Intervenções, perseguições, greves e disputas: as universidades em ebulição em 2023!
As universidades no Brasil estão em ebulição em 2023. De perseguição política e intervenções bolsonaristas a greves estudantis e de servidores, elas são cenário de disputas e combate neste período de grande polarização ideológica. Unir as lutas da classe trabalhadora, dentro e fora das universidades, com a da juventude e contra as opressões, é pavimentar o nosso futuro!
Em novembro, fez aniversário de dois anos a intervenção de Bolsonaro na Reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), quando ele escolheu Valdiney Gouveia, o menos votado na consulta eleitoral, para comandá-la. É uma gestão marcada pelo negacionismo em relação ao Covid-19, pelas relações com a extrema-direita local, pelo projeto de sucateamento da universidade pública e seu financiamento e pela perseguição à comunidade, os sindicatos e o Diretório Central des Estudantes. Existem diversos processos administrativos contra estudantes do movimento, uma notificação da ouvidoria pelo fato de um professor ter usado uma camiseta do MST em aula, no melhor estilo Escola Sem Partido, e inquéritos abertos na Polícia Federal contra estudantes, técnica/os e docentes, incluindo o autor deste texto, por simplesmente fazerem mobilização contra a intervenção.
Existe um processo aberto pelo movimento para a destituição da gestão com reuniões dos Conselhos Superiores realizadas, instância que pode deliberar e com uma maioria favorável à pauta. Entretanto, diversas manobras arbitrárias e protelações vem sendo realizadas pela gestão e a sua procuradoria jurídica, também ligada ao bolsonarismo, com conformismo de uma burocracia acadêmica, mais preocupada com o toma-lá-da-cá e as eleições para Direções de Centros e Reitoria, esta a ser realizada no segundo semestre de 2024. Deixar uma intervenção deste porte e sua nefasta gestão terminar é uma afronta à democracia e à própria ideia de universidade e educação pública!
A UFRGS e a UFERSA (do Semiárido, no RN) vivem processos parecidos, com decisões das suas comunidades favoráveis à destituição, mas com imbróglios jurídicos e burocráticos que impedem a vontade da comunidade. Na UFRA (Rural da Amazônia, no PA), também há processos administrativos, incluindo contra uma dirigente do ANDES – SN (Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior). Esperáva-se que haveria maior resposta do Ministério da Educação à pauta de algumas dezenas de universidades sob intervenção bolsonarista, mas ele tem se calado inclusive quando as universidades tem decisões favoráveis à destituição dos interventores. Parece que as relações promíscuas do governo com a direita tem influenciado negativamente também as disputas locais contra o bolsonarismo…
Greves estudantis
Os estudantes da maior universidade do país, a USP, fizeram uma greve de um mês e meio em setembro e outubro, conquistando contratação de professora/es, mas que tinha na sua pauta também permanência estudantil – agora continuam mobilizades contra a ameaça da Reitoria em reprovar em massa es estudantes grevistas. Entretanto, é uma greve contra a política privatista de Tarcísio, o governador bolsonarista de São Paulo. Na USP Leste, o campus mais precarizado, houve uma ocupação de estudantes no primeiro semestre. Ela se espraiou em uma greve de estudantes da UNICAMP (Estadual de Campinas), com repercussão do caso do docente bolsonarista que atacou estudantes com uma faca em sala de aula, em uma greve da/os técnica/os e indicativo de greve de docentes da USP.
Na UTFPR (Tecnólogica do Paraná), estudantes protestaram após a morte de um calouro por falta de ambulatório, uma negligência da gestão. No campus de Diadema da UNIFESP, estudantes paralisaram por uma semana em novembro por falta de energia e água, justamente durante a onda de calor que assolou o Brasil. O campus não apresenta condições de atividade, a gestão diz que não tem dinheiro e es estudantes estão indicando uma greve para o início das aulas em 2024. Na UFMA (Maranhão), estudantes ocuparam a reitoria por um mês em outubro por permanência estudantil e na UNILA (Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu-PR), estudantes entraram em greve pelas mesmas pautas. Em diversas universidades federais, estudantes estão mobilizades por permanência estudantil, contra as intervenções e o processo de sucateamento das universidades, que teve auge durante Bolsonaro, mas não revertido por Lula.
Na UEFS (Estadual de Feira de Santana), uma assembleia com 1600 estudantes aprovou greve no início de outubro e ocuparam a reitoria por contratação de docentes, melhores condições e bolsas. A/os docentes das universidades estaduais da Bahia também paralisaram no início de novembro por reajuste salarial e melhores condições. Essas mobilizações colocam na berlinda o governo do PT da Bahia, já marcado pela sua política antipopular e de sucateamento dos erviço público, incluindo a revelação de que o governo que está há mais de 20 anos no poder dirige a polícia que mais mata no Brasil.
Esses movimentos estudantis são muito importantes, pela sua força, radicalidade e seu caráter de organização pela base. Além disso, uma nova geração de lutadora/es que vai se formando. Esses movimentos são formados por muitos ativistas de lutas contra opressões, feministas, LGBT+ e antirracistas e trazem novas ideias de como os ataques e sucatemaento nas universidades têm relação direta com a marginalização desses setores. São exemplos importantes de unidade das lutas!
Unir as lutas com independência!
Os servidores federais também estão mobilizados para garantir negociação de reajuste salarial e contra a Reforma Administrativa e têm o ANDES – SN como vanguarda, já que a sua diretoria defende a independência em relação ao governo. Até agora, o governo não negociou com a categoria e, como o ano já está terminando, provavelmente não haverá reajuste salarial em 2024. Os sindicatos dirigidos pelo PT e PCdoB, ao contrário, avançam contra os lutadores independentes, como é o caso da ADUFG e ADUFEPE (docentes de GO e PE) que arbitrariamente, e usando a justiça burguesa, impedem a influência do ANDES – SN e ameaçam sair do sindicato nacional.
Além das lutas da/os servidores das universidades estaduais em SP e BA, houve paralisação da/os docentes das UEMG (Estadual de Minas Gerais) contra a política bolsonarista de Zema, mobilizações vitoriosas das estaduais do Paraná por carreira e reajuste salarial, mas a mais forte greve ocorreu nas estaduais do Maranhão, que durou dois meses e conquistou reajuste salarial, mesmo que insuficiente, e a nomeação de 60 professores aprovada/os em concurso.
As lutas nas universidades se somam às lutas contra as privatizações em SP que, após a vitoriosa greve dos metroviários, CPTM (trens urbanos) e SABESP (água e saneamento) do dia 8 de outubro e da grande repercussão do desastre da gestão da ENEL na energia privatizada, fizeram novo dia de luta e greves em 28 de novembro. Infelizmente, a privatização da SABESP foi aprovada pelos deputados, mas a luta ainda não está perdida. E essas lutas se somam a todas as lutas da classe trabalhadora por melhores salários, condições de trabalho e contra as opressões, como a do novembro negro, pelo direito ao aborto e contra o Marco Temporal.
Elas mostram o nível de polarização ideológica instalado na sociedade, mas também que as mesmas pautas são direcionadas a governadores bolsonaristas e petistas, assim como ao governo federal. Essas lutas mostram o caminho e contrariam o recado que Lula e as direções petistas têm dado à classe, o de esperar que o governo vai resolver os nossos problemas. Para derrotar o bolsonarismo e a direita, dentro e fora do governo, e pelos nossos direitos, precisamos de independência de classe e em relação ao governo Lula e unidade nas lutas. É o nosso futuro que está em jogo!