Eleições presidenciais no Chile – Nenhuma alternativa dos trabalhadores

Nas próximas eleições presidenciais chilenas, os candidatos principais, Eduardo Frei Ruiz-Tagle e Sebastian Piñera são como dois lados de uma mesma moeda, entre os quais nenhuma diferença real existe. Ambos promoveram e apoiaram a ditadura de Pinochet e continuam a apoiar a ditadura dos patrões, que encheram seus bolsos durante o regime militar e querem permanecer no poder para defender os 1% mais ricos do país, grupo do qual fazem parte. Os interesses dos trabalhadores e dos pobres não se encaixam em suas prioridades.

Eduardo Frei Ruiz-Tagle

Líder do Partido Democrata Cristão (PDC), Frei foi presidente do Chile entre 1994 e 2000 e é atualmente senador. Durante sua administração, ele deu início às negociações dos tratados de livre comércio com EUA, China e a União Européia. Seu governo também deu novo ímpeto ao processo de privatizações, incluindo setores estratégicos da economia, como distribuição e tratamento de água e educação. As políticas de seu governo também tiveram um impacto desastroso sobre o meio ambiente e a população indígena mapuche. Augusto Pinochet, o odiado ex-ditador do Chile foi preso e detido por 17 meses em Londres nessa época. Seu governo se empenhou bastante para que ele retornasse ao Chile, argumentando que a prisão era uma violação da soberania chilena. A situação foi resolvida quando o primeiro ministro da Grã-Bretanha, Jack Straw (do ‘Novo Trabalhismo’) citando exames neurológicos e de saúde do octogenário Pinochet, fê-lo retornar ao Chile em março de 2000. Ele foi recebido no aeroporto por Ricardo Izurieta, comandante em chefe do exército, indicado ao cargo por Frei!

Sebastian Piñera

O candidato da direita tradicional e senador da república entre 1990 e 1998, Piñera foi candidato presidencial em 2005, quando foi derrotado no segundo turno por Michelle Bachelet, a atual presidente. Ao longo de sua carreira ele acumulou uma grande fortuna. É listado pela revista Forbes como o 701° mais rico de 2009, com uma fortuna de 1 bilhão de dólares.

Marco Enríquez-Ominami

O caso de Enríquez-Ominami (filho do histórico líder do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), Dr. Miguel Enriquez) é um pouco diferente. Deputado do Partido Socialista até junho de 2009, quando saiu para ser candidato independente. Ainda assim, Enríquez-Ominami certamente não está interessado em mudanças fundamentais. Ele promete “mudança” mas que não vai mudar de fato nada! Ele apenas aponta a necessidade de uma “mudança geral” na liderança política chilena. Sua intenção é continuar as privatizações e defender o interesse dos ricos com uma face “progressiva”. Ele propôs a privatização de 5% da Codelco, principal estatal chilena de cobre. Ele foi o único candidato presidencial a ter defendido a privatização de uma grande estatal.

 
Jorge Arrate ou Alejandro Navarro?

