Milhares de mortos na catástrofe japonesa

Até 30 mil pessoas podem ter perdido a vida na terrível tríplice catástrofe que atingiu a costa leste de Japão, com o epicentro cerca de 200 quilômetros ao norte de Tóquio.

Como se não bastasse o terremoto com a magnitude 9,0 na escala Richter em três epicentros na costa do Oceano Pacífico, ele foi seguido por um tsunami devastador com ondas de até 10 metros e uma série de incidentes nucleares. Segundo o premiê japonês Naoto Kan a catástrofe é a “pior que atingiu Japão desde a segunda guerra mundial”.

A extensão da devastação, que até a segunda feira tinha sido seguida por 67 réplicas acima de 5 na escala Richter, só vai começar a ficar clara nessa semana no melhor dos casos. A força do terremoto foi tão gigantesca que chegou a mudar a costa do Japão, trazendo ela 2,5 metros mais perto dos EUA, e deslocou o eixo da Terra em 10 centímetros.

Enquanto mais de 2 mil pessoas tinham sido confirmados como mortos depois de quatro dias após o terremoto e o tsunami da sexta-feira, as autoridades informam que ainda não sabem o paradeiro de cerca de 30 mil pessoas.

O terremoto causou danos diretos em um quarto das 47 províncias do Japão. As mais afetadas são as províncias costeiras de Miyagi, Iwate e Fukushima onde as ondas gigantescas do tsunami arrastaram tudo nas regiões afetadas: pessoas, carros, trens, estradas, casas, escolas e locais de trabalho.

Na cidade de Otsuchi na província de Iwate, onde 10 mil dos 15 mil habitantes podem estar mortos, o porta-voz da Cruz Vermelha descreve um “cenário do inferno, como um pesadelo”. Uma catástrofe semelhante atingiu Rikuzenkata com 23 mil habitantes, onde 80% da cidade foi varrida pela onda gigantesca.

Na cidade de Minamisanriku, onde 10 mil dos 17 mil habitantes estão desaparecidos, foram encontrados 2 mil corpos em duas praias.

Outros milhares podem ter perecido em outras cidades. No litoral inteiro milhares de pessoas desesperadas que perderam tudo buscam por familiares e amigos desaparecidos.

O trabalho de resgate, com 100 mil soldados e muitos voluntários, é prejudicado pela dificuldade de se locomover devido aos escombros, a destruição de estradas, ferrovias, portos e até aeroportos, a falta de energia e a zona de segurança ao redor dos reatores da usina nuclear em Fukushima.

A falta de comida, água, barracas, cobertores etc, é grave. Dois milhões de domicílios estão sem energia e 1,4 milhões sem água, ao mesmo tempo em que 550 mil foram evacuados. Muitos tem que dormir sob céu aberto com somente um cobertor numa temperatura de inverno de zero graus e com a possibilidade de piorar com chuva, neve e queda de temperatura.

A catástrofe é agravada pelos incidentes que o tsunami causou nos três reatores ativos dos seis existentes da companhia Tokyo Electric Power na usina Fukushima Daiichi, onde a onda danificou o fornecimento elétrico ao sistema de resfriamento, incluindo os sistemas de reserva.

A tentativa desesperada de resfriar os reatores com água salgada do mar para evitar um derretimento total mostra como a situação é grave. O resfriamento tem que continuar até um ano após o término do processo de fissão. Os reatores vão estar destruídos pela corrosão do revestimento de metal do combustível nuclear.

Ao mesmo tempo é necessário vazar o vapor reativo que está sendo formado para que não aconteçam novas explosões. Não está claro como isso vai funcionar. Não foi possível evitar derretimentos parciais e duas explosões fortes de hidrogênio nos reatores 1 e 3, que detonou tetos e paredes.

A explosão na segunda-feira do reator 3 não somente feriu 11 trabalhadores. Há também informes de que quatro das cinco bombas que bombeava a água do mar para o resfriamento foram danificadas, deixando exposto o combustível nuclear que começou a derreter, aumentando o risco de um derretimento total.

Uma explosão no reator 2 pode ter consequências graves já que lá é usado um combustível misto, o chamado “Mox” (óxidos mistos), que inclui o altamente tóxico plutônio.

Não se sabe ainda quanto césio e iodo radioativo vasou até agora, e levará alguns dias até que se tenha uma ideia mais clara do perigo. Mas apesar de que o governo japonês minimiza os riscos para com a saúde pública, os soldados americanos e o porta-aviões Ronald Reagan foram afastados da costa por causa do aumento de radioatividade na região mais próxima.

“Há um pequeno risco de um vazamento grande”, admite o secretário-chefe de gabinete do governo japonês.

