Israel / Palestina: “Nós não vamos parar de protestar contra os crimes da direita”

Quase 10 mil judeus israelenses e palestinos saíram para protestar no centro de Tel Aviv no sábado (5 de junho) contra as conseqüências do ataque contra a frota de ajuda humanitária, o bloqueio militar na Faixa de Gaza, a ocupação e o governo de extrema-direita.

Centenas de israelenses e palestinos participaram em uma manifestação conjunta contra a ocupação e o muro/cerca de separação na Cisjordânia e nos territórios ocupados. O Movimento de Luta Socialista (o CIT em Israel/Palestina) participou nos protestos e chamou por uma luta unitária contra a ocupação, a opressão nacional e por segurança, serviços públicos e empregos para toda a população da região.

As manifestações de sábado e sexta-feira foram organizadas antes do ataque sobre a frota de ajuda humanitária e foram agendadas – tal como todo ano, nos dias da guerra de 1967 – para protestar contra a atual ocupação direta e indireta de Gaza e da Cisjordânia desde então. Mas, por causa dos acontecimentos recentes, ambas as manifestações também se tornaram parte de uma série de protestos contra o ataque sobre a frota humanitária, ocorridos em Tel Aviv, Haifa, Beer Sheva, Nazaré, Shakhnin e outras cidades, com a participação de milhares de palestinos e judeus israelenses.

Campanha Nacionalista

Os protestos ocorreram em um contexto de brutal campanha nacionalista pelo regime de Israel contra qualquer crítica sobre os ataques na frota humanitária de Gaza, com a mobilização de toda a mídia pró-establishment para esta campanha.

Milhares de judeus israelenses e de palestinos vieram de toda parte do país para marchar pelo centro de Tel Aviv no sábado enfrentando uma atmosfera difícil por causa do clima nacionalista tanto na sociedade em geral, quanto nas ruas em que a marcha ocorreu. A marcha foi cercada por uma enorme força policial e por grupos de brutamontes de extrema-direita que estavam bem organizados e realizando provocações.

A manifestação foi organizada sob a bandeira “O governo afoga todos nós – deve-se buscar paz” pela Hadash, a organização de frente única do Partido Comunista de Israel em conjunto com outras organizações de paz e de oposição à ocupação, mas também pelo partido da ordem, Meretz (“vigor”) e seu movimento-irmão “Paz Agora”. A direção do Paz Agora e do Meretz decidiu não participar dos protestos durante a semana, ainda que alguns de seus ativistas tenham participado. Além disso, durante a manifestação de sábado, seus líderes não condenaram claramente o ataque contra o comboio humanitário e nem defenderam o fim do bloqueio militar na Faixa de Gaza.

Fim imediato da ocupação!

Apesar disso, a grande maioria dos manifestantes defendeu o fim imediato da ocupação, da ofensiva e a repressão ao direito de protestar. Claramente, o ataque sobre o comboio foi um fator-chave para a grande mobilização. Muitos dos manifestantes, judeus e palestinos, se juntaram aos cantos de nosso bloco. Membros, simpatizantes e pessoas que nos viram pela primeira vez, inclusive jovens palestinos do Hadsah, marcharam conosco, defenderam nossas bandeiras em hebreu e arábico e usaram nossos megafones. Juntos gritamos: “Nenhum encobrimento ajudará – o bloqueio é terror”, “Não há nada a investigar – fim do bloqueio”; “Protestar não é terrorismo – fim do bloqueio em Gaza”; “Segurança não é construída com corpos de manifestantes”; “Generais e ministros parem de matar manifestantes”; “O governo racista é uma ameaça a segurança”; e “Investir em educação, não em bloqueio militar e ocupação”. Durante a manifestação vendemos por volta de 250 cópias de nosso jornal, HaMa’avaK, e centenas de adesivos com a bandeira “árabes e judeus juntos na luta contra os racistas” em hebreu e arábico.

Durante a manifestação nós chamamos “não vamos parar de lutar contra os crimes da direita” enquanto grupos de extrema-direita, incitados pelo governo, tentaram atacar os manifestantes. Durante a manifestação, os bate-paus da direita jogaram uma bomba de fumaça no meio da manifestação, mas fracassaram em espalhar pânico ou ferir alguém. Mais tarde, um grupo tentou atacar Uri Avnery, um jornalista de 85 anos de idade e líder do movimento de paz Gush Shalom. Logo após a manifestação, sem qualquer repressão da polícia, eles marcharam por Tel Aviv gritando “traidores” para todas as pessoas que passavam por eles. Mesmo com a extrema-direita sendo incentivada pelo governo, eles não conseguiram mobilizar mais de 100 pessoas em sua contramanifestação – ou seja, apenas 1% do número de participantes no protesto anti-ocupação. No entanto, eles ainda representam uma séria ameaça que deve ser combatida.

Uma manifestação conjunta na Cisjordânia

No dia anterior os militantes do Movimento de Luta Socialista participaram, junto com centenas de árabes e judeus, palestinos ou israelenses em uma manifestação conjunta contra a ocupação. Ela foi organizada por comitês populares que lutam contra o muro/cerca de separação na Cisjordânia e por diferentes organizações pacifistas. A manifestação ocorreu na vila de Nova Biet Nuba, localizada na chamada rota 443 – uma estrada que atravessa a Cisjordânia, conecta Jerusalém com diferentes colônias e é a principal rota para o Ramallah para os Palestinos. A estrada foi construída sobre terras palestinas confiscadas mas, de forma ultrajante, é proibida para o movimento de palestinos por anos. A corte suprema de Israel, que usualmente dá pretextos legais para as políticas racistas do regime e da ocupação, ordenou que a estrada fosse aberta para palestinos – mas não o ponto de controle militar na entrada de Ramallah, que continua fechado. Isto significa que, para os palestinos, a estrada leva para lugar algum.

A manifestação começou com uma marcha da vila até a cerca de separação que separa a vila da estrada e das terras de Yalu, Imwas e da Biet Nuba (original) que foram demolidas durante a guerra de 1967 e com seus residentes se convertendo em refugiados. Dez minutos após o início da manifestação, quando os primeiros manifestantes chegaram na cerca de separação, várias bombas de gás foram atiradas contra eles. O exército continuou atirando bombas de gás dentro da vila por mais uma hora fazendo com que até crianças sofressem com o gás. Por um tempo, quando ainda era possível, os ativistas do CIT gritavam: “Derrubar o muro – parar com o roubo de terras”; “As colônias são um crime – acabar com o conselho de colônias”; “com gás e helicópteros – vocês não silenciarão os protestos”.

Apesar da terrível propaganda nacionalista feita pelo regime de Israel, ambas as manifestações mostraram o potencial que existe para avançar na construção de um movimento de jovens e trabalhadores, israelenses e palestinos, árabes e judeus, lutando pelo fim da ocupação, do conflito sangrento e pelos nossos interesses comuns.

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