ficam muito atrás na cadeia de elos fracos do capitalismo europeu. Publicamos extensos matérias no site e nos jornais das diferentes seções nacionais traçando o desenvolvimentos explosivos na Grécia durante o último período. Como Trotsky disse da Espanha na década de 1930, não seria possível uma revolução, mas três ou quatro, se os trabalhadores gregos tivessem uma liderança forte e um partido de massas encabeçando a luta. Um programador de computador grego no dia da greve geral recente comentou com o jornal Guardian na Grã-Bretanha: “Pessoalmente, estou surpreso de que não houve uma revolução.” TV britânica também comentou que na verdade apenas 3% da população apoia as medidas de austeridade do governo e da troika. Com todas as agonias e a dor que o povo grego estão sendo forçados a suportar, até o final do programa de austeridade atual a dívida da Grécia ainda será de 192% do PIB! Em outras palavras, não há absolutamente nenhuma chance de que essa dívida possa ser paga. No entanto, a austeridade sem fim é o futuro que o capitalismo decretou para o povo grego.

Todas as condições para a revolução não estão apenas maduras, mas podres de maduras. 19 greves gerais, dos quais quatro foram greves de 48 horas e o restante de 24 horas, atestam as reservas colossais de energia dos trabalhadores gregos e sua disposição a resistir. No entanto, eles concluíram que apesar do que tem sido uma luta magnífica, a troika e os capitalistas gregos ainda não recuaram e portanto é necessário recorrer a front política e a ideia de um governo de esquerda capaz de mostrar um caminho para sair da crise. Isso apesar do fato de que há ceticismo em relação Syriza e sua liderança por parte das massas. De acordo com os nossos companheiros, uma proporção significativa das massas estão preparadas a apoiar Syriza, que atualmente recebe até 30% de apoio em algumas das pesquisas, mas não estão preparados para participar e se engajar ativamente em suas fileiras. Há um elemento disso em vários países. A grande decepção com o fracasso dos partidos de trabalhadores levou a um extremo ceticismo em relação a eles, mesmo aqueles formalmente com posições de esquerda. Há uma vontade de apoiar formações de esquerda e partidos nas eleições, mas não para dedicar tempo e energia para engajar-se em suas fileiras e construí-los. Os trabalhadores ficaram decepcionados no passado e temem ser traídos mais uma vez. Este sentimento, é claro, pode e será alterado uma vez que veem esses partidos realmente realizando o que prometem. Em vez de se mover em uma direção para a esquerda, no entanto, os partidos de esquerda em geral, e Syriza em particular, tendem a se mover para a direita, diluir o seu programa e abrir suas portas até para líderes da socialdemocracia que têm desempenhado um papel fura-greve aberto no período muito recente. Além disso, essa depende também em parte da criação de uma vida interna atraente de debate e discussão. A nossa participação dentro dessas partes é, neste aspecto, crucial.

Nas circunstâncias da Grécia, as táticas flexíveis empregadas pela nossa seção grega, enquanto se mantendo firme programaticamente, atendem às necessidades de uma situação muito complexa. Temos que manter um olho não apenas nas forças de esquerda dentro da Syriza, mas também nas consideráveis forças por fora que, como explicam nossos camaradas, em alguns casos estão reavaliando suas posições políticas anteriores.

Nós não podemos dar um prazo para quando o atual governo entrará em colapso – que com certeza acontecerá– com a provável chegada ao poder de um governo de esquerda liderado por Syriza. Mas temos de nos preparar para essa eventualidade com o objetivo de empurrar um tal governo para a esquerda, enquanto ao mesmo tempo ajudando a criar comitês populares democráticos que tanto pode apoiar o governo contra a direita, mas também pressionar-lo a tomar medidas em defesa da classe trabalhadora. Não é impossível que uma nova força significativa possa surgir através das táticas que estamos implementando atualmente.

Isto implica não apenas uma atenção sobre os desenvolvimentos na esquerda e nos partidos dos trabalhadores, mas também contra o perigo representado pela extrema direita e, especificamente, o crescimento da Aurora Dourada fascista, cujo apoio recentemente chegou a 14% nas pesquisas, mas agora diminuiu para cerca de 10%. Uma das razões para isso é a formação de comitês antifascistas de massas, que temos ajudado a iniciar e que têm atraído trabalhadores, jovens e refugiados, alguns, os camaradas nos informam, refugiados gregos ou seus descendentes da Ásia Menor. Este trabalho assume importância excepcional e poderia ser um modelo para o tipo de situação que nossas seções possam confrontar em vários países no futuro.

Se a classe trabalhadora e esquerda falham em realizar uma revolução socialista, a história atesta o fato de que eles vão pagar um preço muito alto por isso. As tensões sociais que existem na Grécia não podem ser contidas para sempre no quadro da “democracia”. Já existe uma guerra civil velada com mais de 90% da população colocada contra o “um por cento” e isso pode irromper em um conflito aberto no futuro. Alguns elementos de extrema-direita na Grécia têm discutido a ideia de uma ditadura, mas isso não está imediatamente na pauta. Qualquer movimento prematuro que procura imitar o golpe militar de 1967 poderia provocar uma greve geral ilimitada e uma situação revolucionária, como o golpe de Kapp fez na Alemanha em 1920. Um golpe também não seria aceitável ao imperialismo e a “comunidade internacional” neste momento, nesta era da “democracia e solução de conflitos “.

