Escola Européia de Verão do CIT de 2009: América Latina em luta
A luta corrente na América Latina entre trabalhadores e pobres de um lado e capitalistas e latifundiários de outro – entre a revolução e a contra-revolução – foi o traço central no grupo de discussão sobre o continente durante a Escola de Verão do CIT na Bélgica.
A discussão, introduzida por Aron Amm da Alemanha e fechada por Tony Saunois abordou um leque amplo de países, problemas e lutas. O recente golpe na Honduras, os processos revolucionários na Bolívia e na Venezuela, a situação potencialmente explosiva no México e os acontecimentos no Brasil foram um dos principais tópicos discutidos.
América Latina – Uma antecipação do amanhã
Aron apontou como a América Latina esteve na linha de frente da luta internacional contra o capitalismo. Tendo sido um “laboratório” para as idéias neoliberais desde os anos 70, o continente foi o primeiro a ver lutas de massas contra o neoliberalismo e o capitalismo, e um florescer de idéias socialistas.
Esta luta só será intensificada pelos impactos da crise econômica internacional. Aron destacou que é verdade que, até este momento em que se vive apenas os primeiros momentos do que é a pior depressão desde os anos 30, a América Latina não foi devastada dramaticamente tal como outros lugares. Isto se deve, parcialmente, ao tamanho relativamente menor do setor financeiro no continente. Porém, a região é altamente dependente de investimento estrangeiro, que está caindo, e de exportações que também sofrerão uma queda. Isto significará apenas eventos mais tumultuosos.
O Brasil foi um dos países da América Latina mais atingidos pela crise. Aron relatou que vem ocorrendo um processo de desindrustrialização no Brasil, com companhias mudando para a China e resultando em perda de empregos.
Uma questão central na discussão do grupo abordou perspectivas políticas, tendo em vista a eleição presidencial no próximo ano. A constituição proíbe que o atual presidente Lula concorra novamente. Mas seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), não possui qualquer outro candidato com a mesma popularidade. Neste contexto, há potencial para o crescimento de um sentimento anti-PT e aumento de espaço para o novo partido de esquerda, o PSOL. Todavia, isto será limitado pelas tentativas da liderança do PSOL de rebaixar o programa do partido e suas afirmações sobre a necessidade de “flexibilidade” para fazer alianças com partidos de direita.
O CIT no Brasil esteve ativo lutando contra o giro à direita da direção do PSOL, trabalhando em conjunto com a formação de uma oposição de esquerda. Aron resumiu quatro pontos centrais que o CIT no Brasil levanta nesta situação: 1) a necessidade de um programa socialista, 2) o enraizamento do PSOL nas lutas dos trabalhadores e dos pobres, 3) a necessidade de uma verdadeira democracia interna e 4) oposição às alianças com partidos capitalistas.
Como resultado dessa posição de princípio, o CIT no Brasil cresceu e recentemente fundiu com um outro grupo marxista (Coletivo Liberdade Socialista), formando a “Liberdade, Socialismo e Revolução”.
As lutas mais intensas entre revolução e contra-revolução, no momento, podem ser vistas na Venezuela e na Bolívia. Politização das massas e discussões sobre socialismo são características da situação, de anos, destes países. O desenvolvimento de políticas a favor dos pobres por governos populistas de esquerda, assim como a retórica socialista de Chávez e Morales, desempenharam um papel importante neste processo.
Porém, junto com isto, há também um crescimento da burocratização do Estado e um aumento da corrupção nestes países. Isto, ao lado da lentidão das reformas, resultou no aumento da impaciência com os governos. No topo disto tudo, o dinheiro que vinha do alto preço do petróleo que financiava as reformas começou a diminuir.
Tanto na Venezuela, quanto na Bolívia, a direita este reagrupando. Na Venezuela, a derrota do referendo de Chávez e o fraco desempenho de seu partido nas eleições locais do ano passado, sublinham como a contra-revolução pode tomar a iniciativa, se a revolução não progredir. Similarmente, na Bolívia, a tentativa real de golpe da direita de Santa Cruz, em setembro do ano passado, mostra os perigos para a classe trabalhadora.
Na Venezuela e na Bolívia os trabalhadores precisam lutar para levar a revolução adiante, acabar com o poder do aparato estatal capitalista, controlar e gerir democraticamente a economia e estabelecer uma genuína democracia dos trabalhadores e o socialismo.
O golpe militar de 5 de julho em Honduras é um aviso para a revolução na Venezuela e na B Olívia. De origem rica, o Presidente Zelaya foi eleito em 2005 pelo Partido Liberal, de centro-direita. Porém, uma vez no poder, ele ficou sob pressão dos trabalhadores e pequenos produtores e foi forçado a fazer reformas, como o aumento de 60% do salário mínimo. Metade da população vive abaixo da linha de pobreza e o desemprego é de 28%. Também foi decisão de Zelaya levar a Honduras para a aliança regional promovida por Chávez na Venezuela, a Alternativa Bolivariana das Américas (ALBA) e seu plano de fazer um acordo comercial com a Venezuela, que, entre outras coisas, terminou com a dominação da importação de combustível por multinacionais, foram inaceitáveis para a classe dominante de Honduras. Os militares invadiram a casa de Zelaya, colocaram ele em um avião para a Costa Rica e proclamaram um novo “governo”.
Tal como Hannah Sell da Inglaterra destacou na discussão, existe um laço histórico que liga os militares de Honduras e os Estados Unidos. Porém, o quanto os EUA e a CIA apoiaram o golpe ainda não está claro. Enquanto é quase impossível que o golpe tenha sido uma surpresa completa para todos do aparato estatal dos EUA, parece que ele é mais motivo de embaraço do que um sucesso para eles – especialmente por causa da enorme oposição que ele provocou, com protestos e um chamado por greve geral. Este chamado deve ser apoiado e ligado com demandas por comitês de luta por todo o país, uma assembléia constituinte revolucionária e um governo dos trabalhadores e camponeses.
Em seu fechamento da discussão, Tony Saunois do Secretariado Internacional do CIT, afirmou que o “México está nas vésperas de uma explosão social massiva”. O México viu sua economia encolher 8% este ano, sendo, especialmente atingido por causa de sua dependência dos EUA no comércio e na emigração. Em uma eleição recente, somente 43% votaram e, destes, 6% foram votos nulos ou brancos. Existe muita indignação contra o governo do PAN, enquanto a oposição (PRI) também está dividida, com uma luta interna por poder ocorrendo. Com sua forte história de luta e levantes revolucionários, o México pode estar na linha de frente da revolução latino-americana.
Outros países discutidos foram Cuba, Chile e Argentina. Em Cuba, uma questão crucial está colocada: o retorno ao capitalismo e toda a pobreza e crise que ele significa ou uma nova revolução para estabelecer uma verdadeira democracia socialista dos trabalhadores.
Tanto Chile e Argentina, viram um crescimento na luta nos recentes anos e um descrédito dos partidos que foram vistos como “progressivos”, os Peronistas na Argentina e os “Socialistas” no Chile.
Na discussão do grupo, esteve claro que a América Latina é um continente sob a angústia de eventos e lutas cruciais. Nas semanas e nos meses seguintes, as chamas destas lutas serão espalhadas pela crise internacional do capitalismo. As forças do CIT podem e devem germinar em uma grande força marxista no continente. A classe trabalhadora e as massas pobres da América Latina têm o potencial de transformar a sociedade, colocando o mundo no caminho da revolução.