Mais uma COP sem respostas à crise climática

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP27, este ano ocorreu no Egito, no balneário de Sharm El-Sheikh, em novembro. Esse evento é considerado um dos mais importantes que discute as mudanças climáticas e os acontecimentos catastróficos que vem ocorrendo no mundo como consequência delas. Importante colocar aqui um ponto a escolha desse lugar foi estratégico para que não pudesse haver grandes manifestações de ruas, como houve na COP26 em Glasgow, na Escócia. Isso nos mostra o quanto eles temem esse movimento que é internacional.

Mais uma vez vimos uma COP que não levará a mudanças reais, com muitos comentando que a reunião foi um “fracasso”, que não irá reduzir suficientemente as emissões de gases de efeito estufa. Isso não deve surpreender ninguém, já que se trata de um encontro entre governos que refletem os interesses de grandes empresas, incluindo do setor de combustíveis fósseis, com inúmeros representantes dessas poderosas empresas presentes.

O ano de 2022 foi de muita destruição ambiental, enchentes e inundações, muitas pessoas no mundo inteiro ficaram desabrigadas e muitas vidas foram tiradas como consequência  da catástrofe ambiental e humanitária.

Na COP27 foi decidido partir para o planejamento e a implementação das metas da COP passada e do Acordo de Paris. Os temas centrais foram relacionados com questões de “clima, adaptação e vulnerabilidade”. O que inclui o financiamento de “perdas e danos”, que resumindo seria os países desenvolvidos pagasse por ano 100 bilhões de dólares a países de baixa renda para lidar com as consequências da mudança climática. Na COP28, em 2023, haverá o primeiro balanço global para  avaliar o progresso coletivo global na mitigação, adaptação e meios de implementação do Acordo de Paris e etc. Devemos estar muito atentos e pensar no nosso papel e como nos organizamos porque como nada foi feito da última, então não podemos esperar que algo será feito na próxima.

Temos inúmeros exemplos do porque essas foram as pautas dentro deste espaço. No Paquistão ocorreu o que ficou conhecido como “massacre climático” o país foi atingido por ondas de calor que em alguns casos ultrapassou os 50°C, levando a grandes incêndios florestais e inundações devastadoras causadas por fortes chuvas e pelo rápido derretimento das geleiras. Isso levou à  morte de 1.400 mil pessoas, destruindo a infraestrutura do país, derrubando 500 pontes, deixando 33 milhões de pessoas com suas casas inundadas.

Na África do Sul, enchentes e inundações mataram centenas de habitantes e afetaram seriamente as atividades econômicas na região. No Brasil, sob o governo Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia bateu o recorde mais uma vez e vários estados sofreram com enchentes, como por exemplo o estado da Bahia. Uma seca severa também afetou a produção de alimentos e energia na China, causando contínuos apagões e levando ao racionamento de água e eletricidade. Estes acontecimentos mostram para o mundo a urgência de agir para destruir o sistema capitalista que gera tudo isso, não devemos cair na ilusão, como eles querem que acreditemos, que os desastres ambientais são causados por pessoas comuns, e não o sistema. Colocam a vida de todos os povos do planeta em risco e a natureza.

O Brasil entra de volta na agenda global de combate às mudanças climáticas na COP27. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, fez um discurso durante esta COP27 colocando pontos importantes como: as múltiplas crises que vivemos hoje, pontua a importância da sobrevivência da floresta amazônica, que é um lugar de interesse mundial. Ele disse que é possível ter zero desmatamento da Floresta Amazônia e ter o avanço e crescimento do agronegócio, colocando que isso foi possível enquanto governava em 2004. Afirma que as mudanças climáticas colocam em risco o acesso à alimentação e os direitos humanos das pessoas no mundo. Fez críticas ao governo de Bolsonaro sendo este negacionista a ciência e as mudanças climáticas, o desmatamento na Amazônia foi elevado a níveis altíssimos em poucos anos e que o Brasil ficou isolado do restante do mundo.

São inúmeros elementos colocados neste discurso, que o presidente eleito se mostra preocupado com a pauta ambiental, mas temos que ficar atentos de como as coisas irão ser feitas. Porque com a volta da estratégia de conciliação com grandes interesses econômicos, como o agronegócio, será impossível garantir que realmente as palavras se transformarão em ações.

Embora o desmatamento tenha diminuído nos governos do PT, ele continuou. Nesse período foi também implementado obras com grande efeito ambiental e para povos indígenas, como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e adotado o Código Florestal, que diminuiu a proteção da floresta ao redor de rios e nascentes.