Os capitalistas, no primeiro momento, são mais propensos a recorrer a uma forma de bonapartismo parlamentar, como o governo Monti na Itália, mas mais autoritário. A posição econômica e social atormentada da Grécia vai exigir um governo de muito mais firme e mais acentuadamente de direita do que na Itália, com os poderes de anular decisões do parlamento em uma “emergência”. Se isso não funcionar e uma série de governos de caráter semelhante foram incapazes de quebrar o impasse social, e se a classe trabalhadora, através de um partido revolucionário, não tomar o poder, então os capitalistas gregos poderia ir para uma ditadura aberta. Temos que alertar a classe trabalhadora que ainda temos tempo na Grécia, mas nós temos que utilizar isso a fim de preparar uma força que pode realizar uma mudança socialista. A recepção em toda a Europa para a greve de 14 de novembro ilustra como as lutas da classe trabalhadora estão interligadas. Se os trabalhadores gregos rompessem a cadeia do capitalismo e apelassem aos trabalhadores da Europa Ocidental, pelo menos para os do sul da Europa, haveria uma grande resposta ao chamado a uma confederação socialista – provavelmente envolvendo Espanha, Portugal e talvez a Irlanda, em primeira instância, se não a Itália. É esta abordagem que deve guiar o trabalho de nossa esplêndida seção grego no período que está se abrindo.

Espanha

A Espanha não está muito atrás da Grécia em termos de luta dos trabalhadores contra a austeridade que o governo de direita do PP, apoiado pela troika, está tentando implementar. Um em cada quatro da população da Espanha e Grécia estão desempregados, com mais de 50% dos jovens fora do trabalho. Estes números são semelhantes aos observados durante a depressão dos anos 1930 nos EUA. Claro, até agora houve uma rede de segurança, tanto do estado e das famílias, mas essas reservas estão desaparecendo rapidamente. Quando aposentados, por exemplo, foram expulsos de lares por causa do programa de austeridade, as famílias atingidas pela pobreza os recebem de volta, e ironicamente a pequena aposentadoria dos idosos – por menor que seja, além de ser rapidamente desvalorizado por cortes – pode no entanto ajudar com as finanças da família! Muitos avós estão pagando as hipotecas de seus filhos com sua aposentadoria! Os bancos e as autoridades têm prosseguido uma política draconiana contra aqueles que atrasam com alguns pagamentos – muitas vezes resultantes de perdas de emprego – e que portanto são despejados; 350 mil espanhóis enfrentaram este destino nos últimos quatro anos. Isto significa que o sistema bancário espanhol tem na prática implementado uma política semelhante ao desastre das hipotecas sub-prime, que foi o estopim para a queda dos bancos a nível internacional e inaugurou a atual crise mundial econômica. Isso garante que os bancos espanhóis e o governo que os amparam são extremamente impopulares.

O resultado é que as lutas da classe trabalhadora espanhola foram intensificadas e são expressas em muitas batalhas, culminando em uma série de greves gerais rancorosas em que milhões de pessoas inundaram as ruas de cidades espanholas, como Madri, Barcelona e Valência. Uma das características do período após as eleições de 1936, o que levou o governo da Frente Popular ao poder e o início da guerra civil em julho do mesmo ano, foi que cada cidade experimentou sua própria greve geral e algumas mais do que uma. Este foi o sinal inconfundível de que a classe trabalhadora estava se preparando para resistir os preparativos da guerra civil dos capitalistas e do exército espanhóis. Espanha não está ainda nesta fase, mas a classe trabalhadora, a força esmagadoramente dominante na sociedade, está demonstrando através das greves a sua recusa de aceitar os enormes fardos desta crise, que não é de sua culpa. As lutas dos trabalhadores espanhóis, sem dúvida, ajudou a reforçar os trabalhadores gregos em sua batalha contra a austeridade.

Questão nacional

Ao mesmo tempo, a crise econômica tem agido para ressuscitar a questão nacional e não apenas na Espanha, mas também em outros países da Europa: Escócia, Bélgica e alguns outros países. Mesmo onde a questão nacional parecia ter sido resolvida, ela pode voltar a emergir como uma consequência da crise que se desenvolve. Mesmo na Itália este pode ser o caso. Por exemplo, na antiga região austríaca de Alto Adige / Tirol do Sul poderíamos ver o ressurgimento de movimentos nacionais, possivelmente levando até à separação completa.

Não seria possível, em tais situações, para que possamos ter sucesso sem uma posição correta sobre a questão nacional. Em geral, defendemos os direitos nacionais de todas as nacionalidades oprimidas. Mas isso de modo algum significa dar apoio ao nacionalismo capitalista, cujo objetivo é dividir a classe trabalhadora. De fato, uma tarefa vital para os marxistas é desmascarar os nacionalistas burgueses de todas as matizes que desejam usar as legítimas aspirações nacionais do povo para reforçar sua própria posição. Independência sobre uma base capitalista não vai resolver um dos problemas enfrentados atualmente pela classe trabalhadora; somente através de uma mudança socialista e a ideia de uma confederação socialista as aspirações dos povos nacionalmente oprimidos podem ser realizadas.

