Governo da Venezuela rompe relações com a Colômbia

Na quinta, 22 de julho, o presidente Chávez anunciou a ruptura total das relações diplomáticas com a Colômbia. A decisão foi tomada depois de o governo da Colômbia voltar a denunciar ante a OEA a presença de guerrilheiros das FARC em território venezuelano, argumentando que tal fato é uma prova de que o governo da Venezuela apóia e protege o que o governo da Colômbia qualifica como terroristas, as guerrilhas da ELN e FARC.

Venezuela e Colômbia têm muita história em comum, tanto em suas origens históricas como nações independentes, como de relações tensas entre ambos os Estados.

Até 1830 eram uma só nação, a “Grã-Colômbia”, projeto continental da unidade sul-americana proposta por Bolívar. Mas após a morte do “Libertador”, nos dois territórios, venezuelano e colombiano, as classes dominantes desenvolveram movimentos separatistas que acabaram na dissolução da Grã-Colômbia, criando os dois países que atualmente existem.

Em 1831 se iniciam as novas relações diplomáticas entre os países; mas será em 1901 que se dá o primeiro incidente diplomático que se expressa na ruptura das relações diplomáticas. Desde então vários têm sido os incidentes que ocorrem entre os países irmãos, como o conflito “Caldas” 1987, fragata militar colombiana que irrompeu em águas continentais venezuelanas, e que intensificou a disputa fronteiriça entre Venezuela e Colômbia sobre o Golfo da Venezuela.

Venezuela e Colômbia, durante mais de 100 anos, têm tido disputas políticas entre si, a grande maioria dos conflitos causados por disputas territoriais, das quais a Colômbia tem ganhado quase todas. Mas tem sido desde a chegada ao poder do presidente Chávez, e de sua proclamada revolução bolivariana em 1998, que as relações entre Colômbia e Venezuela têm tido seu período de maior tensão.

Após os 11 anos da revolução bolivariana, vários têm sido os incidentes entre ambos os países, como o mesmo tema: a Colômbia acusa a Venezuela de apoiar a guerrilha, que é rotulada pelo governo colombiano de terrorista; e a Venezuela responde que o governo da Colômbia é um regime de ultradireita lacaio do imperialismo.

Além disso, há pouco tempo, o governo da Venezuela declarou à comunidade internacional que reconhece a guerrilha colombiana, as FARC e o ELN como uma força beligerante, e não como forças terroristas. A argumentação do governo da Venezuela é que a guerrilha colombiana é um corpo político armado que luta pela libertação de seu país contra uma classe política antagônica aos interesses de seu povo, entre outros argumentos.

Esta tem sido uma das declarações mais controversas do presidente Chávez e de seu governo, e tem sido uma das razões para que a classe política dominante colombiana, liderada pelo presidente Uribe, com o apoio do governo dos Estados Unidos, aprofundassem seus ataques diplomáticos contra a revolução bolivariana.

Em resumo, se poderia tirar a conclusão de que o atual conflito entre Colômbia e Venezuela é uma disputa entre a esquerda e a direita regional e internacional. Superficialmente, poderíamos dizer que sim, mas aprofundando ainda mais a análise da conjuntura atual de ambos o países, se pode tirar conclusões muito mais amplas que o atual conflito diplomático.

A Colômbia está passando neste momento por um processo de transição “democrática”: o governo encabeçado pelo presidente Uribe, depois de 8 anos no poder, deixa a casa de Nariño.

Depois de sua tentativa fracassada de buscar uma possibilidade de reeleição copiando o que antes criticou do governo venezuelano, quando conseguiu que se estabelecesse pela via da reforma e referendo constitucional uma emenda que permitisse a reeleição indefinida para todos os cargos eleitos.

Além disso, o governo de Uribe deixa uma agenda política interna muito tensa para o presidente eleito Santos, que é da mesma origem política de Uribe e que foi seu braço direito de governo, como ministro da defesa; sendo um dos funcionários do Estado colombiano com a posição mais dura sobre a Venezuela.

Uribe deixa um legado de escândalos da parapolítica, o drama social do paramilitarismo, os falsos sucessos e uma região desestabilizada, produto de seu acordo com os EUA para permitir na Colômbia 7 bases militares, as quais, no caso venezuelano são consideradas uma ameaça tanto para a revolução bolivariana como para o continente.

