Joe Higgins – um trotskista no parlamento irlandês
Esta entrevista foi realizada em Nieuwpoort na Bélgica, no dia 20 de Janeiro de 2012, durante a reunião do CEI do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT), a entrevista foi feita por Luciano da Silva Barboza.
Luciano: Como um candidato trotskista, apresentando o programa do CIT, conseguiu relacionar as lutas feitas pela classe trabalhadora irlandesa com o processo eleitoral, conseguindo chegar à vitória no parlamento europeu?
Joe Higgins: O Partido Socialista da Irlanda é um pequeno partido, mas nos posicionamos claramente nos assuntos que atingem a classe trabalhadora na sua vida cotidiana. Atualmente existe uma grande ofensiva de austeridade por parte dos governos capitalistas como o irlandês, que quer recuperar terreno com medidas neoliberais, retirando os direitos que os trabalhadores ganharam lutando durante o auge econômico europeu (Estado de bem estar social 1960-1980). Lutamos contra os cortes sociais promovidos pelos neoliberais que pioraram o nível de vida dos trabalhadores, principalmente em setores como saúde, educação e habitação. Participamos de campanhas concretas contra essas medidas neoliberais de austeridade fiscal e estamos diretamente ligados a luta da classe trabalhadora irlandesa. Explicamos na nossa campanha eleitoral, que para melhorar a vida da classe trabalhadora temos lutar contra o sistema capitalista. Durante a campanha eleitoral, nos colocamos como os principais opositores dos interesses dos banqueiros. Colocamos também que somos contra a propriedade privada e a favor da propriedade pública sob o controle dos trabalhadores. A campanha expôs ainda abertamente a perspectiva internacionalista, pois acreditamos ser necessário fazer a luta em toda a Europa, pois os bancos envolvidos na crise econômica são multinacionais. Explicamos na campanha que o sistema capitalista é um sistema de crises econômicas que só pode sobreviver nesses momentos retirando os direitos da classe trabalhadora, e por isso apresentamos o socialismo como solução para o fim dessa exploração. Conseguimos unir as lutas pelas necessidades básicas diárias com a luta contra o sistema capitalista. As pessoas votaram no Partido Socialista não porque eram todas a favor do socialismo, mas porque fomos os mais ativos militantes nas lutas contra as medidas neoliberais, a população irlandesa reconheceu através do voto que estamos (CIT) lutando contra o neoliberalismo há décadas na Irlanda.
Luciano: Explique um pouco da sua história antes de ser eleito para o parlamento europeu em 2009.
Joe Higgins: Em 1997 eu fui eleito deputado federal pelo Partido Socialista para o parlamento irlandês, mas em 2007 eu não consegui me reeleger. Em 2009 eu fui o candidato pelo Partido Socialista Irlandês a deputado no parlamento europeu e fui eleito. Em fevereiro de 2011, novamente nas eleições do parlamento irlandês, eu fui eleito deputado federal novamente. Assumi o mandato de deputado na Irlanda e por isso fui obrigado a entregar o mandato de deputado europeu para o camarada Paul que segue fazendo campanhas contra as medidas neoliberais, ajudando na luta da classe trabalhadora levando suas posições para o interior do parlamento europeu.
Luciano: Na atuação cotidiana no parlamento europeu você ficou isolado politicamente ou conseguiu se unir a deputados de esquerda como os membros do Bloco de Esquerda de Portugal?
Joe Higgins: Participei de uma frente com 34 deputados europeus entre candidatos verdes e candidatos de esquerda, mas essa era a menor frente do parlamento europeu. Os membros eleitos pelo Bloco de Esquerda de Portugal participaram, assim como os membros dos Partidos Comunistas de Portugal e da Grécia, além do membro do Partido Die Linke (A esquerda) da Alemanha e do membro do Partido Syryza da Grécia. Fizemos na medida do possível campanhas junto com esses deputados. A principal delas foi em 2010 contra as medidas de austeridade neoliberais. Em 2011 o deputado europeu Paul que me substituiu, fez uma bela campanha de solidariedade a crítica situação dos palestinos na Faixa de Gaza, criticando a violência feita pelo Estado de Israel.
Luciano: Por favor, faça um panorama da situação econômica da Irlanda em 2011 e das principais lutas da classe trabalhadora irlandesa.
Joe Higgins: A situação econômica é uma catástrofe, pois existe uma grande crise econômica que não vai acabar tão cedo, esta é a pior crise do capitalismo desde 1929, e o pior é que os governos capitalistas insistem que os trabalhadores devem pagar as contas desta crise feita pelos donos de bancos. Os bancos especularam muito na Irlanda, os especuladores perderam dezenas de bilhões de euros especulando, e agora esses mesmos especuladores querem que o governo irlandês assuma esses bilhões de euros de dívida, que deverá ser paga pela classe trabalhadora através do plano de austeridade e dos cortes sociais. Os capitalistas querem lançar a classe trabalhadora na miséria, a taxa de desemprego atingiu 14,5% na Irlanda em 2011. Apesar dessa situação, não podemos afirmar que houve grandes mobilizações sociais na Irlanda em 2011, mas é possível um processo de mobilização de massas da classe trabalhadora em 2012, porque será aprovada uma taxa de impostos na Irlanda (todas as casas vão pagar inicialmente uma taxa de 100 euros, não importando se a população é de pobres ou ricos, com o tempo a taxa crescera mais ainda) que vai piorar a situação da classe trabalhadora e nós do Partido Socialista vamos fazer uma grande campanha que pode gerar as primeiras lutas de massas contra essas medidas neoliberais. Essa será a principal meta de lutas em 2012.
Luciano: Como você percebe a possibilidade do ressurgimento de lutas internacionais em um cenário de crise global do sistema capitalista?
Joe Higgins: Nós marxistas temos que sempre fazer uma política internacionalista, e infelizmente atualmente não existe um partido de massas da classe trabalhadora internacional que possa lançar uma campanha mundial poderosa de solidariedade aos trabalhadores e de combate as medidas neoliberais. Nós do CIT somos uma parte pequena, mas importante desta luta internacional e faremos isso dentro das nossas forças em cerca de 40 países em todos os continentes. Precisamos dar respostas internacionalistas aos problemas do sistema financeiro internacional e nossa resposta é a divulgação do socialismo com liberdade como solução para a crise do capital.