“Outubro ou nada” – novo movimento surge na Maré

Na Maré está surgindo um novo movimento social, por quê? Nos últimos anos vem crescendo o número de pessoas assassinadas por operações da polícia na Maré. Segundo Alexandre Dias, morador e professor da Maré: “Os moradores das favelas não são considerados cidadãos pela polícia, e sim cúmplices de atividades criminosas, por isso a polícia reprime esses moradores de forma tão violenta.”

Nos últimos anos vem também crescendo o número de projetos sociais feitos por ONGs nas favelas. A idéia central seria incluir e melhorar a vida dos moradores. Estes projetos trazem em si o conceito de desenvolvimento local (das favelas) que enfatiza a questão do empreendedorismo popular, ou seja, incentiva a união dos moradores para desenvolver alternativas econômicas através de cursos técnicos e do aumento da auto-estima da população local. Porém, estes projetos não estimulam a conquista de empregos com carteira de trabalho assinada, ou seja, não garantem os direitos trabalhistas.

Esta concepção culpabiliza os pobres por sua condição financeira: “se o pobre não tem emprego é porque não correu atrás, pois as ONGs dão as oportunidades”. Essa visão descarta a compreensão das engrenagens do capitalismo, pois o desemprego no neoliberalismo é estrutural, não há empregos para todos. Os que têm emprego aceitam receber pouco, pressionados pelo medo de ficarem desempregados.

ONGs desarticulam o movimento

O desmonte de políticas sociais substituídas por políticas neoliberais, em parceria com ONGs, ajudaram a desarticular os movimentos sociais classistas. Houve um crescimento e fortalecimento do pólo associativo do Terceiro Setor, nada politizado, com compromissos genéricos sobre o combate à exclusão social, com discurso diluidor dos conflitos de classe, preocupado apenas com inclusão social em termos de integração social ao status quo vigente, sem questionar as bases do capitalismo.

As ONGs podem engajar alguns, mas a saída individual não responde à necessidade de inclusão de todos. Projetos como o Afroreggae não podem incluir todos os moradores das favelas, transformando todos em músicos, pois não há espaço para isso.

É necessário resgatar a atuação dos movimentos sociais classistas que produzem uma consciência social crítica combatendo o assistencialismo eleitoreiro. A luta deve ser uma luta anticapitalista.

Resgatar a consciência social crítica

Na Maré, fruto da articulação de militantes moradores, profissionais da saúde e da educação, estudantes secundaristas e universitários, está surgindo um novo movimento social classista (Outubro ou nada) contra a violência e o extermínio dos moradores das favelas e a favor do resgate de uma consciência social crítica. O movimento tenta articular a luta dentro da favela da Maré e fora dela, através da parceria com o coletivo ‘Construção’ envolvendo estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Os militantes do ‘Outubro ou nada’ participaram nos dias 7 e 8 de agosto do ‘Encontro Pela Vida e por Outra Segurança Pública’ no Rio de Janeiro, que formulou propostas de defesa dos direitos humanos para moradores de favelas. O Encontro também aprovou uma denúncia enfática contra a política de extermínio praticada pela polícia do governador Sergio Cabral e contra a criminalização dos movimentos sociais.

‘Outubro ou nada’ agora fará um curso de formação política no sobrado da Maré no mês de outubro, aberto a todos, que terá como tema: a sociedade capitalista e as alternativas da classe trabalhadora. O curso será o lançamento do movimento, que fará depois uma série de atividades como atos, atividades culturais e debates.

O curso tem uma pasta de textos para leitura previa que será debatida em plenária. Haverá também apresentação de vídeos como Ilha das Flores e História das coisas, e no final haverá uma festa de encerramento com banda.

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