4º Congresso do PSOL: Randolfe é provocação! Não queremos um PSOL light ou uma Marina Silva de gravata!

O Brasil rebelde de junho exige muito mais do que a esquerda brasileira está conseguindo oferecer. O tremor de terra das multidões nas ruas deveria ter servido para chacoalhar a poeira e o cheiro de mofo acumulados em anos de relativo refluxo das lutas. Mas, a lógica rotineira das disputas burocráticas intestinais, do eleitoralismo e da fragmentação insiste em se manter.

O impasse, a crise e o retrocesso provocados pela direção majoritária do PSOL no processo de seu 4º Congresso refletem a força do velho que insiste em se manter mesmo quando o novo surge disposto a varrer estruturas ossificadas que já não cumprem o papel a que se propuseram.

O PSOL não é o único personagem desse drama, nem é o pior necessariamente, mas é onde ele se mostra com todas as caras e cores. Como principal espaço de reorganização da esquerda socialista depois da perda definitiva do PT para o grande capital, é no PSOL que as contradições desse árduo processo se mostram de forma mais clara.

Randolfe e seus amigos: fazendo campanha eleitoral para Lucas Barreto do PTB em 2010 e com Dilma Rousseff durante a tentativa da presidenta de retomar a iniciativa pós junho com proposta de reforma política.

Provocação

A provocação representada pela proposta de que Randolfe Rodrigues seja escolhido pelo Congresso como o candidato a presidente pelo PSOL em 2014 é inaceitável para qualquer militante socialista. Mas, trata-se apenas a ponta do iceberg de um retrocesso que já vinha se dando antes.

Não se trata apenas de nomes ou indivíduos. Trata-se do projeto que está por trás dessa iniciativa. Ao propor Randolfe, os setores alinhados com a Tese “Unidade Socialista por um PSOL popular” assumiram plenamente sua opção pela linha adotada no Amapá, seu significado político, seu projeto e seus métodos.

Randolfe Rodrigues e o bloco da mal chamada “Unidade Socialista” defendem as alianças políticas recorrentes com partidos e políticos de direita promovidas por Randolfe no Amapá. Justificam e reiteram o eleitoralismo que os levou a chamar Lula, Dilma e ministros do governo para o programa de TV do PSOL em Belém nas eleições de 2012.

Eles insistem em manter a política de alianças votada no Diretório Nacional do partido em 2012 que orienta alianças na direção do campo lulista e ainda permite coligações com pequenos partidos de direita. Continuam também a defender uma linha geral de voto no PT no segundo turno, apesar do fato de que esse partido segue sendo o principal representante da classe dominante à cabeça do governo federal.

No lugar de reafirmar o PSOL como uma força política claramente identificada com a radicalidade das ruas, jogam o partido na vala comum dos políticos tradicionais e confundem nossa bandeira vermelha com a bandeira desbotada de uma ex-esquerda que hoje serve ao que há de mais retrogrado no país: bancos, agronegócio, empreiteiras, multinacionais, especuladores, concessionários privados de serviços públicos, conglomerados de ensino e saúde privados, etc.

Randolfe Rodrigues e a política da “Unidade Socialista” colocam o PSOL na contracorrente do que de mais avançado surgiu no país no ultimo período, a força das ruas, do povo mobilizado, da juventude radicalizada e dos trabalhadores dispostos a se mover contra os ataques que sofrem.

Uma alternativa light?

Ao propor Randolfe, o bloco da “Unidade Socialista” aposta todas as fichas numa linha de conciliação crítica com o sistema político. A imagem mais clara dessa linha foi a visita de Randolfe a Dilma Rousseff em pleno processo de mobilizações de massas durante o mês de junho.

Que outro sentido teria essa iniciativa infeliz a não ser o de construir uma imagem de quem, mesmo vindo de um partido que nasceu para apoiar as lutas nas ruas, mostra-se, porém, aberto ao diálogo e a saídas institucionais controladas.