A Catalunha é um exemplo de como o político capitalista Mas e seu partido nacionalista, Convergència i Unió, conseguiu recentemente surfar no movimento pró-independência e nas novas eleições tentaram aumentar o seu apoio eleitoral. Porém, antes do recente aumento do movimento nacionalista, ele conduziu um programa de austeridade que o levou a uma colisão dura com a classe trabalhadora da Catalunha. Este foi um fracasso dramático para a CiU, que perdeu 12 mandatos nas eleições, com um giro à esquerda do eleitorado, com ganhos significativos feitos pela CUP, uma nova força anticapitalista pró-independência. A tarefa de construir uma frente unida das organizações de esquerda dos trabalhadores a partir de uma luta unificada contra a austeridade, baseado no apoio ao direito à autodeterminação e à luta por uma confederação socialista livre e voluntária dos povos ibéricos, é de particular importância nesta nova situação. O apoio específico a ideias de separação tem seus altos e baixos dependendo das circunstâncias concretas. No País Basco, que experimentou o maior movimento nacionalista no passado, agora parece que foi superado pela Catalunha no apoio à ideia de separação completa e imediata.

Criar um importante ponto de referência em cada país para o marxismo continua a ser uma das tarefas mais vitais para o CIT. Ela está ligada à criação de verdadeiros partidos marxistas dentro das organizações amplas da classe trabalhadora, quando existam. A IU (Esquerda Unida) apareceu representar a melhor esperança para alcançar este objetivo na Espanha. No entanto, ela foi à direita recentemente, mas pode provavelmente ainda ser um veículo para a classe trabalhadora nas lutas que virão. Espanha continua a ser de fundamental importância para o sucesso do CIT no movimento dos trabalhadores na Europa.

Portugal

O mesmo acontece com Portugal. A onda de oposição e a reação das massas, com mais de 600 mil nas ruas acompanhados por uma marcha sobre o palácio presidencial, quando o governo pensou que poderia simplesmente anunciar medidas de austeridade selvagens e eles seriam docilmente aceitas, obrigou o governo a recuar inicialmente. No entanto, prosseguiu com seu programa de austeridade, que por sua vez provocou a indignação das massas com as exigências de uma nova greve geral. Além disso, as tradições da revolução portuguesa de 1974 estão em processo de serem restabelecidas. É muito significativo que soldados, incluindo alguns oficiais, marcharam em manifestações de massas em oposição ao governo. O fio da história que foi quebrado com a retirada dos ganhos da revolução de 1974, particularmente durante os anos 1980 e 1990, está sendo reatado por uma nova geração. Temos de alcançá-los e trazê-los para as fileiras do CIT.

Itália

Na Itália, o descrédito e quase dissolução da centro-direita e centro-esquerda, incluindo o partido de Berlusconi significa que a burguesia italiana não tem um instrumento político firme com qual governar. Berlusconi não parece como se ele irá se recuperar da última rodada de condenações e seu partido pode se dividir em pedaços. O Partido Democrata é abalada por escândalos e da luta pelo poder dentro da liderança. A divisão está ocorrendo dentro Italia dei Valori, o partido populista do ex-juíz Antonio Di Pietro. O vácuo que existe foi parcialmente preenchido pelo comediante Beppe Grillo e seu movimento Cinco Estrelas, que conseguiu vencer 20% dos votos onde se candidatou nas eleições municipais. No entanto, seu movimento não é apenas uma piada, ele foi forçado a delinear um programa, com algumas exigências muito radicais na situação italiana, embora não diz uma palavra sobre salários e direitos dos trabalhadores. Obviamente, ele não representa uma tentativa genuína de criar um movimento de massas dos trabalhadores, mas é um reflexo da extrema volatilidade e frustração de que nenhum partido como este ainda exista no país. O velho está morrendo e o novo ainda não nasceu. O RC está praticamente extinto, uma discussão sobre a necessidade de um novo partido de esquerda está se desenvolvendo, mas no momento, mas nenhuma força séria com raízes na classe trabalhadora foi ainda capaz de entrar no vácuo à esquerda. Nossos companheiros têm sido muito bem sucedidos em manter e ampliar uma organização nacional e podem desempenhar um papel fundamental, especialmente com as raízes que construíram nos sindicatos, na construção da base para um novo partido de massa de trabalhadores e revolucionário. Nunca devemos esquecer as grandes tradições revolucionárias na Itália que, entre os grandes países da Europa, só perde para a França.

O governo de Mario Monti teve relativo sucesso em suas tentativas de minar e atacar as condições da classe trabalhadora, embora ele não tenha conseguido eliminar completamente o famoso “Artigo 18” da constituição, que consagrou alguns dos ganhos feitos pelo movimento dos trabalhadores no passado. A dívida pública de € 2 trilhões é a maior da Europa após da Grécia, como proporção do PIB. O padrão de vida está sendo cortado e o desemprego subiu e para a juventude não é muito diferente agora do que na Grécia ou Espanha. Há também uma crescente hostilidade à austeridade, que se manifesta em nas manifestações recentes. Em algumas fábricas (Finantieri, Ilva, a Alcoa) a reação dos trabalhadores contra a ameaça de perda de emprego tem sido muito poderosa. Os jovens parecem muito determinados a resistir. Por outro lado, a falta de uma oposição política à agenda de Monti, a fraqueza dos sindicatos e também a pressão da situação objetiva sobre as camadas mais importantes da classe trabalhadora estão impedindo uma reação mais generalizada para combater os cortes e medidas de austeridade e essas lutas que ocorreram parecem como “tiros no silêncio”. Portanto, nossos companheiros na Itália lutam para apoiar essas lutas e também superar seu isolamento.

