A destruição do meio-ambiente é o retrato da crise do capitalismo

A crise ambiental pela qual o planeta passa é gravíssima e compromete o futuro da humanidade. O aquecimento global do clima é o processo mais contundente e urgente, mas apenas mais um efeito de uma crise única e sistêmica, com várias formas, causas e consequências, principalmente para a classe trabalhadora. 

Acabamos de passar os últimos anos em que uma solução minimamente possível e gradual para impedir o aquecimento global seria possível. Thomas Stocker, do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), disse que “(…) o ano de 2020 é crucial para a definição das ambições globais sobre a redução das emissões. Se as emissões de CO2 continuarem a aumentar além dessa data, as metas mais ambiciosas de mitigação tornar-se-ão inatingíveis”. 

Agora, estamos com aproximadamente 1°C acima do período pré-industrial, o que continua gerando catástrofes socioambientais, como as grandes secas e ondas de calor pelo mundo, as grandes inundações no Brasil e, com isso, fome, mortes e desabrigados. Em cinco décadas estaremos com 2°C acima, o que seria um cenário realmente apocalíptico, conclusão até dos grandes líderes mundiais no Acordo de Paris de 2015. Em novembro, ocorre a COP 27 no Egito, mais um encontro de líderes mundiais para discutir o clima que deve repetir os anteriores: nenhuma medida concreta para reduzir as emissões, um encontro “para inglês ver”. Mas a juventude e a classe trabalhadora têm dado respostas e denunciado os glamourosos encontros dos líderes, como nos grandes protestos na COP 26 na Escócia, do qual a ASI e a LSR participaram ativamente.

O aquecimento global é só mais uma consequência da crise ambiental

A pandemia de Covid-19, uma das maiores crises sanitárias da história da humanidade, que matou 6,5 milhões de pessoas, também é efeito direto da crise ambiental. O avanço de fronteiras agrícolas, o uso descontrolado de recursos florestais, o desmatamento e o rápido desenvolvimento de novas metrópoles, como aconteceu em Wuhan, na China, é a fórmula trágica para novas pandemias. Nos últimos 60 anos, cerca de 200 novas doenças humanas surgiram vindas de outros animais, as zoonoses, como a Covid-19. Elas surgem de animais selvagens, como os morcegos, mas também de grande concentração de animais de criação, como a doença da vaca louca, a gripe aviária e o Mers-Cov, vinda de camelos no Oriente Médio. As fronteiras agrícolas como a do arco do desmatamento no sul da Amazônia é um cenário perfeito de onde podem surgir novas pandemias, com alta concentração de gado, grandes contingentes de pessoas chegando em condições precárias e o desmatamento.

Segundo dados oficiais, o desmatamento da Amazônia cresceu mais de 180% nos últimos oito anos, principalmente nos últimos quatro anos de Bolsonaro. Na verdade, o governo atuou ativamente a favor do desmatamento, sucateando e reprimindo servidores de órgãos públicos, como o IBAMA e o ICMBio e pelo seu estímulo a fazendeiros, grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais. A Amazônia se transformou em um palco de racismo ambiental, violência e assassinatos contra indígenas, ambientalistas e povos tradicionais. Com o governo Lula, esse processo pode arrefecer, mas deve continuar. Aliás, a principal causa de emissão de gases do efeito estufa para o aquecimento global no Brasil é a queimada de florestas.

Desmatamento e a crise da biodiversidade

A retirada de vegetação nativa, como no avanço do agronegócio no Cerrado, na Caatinga e na Amazônia ou na especulação imobiliária na Mata Atlântica, e em todo o mundo, é outro processo que deve nos levar a um cenário apocalíptico. As chuvas e a disponibilidade de água são completamente dependentes dessas áreas. É sério o risco de desertificação generalizada de grandes áreas em todo o globo. 

A vegetação nativa guarda grande parte da biodiversidade do planeta, principalmente as florestas tropicais, como a Amazônia. É a biodiversidade de animais, plantas, fungos e microorganismos que garante o cultivo agrícola pela humanidade, pela polinização e pelo equilíbrio ecológico que impede pragas e doenças. Quantos remédios, alimentos, nutrientes e outros serviços não estão escondidos nos ecossistemas nativos, muitos conhecidos por indígenas e povos tradicionais, mas ignorados pelo mercado capitalista? 