Se naquele momento até mesmo os amigos mais fiéis de Randolfe, incluindo o presidente do partido Ivan Valente, vacilaram em relação à linha adotada pelo eminente senador – o que levou a que essa postura de Randolfe fosse rejeitada pela Executiva Nacional do partido – logo em seguida, passou a ser a linha oficial dessa ala do PSOL.

A retirada da pré-candidatura de Marina Silva, que não conseguiu legalizar seu novo partido e acabou filiando-se ao PSB de Eduardo Campos, reforçou essa linha de transformar o PSOL em uma alternativa light ao governo e ao sistema político.

A política do campo majoritário do PSOL hoje é moderar o perfil radical do partido e identificá-lo cada vez mais com uma alternativa ponderada, razoável, avessa a confrontos, ainda que também mantenha um verniz crítico ao status quo.

Para ocupar o espaço que foi de Marina, segundo a ala majoritária, Randolfe deveria travestir-se de Marina. Isso significa na prática adotar todas as ambiguidades e contradições do ‘marinismo’ e da fracassada ‘Rede Sustentabilidade’. Isso significa matar o PSOL e impor um retrocesso na recomposição da esquerda socialista brasileira.

Métodos petistas na disputa interna

Ao fazer essa provocação à militância socialista do PSOL, declaram guerra ao projeto fundacional do partido. O PSOL nasceu a partir de um projeto de recomposição da esquerda socialista no Brasil baseado na independência de classe dos trabalhadores, no vínculo direto com as lutas populares, na defesa de um programa anticapitalista e socialista e nas relações de ampla democracia interna. Surgimos como a única oposição de esquerda com vocação de massas diante do todo-poderoso lulismo, ao mesmo tempo em que proclamamos e logramos obter a unidade da esquerda não governista em muitas situações.

O setor hoje majoritário elimina qualquer possibilidade de convivência interna na medida em que impõe sua posição com base na truculência, burocratismo e na armação de grandes esquemas de irregularidades e mesmo fraudes na busca da construção de uma maioria no Congresso.

Para impedir a fiscalização das Plenárias de base, manipularam listas, impediram o acesso de militantes com outras posições, utilizaram-se de agressões físicas, de seguranças contratados e da presença da Polícia Militar em Plenárias. O estado do Amapá de Randolfe Rodrigues foi o cenário privilegiado desse tipo de ação. Mas, em outras regiões chegaram ao cúmulo de apelar para carreiristas vinculados a partidos e governos burgueses para que os ajudem a conseguir uma maioria. Foi o caso daqueles que foram para o PSB em Minas Gerais e mesmo assim votaram no processo do Congresso e daqueles que estão em governos burgueses como no caso de Palmas (TO). O caso dos marginais que tentaram vender dossiês no Rio é o caso extremo desse tipo de prática.

Também reproduziram no interior do partido os piores métodos petistas de arregimentação e mobilização clientelista de uma base filiada ao partido não para militar, mas exclusivamente para garantir uma “maioria” artificial de delegados.

O método utilizado reflete a política adotada. Depois de junho só existe uma forma de fazer com que essa política saia vitoriosa: impor a derrota à esquerda do partido através de meios escusos. Não percebem que todos sairão perdendo com isso.

Dessa forma, preparam o caminho para mais conflitos, fragmentação e divisão entre nós. Tudo para fazer valer seu projeto conciliatório e eleitoralista. Isso exatamente no momento em que a unidade da esquerda em torno de um projeto radical, socialista, de luta, se coloca como mais necessária que nunca.

Campanhas a serviço das lutas e do socialismo

A lógica de apresentar o PSOL como uma alternativa light representa uma opção exclusiva pela institucionalidade. A disputa eleitoral se tornaria o centro absoluto das ações do PSOL, relegando a luta direta dos trabalhadores a um mero instrumento auxiliar disponível aos candidatos do partido.

Ainda assim, trata-se de uma opção temerária pois é extremamente tosca a visão de que a moderação na postura é necessariamente mais eficiente do ponto de vista eleitoral. Depois de junho, o grande desafio do PSOL é oferecer um caminho político estratégico aos movimentos em luta. Permitir que deem uma passo adiante assumindo uma estratégia política de transformação profunda, radical, que só pode ser anticapitalista e socialista.