Com o passar do tempo o espaço cedido ao “Super Mario” no início – não tanto pela classe trabalhadora, mas pelos líderes das organizações dos trabalhadores – já começou a se deteriorar. Portanto, ele enfrenta a ser marginalizado politicamente ou novas eleições terão de ser realizadas para lhe dá a oportunidade de desempenhar um papel central. Preparando isso, o capitalista industrial Luca Cordero di Montezemolo montou uma plataforma, de onde pode sair um partido, que se estima irá obter 15% dos votos para Monti. Quanto ao seu programa, ele declarou em seu comício de lançamento com a presença de 7 mil em Roma: “Ninguém está pedindo compromissos de mim, e hoje eu não estou dando qualquer”. Em outras palavras, oficialmente, “Eu não defendo nada!”, mas na realidade defende a continuidade da austeridade. Espera-se que no período pós-eleitoral será possível para Monti e seu “partido” construir uma coalizão de governo, provavelmente incluindo o ex-Partido Comunista, o Partido Democrata, que tem 25% nas pesquisas de opinião.

Esse fenômeno da súbita proliferação de figuras ou partidos com destaque nacional foi repetida em outros lugares, não só na Itália. O descrédito dos principais partidos, incluindo a ex-socialdemocracia, produziu partidos de causa única, como o novo Partido de Ação Nacional de Saúde da Grã-Bretanha, composto em grande parte de profissionais de saúde que normalmente apoiariam o Partido Trabalhista em defesa da Serviço Nacional de Saúde. O surgimento de tal organização é em si uma condenação esmagadora da falta de confiança ou o apoio aos partidos existentes. A expressão mais recente e bizarra disso se encontra no Japão. O partido nacionalista Aurora surgiu e caiu em quatro dias: “uma vida útil mais curta do que esses emblemas clássicos japoneses de impermanência como a flor de cereja”!

Ásia

O capitalismo japonês, como o resto do mundo, está enfrentando agora sua crise mais grave desde 1945. Tendo experimentado a década perdida dos anos 1990 – alguns dizem duas décadas perdidas – o Japão está enfrentando uma nova recessão, na verdade um aprofundamento da recessão, com uma queda de quase 1% na produção no trimestre de julho a setembro, a maior queda desde o tsunami atingiu o país em 2011. Até mesmo o primeiro-ministro japonês Noda descreveu esta contração como “severa”. Isso veio como um golpe duro para o capitalismo japonês, que apesar das suas enormes dívidas – hoje em 250% do PIB –parecia ter se recuperado de seu ponto baixo de 2010, com o dobro da taxa de crescimento da média do G10. Novas eleições foram chamadas, mas não vão resolver nenhum dos problemas fundamentais do capitalismo japonês. Podemos olhar para a frente para a re-emergência da classe trabalhadora do Japão através dos sindicatos e um novo partido político de massas.

A Índia, ao lado de muitos outros países da Ásia, tem sido severamente afetada pela crise económica mundial, com crescimento em declínio a partir de uma média turbinada de 9% no passado para, no máximo, 5,5%. Os problemas da Índia são óbvios. Além de pobreza massacrante, que era a triste realidade para a maioria da população, particularmente no oceano de aldeias rurais, mesmo durante o período de “Índia brilhante”, as pessoas agora tem que lidar com uma desaceleração. Isso vem junto com a fome e cortes de energia, com um apagão recente que foi o maior da história, deixando 600 milhões indianos sem eletricidade. Qual foi a resposta do governo para isso? Para propor um aumento dos preços dos combustíveis! Na verdade, o período aclamado como “Índia brilhante” agora se tornou o período “da maior fraude econômica” [Jayati Ghosh, Guardian]. O governo de Manmohan Singh liderado pelo partido Congresso abriu a porta para um capitalismo neoliberal do estilo Faroeste que destruiu as salvaguardas que protegiam os trabalhadores e os pobres – em suma, a introdução de uma forma de capitalismo de compadrio em grande escala. A “primeira família”, os Gandhis, foram intimamente envolvidos em fraudes e escândalos que resultaram em perdas enormes para os cofres públicos, que por sua vez, reduziu a oferta de recursos públicos para as necessidades mais básicas dos cidadãos, particularmente os mais pobres. O resultado é uma crescente onda de oposição contra a corrupção, os aumentos de preços e outras políticas neoliberais, tais como a introdução de gigantes do varejo como Walmart e Tesco, supostamente para reverter a queda do crescimento. Tudo isso foi levou a uma greve de 24 horas em várias cidades de todo o país em setembro. A oposição, envolvendo os sem-terra, por sua vez deram uma oportunidade aos maoístas para estabelecer uma pequena base nas áreas rurais. O giro à direita, por outro lado, dos líderes dos partidos “comunistas” significa que há uma ausência de uma voz política para a enorme classe trabalhadora da Índia. O início de conflito e cisões entre a liderança do Partido Comunista da Índia (Marxista) também é uma indicação de que entre a classe trabalhadora e a juventude cresce a quantidade daqueles que buscam uma alternativa socialista clara. Resta a nossa tarefa de intervir e adquirir forças suficientes que nos permitam ter um papel crítico na formação de um novo partido, o que pode se tornar um ponto de referência para todos os trabalhadores preparados para lutar.

