China: Xi Jinping está girando para a esquerda?
O que está por trás da série de medidas de repressão do PCC e da referência à “prosperidade comum”?
O ditador chinês Xi Jinping lançou nada menos que 14 ataques repressivos diferentes este ano. Há uma repressão contra pessoas LGBTQ e uma proibição de mostrar estrelas do pop e celebridades afeminadas na mídia. Grupos online e sites LGBTQ são proibidos e algumas universidades estão compilando registros de estudantes LGBTQ. A homossexualidade é efetivamente criminalizada novamente.
Há uma repressão contra as empresas de educação privada, sobre jogos de computador, sobre o aprendizado do inglês nas escolas. Há uma ofensiva contra as grandes empresas de tecnologia como Alibaba, Tencent e ByteDance, proprietária da TikTok. Isto eliminou cerca de três trilhões de dólares do mercado de ações chinês este ano. Xi também criticou a “renda excessiva” e disse que os bilionários têm que “retribuir” à sociedade.
O novo giro populista de Xi alarmou alguns comentaristas capitalistas. O Financial Times faz a pergunta: a China está se tornando um lugar impossível de investir? George Soros diz que Xi Jinping está se voltando para o maoísmo. Além disso, alguns pseudo-esquerdistas estão animados com as novas políticas de Xi. Aqueles que defendem as políticas totalitárias do regime chinês em Xinjiang e Hong Kong veem as últimas políticas como uma comprovação de que o regime de Xi Jinping representa o “socialismo”.
Mas isto não é socialismo ou anticapitalismo. Não se trata de populismo de esquerda, mas de populismo de direita. Xi quer salvar o capitalismo chinês e sua própria ditadura. Outros governos capitalistas – mais claramente Biden, nos EUA – estão impondo uma regulamentação mais rígida e impostos mais altos às grandes empresas. Eles estão abandonando as rígidas políticas neoliberais por causa da terrível crise do sistema capitalista. Na China, o PCC (chamado Partido Comunista) usa o método de repressão e um controle governamental mais forte para alcançar um resultado semelhante.
O que é “prosperidade comum”?
O slogan de Xi de “prosperidade comum” não é socialista ou comunista. Este é, na verdade, um conceito confucionista. A “prosperidade comum” foi o programa do Kuomintang de Sun Yat-sen há cem anos. Os socialistas enfatizam a necessidade de derrubar o poder do capital e estabelecer o controle democrático da classe trabalhadora sobre a economia.
Xi Jinping ressalta que suas políticas não significam “matar os ricos para ajudar os pobres”. O leal tenente de Xi, o vice-primeiro ministro Liu He, fez declarações tranquilizadoras nos últimos dias de que o regime do PCC mantém um “compromisso inabalável” com empresas privadas e isso “não vai mudar”.
O regime de Xi está caminhando em uma linha tênue para defender sua forma de capitalismo orientado pelo estado, tomando medidas contra alguns setores da classe capitalista que acumularam demasiado poder – como os magnatas da tecnologia Jack Ma da Alibaba e Pony Ma da Tencent – e ao mesmo tempo usando uma retórica populista para aplacar o crescente descontentamento das massas com a queda do padrão de vida, custos crescentes e desigualdade gritante.
A China tem de longe mais bilionários (medidos em dólares estadunidenses) do que os EUA: 1.058 na China em comparação com 696 nos EUA . O 1% mais rico dos chineses (14 milhões de pessoas) possui riqueza maior que 50% da população (700 milhões de pessoas). Este é o resultado das políticas ultracapitalistas do Partido Comunista.
Populismo e nacionalismo
A campanha de Xi combina alguns ataques populistas a grandes empresas privadas, celebridades ricas e setores parasitas, como a indústria de ensino particular, com propaganda homofóbica, antifeminista e ultranacionalista de direita. Homossexualidade e homens “efeminados” são ideias e tendências ocidentais que prejudicam a China, de acordo com o governo.
O nacionalismo antiocidental é um ingrediente chave em todos os pronunciamentos governamentais para preparar a sociedade para uma luta prolongada e intensa na nova Guerra Fria imperialista, na qual os EUA e a China estão lutando pelo primeiro lugar.
Da mesma forma, a luta democrática em Hong Kong é supostamente uma conspiração ocidental. Pequim prometeu esmagar os “elementos antipatrióticos” em Hong Kong com uma repressão brutal. Em Hong Kong, os sindicatos foram efetivamente esmagados e seus líderes estão presos. Como na China continental, os direitos dos trabalhadores estão sendo impiedosamente reprimidos para realizar a “estabilidade” capitalista.
