Jovem, trabalhadora e superexplorada

As funções mais exercidas pelos jovens hoje são balconista, auxiliares administrativos, telemarketing, ajudantes, recepcionistas, moto-boys, office-boys (funções que empregam mão-de-obra não especializada) sempre em condições precárias de contrato sem assegurar direitos trabalhistas conquistados para os trabalhadores.

Entre adolescentes a jornada diária de trabalho chega a ficar acima de 10 horas por dia e, por vezes, sem qualquer folga semanal. Os riscos de saúde estão colocados – dificuldade de sono, falta de alimentação adequada e lazer.

A dificuldade em conciliar o trabalho com a escola, torna os estudantes trabalhadores os que mais vivem dificuldades escolares e problemas com reprovações e fracasso diante de professores e colegas.

De acordo com o relatório mundial da ONU sobre a juventude de 2005, 18% da população jovem no mundo ou 1,2 bilhão vivem em situação de miséria. Considerando a faixa de idade de 15 a 24 anos, mais de 200 milhões vivem com menos de três reais por dia e 88 milhões não têm emprego. Quando conseguem emprego, ganham menos que outros funcionários mais velhos, por não terem experiência e por terem pouco ou nada de estudo.

Juliana, 21 anos, é mais uma vítima deste sistema que exclui o jovem e discrimina a mulher. Hoje trabalha em uma empresa de telemarketing, setor marcado pela super-exploração de jovens. O fato da maioria dos trabalhadores de telemarketing ser composto por mulheres jovens é mais uma demonstração de como a opressão de gênero se vincula à exploração capitalista.

Com quantos anos começou a trabalhar? Em quais empresas já trabalhou e com quais funções? Gostava do que fazia?

Comecei a trabalhar com 15 anos, no escritório de um tio meu, mas não foi registrado. Trabalhei no CNA como divulgadora, na perfumaria Água de Cheiro como vendedora temporária, na Galeria Oro Fino, também como vendedora. Fiquei dois anos no Submarino.com, comecei como atendente eletrônica e fui promovida 3 vezes. Hoje trabalho na TMS.

Gostei da minha experiência no CNA, e gostava do Submarino. A Zoe e a Água de Cheiro era muito ruim, nesta última fui muito humilhada, entrava as 8h e saia as 23h. Um dia estava com muitas dores nos pés e parei para colocar as pernas para cima, num lugar onde os clientes não poderiam me ver. Fui ofendida e agredida moralmente na frente de todos pelo dono da loja. Peguei minhas coisas e fui embora. Processei a loja porque o proprietário só quis me pagar 20 reais, sendo que eu já tinha trabalhado 3 meses. O processo só se finalizou depois de 2 anos, mas ele teve que me pagar 2.000 reais.

Já sofreu pressão para bater cotas ou metas? Conseguia conciliar com outras coisas (lazer, estudos, descanso)? Acredita que era bem remunerada pelas funções que tinha?

Na submarino entrava as 8h e saia as 18h teoricamente, por que sempre precisávamos ficar até as 19 ou 20 horas. As metas precisavam ser cumpridas nem que para isso trabalhássemos nos sábados ou ficássemos até muito tempo depois do expediente. Ganhávamos só 1,40 reais por hora extra. Eu era sobrecarregada e tinha muita cobrança. Não conseguia conciliar quase nada, por que trabalhava o dia todo e em vários sábados, fica mal humorada e irritada. Ganhava muito pouco para o acúmulo de tarefas que fazia, tinha coisas que só eu sabia fazer e recebia 670 reais. Recebi uma promoção em que passaria a ganhar mais, mas a chefe do departamento que eu estava não autorizou minha transferência, pedi um aumento de salário, que nunca deram. Logo depois fui demitida.

Já se sentiu descriminada por ser jovem?

Sempre fui discriminada por usar piercing e ter tatuagens. Meus chefes me menosprezavam, sempre pediam para que eu escondesse. O pior é na TMS, por que é telemarketing e os clientes não me vêem, mesmo assim todos têm que trabalhar de roupa social e é exigido de mim usar o cabelo solto para tapar o alargador que tenho na orelha, tirar os piercing e cobrir a tatuagem.

Já tentou alterar a forma de funcionamento de alguma empresa que trabalhou? Como? Houve adesão dos demais funcionários? Houve repressão ou punição?

Quando trabalhava no Submarino tentei organizar um movimento dos funcionários pelas condições de trabalho, tinha muita cobrança, a comida oferecida para os funcionários tinha salitre e não era higiênica, uma vez encontraram uma barata morta na comida. Conversando com os funcionários todos queriam se organizar contra isto e toparam uma greve, mas no dia só eu parei, fiquei o dia todo sem trabalhar. Os demais funcionários disseram que ficaram com medo de serem mandados embora. Não descontaram meu dia.

Como é trabalhar com telemarkting?

O trabalho na TMS é muito ruim. Temos tempo certo para falar com o cliente, se demoramos muito o supervisor vem cutucar a gente perguntando cinicamente se queremos ajuda, sem falar que ficam ligando pedindo para liberarmos a linha. Não podemos parar para irmos ao banheiro e só temos 15 minutos de intervalo, mas para isto precisa mos entrar 15 minutos antes. O salário também é muito pouco.

Você pode gostar...