Por um giro à esquerda no PSOL
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) realizará nos dias 3 e 4 de dezembro seu III Congresso Nacional. O Congresso acontece numa situação de agravamento da crise capitalista internacional e os primeiros sinais da repercussão desse processo no Brasil.
O PSOL é a principal referência de oposição de esquerda ao governo Dilma e tem diante de si o desafio de construir uma alternativa política global dos trabalhadores em meio a uma crescente resistência do movimento de massas.
Para o Congresso do partido a corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), junto com o coletivo Reage Socialista e o Grupo de Ação Socialista (GAS) apresentaram para debate entre os militantes do PSOL a Tese “Por um giro à esquerda no PSOL”.
A Tese defende a necessidade de mudanças na orientação política e na concepção organizativa do PSOL com base em três eixos fundamentais: construção pela base; orientação à luta de classes e defesa do socialismo.
Para a defesa dessas posições, a Tese defende a necessidade da construção de um pólo de esquerda unitário no interior do PSOL para romper com a lógica de disputa interna entre dois campos majoritários que levou o partido a uma grave crise no período anterior.
Orientação à luta de classes
O primeiro ano do governo Dilma está sendo marcado por uma retomada das lutas sindicais, populares e da juventude. O papel do PSOL é o de impulsionar, apoiar e fortalecer essas lutas.
Não haverá derrota do governo Dilma e fortalecimento da esquerda socialista apenas com a luta parlamentar. Somente as greves, ocupações e manifestações de massas poderão arrancar reajustes salariais, melhores condições de trabalho, mais verbas para os serviços públicos. Apenas pela luta direta se poderá impedir as remoções forçadas e arbitrárias feitas em nome dos mega eventos, como a Copa e as Olimpíadas.
A ação parlamentar depende da pressão de massas dos trabalhadores para ajudar a barrar a nova contra-reforma da previdência, a reforma do código florestal e os cortes nos gastos públicos para se pagar a dívida aos banqueiros e especuladores.
O PSOL precisa orientar-se decisivamente para esse processo de luta de classes, construir-se enraizando-se nessas lutas e levantando uma alternativa política global dos trabalhadores que aponte a unificação das lutas e uma saída anti-capitalista.
Ao contrário do que defendem alguns, isso não se fará construindo-se uma Central sindical do PSOL. O papel do PSOL no processo de reorganização sindical e popular é defender com força a necessidade de reunificação dos setores classistas e combativos do movimento sindical e popular numa única Central. Uma Central que unifique a CSP-Conlutas, a Intersindical e outros setores.
Construção pela base
O PSOL não poderá jogar esse papel de impulsionar e politizar as lutas dos trabalhadores se não mudar radicalmente sua dinâmica organizativa atual. Os núcleos de base do partido perderam força e a maioria desapareceu. Os filiados só são chamados a participar nas vésperas dos Congressos ou para ajudar nas campanhas eleitorais sem jogar papel protagonista.
O pragmatismo eleitoral e a lógica da disputa interna despolitizada estão destruindo o caráter militante, classista e socialista do PSOL. Esse processo se reflete na preparação das eleições de 2012 e na disputa interna visando ao III Congresso do partido.
O que vemos hoje são filiações massivas despolitizadas, ausência de critérios militantes mínimos para a participação nas plenárias municipais do Congresso e redução proporcional do número de delegados ao Congresso. O partido manteve a dinâmica de escancarar a porteira na base e restringir na cúpula, o que significa menos participação militante real e mais espaço para manipulações despolitizadas. Isso só agrava a tensão interna e descaracteriza o partido.
O PSOL precisa voltar a se construir de baixo para cima, com núcleos de base ativos, atuantes e com poder decisório. Sem isso não poderá avançar na direção de ser um autêntico partido de trabalhadores na luta pelo socialismo.
Campanha de 2012 sem alianças com governistas e burgueses
Alianças pragmáticas com o PT, PCdoB e até coisa pior (PV, PSB e outras legendas burguesas fisiológicas) estão sendo arquitetadas em vários municípios. Para que isso seja possível não há consulta real aos militantes ativos do partido. No máximo o que se vê é a manipulação de uma camada de filiados recentes interessados apenas em usar a legenda para suas candidaturas.
O PSOL deve apresentar-se em 2012 como o partido das lutas sociais, pelos direitos dos trabalhadores, contra os governantes corruptos e por uma alternativa de poder real do povo trabalhador em cada município. Isso significa que nossa principal aliança deve ser com os movimentos sociais. Do ponto de vista partidário, devemos reeditar onde for possível a Frente de Esquerda com PSTU e PCB.
Defesa do socialismo
A crise internacional deixa claro que não existem saídas para a crise capitalista nos marcos do capitalismo. O neoliberalismo fracassou e as respostas com mais intervenção estatal na economia não representaram alternativa efetiva. Em ambos os caminhos quem sofre são os trabalhadores que carregam o peso da crise.
O PSOL tem a tarefa histórica de levantar novamente a bandeira do socialismo como alternativa com base num programa que ligue as reivindicações imediatas dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre e oprimido com a necessidade de destruirmos o sistema capitalista.
Vincular a defesa do socialismo às lutas dos trabalhadores, generalizando o movimento e elevando seu nível de compreensão política. Esse é o desafio histórico do PSOL hoje.
Lutaremos para que o III Congresso avance nessa direção. Para isso, chamamos às correntes, coletivos e militantes que se colocam no campo mais à esquerda no partido para que unifiquemos as forças em defesa de uma plataforma comum. Com isso, poderemos resgatar o debate político no partido para além da mera disputa por espaço entre os dois campos majoritários (a atual maioria e a maioria anterior).