Unifesp: para avançar na luta, olhar além do que se vê

A Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) foi uma das primeiras Universidades no processo acelerado de expansão – marco no cenário da educação brasileira no último período – das Universidades Federais, inaugurando o Campus da Baixada Santista em 2006. Um ano depois, em 2007, esse processo de expansão foi consolidado via Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que veio acompanhado de lutas em diversas federais de todo o País, e também na UNIFESP. Assim, junto com esse novo momento de expansão dos cursos de graduação, observamos também um novo momento de mobilização.

De 2007 até hoje, todos os campi passaram por atos, mobilizações, debates, greves, consolidação de Centros Acadêmicos, Fórum dos Estudantes etc. Houve mobilizações como o movimento Fora Ulysses (2008) – pela saída do Reitor que roubou com o cartão corporativo, que agregou estudantes de todos os campi – e outras mobilizações referente à autonomia e democracia na Universidade, mas desde 2007 até hoje, uma pauta que segue sempre unânime em todos os campi, gerando diferentes tipo de mobilização, é a pauta por melhor infraestrutura e por uma política efetiva de permanência estudantil.

No presente e futuro, não há alternativa diferente senão a luta, pois a precarização da Universidade está nas entrelinhas dos planos do Governo e Reitoria e, assim, fica evidente que a proposta da Universidade é, sim, continuar agravando a situação de sucateamento: o mais recente Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), lançado em 2010 e que vale até 2015, prevê um aumento da oferta de vagas de 6.631 para 14.858, contudo o número de auxílios permanência previstos para cada ano não se altera: 2095 por ano. Quanto à precarização do ensino e/ou ao ensino voltado para o desenvolvimento econômico das grandes empresas, até 2015 está prevista a criação de 15 cursos de curta duração (2 e/ou 3 anos). Há a previsão de criação de moradias estudantis já em 2012. Mas, pelo menos para a Baixada Santista, já há informações da própria direção de que isso não ocorrerá.

Lógica privatista

Há claras evidências de uma lógica privatista crescente: os cursos pagos, o intensivo processo de terceirização de serviços básicos da Universidade e a Fundação de Apoio a Pesquisa (FAP) uma fundação privada que estabelece uma relação cada vez mais predadora com a UNIFESP, são apenas alguns exemplos. Além disso, neste ano foi realizada a “Conferência do Futuro”, uma Conferência para definir o “planejamento estratégico” da Unifesp realizada às pressas, sem participação ampla da universidade, sem pré conferências etc. Entre a convocação e a sua realização tivemos menos de um mês. Ela se deu num hotel fazenda, e foi “facilitada”, por uma empresa de consultoria privada – “Sol Maior”. A empresa não possui site na internet e o processo de licitação é desconhecido.

É preciso olhar para além do que se vê!

Nesses anos, foram muitas as conquistas, ataques, acertos e erros na luta de trabalhadores e estudantes da UNIFESP. O processo histórico foi levando os estudantes a assumirem posicionamentos, o que foi tornando cada vez mais plural as opiniões sobre o que fazer, quais estratégias assumir, reflexo de um processo de amadurecimento político tanto individual como do coletivo de estudantes no movimento. Com todos esses problemas que a UNIFESP vivencia, o movimento estudantil segue uma tendência em dar respostas imediatas a questões urgentes, sem se aprofundar na compreensão do que se trata, afinal, o diagnóstico da Universidade. Isso faz com que os debates fiquem restritos a “o que fazer” (greve ou não?; quando fazer ato?), sem que o conjunto dos estudantes compreendam de fato o “por quê fazer”.

Para além de favorecer uma tendência a obter apenas vitórias pontuais e parciais, provoca também um processo de divisão dos estudantes. Essa segregação visível em alguns momentos beneficia apenas a Direção e Reitoria, visto que gera desarticulação entre aqueles que outrora mostraram ser capazes de responder aos ataques e obter vitórias.

Superar esta segregação, fruto de concepções políticas e estratégias distintas entre os estudantes da UNIFESP é importante, mas também faz-se necessário superar uma segregação que está colocada por questões físicas e geográficas, que é a relação entre os estudantes de todos os Campi da UNIFESP. Desde 2007, todos os campi de alguma forma estão lutando por uma melhor infraestrutura e uma política consequente e eficaz de permanência estudantil. É preciso envolver e articular, compreendendo que a UNIFESP é uma só. Ou seja, embora esses problemas hoje se expressem de forma distinta localmente, fazem parte de um projeto comum da direção da UNIFESP e do Governo Federal.

Aprofundar a discussão e análise dos motivos da precarização da Universidade, com debates entre todos os estudantes e sistematização dos problemas vivenciados nos campi é um caminho importante para que o movimento tome para si maior consistência de suas pautas, e consiga avançar na luta por uma educação de qualidade.

Expandir as mobilizações

Hoje, Guarulhos está em greve novamente por questões referentes à estrutura e permanência estudantil. Há um grande esforço para expandir a mobilização para os demais campi e, embora de forma incipiente, há sinais de algum resultado. Há mobilização da Baixada Santista frente a mudança para o Campus definitivo em condições precárias. Os demais campi encontram-se em alguma medida mobilizados. Um ato no dia 20/04 em frente à reitoria reuniu quatro dos seis campi da UNIFESP, ainda com perspectiva de se massificar a luta.

Para conquistar melhores condições e por uma educação de qualidade, é fundamental que a luta se espalhe e alcance outros campi e universidades. Essa articulação não pode ser vista como um “trabalho a mais”, mas como única forma de conseguir avançar a luta. 

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