Como já observamos em outros países, como é o caso recente do Chile, milhões que tomaram as ruas estão desiludidos com a “política institucional” e as eleições. Chegar a esse setor é o grande desafio do PSOL. Para isso é preciso mostrar radicalidade e diferenciar-se profundamente do sistema político. Caso contrário, serão os votos nulos, brancos e abstenções que prevalecerão, mesmo com o voto obrigatório no Brasil.

Mas, o central é discutir qual a estratégia do PSOL: canalizar a insatisfação popular para a institucionalidade burguesa e assim contê-la ou aprofundar e radicalizar essa insatisfação na linha de construir uma alternativa de poder baseada na força das ruas, dos trabalhadores e do povo oprimido?

Nós da LSR somos plenamente favoráveis a utilização dos espaços eleitorais para a disputa política. Entendemos que o ano de 2014 abrirá muitas possibilidades para uma esquerda socialista consequente inclusive no campo eleitoral. Queremos a vitória eleitoral do PSOL, a conquista de mandatos e o fortalecimento do partido na institucionalidade.

Mas, queremos isso para fazer avançar a luta dos trabalhadores com uma perspectiva socialista e não para reproduzir a lógica do PT de acumulo de forças na institucionalidade cujo desfecho todos conhecemos. O centro de nossa ação deve ser a organização e luta direta de nossa classe com base em uma estratégia socialista.

Para isso o PSOL deve se construir como um partido afiado com as ruas, de luta, socialista e, não menos importante, organizar-se de forma radicalmente democrática.

O caminho do Bloco de Esquerda

A construção de um bloco político no PSOL oposto ao giro à direita promovido pelo campo da Tese “Unidade Socialista” representa um passo adiante significativo e uma esperança no sentido de barrar a linha suicida da direção majoritária.

O Bloco de Esquerda cumpriu um papel importante na denuncia da linha oportunista da direção majoritária e na fiscalização do processo congressual.  A existência do Bloco impediu uma fragmentação dos setores de esquerda do partido e ajudou a construir uma referência para muitos militantes honestos e combativos do PSOL.

É preciso apontar, porém, que o Bloco de Esquerda esteve aquém de suas enormes responsabilidades em muitos momentos. O principal é que faltou ao Bloco a totalização de uma linha política geral capaz de permitir uma ofensiva ainda mais forte da esquerda do partido. A impossibilidade de construirmos uma proposta unitária de candidatura presidencial do Bloco de Esquerda reflete isso e enfraqueceu nossa atuação.

O principal adversário interno que tivemos no Bloco foram os elementos de ilusão nas possibilidades de conciliação com o bloco majoritário e de saídas consensuais. Isso esteve presente, por exemplo, na discussão em torno da hipótese de candidatura de Chico Alencar que supostamente estaria acima das diferenças internas.

Qualquer ilusão de recomposição e conciliação nesse momento com a ala Randolfista só representa aprofundar esse erro. É preciso seguir um caminho diverso. É preciso mostrar até o fim que não aceitaremos as fraudes e a provocação representada pela candidatura de Randolfe. Isso precisa ficar mais claro que nunca!

O papel do Bloco de Esquerda é utilizar o acumulo político positivo de sua batalha interna e sua construção real nas lutas para seguir o combate por uma alternativa de esquerda e socialista no PSOL, nas lutas, nas eleições e em todos os espaços.

O Bloco de Esquerda é majoritário entre a militância ativa do partido, entre o que há de melhor no PSOL. Em 2014 terá condições de aproveitar os espaços que existirão, nas lutas e nas eleições, para fortalecer-se e garantir um perfil e um projeto de esquerda para o partido.

A LSR continuará lutando pela unidade da esquerda socialista de dentro e de fora do PSOL. Temos a confiança de que o Brasil depois de junho abre oportunidades valiosas para o avanço da luta socialista no Brasil.  

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