Vadias, nós? Sim e com muito orgulho!

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altEm janeiro de 2011 casos de abusos sexuais ao redor da Universidade de Toronto, Canadá, estavam aumentando e assustando as mulheres do Campus. Em reação a esse fato, um grupo de mulheres decidiram reclamar com a autoridade policial local e receberam a seguinte resposta: “Se as mulheres evitassem se vestir que nem vadias, não seriam vítimas de abuso”. Essa simples frase foi o suficiente para que houvesse uma reflexão sobre a condição da mulher. Afinal, segundo o policial, era nossa culpa. O nosso corpo, as nossas roupas que excitam os homens que, devendo obedecer seus instintos, acabam por cometer crime de estupro.

Ao saber da história a minha reação foi a mais esquisita possível. Primeiro achei engraçado, não que considere uma piada o fato que mulheres perdendo o direito de ir e vir, mas a desculpa do senhor policial: “Se as mulheres evitassem se vestir que nem vadias, não seriam vítimas de abuso”, a piada é que o caso de abusos sexuais aumentaram em janeiro, no inverno canadense. Como mulheres podem se vestir como vadias num inverno de -10°?

Para falar a verdade isso me intriga até hoje. Não só a mim, mas as mulheres de Toronto também viram isso como um absurdo e, em resposta, elas se organizaram realizando a primeira Marcha das Vadias que levavam mulheres, que combinaram a manifestação por redes sociais, a irem a rua vestidas como vadias. Afinal, somos todas vadias e independente de roupas, não podemos ser culpabilizadas pelo crime de estupro sofrido em pleno século XXI. Era uma reivindicação pelo direito da mulher de ir e vir em segurança.

Com uma incrível velocidade a Marcha das Vadias ganhou o mundo ocidental e, com essa expansão, ganhando voz de outras demandas feministas. Isso evidenciou que a luta contra a opressão de gênero é existente e necessária.

O direito de ir e vir em segurança é apenas a ponta do iceberg. O direito ao corpo, direito a escolha de estado civil, direito em igualar os salários com os homens, direito para sermos vistas como seres humanos, direito a saúde, direito á reprodução segura. Demandas essas reivindicadas nos anos de 1960 e ainda, mas de quarenta anos depois, não foram atendidas, pelo contrário, algumas dessas conquistas estão sendo arrancadas de nós, mulheres. Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns estados estão voltando atrás e tornando o aborto ilegal. No Brasil esse assunto é um tabu e o projeto de lei conhecido como como “bolsa estupro” é um retrocesso desse tema.

Nós, como socialistas, temos a clareza de que a opressão de gênero e qualquer tipo de opressão tem a mesma raiz: o capitalismo. Esse sistema econômico que tem como o objetivo o acumulo de capital depende ,para isso, a opressão e a pobreza. E, portanto, os direitos antes conquistados foram somente para suprir uma necessidade do capital, como a liberação da mão de obra feminina para setores da economia, mas a questão de igualdade, pelo menos, formal não será suprida.

A luta contra o capitalismo se torna primordial para acabar com as opressões, porem não podemos esquecer que as lutas pelas minorias (LGBT, Mulheres, Negros, etc.) não podem ser posta de lado pelas organizações ditas de esquerda. Essa bandeiras são importantes para a construção de uma sociedade igualitária e sem opressões. Não basta apenas acabar com o capitalismo devemos criar um novo homem e uma nova mulher, livre de preconceitos encrustados em cada um de nós. Quantas vezes, homens ou mulheres, nos vimos vitimas ou opressores dentro de nossa organização política? Quantas vezes fomos vitimas e culpados por ações machistas? A luta feminista deve começar por uma reeducação e por novas formas de relações humanas baseadas efetivamente no respeito, na igualdade e na liberdade.