Na Venezuela, a situação não é menos diferente quanto aos conflitos sociais, econômicos e políticos. Já são 11 anos de revolução bolivariana, e o governo não conseguiu desenvolver uma economia alternativa que rompa com o esquema capitalista, além de continuar sendo uma economia débil, dependente em sua totalidade do petróleo. Os 5 anos de crescimento econômico do país foram devidos aos altos preços do petróleo, em grande parte pelo mercado de especulação de preços das matérias primas, que foi um dos detonadores da atual crise do capital. Tudo isso se traduziu em uma recessão econômica que voltou a colocar na agenda social os problemas que se pensava terem sido solucionado com a implementação dos programas sociais financiados pelo petróleo.

Informes internacionais de organismos econômicos têm dito que a Venezuela e o Haiti, que acaba de sofrer um terrível terremoto, serão as únicas economias da região que se manterão em queda do PIB em 2010. Isto é uma notícia que turva as águas do processo bolivariano e permite à direita passar para uma ofensiva política nas próximas eleições parlamentares de 26 de setembro, onde as perspectivas de retomar espaços no parlamento são reais e claras.

Ao mesmo tempo, apesar de todos os esforços de criar estruturas como os conselhos comunais e de políticas de fortalecimento do estado na intervenção da economia e outros assuntos sociais que haviam sido abandonados durante a década do neoliberalismo, antes da chegada da revolução, não tem sido suficiente. As estruturas do estado continuam sendo cada vez mais pesadas, burocráticas, ineficientes e corruptas, como o recente caso da PDVAL, empresa de alimentos do governo nacional impulsionada pela PDVSA, onde se descobriu que tinha em sua administração depósitos de toneladas de comida que por incompetência e corrupção se perderam, gerando um aumento negativo da opinião publica sobre a transparência da administração do governo do presidente Chávez.

Ante todo este cenário, volta-se a colocar então a situação de conflito entre Colômbia e Venezuela. Conflito que não descartamos que seja parte de uma política de intimidação e agressão sobre o processo venezuelano, e ameaça para os interesses nacionais. Mas isso deixa dúvidas, já que além das retóricas diplomáticas o mais concreto que ocorreu entre ambos os países foi a instalação de bases militares do imperialismo estadunidense em território colombiano, e isso não gerou uma resposta tão contundente do governo venezuelano como a atual. Embora as relações entre ambos tenha se deteriorado ainda mais, ao ponto de que o intercâmbio comercial tenha caído em 60% até agora.

A dúvida, gerada por esse novo conflito, é que os grupos políticos dominantes de ambos os países alimentem as ideias nacionalistas para criar um conflito inexistente entre os interesses dos dois povos irmãos, e com isso desviar a atenção do povo dos assuntos nacionais de seu interesse.

No jogo da política imperialista nunca se descarta nada, mas no momento atual os Estados Unidos estão afundados em sua maior crise econômica e política, não tem apenas a pressão interna pela quebra de sua economia, mas também está atolado nos conflitos do Iraque e Afeganistão, além das ameaças permanentes ao regime iraniano.

Uma intervenção militar direta dos EUA na Venezuela provocaria uma onda de solidariedade internacional e o despertar dos sentimentos anti-yanqui, que, com o fenômeno dos governos de “esquerda” na América Latina, poderia despertar esse vulcão andino revolucionário, que esteve a ponto de explodir durante o período 2002-2006 e iniciar a verdadeira revolução socialista da libertação supranacional, continental e a uma luta pela formação de uma federação socialista dos países latino-americanos.

De nossa perspectiva, não descartamos a ameaça imperial, mas no momento atual, no caso concreto venezuelano, cremos que as ameaças estão no interior do processo bolivariano, onde as tendências reformistas e socialdemocratas inseridas na revolução bolivariana conspiram abertamente para derrotar o avanço do processo para a revolução socialista, inclusive colocando nestes momentos a tese da libertação nacional, adiando a perspectiva do socialismo a um futuro remoto. Por este tipo de contradições é que uma direita contrarrevolucionária, burguesa, depois de anos de derrotas e de sua quase extinção, hoje se vê mais viva do que nunca e com possibilidades claras de retomar o poder e o controle da sociedade venezuelana.

  • Não à ameaça de guerra!
  • Fora as Bases Militares dos EUA da Colômbia!
  • Não à intervenção do Imperialismo!
  • Venezuela e Colômbia, somos um só povo!
  • A guerra não é entre povos, é contra o sistema capitalista!
  • Trabalhadores, camponeses, indígenas, estudantes, comunidades populares, colombianas e venezuelanas, unam-se pelo Socialismo Democrático e Revolucionário! 

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