O PSOL precisa de uma definição clara para 2010

Candidatura própria de uma Frente de Esquerda com base nas lutas e com um programa socialista! 

O II Congresso Nacional do PSOL aconteceu sem que um debate aprofundado e uma deliberação clara tivessem sido adotados em relação ao processo eleitoral de 2010. Todo o debate foi adiado para uma futura Conferência Eleitoral deixando no ar uma enorme incerteza para milhares de militantes do partido e milhões de trabalhadores e trabalhadoras que precisam de uma alternativa de esquerda na disputa de 2010.

O espaço vazio deixado pelo PSOL, já começa a ser disputado por setores que não poderão oferecer uma alternativa conseqüente para os trabalhadores.

De um lado temos uma retórica camuflada de ‘esquerda’ por parte do governo que visa confundir a população em torno da questão do pré-sal ou do papel do Estado na economia. Como no segundo turno das eleições de 2006, o PT cinicamente vai tentar posar de ‘esquerda’ nas eleições de 2010 para provocar uma polarização com a direita tradicional encarnada no PSDB/DEM.

Porém, o rosto desfigurado por quase oito anos servindo o grande capital não pode mais ser recauchutado com maquiagem eleitoral improvisada. O PT do governo Lula trabalha para garantir os interesses dos grandes capitalistas quando concede bilhões de reais para sustentar as grandes empresas privadas em meio à crise ou pagar pontualmente a dívida pública aos banqueiros e especuladores.

Mas, o grande fato novo no cenário eleitoral de 2010 é a candidatura presidencial da ex-senadora petista Marina Silva pelo Partido Verde. A trajetória de Marina Silva, sua origem pobre na Amazônia, a militância conjunta com Chico Mendes, seu vinculo com as lutas sociais e com a questão ambiental provocam uma grande simpatia por parte de muitos daqueles que querem mudanças de verdade no país.

O fato de Marina Silva ter rompido com o PT, faz com que muitos a vejam como uma possível alternativa de esquerda a esse partido e ao governo Lula. A indefinição do PSOL sobre a candidatura presidencial serve para estimular todo tipo de confusão em relação a isso.

A opção consciente de Marina Silva pela filiação ao PV, porém, é um fator que não pode ser menosprezado. O PV é uma legenda a serviço dos politiqueiros de todos os tipos. Está na base de sustentação do governo Lula, de um lado, mas também apóia e participa dos governos de Serra (PSDB) no estado e Kassab (DEM) no município de São Paulo, além de todo tipo de governo direitista pelo país afora. Trata-se do partido de Zequinha Sarney, um político do mesmo calibre de seu pai, José Sarney. Onde há troca-troca de cargos públicos, fisiologismo e corrupção, características típicas do regime político burguês no Brasil, lá está o PV chafurdando na mesma lama.

Mesmo na questão ambiental, o projeto político de Marina limita-se a um capitalismo mais regulado e com uma preocupação ambiental relativamente maior. Marina não questiona as bases do sistema capitalista e não reconhece a impossibilidade de uma política ambiental efetiva enquanto a lógica do lucro, inerente ao sistema, se mantiver. Por isso, Marina aceitou durante muito tempo ser parte do governo Lula e admitiu retrocessos importantes na questão ambiental, como a liberação dos transgênicos, a aprovação da transposição do Rio São Francisco, o aumento do desmatamento e ‘privatização’ de áreas da Amazônia, além da divisão do IBAMA, a não valorização de seus trabalhadores, etc.

A candidatura Marina Silva não representa uma verdadeira alternativa nem ao PT nem ao PSDB. Uma alternativa de esquerda no processo eleitoral ainda precisa ser construída e o PSOL tem responsabilidade central nessa tarefa. A omissão do partido nessa conjuntura pode ser fatal. O que está em jogo é o futuro do árduo, mas rico, processo de reconstrução de uma esquerda socialista de massas no Brasil iniciado entre 2003 e 2004, com as primeiras experiências negativas com o governo de Lula.

No interior do PSOL existem setores que, de forma explícita ou não, discutem a possibilidade de uma aliança do partido com Marina Silva e o PV. São os mesmos setores que em 2008 aceitaram fazer coligações com o próprio PV, como no caso de Porto Alegre (RS), ou com partidos do mesmo tipo, como no caso de Macapá (AP). Nenhuma corrente do PSOL admite publicamente essa possibilidade, mas o debate sobre ela está em curso.

Outro risco é que a decisão acabe sendo adiada, e que, mesmo apresentando uma candidatura própria, como parte de uma Frente de esquerda, o PSOL já tenha perdido tempo e espaço para viabilizá-la. Dessa forma, transformariam, conscientemente ou não, a candidatura do PSOL numa candidatura esvaziada. Isso confundiria o partido e sua base social, abriria caminho inclusive para que setores do PSOL estabelecessem relações informais com a candidatura de Marina Silva.

A corrente LSR e nossos aliados do Bloco de Resistência Socialista defenderam que o PSOL construa junto com o PSTU e o PCB, chamando os setores mais combativos do movimento sindical, popular e estudantil, uma Frente de Esquerda. Essa Frente tem que estar baseada na independência de classe e num programa socialista, para oferecer aos trabalhadores uma alternativa à crise capitalista e às políticas de Lula e da direita tradicional.

Essa Frente deve ter candidatura própria à presidência e o melhor nome para assumir essa tarefa é o de Heloísa Helena. Foi isso que defendemos no II Congresso do partido e continuamos defendendo. Porém, diante da quase certa não disponibilização do nome de Heloísa, o PSOL deve começar a construir uma alternativa para que essa definição possa ser tomada já na Conferência Eleitoral e em hipótese alguma depois disso.

Duas pré-candidaturas do partido já foram formalmente apresentadas: Plínio de Arruda Sampaio, que foi candidato a governador de São Paulo pelo PSOL e a Frente de Esquerda em 2006; e Milton Temer, candidato a governador do Rio de Janeiro também em 2006. Outras podem surgir até a Conferência e o cenário geral pode mudar. Mas, no quadro atual, entendemos que o nome de Plínio de Arruda Sampaio reflete mais a possibilidade de uma campanha que seja coerente com o perfil e a linha política que defendemos para o PSOL e que, ao mesmo tempo, mantenha a preocupação com a pluralidade interna e a construção da unidade do partido e da Frente de Esquerda.

Independentemente dos nomes em discussão, defenderemos sempre que a candidatura própria do PSOL, como parte de uma Frente de Esquerda, deve estar a serviço de um programa e uma estratégia socialistas.

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