“Os 14 dias que abalaram a UNB”
A luta dos estudantes da UNB que derrubou o reitor Timothy Mulholland e o vice reitor Edgar Mamiya mais uma vez mostra que apenas com luta e mobilização dos estudantes é possível alcançar vitórias. A ocupação da reitoria da UNB sinalizou ao Governo Federal que a luta contra a Reforma Universitária ainda não acabou e que o Movimento Estudantil continua combativo.
Os estudantes da UNB ocuparam a reitoria da universidade no dia 03 de abril, após um ato que simbolizava com um caixão o enterro da Finatec, fundação privada ligada à UNB que repassou quase meio milhão de reais para o reitor da universidade redecorar seu apartamento funcional. Outro caixão era dedicado ao próprio reitor, acusado pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal e pelo Ministério Público do Distrito Federal de improbidade administrativa.
A ocupação da reitoria da UNB deixou claro que a luta contra a Reforma Universitária permanece viva, diferente na forma, mas não no seu conteúdo. A luta dos jovens que permaneceram por 14 dias ocupando a reitoria estava para além de uma questão ética, como apontou a matéria de capa da revista Istoé de 23/04/08 com a manchete: “A volta do movimento estudantil – A luta pela ética acelera o processo de modernização das Universidades.” A luta pela renúncia da direção da universidade trazia consigo a denúncia contra a privatização do ensino por meio das fundações privadas, assim como a falta de democracia interna entre outros pontos – era uma luta contra a própria estrutura da universidade.
O episódio que envolveu o então reitor da UNB, Timothy Mulholland, e a Finatec serviu como ícone para evidenciar o real significado das medidas que governo chamou de Reforma Universitária, que pouco a pouco, por meio de decretos e medidas provisórias (como no caso do REUNI no ano passado), foram dando corpo ao maior ataque sofrido pelo ensino superior: a mercantilização gradual da educação e a privatização do ensino superior público.
O governo subiu no telhado!
O governo federal atuou de forma intensa na tentativa de conter o movimento. Além da tentativa de pressão psicológica pela força, como se viu já nas primeiras horas de ocupação alguns homens da polícia federal fazendo uma “visita” aos manifestantes, as constantes ameaças do MEC colocando limite para a desocupação e as multas destinadas ao DCE da UNB não foram suficientes. Nem mesmo a tentativa de manobra orquestrada pelo MEC com o pedido de afastamento por 60 dias do então reitor Timothy Mulholland, foram suficientes para que os estudantes recuassem, foi nítido todo o tato que o governo federal teve, no sentido de evitar uma convulsão do tipo USP no país inteiro, ainda mais em ano eleitoral. O governo, apesar de seu esforço, teve que perder seus “anéis”.
A UNE ladra, mas não morde
A UNE, desde o ano passado, vem sofrendo uma enorme pressão da base dos estudantes. Respondeu a essa pressão no primeiro semestre do ano passado anunciando alguns atos que na verdade não passaram de uma farsa, como o dia nacional de ocupações de reitoria. A UNE participou da Jornada de luta pela educação no segundo semestre, em conjunto com MST e Frente de Luta Contra a Reforma Universitária, alguns meses antes de ajudar o governo e os reitores a aprovarem o REUNI, a contragosto da grande parcela dos estudantes, como no caso emblemático da UFF (Universidade Federal Fluminense).
A direção da entidade ameaça com uma campanha contra as fundações privadas. Essa mesma direção, que auxiliou o governo em todas as suas medidas de ataque à educação, mais uma vez tenta se vincular às lutas que surgiram sem o seu apoio e contra o que na verdade ela ajudou a criar.
Renovação do Movimento Estudantil
Como já observamos nas lutas que ocorreram no movimento estudantil em 2007, surge uma nova camada de estudantes que estão dispostos a construir a luta, de forma democrática, pela base, num movimento combativo que rompa com os velhos vícios que ajudaram a degenerar a UNE e outros instrumentos de massas no Brasil, como o PT e a própria CUT. Acreditamos que se torna cada dia mais urgente que a Frente de Luta Contra a Reforma Universitária tenha uma dinâmica mais ativa e consiga articular a luta dos estudantes nacionalmente. Se a ocupação da UNB estivesse articulada com outras lutas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, os 14 dias poderiam abalar muito mais. Participar no congresso da Conlutas!
Por isso nós, do socialismo revolucionários, enfatizamos a importância de unificar as lutas e reconstruir ferramentas de luta para a classe trabalhadora e para a juventude. No congresso da Conlutas, 03-06 de julho, participarão milhares de trabalhadores e lutadores dos movimentos sociais e estudantil. O congresso será muito importante para definir como será feito o enfrentamento contra as políticas que retiram direitos dos trabalhadores e da juventude. Por isso é fundamental que o Movimento Estudantil se mobilize e envie delegados, ou ainda observadores, para que, lado a lado com trabalhadores e movimentos sociais, construa uma ferramenta de luta para enfrentar governos, patrões, latifundiários do campo e da cidade, reitores e todos os demais agentes do grande capital.