Em contraste com a Índia, o Paquistão tem sido confrontado com fortes elementos de desintegração social e colapso resultando em uma situação terrível para as massas. A forte tendência de ‘talibanização’ é uma medida deste desenvolvimento. A classe trabalhadora ainda não foi capaz de emergir como uma força de liderança com a sua própria alternativa independente para a crise que engolfa o país. Os elementos de contrarrevolução são dominantes nesta fase, embora não na forma de uma intervenção militar aberta. Há elementos de fortalecimento do nacionalismo no Sind e outras províncias. As forças de “esquerda” em geral, além de nossos camaradas, são silenciosos nesta fase. Não há atualmente uma onda de propaganda pró-mercado e pró-neoliberal. Nas eleições previstas para o próximo ano é provável o enfraquecimento do PPP e o reforço da PML e os partidos religiosos. Diante de tal situação, a tarefa dos marxistas é preparar as seções mais politicamente conscientes e combativos dos trabalhadores e da juventude para uma situação favorável que eventualmente irá surgir. Os nossos camaradas têm desempenhado um papel heroico na luta contra esses elementos de contrarrevolução e na defesa das ideias do socialismo.

O Sri Lanka é, historicamente, uma base fundamental para o CIT. É uma grande conquista da nossa heroica seção do Sri Lanka e os seus quadros que nós conseguimos manter o nosso partido em uma das situações objetivas mais difíceis, tanto na região e em todo o mundo. A guerra civil de 30 anos, que não poderia deixar de polarizar a população em linhas étnicas, tornou difícil avançar e popularizar o nosso programa social. Nós, no entanto, firmemente apresentamos uma posição de princípio sobre todas as questões que afetam a classe trabalhadora, chamando para a unidade sobre a questão nacional, defendendo os direitos nacionais do tâmeis, enquanto, ao mesmo tempo, opondo os métodos dos Tigres Tâmeis. Uma guerrilha baseada em 18-20% da população e, além disso, com uso indiscriminado de métodos do tipo terrorista não poderia esperar uma vitória militar contra um regime com base em 80% da população. Particularmente porque este regime cada vez mais atraiu o apoio de potências estrangeiras – Índia, China, Paquistão e os EUA – cada um deles procurou para promover seus próprios fins apoiando o sangrento regime Rajapaksa. Sem isso, particularmente o abastecimento do regime com a superioridade militar esmagadora, é improvável que o exército do Sri Lanka, por si só teria vencido uma vitória tão completa em maio de 2009.

O fim brutal da guerra, com a matança indiscriminada de tâmeis comuns e depois o assassinato do líder dos Tigres Tâmeis depois que ele se rendeu, levou a opinião pública mundial a náuseas. Agora foi revelado pela própria ONU que os seus representantes ficaram de lado enquanto isso aconteceu, apesar do fato de que eles deveriam ser um escudo entre os últimos remanescentes dos Tigres e o exército do Sri Lanka. Há um crescente reconhecimento internacional que o presidente e seu irmão, o ministro da defesa, são criminosos de guerra. Como Pinochet, Rajapaksa foi ameaçado com um mandado de prisão internacional por crimes de guerra se ele tivesse ido em frente e visitado Londres recentemente. Isso teve até um efeito sobre seus apoiadores internacionais capitalistas, que agora temem que a cúpula do regime pode aparecer no banco dos réus acusado desses crimes num momento em que o crescimento de Sri Lanka pós-guerra está perdendo força.

Mesmo a taxa de crescimento da economia de 6% não impediu o crescente descontentamento público sobre o aumento do custo de vida, o que por sua vez provocou em greves e protestos. Mesmo que haja um alívio que a guerra acabou, as medidas repressivas do regime – com esquadrões da morte usando o temido método da “van branca”, de apreender os adversários e, em seguida, assassiná-los – provoca oposição e protestos. O governo tenta colonizar o norte e leste do Sri Lanka, com famílias cingaleses ligadas aos militares incentivadas a ir para essas regiões para suplantar a população tâmil original. Ao mesmo tempo, o rescaldo da guerra levou a um questionamento de posições políticas anteriores de organizações como o JVP, o que resultou em uma divisão e a formação do Partido Socialista Linha de Frente. Temos discutido com eles, mas ainda não atingiu posições políticas comuns sobre questões cruciais como a questão nacional, e o programa e táticas que podem ser usadas para derrubar o regime Rajapaksa. Mesmo comentaristas capitalistas reconhecem que o presidente e o círculo governante estão olhando para o modelo do leste da Ásia, “onde nada pode ficar bloqueando o caminho do desenvolvimento”. [Financial Times] Em outras palavras – descarte qualquer aparência de um verdadeiro parlamento e avance para modelo do tipo Cingapura  – uma ditadura com um verniz fino de “democracia”.

