Volta às aulas, volta às lutas!
A luta pela permanência em um espaço que ainda é excludente e elitista!
Há uma longa trajetória de luta pela ampliação do acesso ao Ensino Superior que nasceu como um privilégio das elites. A luta pela permanência estudantil ganhou força desde a última expansão de vagas, no primeiro Governo Lula em 2003.
Essa ampliação, que permitiu que milhares de jovens fossem os primeiros de suas famílias a fazerem faculdade, veio acompanhada de uma série de lutas estudantis. A estrutura universitária antes estabelecida era para uma camada que podia passar quatro a cinco anos estudando sem precisar trabalhar, que não tinha problemas em garantir se alimentar, morar em uma cidade distinta, comprar livros e etc. No caso das mulheres, muitas sofrem, para além dos problemas materiais, com a sobrecarga de trabalho doméstico e cuidado de familiares.
A Ofensiva Socialista conversou com duas estudantes que são militantes da LSR. Cecília, estudante de Serviço Social da UNIFESP – Campus Baixada Santista, prestes a concluir a graduação; e Jéssica, estudante de Gastronomia da UFRPE – Campus Recife, iniciando o segundo ano.
As duas estudantes identificam que as políticas voltadas para a Permanência Estudantil estão longe de ser o ideal. Um dos principais fatores está mais relacionado com o orçamento, que desde 2015 sofre com subsequentes cortes.
Além disso, Cecília conta como boa parte da política se dá através de bolsas-auxílio, que variam de 160 a 746 reais. Isso dificulta muito, já que a maioria dos cursos da UNIFESP BS são integrais, provocando evasão das pessoas com menor renda. A quantidade de bolsas também não é suficiente para todos que precisam. Jéssica conta que a Universidade dispõe de 100 vagas para iniciação acadêmica para 750 estudantes, metade deles são cotistas.
Os RUs seguem a lógica do lucro
Ambas colocaram problemas relacionados ao Restaurante Universitário (RU), que nas Federais são terceirizados desde o governo FHC (não revertido nos governos petistas). O fato de ser tercerizado coloca a questão do lucro das empresas contratadas à frente das demandas da Universidade. Jéssica conta como uma mãe foi impedida de entrar com sua filha de 13 anos para se alimentar dividindo um prato e, nesse caso, a alternativa do Reitor foi pagar as refeições da filha. Cecília aponta que o RU da UNIFESP não funciona aos fins de semana e não tem café da manhã.
Jéssica, sobre a realidade das mulheres, diz: “Primeiro, é preciso ter a ideia de que somos muitas mulheres na Universidade. Jovens, mais velhas, mães, mulheres LGBTs, cada uma de nós com nossas vivências. Eu, como trabalhadora jovem, negra, o que é muito difícil é conciliar a trajetória tripla – dona de casa, trabalhadora e estudante. Várias outras mulheres do meu perfil, do meu curso, próximas a mim que estão em um curso diurno tem muita dificuldade de conseguir um emprego para tentar conciliar. Além das demandas com a Universidade, muitas de nós somos cuidadoras – da família, filhos. A bolsa permanência está em torno de 380 reais e exige um ranking maior, mais presença no mundo acadêmico, o que é difícil quando se está impossibilitada. Vejo certa incoerência, pedir que a pessoa tenha notas boas para conseguir auxílio quando na verdade ela não tem condições para conseguir estudar direito.”
Em relação às lutas, ambas estão entusiasmadas. Cecília responde: “O movimento estudantil tem como característica a presença de muitos jovens, acho que isso traz um certo ânimo extra, quando as pessoas se engajam vêm junto muitas ideias e ações. Mas em geral sinto que as pautas que engajam são as mais concretas e urgentes, como problemas no RU ou cortes de bolsas que já estão ocorrendo”.
Jéssica conta que o momento na Rural é de reorganização após o cenário da pandemia: “Dentro desses dois anos de afastamento, os DAs fecharam e a Rural ficou sem DCE. Estamos nos organizando para fazer uma eleição de DCE ainda esse semestre”.
Pauta central para a juventude trabalhadora
A luta por acesso e permanência foi, e continua sendo, uma pauta central para a juventude trabalhadora que luta pela Universidade pública, gratuita e de qualidade! O movimento estudantil precisa organizar localmente e coordenar nacionalmente campanhas de luta por mais investimentos na educação pública, mas também repensar as políticas. É necessário dar preferência à serviços – moradia, transporte, restaurante, creches – acima de bolsas que sempre são insuficientes e nem sempre transparentes. Isso envolve também construir uma luta para que esses serviços voltem a ser geridos pela Universidade, e não terceirizados.