Megaeventos – tráfico de mulheres potencializa os lucros do capital
Os megaeventos tem se mostrado como uma forma de potencializar os lucros da burguesia, permitindo que esta implemente seus projetos que concentram renda, solo e riquezas, aumentam a exclusão social e espacial. O ufanismo dos megaeventos permite que não se questione tais projetos, que visam atrair o grande capital, modernizando e padronizando as cidades e favorecer as empreiteiras e as construtoras.
O capitalismo explora todas as formas possíveis de extrair lucro e a opressão da mulher a séculos cumpre esse papel. Os megaeventos se utilizam da mercantilização do corpo da mulher, para lucrar com a indústria do sexo e o tráfico de mulheres.
As cidades disputam a possibilidade de ser sede dos megaeventos oferecendo ótimas condições de lucro para o grande capital. Isso se concretiza em disponibilidade do solo em áreas centrais (ao custo das remoções das comunidades pobres), mão de obra barata e contratos de trabalho flexíveis e precários para o trabalhador, a padronização da cidade (higienização social, recolhimento de mendigos, drogadictos, profissionais do sexo) para agradar a burguesia e os turistas.
De forma menos explícita, mas já conhecida por todos, é a oferta de um mercado sexual para os turistas e empresários que tem se mostrado um diferencial na disputa entre as cidades, como pudemos ver na copa do mundo na Alemanha e na África do Sul, e agora no Brasil.
Escravidão moderna
O tráfico de mulheres é uma forma moderna de tráfico de escravos, pois sequestra mulheres, em especial jovens, de seus países e as obriga a trabalhar como profissionais do sexo muitas vezes em troca de um prato de comida, em regime fechado, aprisionadas. Anualmente quatro milhões de pessoas, em sua maioria mulheres jovens, são traficadas. De acordo com o Parlamento Europeu, a indústria sexual ilegal acumula, por ano, de 5 a 7 bilhões de dólares.
Com o ufanismo dos megaeventos, a esperança de melhorar de vida, aproveitando os grandes negócios, a indústria sexual ludibria as mulheres jovens e pobres com a possibilidade de trabalharem nos eventos da copa do mundo. Prometem que elas serão garçonetes, cozinheiras, as transportando de seu país de origem (países subdesenvolvidos, da América Latina, África e Ásia) sem nenhum dinheiro ou garantia de retorno e as levam para serem escravas sexuais disponíveis para os frequentadores dos megaeventos.
As mulheres pobres são atingidas duplamente: são exploradas por serem da classe trabalhadora e oprimidas e submetidas por serem mulheres. A mercantilização do corpo da mulher, explorada pela indústria da cerveja e pela propaganda em geral, na venda de produtos de beleza (padronização da beleza) e na indústria do sexo é a prova explícita e concreta do quanto a mulher, em pleno século XXI, é vista como um objeto a ser utilizado para a obtenção do lucro e não um sujeito social detentor de direitos.
Exploração, seja na Alemanha ou na África do Sul
Na Copa do mundo em 2006 na Alemanha, o fato da prostituição ser legalizada foi um diferencial para a realização dos jogos lá. Este fato permitiu que a indústria do sexo não tivesse grandes problemas para traficar para a Alemanha nada menos que 40 mil mulheres, importadas da Europa central e do leste, para abastecer um gigantesco complexo ligado à prostituição.
Foi construída uma megacasa de prostituição, ao lado do principal estádio do país, com capacidade para 650 homens usufruírem de seus serviços simultaneamente. Para os homens que não queriam ser identificados existiam cabines individuais, com chuveiros e preservativos. Vemos que o capitalismo se utiliza da legalização da prostituição, uma lei feita para proteger as profissionais do sexo, para potencializar seus lucros, explorando o corpo da mulher.
Já na Copa do Mundo na África do Sul, a prostituição não era legalizada, mas este país já fazia parte da rota de tráfico de mulheres, o que o tornava atrativo para ser sede de tais jogos. Segundo a associação de mulheres da magistratura sul-africana, a África do Sul é país de origem, de destino e de trânsito do tráfico de pessoas. São traficadas nesse país mulheres tailandesas, russas, búlgaras e moçambicanas; as nigerianas passam pela África do Sul para depois serem vendidas na Alemanha, Itália e Canadá; as sul-africanas são levadas por Hong Kong e Macau.
A FIFA, grande agenciadora dos interesses das transnacionais, pressionou a África do Sul para que legalizasse a prostituição, o que não ocorreu. No entanto, os governantes deste país fizeram vistas grossas e o tráfico de mulheres (sequestro de meninas) aumentou ainda mais neste período de jogos mundiais. Segundo o porta-voz da polícia de Maputo, capital de Moçambique, essas meninas estavam sendo vendidas por US$ 670.
Neste país as profissionais do sexo, mulheres trabalhadoras, negras e pobres, que em sua maioria trabalhavam na rua, ficaram mais vulneráveis com o aumento do policiamento, devido à Copa do Mundo, sujeitas a extorsões e subornos, estupros e agressões, prisões arbitrárias.
Brasil na rota do tráfico de mulheres
No Brasil esta realidade de mercantilização da mulher ao extremo não é uma novidade. Locais como Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Manaus são cidades já conhecidas internacionalmente como rota do tráfico de mulheres e como lugar de maior incidência da exploração sexual.
No Rio de Janeiro agencias internacionais de turismo na hora de venderem o pacote turístico a um estrangeiro que vem visitar o Brasil, já oferece a ele o serviço de “acompanhante”, que nada mais são que garotas pobres que trabalham como profissionais do sexo para ganhar algum dinheiro. Não é a toa que o Rio de Janeiro hoje é a “vitrine do mundo” e que a grande maioria dos megaeventos está sendo organizada nesta cidade.
A imagem da mulher brasileira é difundida para os demais países como a mulata, que só gosta de sambar e andar seminua, como em um “carnaval permanente”. Os filmes atuais que tem o Rio como o cenário de fundo estão potencializando a difusão desta imagem da mulher brasileira, o que a desqualifica e a resume em um par de pernas, bunda e peitos.
Mulher não é mercadoria!
A realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e as Olimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro vão aumentar esta realidade atual, na qual a mulher é vista como um objeto de consumo, o que permite ao homem o direito sobre seu corpo. Não é a toa que, ao invés de diminuir, tem crescido o número de agressões físicas e sexuais às mulheres. Não podemos esperar que esta realidade se agrave. Não somos mercadorias e temos que nos unir para dizer isso ao mundo inteiro.
Como vemos, os megaeventos estão intrinsicamente ligados ao “turismo sexual”, pois é favorecido por ele (a venda de mulheres para a exploração sexual), já que é um diferencial a mais para atrair milhares de homens ricos aos campeonatos esportivos e o favorece, por potencializar seus lucros. Nessa história, só quem sai perdendo somos nós, as mulheres trabalhadoras.