Isso vai inevitavelmente se chocar com as massas do Sri Lanka com a sua tradição democrática, especialmente através dos sindicatos, o direito de voto, etc. Não é por acaso que houve manifestações em protesto contra o possível impeachment do presidente da suprema corte, e que os juízes e advogados boicotaram os tribunais após um assalto a outro juiz importante, indicando a suspeita de que o regime está se movendo em uma direção ditatorial. Professores universitários também entraram em greve prolongada em protestos conta ataques à educação. Ao mesmo tempo, o regime continua a ser o mais militarizado na região. A cúpula do exército também está começando a agir como a do Paquistão em seu crescente apetite de gerenciar campos de golfe, velódromos e até shoppings. Isso vai provocar uma revolta contra o regime. Isso pode abrir um espaço para o desenvolvimento de nossa organização, que juntamente com outros pode contar com a grande experiência revolucionária das massas do Sri Lanka para criar uma força que vai abrir um caminho para o estabelecimento do socialismo na ilha, que juntos com as massas da Índia pode levar a uma confederação socialista da região.

Outro regime e de governo que parece no passado ter-se mantido imune aos ventos da mudança é a Malásia. Foi “astro” um capitalista com uma taxa de crescimento de 5,4%, na segunda parte deste ano. Para o ano de 2012, estima-se que a taxa de crescimento será de 4,6%, um resultado positivo comparado com o resto da Ásia. O mercado de ações está num nível recorde e a capital Kuala Lumpur vive parece passar por um forte crescimento. No entanto, a desaceleração é inevitável na Malásia, por causa da queda das taxas de crescimento da China, na qual ela depende economicamente como a maioria dos países do Sudeste Asiático. Além disso, Malásia e Ásia como um todo não será imune aos efeitos da crise na Zona do Euro. A vulnerabilidade da Malásia a choques externos foi mostrada quando o preço do óleo de palma – sua principal exportação – caiu por causa de temores de excesso de oferta. O governo vai ser obrigado a controlar seus gastos, o que terá um impacto sobre os padrões de vida.

Uma eleição deve ser convocada o mais tardar em abril de 2013. Como em eleições anteriores, o governo já fez sua parte para comprara apoio. Isso para afastar a ameaça representada pela coalizão de oposição Pakatan Rakyat nas próximas eleições. A coalizão governista liderada por UMNO perdeu sua maioria de dois terços no parlamento pela primeira vez na última eleição, em 2008. É possível que a oposição possa ganhar e isto, por sua vez, abre uma situação completamente nova na Malásia. O país tem sido controlado pela coalizão de governo desde a independência da Grã-Bretanha em 1963, que manteve o seu domínio através da divisão étnica, jogando a maioria malaia contra os chineses e indianos. Essa política e as precárias condições económicas não funcionam da mesma forma hoje. Neste novo período, grandes oportunidades se abrirá para a seção CIT que é um grupo pequeno mas muito impressionante de camaradas. Procuramos trabalhar em organizações mais amplas, a fim de estender a nossa influência.

Além disso, precisamos levar nossas ideias para a região, especialmente à Indonésia e às Filipinas, que é uma tarefa a ser realizada em conjunto pelos companheiros na Malásia e na Austrália, com a ajuda de outros companheiros na região. Como a África, a aquisição de uma base firme em toda a Ásia é uma tarefa primordial para o CIT. Imperialismo dos EUA identificou claramente a Ásia como uma área-chave – mais importante do que a Europa, por exemplo, estratégica e economicamente – e a primeira visita de Obama depois de sua vitória na eleição presidencial dos EUA foi feita para a região. Isto foi, em parte, para reafirmar a participação econômica do imperialismo dos EUA na região, mas também serviu como um alerta para a China sobre importância interesse militar estratégico dos EUA. Os EUA sentiu que fosse necessário por causa da nova assertividade militar da China, que foi revelado em seus últimos confrontos navais com o Japão sobre ilhas desabitadas disputadas. Japão, como consequência dos confrontos deste e de anteriores com a China, está começando a construir suas forças militares – só para “defesa”, é claro! Isto significa que a Ásia se tornará um novo e perigoso cenário de conflito militar com a ascensão do nacionalismo e a possibilidade de conflito direto, onde os poderes em disputa serão preparados para enfrentar um ao outro, com armas se necessário, a fim de reforçar a sua influência, poder e participação econômica. Devemos combater isto enfatizando a unidade dos povos da região e promovendo a ideia de uma confederação socialista.

China

A China é o colosso da Ásia, a segunda potência do mundo após os EUA. Como se desenvolve vai exercer um grande, talvez decisivo efeito, na região e no mundo. E a China está certamente numa encruzilhada, algo que elite dirigente entende bem. Como muitos grupos governantes na história, ela sente as tensões crescendo por baixo e não tem certeza de como lidar com elas. Estudiosos chineses descreveu a situação atual do país para a revista the Economist como “instável nas bases, abatido nas camadas médias e fora de controle no topo”. Em outras palavras, os ingredientes da revolução estão crescendo na China, no momento atual. A taxa de crescimento espetacular de 12% é uma coisa do passado. Parece agora como um como um carro preso na neve: as rodas de rodam, mas o veículo não avança. O crescimento tem provavelmente contraiu para a entre 5% e 7%. O regime afirma que houve uma certa “recuperação”, mas não é esperado a volta do crescimento de dois dígitos. Isto irá automaticamente afetar as perspectivas para a economia mundial. A taxa de crescimento acima de 10% só foi possível através de uma injeção maciça de recursos, em um certo ponto atingindo um investimento colossal e sem precedentes de 50% do PIB na indústria. Por sua vez isso gerou descontentamento: o ressentimento contra a desigualdade crescente e a degradação ambiental, bem como o roubo de terras comunitárias por funcionários gananciosos.

