Cúpula do Clima de Copenhague: Forte oposição contra o capitalismo – e sua força policial

A manifestação ambiental de Copenhague em 12 de dezembro, com mais de 100 mil participantes, foi o maior protesto ambiental que já houve. Ela teve um forte caráter anti-capitalista. “Cantávamos ‘Justiça Climática’ e ‘Salvem o planeta – esmaguem o sistema – o que precisamos é o socialismo’. Pessoas ao longo do ato nos aplaudiram e vendemos muitos jornais e outros materiais”, relataram membros do CIT.

O ato também mostrou a extrema brutalidade policial contra quase mil manifestantes.

Pensávamos que a manifestação seria grande. Muitas pessoas que encontramos na semana anterior disseram que todos os seus amigos iriam. Mais de 100 mil tomaram parte, um marco para o movimento climático. Simultaneamente, havia 3 mil manifestações em todo o globo. Enquanto os supostos líderes mundiais na cúpula da ONU só podem falhar, esse movimento de base tem um enorme potencial de crescimento.

Manifestantes dos Amigos da Terra, vestidos de azul, conduziram uma “enchente” com milhares de pessoas. Também havia um boneco de neve gigante do Greenpeace, bóia salva-vidas da Oxfam, cangurus, lutadores de sumô e ursos polares. O contingente partidário, além do RS (Rättvisepartiet Socialisterna, seção do CIT na Suécia) incluía a Aliança Vermelho-Verde (Lista da Unidade) e o Partido Socialista Popular, ambos da Dinamarca, o NPA francês e mais alguns partidos comunistas. O ato foi dominado pelos cartazes amarelos e negros dos organizadores que diziam “Salve o planeta, não os lucros”, “Não há um planeta B” “Blá Blá Blá – Ação Agora” e “A Natureza não faz meio-termos”.

O sentimento, tanto dos ativistas na Cúpula Climática dos Povos e dos cidadãos comuns, eram notavelmente anti-capitalista. O slogan da Cúpula Climática dos Povos era: “Mude o sistema, não mude o clima”. Membros do CIT da Suécia estavam lá uma semana antes e as barracas do CIT na cidade atraíram muitas pessoas novas.

Nossa petição, dizendo que os grandes negócios são os criminosos climáticos, pedindo um planejamento socialista democrático e a estatização das 500 maiores multinacionais, rapidamente encontrou adesões. No ato, dizíamos apenas “assine contra o capitalismo”. Até o noticiário da BBC relatou a “descrença” contra o capitalismo na enorme manifestação no sábado. Esse sentimento é fortalecido pelo fato de que os políticos na cúpula da ONU também são responsáveis por cortes e pelo desemprego.

Um dos oradores no ato foi Ian Terry, um dos trabalhadores da empresa Vestas na Ilha de Wight, Grã-Bretanha, onde 400 empregos verdes foram cortados. A notícia do fechamento desta fábrica, que produzia turbinas eólicas, provocou uma ocupação dos trabalhadores por 18 dias neste verão.

Na Cúpula Climática dos Povos, ativistas de todo o mundo se encontraram. A escritora Naomi Klein disse, na frente de uma câmara de televisão, que o “o capitalismo não pode resolver o que o capitalismo criou”. Ela também criticou os que tratam Obama com luvas de pelica nesta questão.

Contudo, embora o capitalismo fosse criticado, poucas pessoas apresentaram uma alternativa real para substituir o capitalismo. O CIT apresentou. Uma de nossas bandeiras dizia: “Planejamento Socialista é Necessário”. Enfatizamos que o capitalismo e seus “fracassos de Mercado” são produtos de um sistema econômico e político que é dirigido no interesse das multinacionais. O socialismo significaria um novo sistema econômico e social, dirigido e controlado coletivamente pelos trabalhadores e pobres, com uma nova democracia política, fiscalizada e controlada de baixo. Os interesses do clima, da natureza e de todos os seres humanos estariam à frente de todos os outros.

 
Ação brutal da polícia

A polícia prendeu quase mil manifestantes. Manifestantes pacíficos foram algemados com as mãos nas costas por seis horas (leia os testemunhos abaixo). Destes mil, apenas três foram acusados de alguma coisa.

Karin Wallmark, um dos 40 membros do CIT presos no ato, relata: “Tudo na manifestação mudou quando uma multidão de policiais saiu de uma travessa e bloqueou o caminho à nossa frente. Paramos e ficamos calmos, querendo evitar provocá-los. Entendemos que a polícia, assim como certas mídias, veriam qualquer violência como uma confirmação de que era acertado a massiva presença policial em Copenhague e as novas “leis hooligans” antidemocráticas introduzidas antes da cúpula. Mas sermos completamente pacíficos e inocentes não impediu a polícia de realizar seus ataques”.