É a primeira vez na história que ocorrem acidentes nucleares em série como no Fukushima 1, 3 e depois 2. Esse já é o terceiro pior acidente nuclear da história após Chernobyl em 1986 e Three Mile Island em 1979.

“Diziam que as usinas nucleares japonesas eram a prova de terremotos e as mais preparadas para catástrofes, mas veja o que aconteceu. A zona de atividade sísmica as torna mais arriscadas ainda”, diz um porta-voz do Greenpeace.

O sismólogo japonês Katsuhiko Ishibashi diz ao Los Angeles Times que “Japão é um arquipélago propício a terremotos, com 54 usinas nucleares. É como um homem bomba com granadas na cintura”.

A situação se repete em outros países. A Agência Internacional de Energia Atômica alerta que 20% das usinas nucleares do mundo estão situadas em regiões com atividades sísmicas (afetadas por terremotos).

O governo japonês tem um programa para continuar uma rápida expansão da energia atômica, de 29% da produção elétrica para 40% em 2030 e 50-60% em 2050, apesar de muitos distúrbios e interrupções que já vinham antes dessa última catástrofe. Esses planos devem ser questionados agora por uma opinião pública crítica que já era crescente. O Chinaworker.info também critica os planos de expansão de usinas nucleares em regiões com grande risco de terremotos na China.

Também na Europa cresce a oposição contra os planos de expandir a energia nuclear ao invés de fontes renováveis para combater as mudanças climáticas. Na Alemanha, onde 70% da população é contra a energia nuclear, 40 mil pessoas participaram de um ato no sábado formando uma corrente humana ao redor da usina nuclear Neckarwestheim em Stuttgart.

Esperamos que um derretimento total possa ser evitado. Mas mesmo assim a economia japonesa, que já sofreu 20 anos de estagnação desde uma gigantesca crise no setor imobiliário no início dos anos 1990, vai ser afetada. O país já tem a maior dívida pública do mundo, equivalente cerca de 200% do PIB.

Segundo a CNN a catástrofe vai custar entre 15 e 35 bilhões de dólares às seguradoras, mas e estimativa não incluía o acidente nuclear. Possivelmente o custo total vai superar o do furacão Katrina de 45 bilhões de dólares.

Segundo outra estimativa relatada pela CNN o custo total da reconstrução pode superar 100 bilhões de dólares, incluindo a reconstrução da infraestrutura e indenização aos afetados pela catástrofe.

Mas isso já foi superado pela enorme injeção de 183 bilhões de dólares que o Bank of Japan (o banco central do país) na segunda-feira se declarou disposto a aplicar na economia para proteger os donos do capital daquilo que eles mais temem, um novo derretimento financeiro.

Algumas das maiores e mais conhecidas empresas japonesas com atividade na região, Mitsui Chemicals, Mitsubichi Chemical, JFE Steel, Toyota, Nissan, Honda e Sony, vão sofrer problemas com a produção por um bom tempo, incluindo o racionamento de energia que está sendo ampliado.

Quando ficar claro nas próximas semanas e próximos meses os gastos totais da perda de produção e racionamento de energia, é possível que essa seja a catástrofe mais custosa da história, e que pode provocar até uma nova recessão na terceira economia mundial.

O premiê japonês tentou confortar a população com esperanças que tudo isso pode ser seguido por um período de reconstrução parecido ao “New Deal” nos EUA nos anos 1930, ou algo parecido ao terremoto em Kobe em 1996. Mas essa perspectiva vai enfrentar grandes obstáculos devido ao já grande endividamento público e a possibilidade de aumento dos juros num período em que o mundo ainda não se recuperou da crise financeira mundial.

Por isso a chance é muito grande que o peso da catástrofe, além dos que foram atingidos diretamente, vai cair nas costas dos trabalhadores.

Numa economia socialista democraticamente planificada, um programa de energia nuclear submetido ao risco permanente de terremotos como esse seria um absurdo impensável.

 
Nós defendemos:
  • Os trabalhadores e comunidades japonesas nas regiões afetadas devem exigir controle pleno sobre o trabalho de resgate e poder democrático sobre a reconstrução. Solidariedade e apoio ativo ao trabalho de resgate do povo japonês.
  • Por uma revisão imediata da política de geração de energia e investimentos em fontes de energia renováveis – não à energia atômica!
  • Nenhuma confiança nos especuladores e tubarões financeiros para organizar o trabalho de resgate e reconstrução. Pelo socialismo e uma economia pública democrática como a única maneira de satisfazer as necessidades do povo trabalhador e garantir um desenvolvimento sustentável dos recursos do planeta!