O potencial de uso sustentável desses recursos pela humanidade é incalculável e poderia criar um novo futuro em um sistema econômico de convivência harmoniosa com a natureza. Cientistas chamam o processo de extinção de espécies causado pela humanidade capitalista de Crise da Biodiversidade, quando vivemos a perda estimada de até 20 espécies por ano, processo totalmente irreversível.

Os alimentos vêm da natureza – a falta dela vai causar mais fome!

A disponibilidade de água e a presença de biodiversidade, de equilíbrio ecológico e o solo com nutrientes e matéria orgânica são alguns dos serviços ecossistêmicos fornecidos pela natureza necessários para a produção de alimentos. A lógica do lucro imediato do agronegócio dos grandes fazendeiros descarta esses serviços para produzir mercadorias para exportação, as commodities, como soja, algodão, cana e milho, baseados no uso descartável da terra e dos trabalhadores. Não interessa se no futuro haja desertos nas áreas hoje usadas pelo agronegócio ou que as populações locais não tenham onde trabalhar ou o que comer. Para isso, lançam mão de grandes quantidades de agrotóxicos e transgênicos resistentes a eles, que causam doenças graves e mortes, além de poluir a terra e a água, e sempre precisam expandir a sua área.

Entretanto, grande parte do alimento produzido, cerca de 70% dos produtos da mesa da família brasileira, vêm de pequenas propriedades da agricultura familiar, de acordo com o censo agropecuário do IBGE. Esse tipo de agricultura é dependente da natureza, já que a forma de plantar do agronegócio é cara e o pequeno agricultor não tem acesso a novas terras, então precisam manter o seu solo saudável. Por isso, a agroecologia tem crescido muito com as suas formas alternativas de produção, com uso de pouca área, diversificada, com relações de trabalho não alienantes e baseada na harmonia com a natureza. 

A continuar com a lógica atual do agronegócio, existe uma tendência a uma menor produção de alimentos em favorecimento das commodities, pois os pequenos produtores vêm sendo expulsos da terra pela falta de estímulos e o isolamento e pela invasão de territórios pelos grandes fazendeiros.  Também invadem áreas de vegetação nativa, destruindo justamente a fonte de biodiversidade e agricultura sustentável. Com isso, os alimentos aumentam de preço e, cada vez mais, as populações perdem a sua soberania alimentar, dependendo da compra de alimentos menos saudáveis e produzidos distantes de onde vivem. A fome, o agronegócio e a destruição ambiental andam juntos! 

A crise ambiental é sistêmica porque a crise é do sistema capitalista!

Todos esses meios de destruição do meio-ambiente e outros, como a poluição de todos os ambientes e o problema do lixo, se refletem nas crises da biodiversidade, climática, sanitária, hídrica e alimentar e andam juntas com a crise econômica, social e política da sociedade. São crises integradas e globais, que se retroalimentam, e, portanto, sistêmicas, ou seja, o sistema como um todo está em crise. Uma saída para a crise ambiental passa necessariamente por uma solução para todo o sistema, mudando radicalmente as suas bases econômica e política.

O sistema capitalista é baseado no abuso e exaustão dos recursos naturais e na exploração da classe trabalhadora e não nas necessidades da sociedade. O lucro a qualquer custo é o objetivo dos grandes capitalistas, mesmo que isso custe o futuro da humanidade e todo o planeta. Por isso, qualquer saída proposta de regulação ambiental ou humanização desse sistema é insuficiente. Apelos para novos comportamentos sustentáveis individuais das pessoas são importantes, mas sequer mudam um centímetro da marcha destruidora da forma capitalista de produção.

Defendemos: Desmatamento Zero!, recuperação das áreas degradadas e abandonadas; a Reforma Agrária controlada pelos pequenos agricultores, que permita a divisão da terra e a produção de alimentos baratos; Demarcação Já das terras indígenas; substituição massiva das fontes de energia pelas renováveis; controle rígido da emissão de gases do efeito estufa e poluição pelas grandes corporações; unidade na luta dos indígenas, movimento negro, LGBT+, das mulheres e populares, sindicatos e juventudes para resistir aos ataques e arrancar direitos; planejamento econômico e da produção baseado no respeito ao meio-ambiente e na democracia radical e direta da classe trabalhadora; por uma revolução social que construa uma sociedade socialista, quando a humanidade viverá em harmonia com a natureza.

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