Barrar o golpe de estado em Honduras

No momento em que redigimos esta declaração, milhares de hondurenhos tomam as ruas de Tegucigalpa e outras cidades do país e uma greve geral foi convocada em protesto contra o golpe de estado desferido contra o presidente de Honduras Manuel Zelaya. A corrente LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução, manifesta sua incondicional solidariedade a esses manifestantes que desafiam o toque de recolher e a repressão promovidos pelo novo governo golpista e conclama a todos os trabalhadores brasileiros e suas organizações a que repudiem de forma veemente esse ataque aos direitos democráticos dos trabalhadores e do povo de Honduras.

Forças do exército hondurenho, em ação coordenada com as lideranças políticas mais reacionárias do Congresso e do poder Judiciário, romperam as regras do próprio regime democrático burguês no país e, na noite de domingo (28/06), seqüestraram o presidente Manuel Zelaya, eleito em 2005 para um mandato até 2010, e o deportaram para San José, na Costa Rica.

As mesmas lideranças reacionárias não perderam tempo e, no próprio domingo, alegando que Zelaya havia renunciado, decidiram indicar o presidente do Congresso, Roberto Micheletti, como novo presidente do país. O presidente Zelaya, que da Costa Rica se deslocou para Manágua, na Nicarágua, nega ter renunciado e acusa o exército de ter metralhado sua residência e o tomado à força, expulsando-o do país.

O golpe de estado em Honduras reflete os interesses de parte da classe dominante e das elites políticas atemorizadas com a perda de controle sobre as ações de Zelaya no último período e seu distanciamento da agenda política e econômica mais conservadora dessas elites.

Manuel Zelaya foi eleito pelo Partido Liberal, mas a partir de 2007 passa a adotar uma postura de aproximação com o governo venezuelano de Hugo Chávez, solicitando a adesão formal de seu país à ALBA, Alternativa Bolivariana das Américas. Essa atitude, assim como algumas medidas adotadas pelo governo não agradaram empresários, Igreja e os interesses do imperialismo em Honduras.

O golpe se deu no momento em que o governo de Zelaya, em meio a um sério conflito com lideranças de seu próprio partido e da oposição de direita, promoveria uma consulta popular informal sobre a possibilidade de que, junto com as eleições gerais de novembro, ocorresse um referendo sobre a convocação de uma Assembléia Constituinte no país. Os militares e a oposição de direita a Zelaya desferiram o golpe exatamente para evitar essa consulta popular que se realizaria no domingo, 28/06.

Nos marcos de uma profunda crise econômica e instabilidade política, o governo de Zelaya foi empurrado a buscar uma base social de apoio entre os setores populares distanciando-se da linha tradicional de seu próprio partido e acirrando ainda mais a disputa com o direitista Partido Nacional de Honduras, tradicional oponente do Partido Liberal nas disputas políticas interburguesas. Diante da crise, Zelaya optou por fazer reformas por cima, antes que o povo as arrancasse com muito mais intensidade por baixo.

A ruptura institucional em Honduras é uma demonstração clara de como, nos marcos da crise estrutural do capitalismo e da fragilidade dos regimes políticos latino-americanos, até mesmo pequenas reformas e ações moderadas que contrariem os interesses das elites econômicas e políticas tornam-se intoleráveis para a classe dominante associada ao imperialismo no continente.

Independentemente do caráter do governo Zelaya, que não deixa de ser um governo burguês, o golpe de Estado é um duro ataque sobre os trabalhadores e a maioria do povo num país com mais de 50% da população abaixo da linha de pobreza e uma elite reacionária historicamente associada ao imperialismo estadunidense. Os militares que seqüestram Zelaya foram formados nos típicos métodos da escola de golpes de Estado promovida pelo imperialismo estadunidense durante décadas. Honduras foi utilizada historicamente como base para operações do imperialismo contra qualquer levante anti-imperialista na região, como no caso de Cuba e Nicarágua.

O que acontece hoje em Honduras afeta profundamente os movimentos da classe trabalhadora e dos povos de todo o mundo e, em especial, na América Latina. Um golpe de Estado no momento em que trabalhadores, camponeses, indígenas e jovens de vários países da região ousam levantar a cabeça e resistir contra as políticas que colocam nas nossas costas o preço da crise capitalista, é um precedente perigosíssimo.

Derrotar o golpe em Honduras é impedir que os mesmos métodos sejam utilizados no futuro contra o avanço da luta dos trabalhadores nos demais países. É, portanto, uma tarefa unitária e prioritária dos movimentos sociais e da esquerda conseqüente no continente.

Para os trabalhadores e o povo hondurenho é fundamental que se aprofunde a adoção dos métodos de luta da classe trabalhadora, a greve geral, as mobilizações massivas e a organização democrática pela base, incluindo a autodefesa, trazendo consigo todos os demais setores da população pobre e oprimida, para cortar pela raiz a tentativa de inflexão política autoritária e reacionária no país.

Diante da impossibilidade de que até mesmo o imperialismo estadunidense respaldasse o novo governo golpista – com Obama mantendo uma postura vacilante e dúbia, mas sem reconhecer Micheletti como presidente – é possível que os golpistas tentem promover uma normalização da situação mantendo as eleições de novembro sob condições especiais, sem o referendo sobre a Assembléia Constituinte e sob seu estrito controle.

Ao mesmo tempo em que exigimos uma clara posição de todas as autoridades, governos e organismos internacionais em rechaço ao golpe, não estimulamos nenhuma ilusão nas credenciais democráticas de organismos como a OEA ou mesmo a ONU e alertamos a todos os trabalhadores a que fiquem atentos às manobras do imperialismo e seus aliados na América Latina.

Não se pode aceitar qualquer solução para Honduras que não incorpore como base mínima, a destituição imediata do governo golpista de Micheletti, o restabelecimento do governo Zelaya e a prisão de todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram com o golpe de Estado.

Isso só será possível efetivamente com a mobilização dos trabalhadores e do povo hondurenho e a firme solidariedade dos trabalhadores de toda a América Latina e do mundo.

É preciso trabalhar para que a ação golpista se reverta numa radicalização maior da luta dos trabalhadores ultrapassando as moderadas reformas do governo Zelaya, superando os limites do regime político burguês e avançando numa direção autenticamente democrática, anticapitalista e socialista.

  • Todo apoio à resistência dos trabalhadores e do povo de Honduras contra o golpe de Estado!
  • Abaixo o governo golpista de Micheletti! Pelo retorno imediato de Manuel Zelaya! Nenhum acordo com os golpistas!
  • Restabelecimento imediato das liberdades democráticas e fim de toda a repressão!
  • Pela organização independente dos trabalhadores e do povo de Honduras na luta por seus direitos democráticos e sociais! 

 

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