Militante LGBT pré-candidato a prefeito do PSOL em João Pessoa

A pré-candidatura de Renan Palmeira para a prefeitura de João Pessoa ganhou grande repercussão na sociedade paraibana e está mexendo nas estruturas do PSOL municipal. Ele pode ser o primeiro candidato a cargos executivos assumidamente gay – da direção do Movimento Espírito Lilás (MEL) – e é um militante combativo em vários movimentos sociais da Paraíba.

O PSOL em João Pessoa vivia até este ano um momento de estagnação. Após grandes disputas destrutivas e pouco politizadas em torno do penúltimo Congresso do PSOL, o partido funcionou de forma burocrática e apenas às vésperas de eleições. Ele aparecia para o grande público como mais um partido entre tantos, sem um programa claro, e muitos candidatos a vereador e deputados com nenhuma identificação com uma ideologia de esquerda.

Através de importantes lutas na cidade, como contra o aumento das passagens, contra a entrega da saúde para a iniciativa privada, as lutas pela moradia, entre outras, alguns militantes do PSOL sentiram que podiam mudar o quadro do partido baseado nas demandas do movimento dos trabalhadores, estruturado socialmente na luta cotidiana do povo. Construímos o núcleo Educação e Luta Social com companheiros de várias correntes e independentes. Foi este núcleo que lançou a proposta da candidatura de Renan.

Renan é muito jovem, apenas 25 anos, mas experimentado em diversos combates da luta de classes. Apareceu bastante na mídia local, porque é uma das principais figuras na luta pelos direitos da comunidade LGBT e foi peça chave do núcleo.

Em uma plenária em 25 de março o partido escolheu Renan como pré-candidato. Desde então a imprensa local e nacional se interessou na curiosa notícia (e para os homofóbicos enrustidos, a engraçada notícia) e o PSOL teve uma exposição rara para um partido de esquerda.

Na conservadora sociedade paraibana, apenas a notícia de um candidato gay a prefeito gera rejeição em massa. Por isso, o PSOL terá um grande enfrentamento ideológico nesta campanha. Por outro lado, o comitê da pré-candidatura tem claro que a campanha não pode cair na armadilha de se restringir a questão LGBT. Ela deve dialogar com todos os setores dos trabalhadores pessoenses. Por isso, ela já nasceu com o apoio de vários movimentos e lutadores de sindicatos e entidades, inclusive de lutadores da Assembleia Popular e da intelectualidade de esquerda das universidades públicas.

Internamente, a pré-candidatura tem superado as expectativas, atraindo antigos filiados e militantes, unindo novamente o partido, reconstruindo-o de forma efetiva e a longo prazo. Fazia tempo que o clima de amizade, união e vontade de construção unitária não aparecia desta forma.

Politizar para se diferenciar

Nesta campanha, para o PSOL se diferenciar dos outros partidos e dialogar com os trabalhadores que sofrem no dia a dia, ele deve assumir o mesmo papel que tem nas lutas nas épocas longe das eleições: levantar as reivindicações dos movimentos, denunciar os governos pelo seu papel de representantes dos ricos e apresentar um programa de ruptura com os projetos de “gestão” que os partidos burgueses propõem. O marketing eleitoral tem a capacidade de atingir as massas com mais facilidade na sociedade capitalista, mas funciona para quem trabalha com campanhas com rios de dinheiro, quem quer enganar para continuar gerindo o capital, quem tem compromissos com os milionários doadores. Para o PSOL, ele só serve para nos igualar com os políticos profissionais que o povo xinga diariamente nas conversas de esquina , em casa e nos locais de trabalho.

Nós devemos assumir o discurso de explicar às massas o porque os serviços públicos não funcionam, o porque do transporte público massacrante, o porque que o povo mora em péssimas condições – o que, é claro, não acontece por “incompetência na gestão”.

Quando o PSOL reduz o programa com a desculpa de dialogar com “setores mais amplos” e assume um discurso de gestão da prefeitura, nós estamos competindo de forma desigual com os profissionais das eleições e, o pior, perdemos grande chance de levar um discurso de ruptura de esquerda para setores amplos dos trabalhadores.

Em João Pessoa, a expectativa é construir um programa com os movimentos e apoiadores vindos das lutas sociais. Haverá vários seminários de discussão programática para a formação do discurso da campanha de Renan. Será a grande chance de construirmos um programa que aglutine os lutadores e chame para nosso voto e, principalmente, para a nossa luta, amplos setores dos trabalhadores. 

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