Jorge Arrate Mac Niven, líder do Partido Socialista (PS) foi responsável por grandes conquistas durante o governo Allende, incluindo a nacionalização da indústria do cobre. No entanto, durante o exílio após o golpe de 1973, ele foi a principal figura da ala direita do PS. No início da “transição chilena”, ele reunificou o PS e o ganhou para as políticas neo-liberais. Em sucessivos governos da Concertação (uma aliança que inclui o PS, os democrata-cristãos e outros partidos social-democratas e esteve na presidência desde o fim da ditadura), Arrate foi o ministro do trabalho, da educação, e secretário geral da presidência. Como ministro da educação de Frei Ruiz-Tagle, levou adiante a privatização da mesma. Ele tem o apoio do PS e do partido comunista (PC), que no primeiro turno apóia o PS mas vai apoiar Frei no 2° turno. Arrate claramente não é um candidato sério e certamente não representa uma alternativa real. Sua candidatura não vai atrair uma esquerda verdadeira. Todos sabem que ele está concorrendo apenas para transferir seus votos para Frei num segundo turno e tentar garantir uma cota pro PC no parlamento. Por outro lado, Alejandro Navarro infelizmente também não representa uma alternativa pois não rompeu com a Concertação nem com o governo Bachelet. Um senador e ex-deputado, ele foi membro do PS até decidir concorrer à presidência e sair do PS em 2008, lançando o MAS (um amplo movimento social). Em setembro de 2009, ele fechou um bloco parlamentar com o PRI, um racha de direita do PDC, liderado pelo senador e empresário Adolfo Zaldivar. Como parte dessa jogada, Navarro expulsou uma ala discordante do MAS, incluindo sua secretária geral. Como mostra as pesquisas, Navarro não será visto como uma alternativa real aos principais candidatos e como tal, os trabalhadores e pobres preferirão votar no original (o governo atual) que em sua cópia de papel-carbono.

 
Trabalhadores e pobres não tem alternativa nessas eleições

Dada a inabilidade da esquerda em lançar uma candidatura representativa dos trabalhadores e pobres chilenos, ficamos sem alternativa nas eleições de dezembro. Devemos tudo isso ao atual sistema antidemocrático e à constituição chilena, que impede a participação democrática dos trabalhadores e pobres chilenos, uma situação que tanto a direita tradicional quanto os governos da Concertação se recusaram a mudar. Em nossa opinião, trabalhadores e jovens não tem escolha senão votar em branco nessas eleições.

 
Devemos participar das eleições?

Marxistas usam as eleições para argumentar em pról de uma mudança revolucionária socialista e para ganhar posições para representar a classe trabalhadora, os pobres e a juventude. Ao mesmo tempo, nos recusamos a nos ater ao establishment político capitalista. Quando socialistas revolucionários tomam parte nas eleições, nós não o fazemos com a intenção de receber votos, adaptando nossas políticas para que votem em nós e criando ilusões de que alteraremos a sociedade e a vida da classe trabalhadora apenas pela via eleitoral. Nossa tarefa não consiste em plantar ilusões no sistema eleitoral capitalista, e por conta disso um dos nossos principais slogans eleitorais é “votar não é o suficiente, você precisa se organizar e lutar”. Devemos utilizar as eleições para pôr adiante nosso programa – socialismo revolucionário – e para denunciar o sistema capitalista, num período em que importantes setores da população estão se politizando e de certa forma se interessando em discutir idéias políticas.

 
A juventude não aceita o sistema

No caso do Chile, ganhar novos militantes é particularmente difícil durante estas eleições, devido à velha e cínica natureza dos candidatos. Nós também devemos levar em conta que mais de três milhões de pessoas não estão registradas para votar nessas eleições, especialmente jovens, apesar de uma parte desses não são mais jovens. No Chile, apenas 27% dos jovens (18-30 anos) está registrada para votar. Nós devemos analisar com cuidado a questão dos jovens não quererem se registrar. Nós não devemos insistir que eles se registrem num sistema antidemocrático, viciado e corrupto. O instinto dos jovens se recusarem a se registrar reflete sua rejeição ao sistema atual. Isto não significa necessariamente que eles todos aceitariam idéias revolucionárias e estão prontos para romper com o capitalismo, mas são pessoas que poderiam desempenhar um papel importante caso consigamos lhes apresentar as idéias socialistas.

 
Sem romper com o capitalismo não pode haver mudança real

Nós não devemos mentir ou enganar os trabalhadores pobres. O sistema atual fomenta a injustiça, fome e miséria dos quais grande parte da população sofre. A única alternativa que o povo explorado e alienado tem é construir uma sociedade diferente, mais justa e democrática: uma sociedade socialista. Socialismo Revolucionário luta pela construção de um partido dos trabalhadores para lutar por isso. 

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