Estas e as condições de exploração nas fábricas geraram enorme oposição das massas com 180 mil manifestações públicas em 2010 – e tem crescido desde então – em comparação com a estimativa oficial de 40 mil, em 2002. A remoção da “tigela de arroz de ferro” e ataques na saúde e educação contribuíram para esse descontentamento. Isto forçou a liderança a reintroduzir um mínimo de cobertura de saúde. Como lidar com este vulcão e qual caminho econômico a seguir assombra a liderança chinesa. A aldeia de Wukan se rebelou há um ano e lutou com sucesso contra a polícia para recuperar a terra que havia sido roubado pela burocracia local. Isto foi sintomático do que está logo abaixo da superfície na China, uma revolta subterrânea que pode irromper a qualquer momento. Na ocasião, as autoridades locais recuaram, mas os manifestantes também não conseguiram conquistar uma vitória definitiva através de seu movimento. Parece que este incidente e muitos outros são “pequenas revoltas que continuamente emerge em toda a China”. [Financial Times]

Muitos dos protagonistas ingenuamente acreditam que se os senhores em Pequim soubessem a escala da corrupção, iriam intervir para acabar com isso. Algo semelhante ocorreu na Rússia, sob o stalinismo. As massas inicialmente tendiam a absolver Stalin de qualquer responsabilidade por corrupção de que ele era “inconsciente”. Era tudo culpa da burocracia local, mas não o próprio Stalin. Mas a prisão de Bo Xilai e julgamento de sua esposa tem ajudado a dissipar as ilusões. Ele foi acusado de abusar de sua posição acumulando uma fortuna, aceitando “subornos enormes”, e ter promovido seus comparsas para posições elevadas. Bo, como um membro da alta elite – um “pequeno príncipe”, um filho de um líder da revolução chinesa – é acusado de cumplicidade de assassinato, suborno e corrupção massiva. Isto coloca naturalmente a questão de como ele foi autorizado se safar com isso por tanto tempo. Na realidade, não era esses crimes –embora eles provavelmente são verdadeiros – o que levou à sua prisão e julgamento iminente. Foi porque ele representava um certo perigo para a elite – em ir para fora este “círculo mágico” – e fazer campanha para o cargo de cúpula. Ainda mais perigoso foi que ele invocou algumas das frases radicais do maoísmo, associadas com a Revolução Cultural. Ao fazer isso, ele poderia ter inconscientemente desencadeado forças que ele não seria capaz de controlar, que poderia ir além e exigir ações contra as injustiças do regime. E quem sabe onde isso poderia ter terminado?

O regime chinês está em crise. É obviamente dividido quanto aos próximos passos – principalmente em relação à economia – que devem ser tomados. Um “pequeno príncipe” comentando ao Financial Times colocou brutalmente: “A melhor época para a China acabou e todo o sistema precisa ser revisto”. Comentaristas burgueses em revistas como The Economist, o Financial Times, o New York Times, etc, têm recentemente recorrido à terminologia que usamos para descrever a China como “capitalismo de Estado”. Eles não adicionam a condição de que nós usamos: “capitalismo de Estado, mas com características únicas”. Isto é necessário a fim de diferenciar-nos da análise crua do SWP e outros, que incorretamente descrevem as economias planejadas no passado desta forma. Existe concordância completa dentro de nossas fileiras sobre a direção em que se desloca a China. O setor capitalista tem crescido às custas das empresas estatais no passado. Mas recentemente, e particularmente desde o pacote de estímulo de 2008, houve uma recentralização com o poder econômico tendendo a concentrar-se mais no sector do Estado, tanto assim que as estatais têm agora um patrimônio de 75% do PIB total. Por outro lado, a the Economist descreveu a China da seguinte forma: “Especialistas discordam sobre se o Estado agora é responsável pela metade ou um terço da produção econômica, mas concordam que a participação é menor do que era há duas décadas. Por anos a partir do final dos anos 1990 as empresas estatais pareciam recuar. Seus números caíram (para cerca de 114 mil, em 2010, cerca de 100 deles campeões nacionais controlado centralmente), e a sua quota dos empregos caiu. Mas agora, mesmo enquanto o número de empresas privadas aumentou, o recuo do Estado diminuiu e, em algumas indústrias, foi revertida.”

É claro que uma discussão feroz está ocorrendo entre a elite atrás de portas fechadas. Os “Reformadores” são a favor de um programa mais determinado de desmantelar o setor estatal movendo-se mais e mais para o “mercado”. Eles estão propondo retirar as barreiras restantes para a entrada e operação de capital estrangeiro. Xi Jinping o novo “líder”, apesar de seu encantamento ritualístico do “socialismo com características chinesas”, provoca rumores de que apoia os reformadores. Por outro lado, aqueles que propuseram uma abertura, tanto na economia, mas também com reformas “democráticas” limitadas, parecem ter sido marginalizados. Estudos têm sido feitos de como antigas ditaduras, como a Coreia do Sul, conseguiu supostamente uma “transição fria” para a “democracia”. Estes ocorreu quando o boom não havia se esgotado e, mesmo assim, foi no contexto de movimentos de massa. A proposta “transição” da China está ocorrendo no meio de uma enorme crise econômica. Os governantes chineses apresentam rumores de avidamente estudar o papel de Gorbachev na Rússia. Ele começou com a intenção de “reformar” o sistema e acabou presidindo seu desmantelamento. Reformas sérias vindas de cima irão provocar revolução vinda de baixo na China de hoje. Não pode ser excluída a possibilidade de um período de “democracia” muito frágil  – mas com o poder ainda nas mãos das antigas forças, como no Egito hoje, com o exército e a Irmandade Muçulmana no poder – pode se desenvolver após uma convulsão revolucionária na China. Mas isso seria apenas um prelúdio para a abertura das portas de um dos maiores movimentos de massas da história. Nossa organização tem alcançado milagres e temos de construir sobre isso em preparação para os grandes eventos que virão.

