Greve dos petroleiros sofre dura repressão no Cazaquistão

Milhares de petroleiros da região Mangistau Oblast do Cazaquistão estão em greve desde o final de maio, no que provavelmente é a principal batalha sindical dos países da ex-União Soviética desde a queda do stalinismo.

Os petroleiros sofreram uma repressão brutal durante toda a greve. Em agosto, um sindicalista foi morto após ser atacado dentro do local de trabalho por bandidos a mando dos patrões. Semanas após isso, a filha de outro sindicalista foi raptada, estuprada e assassinada. Também em agosto, a advogada do sindicato, Natalia Sokolova, foi condenada a seis anos de prisão por “instigar tensão social”.


Condições extremas de trabalho

Os petroleiros trabalham em condições extremas numa região de deserto. No verão enfrentam um calor de 50°C e no inverno a temperatura pode cair para -40°C, com condições precárias de saúde e segurança. Os trabalhadores também lutam pela implementação do acordo assinado com os patrões dois anos atrás, que ainda não foi cumprido.

A greve engloba trabalhadores da empresa estatal, KazMunaiGaz, que tem laços estreitos com o governo do presidente Nazarbayev, e seus subsidiários e empresas terceirizadas. No auge do movimento, até agora, 16 mil trabalhadores chegaram a paralisar, e milhares estão em greve desde o início, sem receber salário.

Muitos trabalhadores receberam ameaças anônimas. Um dos representantes dos grevistas teve sua casa incendiada. O governo usou até caças do exército para sobrevoar as assembleias dos grevistas para intimida-los.

2,5 mil trabalhadores demitidos

A empresa demitiu até agora 2,5 mil trabalhadores que decidiram continuar em greve. Aqueles que cederam e voltaram ao trabalho tiveram que assinar uma declaração dizendo que a greve é ilegal e garantindo não participar mais do movimento.

Os trabalhadores enfrentam uma avalanche de propaganda mentirosa e total boicote na mídia oficial. Mas a greve recebeu atenção internacional quando o cantor Sting em julho cancelou um show no país, dizendo que “não atravessaria um piquete de greve”.

Em novembro, o governo começou a dar sinais que pode abrir negociações, mas ainda não fizeram uma proposta aceitável aos grevistas.

O Cazaquistão é um país rico em recursos naturais que só beneficiam uma pequena elite. A greve dos petroleiros mostra a necessidade de reconstruir um movimento independente dos trabalhadores, que lute pela estatização dos recursos naturais sob o controle dos trabalhadores e contra o regime de Nazarbayev.

Desde o início da greve, os membros do CIT, que fazem parte do Movimento Socialista do Cazaquistão, tem dado todo apoio ao movimento. Paul Murphy, deputado do Parlamento Europeu pelo Partido Socialista da Irlanda, seção do CIT, visitou os grevistas em julho, ajudando a furar o bloqueio na mídia e também se comprometendo lançar uma campanha internacional em apoio aos petroleiros, abrindo uma conta bancária onde doações podem ser depositadas.

Protestos têm sido organizados e sindicatos deram apoio em vários países: Grã Bretanha, Irlanda, Bélgica, Polônia, Rússia, Suécia, Alemanha, Áustria, Venezuela e outros. Aqui no Brasil, o mandato do deputado federal Ivan Valente do PSOL mandou mensagens de protesto contra a repressão estatal. A CSP-Conlutas também deve engajar-se na solidariedade.

Perseguição contra os membros do CIT

Os militantes do CIT no Cazaquistão sofrem constantemente com a perseguição do governo. Vários de seus militantes já passaram pela prisão, sem julgamento ou com julgamentos arbitrários. No dia 24 de novembro, um dirigente do CIT da Rússia em visita ao país, foi condenado a dez dias de prisão após um julgamento de 5 minutos com provas falsas.

Dois líderes do CIT, Ainur Kurmanov e Esenbek Ukteshbayev, estão ameaçados de prisão por até dois anos, em retaliação à sua atuação na organização da Campanha “Deixem as Casas das Pessoas em Paz”, que defende os interesses do povo pobre contra os despejos forçados ordenados pelos bancos, e pelo apoio à greve dos petroleiros. Os dois são acusados, entre outras coisas, de serem responsáveis por promover “suicídios em massa” por parte de moradores que sofreram despejos!

A repressão mostra que o regime teme uma crescente oposição. Os militantes do CIT têm ajudado vários grupos que travaram batalhas contra os ataques do governo e dos patrões, e também tem ajudado a fundar o Movimento Socialista do Cazaquistão, que une os diferentes grupos de oposição ao redor de uma alternativa socialista.

Quem quiser ajudar na campanha internacional, acesse nosso site: www.lsr-cit.org ou mande um e-mail para lsr@lsr-cit.org.

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