Um novo chamado de luta contra o racismo

Dia 11 de fevereiro foi um dia histórico. Mais de 300 manifestantes entraram no Shopping Pátio Higienópolis, um dos mais elitizados da cidade de São Paulo. Não imaginavam os frequentadores e lojistas que estariam aquelas pessoas ali para denunciar a onda de racismo que vem de maneira cada vez mais explícita assombrar homens e mulheres de pele escura. De maneira mais explícita, pois o racismo está presente a todo momento nos locais de trabalho, nos postos de saúde e hospitais, nas universidades.

No ato, como grandes exemplos recentes do racismo, foi denunciado o caso de uma jovem estagiária da qual se exigiu, por parte de sua chefia, que realizasse um alisamento no cabelo, uma demonstração de como o perfil negro é associado a elementos negativos.

Outro caso foi o do garoto etíope que almoçava com os pais em um restaurante e que, quando estes se ausentaram, foi expulso do restaurante, pois não fazia parte do “perfil” dos frequentadores daquele recinto. Houve também a repressão policial sobre o jovem estudante negro na USP.

Negros são a maioria dos violentados e assassinados pela polícia. Pessoas que cultuam religiões de matriz africana são fortemente reprimidas. Quilombolas e líderes rurais são assassinados e nem se toma nota. Mulheres negras não tem tratamento pré-natal ou são simplesmente destratadas nas (escassas) consultas. Negras e negros recebem menos dos que brancas e brancos.

Historicamente o movimento negro esteve na luta buscando por espaços dentro da institucionalidade burguesa na esperança de que esta garantisse os direitos humanos sequestrados das pessoas que por acaso tem uma coloração de pele mais escura.

Já se vão mais de 20 anos em que o movimento negro se perdeu nessa disputa, e os avanços para a população negra se diluem na atual sociedade capitalista na medida que tal sistema se apropria dos direitos da população. Através de programas que barateiam e precarizam a oferta de educação, saúde e moradia, a população em momentos de ascenso econômico tem acesso a tais programas, mas basta uma crise, como à que atinge principalmente a Europa e os EUA, para que a burguesia retire tais concessões e jogue a população de volta à miséria.

Então retomamos o racismo. Os negros foram abandonados à própria sorte após a abolição, sem direito à terra, à livre expressão cultural, até mesmo sem acesso ao trabalho. Foram obrigados a ocupar áreas de risco que vieram a se tornar as atuais favelas. Foram fortemente expostos, devido a fragilidade econômica, ao mercado do tráfico e da violência.

E a burguesia a fim de ocultar o seu racismo criou o mito da democracia racial. Tal suposta democracia racial defendida por todas as governanças brasileiras pós-abolição vem desmitificar a existência do racismo brasileiro, jogando aos negros a culpa de suas mazelas sociais, negando o abandono do governo para com os escravos libertos.

Então o movimento negro veio para combater essa democracia racial, e buscar uma “igualdade racial”. Uma luta necessária a fim de se superar mais essa opressão que a burguesia lança para perpetuar a exploração da classe trabalhadora.

No dia 11 de fevereiro de 2012 o que ocorreu foi uma renovação da luta do movimento negro. As entidades que vinham ali para denunciar a prática racista demonstraram assim uma superação da crença na institucionalidade burguesa para a superação do racismo.

Foi um ato muito importante, pois dentro do Comitê contra o Genocídio da População Negra, vem se articulando novamente os setores que se propõem a uma prática combativa e revolucionária para a superação do racismo.

A luta começa por uma articulação e um chamado para uma atuação combativa. Mas também não há mais separação das lutas de opressões. Mulheres, negros e homossexuais devem empreender uma luta massiva, combativa e conjunta. Incorporando também uma perspectiva de classe, anticapitalista e socialista.

Não existirá socialismo sem o fim do racismo, do machismo e da homofobia. Lutemos então! 

Você pode gostar...