A RS e o CIT começaram uma imediata campanha de defesa, incluindo chamados telefônicos de Joe Higgins, deputado do parlamento europeu do Partido Socialista (CIT da Irlanda) à polícia de Copenhague. A maioria dos membros do CIT foram liberados em torno da meia-noite, com seu espírito combativo intacto apesar de dor nas costas, fome e cansaço. Contatamos a mídia e os organizadores do ato, junto com especialistas legais e organizamos uma coletiva de imprensa de protesto.

Iremos agora processar a polícia, junto com uma campanha política sobre a questão do clima e o ataque policial. Aqueles no poder nos governos e no aparato estatal estão ao lado dos grandes negócios, apoiando seu direito de continuar a destruir o planeta às custas dos direitos democráticos fundamentais.

Membros do CIT em Copenhague venderam mais de 700 cópias de nossa resolução climática em sueco e inglês e encontraram muitas pessoas interessadas em continuar a discussão. A necessidade de um movimento socialista sobre a questão climática é urgente, como sublinhado pelos eventos de Copenhague.

 
Coletiva de imprensa em Copenhague

No domingo, o Rättvisepartiet Socialisterna (CIT da Suécia) organizou uma concorrida coletiva de imprensa sobre o ataque da polícia dinamarquesa a manifestantes pacíficos. Arne Johansson do RS falou ao lado de Tord Björk, do Amigos da Terra da Suécia, e Johanna Paulsson, líder de outra organização ambiental sueca. Ambas as organizações também tiveram membros presos no ato.

Tord Björk criticou asperamente a polícia dinamarquesa e a nova “lei anti-hooligan”. Ele também criticou os organizadores por ignorar o risco de tal ataque policial.

“Levaremos a polícia dinamarquesa à justiça. Por razão nenhuma, eles sabotaram o direito de 968 manifestantes de se pronunciarem sobre essa questão, que é decisiva para o futuro de todo o planeta. Temos visto um uso inaceitável de uma lei inaceitável”, disse Arne Johansson.

Jornais de todo o mundo estavam na conferência de imprensa, por exemplo o Al Ahram do Egito, vários jornais alemães e italianos e a emissora sueca TV4. Mattias Bernhardsson, vereador do RS e um dos presos, foi entrevistado em rádios públicas suecas.

Karin Wallmark, também membro do RS, leu a lista das possíveis queixas que a própria polícia dinamarquesa havia compilado em uma brochura e concluiu que ela quebrou as suas próprias regras em cada ponto.

 
Duas testemunhas relatam

Karin Wallmark: “Fomos bloqueados pela polícia por uma hora, cantando slogans como ‘Essa é a cara da democracia’ e ‘Prendam os poluidores, mas nos deixem ir’. Também falamos no megafone à polícia, tentando fazê-los pensar se era correto bloquear pessoas se manifestando para impedir a crise climática. Propusemos que eles entrassem em greve!

Depois de uma hora, a polícia começou a nos prender, um a um, e nos sentar em fila no chão frio. Tivemos nossas mãos algemadas às costas e nossas pernas estendidas, sentados um do lado do outro. Por quatro horas não pudemos nos deitar ou sentar adequadamente. Nenhum policial respondeu a nossas perguntas de porque estávamos presos. Não tivemos permissão de nos mover nem um pouquinho e nem mesmo de ir ao banheiro.

Gritei por uma hora que eu precisava ir ao banheiro. Eventualmente eu levantei, embora tenha visto outros surrados pela polícia por ficar de pé. Eles não me bateram, mas me forçaram a sentar no chão várias vezes. Foi apenas quando a mídia veio e eu gritei que eles me deixaram ir ao banheiro. Outros não tiveram tanta sorte e se molharam.

Vários passaram mal, ficaram com câimbra ou desmaiaram. O pior era a humilhação e não saber porque estávamos presos e o que aconteceria com a gente. Recebemos apoio moral de outros manifestantes, atrás das linhas policiais, e das pessoas que viviam nas casas próximas.

Depois de quatro horas, eles começaram a nos levar em ônibus, ainda algemados, durante duas horas. Eventualmente, nos deixaram ir, apenas dando a identidade. Pelo que sei, nenhum dos 400 presos comigo foi acusado de alguma coisa.

A polícia queria nos impedir de manifestar. É uma violação de nosso direito de nos manifestar assim como uma violação física e psicológica”.

Amer Mohammed Ali: “Nenhum de nós entendia o que causou o ataque policial. Mas provavelmente, a polícia esperava há muito tempo para acabar com o ato. Ela deve ter planejado para executá-la do jeito que fez. Algumas pessoas com necessidades especiais puderam ir, como um com deficiência visual e uma mãe com um carrinho de bebê.

Nossas palavras de ordem alcançaram os manifestantes do outro lado da barreira policial, com a gente parecendo prisioneiros de um filme de guerra. O chão estava incrivelmente frio e os arames usados para amarrar nossas mãos machucavam. Muitos gritavam que tinham perdido a sensibilidade em suas mãos.

No ônibus, a polícia foi muito rude e em uma ocasião um policial esbofeteou um dos presos. Ficamos presos por seis horas e no total levou oito horas até que terminasse, depois de dizermos os nossos nomes”.

 

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