Unifesp: para avançar na luta, olhar além do que se vê
A Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) foi uma das primeiras Universidades no processo acelerado de expansão – marco no cenário da educação brasileira no último período – das Universidades Federais, inaugurando o Campus da Baixada Santista em 2006. Um ano depois, em 2007, esse processo de expansão foi consolidado via Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que veio acompanhado de lutas em diversas federais de todo o País, e também na UNIFESP. Assim, junto com esse novo momento de expansão dos cursos de graduação, observamos também um novo momento de mobilização.
No presente e futuro, não há alternativa diferente senão a luta, pois a precarização da Universidade está nas entrelinhas dos planos do Governo e Reitoria e, assim, fica evidente que a proposta da Universidade é, sim, continuar agravando a situação de sucateamento: o mais recente Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), lançado em 2010 e que vale até 2015, prevê um aumento da oferta de vagas de 6.631 para 14.858, contudo o número de auxílios permanência previstos para cada ano não se altera: 2095 por ano. Quanto à precarização do ensino e/ou ao ensino voltado para o desenvolvimento econômico das grandes empresas, até 2015 está prevista a criação de 15 cursos de curta duração (2 e/ou 3 anos). Há a previsão de criação de moradias estudantis já em 2012. Mas, pelo menos para a Baixada Santista, já há informações da própria direção de que isso não ocorrerá.
Lógica privatista
Há claras evidências de uma lógica privatista crescente: os cursos pagos, o intensivo processo de terceirização de serviços básicos da Universidade e a Fundação de Apoio a Pesquisa (FAP) uma fundação privada que estabelece uma relação cada vez mais predadora com a UNIFESP, são apenas alguns exemplos. Além disso, neste ano foi realizada a “Conferência do Futuro”, uma Conferência para definir o “planejamento estratégico” da Unifesp realizada às pressas, sem participação ampla da universidade, sem pré conferências etc. Entre a convocação e a sua realização tivemos menos de um mês. Ela se deu num hotel fazenda, e foi “facilitada”, por uma empresa de consultoria privada – “Sol Maior”. A empresa não possui site na internet e o processo de licitação é desconhecido.
É preciso olhar para além do que se vê!
Nesses anos, foram muitas as conquistas, ataques, acertos e erros na luta de trabalhadores e estudantes da UNIFESP. O processo histórico foi levando os estudantes a assumirem posicionamentos, o que foi tornando cada vez mais plural as opiniões sobre o que fazer, quais estratégias assumir, reflexo de um processo de amadurecimento político tanto individual como do coletivo de estudantes no movimento. Com todos esses problemas que a UNIFESP vivencia, o movimento estudantil segue uma tendência em dar respostas imediatas a questões urgentes, sem se aprofundar na compreensão do que se trata, afinal, o diagnóstico da Universidade. Isso faz com que os debates fiquem restritos a “o que fazer” (greve ou não?; quando fazer ato?), sem que o conjunto dos estudantes compreendam de fato o “por quê fazer”.
Para além de favorecer uma tendência a obter apenas vitórias pontuais e parciais, provoca também um processo de divisão dos estudantes. Essa segregação visível em alguns momentos beneficia apenas a Direção e Reitoria, visto que gera desarticulação entre aqueles que outrora mostraram ser capazes de responder aos ataques e obter vitórias.
Superar esta segregação, fruto de concepções políticas e estratégias distintas entre os estudantes da UNIFESP é importante, mas também faz-se necessário superar uma segregação que está colocada por questões físicas e geográficas, que é a relação entre os estudantes de todos os Campi da UNIFESP. Desde 2007, todos os campi de alguma forma estão lutando por uma melhor infraestrutura e uma política consequente e eficaz de permanência estudantil. É preciso envolver e articular, compreendendo que a UNIFESP é uma só. Ou seja, embora esses problemas hoje se expressem de forma distinta localmente, fazem parte de um projeto comum da direção da UNIFESP e do Governo Federal.
Aprofundar a discussão e análise dos motivos da precarização da Universidade, com debates entre todos os estudantes e sistematização dos problemas vivenciados nos campi é um caminho importante para que o movimento tome para si maior consistência de suas pautas, e consiga avançar na luta por uma educação de qualidade.
Expandir as mobilizações
Hoje, Guarulhos está em greve novamente por questões referentes à estrutura e permanência estudantil. Há um grande esforço para expandir a mobilização para os demais campi e, embora de forma incipiente, há sinais de algum resultado. Há mobilização da Baixada Santista frente a mudança para o Campus definitivo em condições precárias. Os demais campi encontram-se em alguma medida mobilizados. Um ato no dia 20/04 em frente à reitoria reuniu quatro dos seis campi da UNIFESP, ainda com perspectiva de se massificar a luta.
Para conquistar melhores condições e por uma educação de qualidade, é fundamental que a luta se espalhe e alcance outros campi e universidades. Essa articulação não pode ser vista como um “trabalho a mais”, mas como única forma de conseguir avançar a luta.