O Brasil tem muitas metas a serem cumpridas que já vem desde o ano passado da COP26, quando assinou acordos para zerar o desmatamento ilegal até 2028, reduzir emissões de metano e recuperar 30 milhões de hectares de pastagens e reflorestar 18 milhões de hectares até 2030.

Isso coloca para o futuro governo um desafio, o avanço do  agronegócio, da mineração e as empresas que vão disputar cada pedaço de terra, colocando em risco os nossos biomas e nossas florestas. O Lula diz que  “A produção agrícola sem equilíbrio ambiental deve ser considerada uma ação do passado. A meta que vamos perseguir é a da produção com equilíbrio, sequestrando carbono, protegendo a nossa imensa biodiversidade, buscando a regeneração do solo em todos os nossos biomas, e o aumento de renda para os agricultores e pecuaristas”. Essa fala afirma que ele procura uma conciliação com o agronegócio e o meio ambiente. Sabemos que essa política de conciliação será impossível de garantir realmente as metas do Brasil, como por exemplo, a meta de desmatamento zero no país.

Estamos vindo de um período no país onde o agronegócio, a mineração e empresas ganharam espaço e tiveram aval para avançar e lucrar com a destruição do meio ambiente matando os povos indígenas. Lula pode dizer que vai ter jogo de cintura e dialogar, mas eles não vão abrir mão da regalias e do lucro. Será necessário enfrentar e derrotar o grande poder econômico deles. Porque não é suficiente só pararem com a destruição do meio ambiente a partir de 2023, mas devolver as terras invadidas durante anos para o povo e os povos indígenas para podermos restaurar os nossos Biomas e a Amazônia e etc.

Dentro de poucos espaços na COP foi levantado o assunto sobre o racismo ambiental que é um tema que foi levado ano passado para este espaço. O racismo ambiental deveria ser pauta central também porque sabemos que os efeitos das mudanças climáticas afetam mais as  populações mais vulneráveis e pobres como os povos negros, periféricos de países em subdesenvolvimento e os povos originários. O protagonismo de poder de decisão precisa ser de todos, como diz a ativista indígena  Samela Sateré Mawé:

“No entanto, estar nesse espaço segregador exige ainda muito diálogo; não é porque estamos lá, que somos atendidos, que somos ouvidos por nossos “representantes”; isso não garante ainda que as nossas pautas, de enfrentamento a violência e violações, sejam atendidas conforme as nossas especificidades.”

Apesar de ter baixa representação em espaços de política e de decisões, são inúmeros ativistas discutindo e mobilizando contra as mudanças climáticas. Sabemos que o tema do clima e de mulheres estão interligados porque são elas que enfrentam os maiores obstáculos para tentar lidar com os impactos climáticos, reverter a situação contra repercussões econômicas desproporcionais, aumento dos cuidados não remunerados e do trabalho doméstico, e maior risco de violência devido aos impactos agravantes da crise.

Esses espaços não são fáceis para as mulheres, onde sempre são minoria e pelos homens estarem a frente, por vivemos em uma sociedade machista, onde mulheres não são ouvidas e respeitadas. Relatos de jovens mulheres que estiveram presentes este ano na COP, colocaram que tiveram medo de estarem andando no espaço e fora dele e quais roupas vestir para estar nos lugares. Isso é reflexo do que hoje é a sociedade sob um regime autoritário e machista do Egito, onde as mulheres são vistas como objeto.

Essa é a 27° COP e muito pouca coisa foi realmente feita. Isso não é mais novidade para todos que estão nesta luta e acompanham essas conferências que promessas são ditas e assinadas, mas nenhuma mitigação realmente é efetiva. Este assunto não pode ficar na mão dos líderes mundiais e das grandes empresas representadas que vão representar só os seus interesses e o seu lucro. Essa crise climática é assunto da classe trabalhadora, mulheres, povo negro, povos indígenas, todos aqueles que são explorados e oprimidos diante do sistema capitalista. Nós devemos lutar para trazer a solução para reverter essa crise climática que a resposta será coletiva, apontando a direção para outra sociedade que será socialista. Devemos mostrar a todos que quem gera essa catástrofe é o sistema capitalista que coloca o lucro acima da natureza, porque sabemos que não tem planeta B. Devemos defender uma economia planificada e controle democrático dos trabalhadores sobre o modo de produção que possamos decidir o que é melhor para nós mesmos e para o meio ambiente. O nosso futuro não está à venda.

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