América Latina

A América Latina não tem estado na linha de frente da luta de classes no período recente. O crescimento econômico que afetou as principais economias como o Brasil, Argentina, Chile e outros, foi baseada na exportação de commodities minerais para a China e outros países asiáticos. Como o Brasil ilustra, o abrandamento económico nestes países está arrastando para baixo as economias da América Latina. A crescente dependência da exportação de commodities, como a soja, o gás, cobre, etc., enfraqueceu a base industrial do Brasil e outros países. Eles vão entrar em uma nova fase da crise econômica em uma posição enfraquecida em sua base econômica interna.

A onda de greves que varreu o Brasil enquanto a economia desacelerou também teve um reflexo em outros países, como Argentina e até mesmo Bolívia. Durante o período de crescimento econômico os trabalhadores ganharam em confiança, já que a ameaça de desemprego em massa não foi sentida. Trabalhadores no Brasil exigiu a sua parte dos lucros. A nova situação econômica na América Latina já está abrindo uma nova fase da luta das massas. A recente greve geral na Argentina ilustra graficamente este desenvolvimento. Chile, o ex-modelo econômico, tem sido abalado pelo terremoto social dos estudantes e movimento da juventude. Isso transformou a situação social e política.

Há uma crise generalizada dos tradicionais partidos de direita do capitalismo em muitos países. A classe dominante de muitos países foram obrigadas a se apoiar em movimentos de “nacionalistas radicais” ou ex-partidos de trabalhadores, como o PT no Brasil. No entanto, Cristina na Argentina e Dilma estão sendo compelidas a atacar a classe trabalhadora na medida que a crise econômica começa a atingir a América Latina. Enquanto PSOL continua a existir e é uma importante área de trabalho para nós, ainda é incerto como essa força agora vai se desenvolver. Os ganhos significativos feitos pelo partido nas eleições recentes abriram uma nova crise no partido já que a ala direita optou por fazer acordos com partidos burgueses.

Uma nova fase se abriu nos países “andinos”. Vitória eleitoral de Chávez na Venezuela, que saudamos, não significa uma simples continuação da situação dos governos anteriores de Chávez. Enquanto os trabalhadores e as massas se apoiaram Chávez para derrotar a burguesia de direita, há um crescente descontentamento e raiva contra as fraquezas do regime de Chávez. Uma nova fase de luta e de diferenciação dentro do movimento chavista vai abrir agora, dando nossas pequenas forças que luta em isolamento novas em possibilidades e oportunidades para fazer ganhos importantes. O governo de Morales na Bolívia tem cada vez mais se deslocado à direita desde 2008 e atacou setores da classe trabalhadora. Na Venezuela e na Bolívia uma de nossas tarefas centrais é a promover a chamada para a construção de um movimento independente e organizações dos trabalhadores e da juventude. Eventos na América Latina no próximo período vai nos oferecer novas possibilidades para fortalecer e construir nossas forças.

Perspectivas

Quatro a cinco anos após o início de uma crise mundial econômica devastadora, podemos concluir que há perspectivas muito favoráveis para o crescimento do CIT. Com a qualificação necessária que a consciência – a visão ampla da classe trabalhadora – ainda tem de alcançar a situação objetiva, ele ainda pode ser descrito como pré-revolucionário, especialmente quando tomado em escala mundial. As forças produtivas não avançam, e sim estagnam e declinam. Isto é acompanhado por uma desintegração social de determinado setores da classe trabalhadora e os pobres. Ao mesmo tempo, novas camadas da classe trabalhadora, bem como seções da classe média estão sendo criados – proletarizados – e obrigado a adotar os métodos tradicionais da classe trabalhadora de greves e de organização sindical. O poder potencial da classe trabalhadora permanece intacto, embora prejudicado e enfraquecido pela liderança sindical de direita, bem como pela socialdemocracia e os partidos comunistas.

Mantivemos e em alguns casos fortalecemos nossa posição geral em termos de militância e aumentamos sobretudo nossa influência dentro do movimento dos trabalhadores. Mas há muitos trabalhadores que são simpáticos e estão nos observando, e com base em eventos e nosso trabalho podem se juntar a nós. Estamos prestes a fazer avanços importantes – incluindo saltos de adesão – em uma série de países, como indicado pela análise anterior. Temos que enfrentar a situação, educar e preparar os nossos quadros para o próximo período tumultuado em que grandes oportunidades serão apresentadas para fortalecer as organizações e partidos do CIT e do Internacional como um todo.