Crises múltiplas
Por que Xi Jinping está fazendo isso? A resposta é que o capitalismo chinês, assim como o capitalismo global, enfrenta uma grave crise – na verdade, não uma, mas muitas. A China está passando por uma crise populacional, que é muito pior do que até mesmo as estatísticas do governo mostram. A taxa de natalidade caiu drasticamente. No ano passado, nasceram duas vezes mais crianças na Índia (24 milhões) do que na China (12 milhões), enquanto esses países têm aproximadamente a mesma população.
Há uma crise da dívida, fortemente ligada à bolha imobiliária da China. Um dos maiores conglomerados imobiliários do país, Evergrande, faliu com mais de 300 bilhões de dólares em dívidas. Isso é mais dívidas do que a maioria dos países acumularam. Se o governo vai resgatar a Evergrande ou permitir que ela quebre é uma questão que assombra os mercados financeiros. E a Evergrande não está sozinha, há mais possíveis falências empresariais de grande porte na fila.
A moradia na China é inacessível mesmo para muitas pessoas de classe média. O custo médio de um apartamento na megacidade de Shenzhen é 44 vezes o salário médio anual da cidade. A relação comparável em Los Angeles é 9,6 vezes e em Nova York, 5,4 vezes.
O custo de moradia e educação são as principais razões pelas quais os chineses não têm condições de ter filhos. Isto é causado pelo capitalismo e sua especulação nos preços dos imóveis. E a redução do serviço público. Uma pesquisa governamental mostra que uma grande maioria das famílias chinesas gasta um terço de sua renda com a educação de seus filhos.
A repressão às empresas privadas de educação e também às crianças que jogam jogos de computador on-line é uma jogada populista dirigida aos pais, para mostrar que o governo está agindo. Mas estas medidas, ao mesmo tempo em que apertam alguns setores da classe capitalista, não conseguem resolver os profundos problemas estruturais do sistema educacional que impõem uma carga financeira tão grande às famílias comuns.
Políticas impopulares
Para enfrentar a crise populacional, Xi anunciou uma política de “três filhos” em maio, permitindo que cada família tivesse três filhos, enquanto há cinco anos o limite era uma criança. Mas o governo calculou mal. A política de três filhos teve uma recepção pública muito fria. Para muitos, ela apenas confirmou que o governo está completamente à margem e não compreende as terríveis pressões sobre as famílias comuns.
Mas o regime de Xi também está agora usando como bode expiatório a “homossexualidade de inspiração ocidental” e a erosão dos “valores familiares tradicionais” pelo declínio na taxa de natalidade. Um recente processo judicial decidiu a favor de um manual escolar que designa a homossexualidade como um “distúrbio mental”, que foi a posição oficial do governo até 2001.
A angústia econômica
A economia também está em crise. A economia chinesa sofreu uma contração em julho, mostrando que a recuperação pós-pandêmica já está se esgotando. Uma crise da dívida da população poderia empurrar a China para um cenário japonês. A economia do Japão hoje tem o mesmo tamanho que tinha em 1995.
Imperialismo significa repressão
Outra crise para o regime de Xi é a Guerra Fria EUA-China. Dentro da classe dominante da China há uma inquietação crescente que eles estão perdendo. As políticas anti-China dos EUA, especialmente as proibições de vendas e fornecimento contra dezenas de empresas tecnológicas chinesas, estão infligindo danos reais.
A maior crise para Xi Jinping é o crescente descontentamento dos trabalhadores, dos jovens e cada vez mais também da classe média da China. Estes fatores explicam as novas políticas populistas. Xi Jinping quer assegurar sua coroação como ditador vitalício em um congresso chave em novembro de 2022. Ele está desesperado para construir o apoio de seu regime para este evento.
Isto pode significar ainda mais repressão e ataques contra greves de trabalhadores, ativistas de Hong Kong, muçulmanos uigures em Xinjiang, pessoas LGBTQ e feministas na China.
É por isso que os socialistas chineses estão apelando para a solidariedade e o apoio dos ativistas trabalhadores em nível internacional.
A solidariedade contra a repressão na China e em Hong Kong é uma campanha que visa organizar essa solidariedade.
Trabalhadores do mundo, uni-vos contra a ditadura e o capitalismo!
Você pode encontrar a campanha aqui:
Facebook: https://www.facebook.com/hkrepression
Instagram: solidarity.china.hongkong
Twitter: @SolidariedadeHKCN